sábado, 16 de novembro de 2019

Sábado da 32ª semana do Tempo Comum




Segunda leitura 

Da Homilia de um Autor do século segundo 


(Cap. 18,1-20,5: Funk 1,167-171) 


Pratiquemos a justiça para alcançarmos a salvação 

Quanto a nós, sejamos daqueles que dão graças, daqueles que servem a Deus; e não, dos ímpios que serão condenados. Na verdade, eu, mesmo pecador, que não sei fugir das tentações, e ainda vivo em meio das pompas do demônio, esforço-me por seguir a justiça, a fim de, no temor do futuro juízo, poder ao menos chegar perto dela.

Portanto, irmãos e irmãs, tendo nós ouvido o Deus da Verdade, leio-vos uma exortação. Se prestardes atenção ao que está escrito, vós vos salvareis e também aquele que lê diante de vós. Peço esta paga: que de todo o coração façais penitência, dando-vos assim a salvação e a vida. Agindo desse modo, apresentaremos uma finalidade aos jovens que querem dedicar seus esforços à santidade e à bondade de Deus. Não levemos a mal nem nos indignemos, nós insensatos, se alguém nos chama a atenção e quer nos converter da injustiça para a justiça. Acontece às vezes que, procedendo mal, não o percebemos por causa da duplicidade e incredulidade que existem em nossos corações e nossa mente é obscurecida por vãs inclinações.

Cumpramos, pois, a justiça para no fim sermos salvos. Felizes os que obedecem a estes preceitos; embora por breve tempo padeçam no mundo, hão de colher o incorruptível fruto da ressurreição. Não se entristeça o cristão, se neste tempo suporta a miséria; espera-o um tempo feliz.

Ao recobrar a vida, junto com os antepassados, no Alto, alegrar-se-á para sempre, nunca mais a tristeza o perturbará.

E também não se abale nosso espírito, quando vemos ricos os injustos e em dificuldades os servos de Deus. Tenhamos fé, irmãos e irmãs: suportamos as lutas do Deus vivo e somos provados nesta vida para recebermos a coroa na futura. Nenhum justo recolhe um fruto imediato, mas aguarda-o. Porque, se Deus desse logo a recompensa aos justos, nos entregaríamos então a um negócio e não à virtude; pareceríamos querer ser justos por causa do lucro, não do serviço de Deus. Por isto, o juízo divino perturba o espírito que não é justo e torna mais pesadas as cadeias.

Ao único Deus invisível, ao Pai da verdade que nos enviou o salvador e doador da incorruptibilidade, por meio de quem nos manifestou a verdade e a vida celeste, a ele a glória pelos séculos dos séculos. Amém.

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Sexta-feira da 32ª semana do Tempo Comum




Segunda leitura 

Da Homilia de um Autor do século segundo 


(Cap. 15,1-17,2: Funk 1,163-165) 


Convertamo-nos a Deus que nos chamou 

Penso não ter dado um conselho sem importância sobre a temperança; se alguém o seguir, não se arrependerá e salvará a si mesmo e a mim que dei o conselho. Não é pequena a recompensa de quem reconduzir à salvação o que se extraviara e se perdera. Podemos retribuir a Deus, nosso criador, se aquele que diz e o que escuta disser e escutar com fé e caridade.

Permaneçamos, pois, justos e santos em nossa fé e oremos com confiança a Deus que afirmou: Ainda estarás a falar e te responderei: Eis-me aqui (cf. Is 58,9). Esta palavra é sinal de grande promessa; porque o Senhor se mostra mais pronto a dar do que o suplicante a pedir. Participantes de tão grande benignidade, não invejemos um ao outro por ter recebido bens tão excelentes. Estas palavras enchem de tanto gozo aos que as realizam, quanto de reprovação aos rebeldes.

Irmãos, tendo assim uma boa ocasião de nos arrepender, enquanto temos tempo e há quem nos receba, convertamo-nos para o Senhor que nos chamou. Se renunciamos a nossas paixões desregradas, dominamos nossa alma. Negando-lhe seus desejos maus, participaremos da misericórdia de Jesus. Sabei, pois, já vem o dia do juízo qual fornalha ardente e parte dos céus se desfará (cf. Ml 3,19) e toda a terra será liquefeita como chumbo ao fogo. Neste momento, ficarão patentes as obras dos homens, as ocultas e as manifestas. Por isso, a esmola é boa como penitência pelo pecado. Melhor o jejum do que a oração; a esmola mais que estes dois: a caridade cobre uma multidão de pecados (1Pd 4,8). Contudo, a oração, feita de consciência pura, livra da morte. Feliz quem for reconhecido perfeito nestas coisas; porque a esmola afasta o pecado.

Façamos, portanto, penitência de todo o coração, para que nenhum de nós pereça. Se temos a obrigação de afastar os outros do culto dos ídolos e instruí-los, quanto mais devemos nos empenhar na salvação de todas as almas, que já gozam do verdadeiro conhecimento de Deus! Ajudemo-nos, então, um ao outro, de modo a reconduzir ao bem mesmo os fracos; para salvarmo-nos todos, não só cada um se converta, mas exortemo-nos mutuamente.


quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Quinta-feira da 32ª semana do Tempo Comum



Segunda leitura 

Da Homilia de um Autor do século segundo 


(Cap. 13,2-14,5: Funk 1,159-163) 


A Igreja viva é o corpo de Cristo 

O Senhor declara: Meu nome é incessantemente objeto de blasfêmia entre as nações (cf. Is 52,5), e outra vez: Ai daquele por cuja causa meu nome é blasfemado (cf. Rm 2,24). Qual o motivo de ser blasfemado? Porque não fazemos o que dizemos. Os homens ouvem de nossa boca as palavras de Deus e ficam admirados por seu valor e grandeza; depois, vendo que nossas obras em nada correspondem às palavras que dizemos, começam a blasfemar, e a tachá-las de fábulas e de enganos.

Ouvem-nos afirmar que Deus disse: Não é nada de extraordinário, se amais aqueles que vos amam; mas grande graça, se amais vossos inimigos e aqueles que vos odeiam (cf. Mt 5,46); ouvindo isto, espantam-se com bondade tão sublime: observando, porém, que não amamos os que nos odeiam e nem mesmo aqueles que nos amam, zombam de nós e o nome é blasfemado.

Por conseguinte, irmãos, cumprindo a vontade de Deus, nosso Pai, faremos parte daquela primeira Igreja espiritual, criada antes do sol e da lua. Se, ao contrário, não fizermos a vontade de Deus, seremos como diz a Escritura: Minha casa tornou-se covil de ladrões (cf. 7,11; Mt 21,13). Que nossa preferência vá para a Igreja da vida, para sermos salvos.

Julgo que estais bem cientes de que a Igreja viva é o corpo de Cristo (1Cor 12,27). Pois diz a Escritura: Deus fez o ser humano varão e mulher (Gn 1,27; 5,2); o varão é o Cristo, a mulher a Igreja. Também a Bíblia e os apóstolos afirmam que a Igreja, propriamente, não é deste tempo, mas existe desde o princípio. Era espiritual, assim como nosso Jesus, e apareceu nos últimos dias, a fim de que fôssemos salvos.

A Igreja, a espiritual, manifestou-se na carne de Cristo, mostrando-nos que se alguém, estando na carne, a preserva e não a arruína, recebê-la-á no Espírito Santo. Pois esta carne é tipo do espírito; quem destrói o tipo não recebe o arquétipo. Por isto disse, irmãos: Guardai a carne para serdes participantes do espírito. Se dizemos que a carne é a Igreja, e Cristo, espírito, segue-se que quem deturpa a carne, deturpa a Igreja. Este não será participante do espírito, que é Cristo. Esta carne é capaz de conter imensa vida e incorruptibilidade, com o auxílio do Espírito Santo, e ninguém pode descrever nem contar aquilo que o Senhor preparou para seus eleitos.


quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Quarta-feira da 32ª semana do Tempo Comum




Segunda leitura 

Da Homilia de um Autor do século segundo 


(Cap. 10,1-12,1; 13,1: Funk 1,157-159) 


Perseveremos na esperança 

Cumpramos, portanto, irmãos meus, a vontade do Pai que nos chamou, para termos a vida, e cultivemos a virtude; abandonemos o vício, precursor de nossos crimes, e fujamos da impiedade e assim os males não nos agarrarão. Porque, se nos esforçarmos por viver bem, a paz nos acompanhará. Por esta razão, não podem encontrá-la os homens que, presa de temores humanos, preferem o prazer presente à promessa futura. Ignoram quanto tormento traz consigo a volúpia deste mundo e que delícias encerra a promessa do futuro. E se fizessem isto só para si, ainda seria tolerável; mas insistem em inculcar más doutrinas nas pessoas inocentes, sem saber que incorrerão em dupla condenação, eles e os que os ouvem.

Quanto a nós, sirvamos a Deus com coração puro, e seremos justos. Se, porém, incrédulos diante das promessas de Deus, não o servimos, seremos extremamente infelizes. A palavra profética ensina: Infelizes os falsos e hesitantes de coração, que dizem: Já escutamos isto há muito, desde o tempo de nossos pais; esperando dia após dia, nada aconteceu. Ó loucos, comparai-vos à árvore, por exemplo, à videira: primeiro caem as folhas, depois vem o broto, em seguida a uva verde e por fim a uva madura. Assim meu povo sofre agitações e angústias; receberá os bens, depois.

Irmãos meus, não sejamos indecisos, mas perseveremos na esperança e obteremos o prêmio. É fiel aquele que prometeu dar a cada um segundo suas obras. Cumprindo a justiça diante de Deus, entraremos em seu reino e receberemos o prometido que ouvidos não ouviram, olhos não viram, nem jamais subiu ao coração do homem (cf. 1Cor 2,9).

Esperemos, então, a cada momento, na caridade e na justiça, o reino de Deus, apesar de não conhecermos o dia da chegada de Deus.

Vamos, irmãos, façamos penitência, convertamo-nos para o bem; porque estamos cheios de insensatez e de maldade. Lavemo-nos dos pecados passados e mudando profundamente nosso modo de pensar seremos salvos. Não sejamos aduladores, nem procuremos agradar somente aos irmãos, mas também aos de fora, por amor da justiça, para que o Nome não seja blasfemado por nossa causa (cf. Rm 2,24).


terça-feira, 12 de novembro de 2019

Terça-feira da 32ª semana do Tempo Comum




Segunda leitura 

Da Homilia de um Autor do século segundo 


(Cap. 8,1-9,11: Funk 1,153-157) 


A penitência de um coração sincero 

Enquanto estamos aqui na terra, façamos penitência. Com efeito, somos argila na mão do artífice. Se o oleiro, tendo feito um vaso, e, em suas mãos, este se entorta ou quebra, de novo torna a fazê-lo. Se, porém, se decidiu a pô-lo no forno, nada mais há que fazer. Assim também nós, enquanto estamos no mundo e temos tempo, façamos, de coração, penitência pelos pecados cometidos, para sermos salvos pelo Senhor.

Porque depois de sairmos do mundo já não mais poderemos reconhecer os nossos pecados nem fazer penitência. Por este motivo, irmãos, se fizermos a vontade do Pai, mantivermos casto nosso corpo e guardarmos os preceitos do Senhor, alcançaremos a vida eterna. O Senhor disse no evangelho: Se não fordes fiéis no pouco, quem vos confiará o muito? Pois eu vos digo: quem é fiel no pouco também será fiel no muito (cf. Lc 16,10-11). Quis dizer: Guardai casto o corpo e imaculado o caráter, para que sejamos dignos de receber a vida.

E ninguém venha dizer que a carne não será julgada nem ressurgirá. Confessai: em que fostes salvos, em que recobrastes a vista, se não foi vivendo ainda nesta carne? Convém-nos, portanto, proteger a carne como templo de Deus. Tal qual fostes chamados no corpo, assim no corpo ireis. Cristo Senhor, que nos salvou, era antes só espírito e fez-se carne e assim nos chamou. Do mesmo modo também nós receberemos a recompensa neste corpo.

Amemo-nos, pois, uns aos outros, para entrarmos todos no reino de Deus. Enquanto temos tempo de ser curados, entreguemo-nos a Deus médico, dando-lhe a paga. Que paga? A penitência brotada de um coração sincero. Com efeito, ele prevê todas as coisas e conhece o que se passa em nosso íntimo. Louvemo-lo, pois, não só de boca, mas de coração, para que nos receba como filhos. De fato o Senhor disse: Meus irmãos são aqueles que fazem a vontade de meu Pai (cf. Lc 8,21s).


segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Segunda-feira da 32ª semana do Tempo Comum




Segunda leitura 

Da Homilia de um Autor do século segundo 


(Cap. 3,1-4,5; 7,1-6: Funk 1,149-153) 


Testemunhemos a Deus pelas obras 

O Senhor usou para conosco de uma misericórdia tão grande que, primeiramente, nós, seres vivos, não sacrificássemos a deuses mortos nem os adorássemos, e levando-nos por Cristo ao conhecimento do Pai da verdade. E qual é o conhecimento que nos conduz a ele? Não é acaso não negar Aquele por quem o conhecemos? Ele mesmo declarou: Ao que der testemunho de mim, eu darei testemunho dele diante do Pai (cf. Lc 12,8). É este o nosso prêmio: testemunhar aquele por quem fomos salvos. Como o testemunharemos? Fazendo o que diz, sem desprezar seus mandamentos, honrando-o não com os lábios só, mas de todo o coração e inteligência. Pois Isaías disse: Este povo me honra com os lábios, seu coração, porém, está longe de mim (Is 29,13).

Portanto, não nos contentemos em chamá-lo de Senhor; isto não nos salvará. São suas as palavras: Não é quem me diz Senhor, Senhor, que se salvará, mas quem pratica a justiça (cf. Mt 7,21). Por isso, irmãos, demos testemunho pelas obras: amemo-nos mutuamente, não cometamos adultério, não nos difamemos uns aos outros nem nos invejemos, mas vivamos na continência, na misericórdia, na bondade. E sejamos movidos pela mútua compaixão, não pela cobiça. Confessemo-lo por estas obras, não pelas contrárias. Não temos de temer os homens, mas a Deus. Porque o Senhor disse aos que assim procediam: Se estiverdes comigo, reunidos em meu seio e não cumprirdes meus mandamentos, eu vos repelirei e direi: Afastai-vos de mim, não sei donde sois, operários da iniquidade (cf. Mt 7,23; Lc 13,27).

Por conseguinte, irmãos meus, lutemos, sabendo que o combate está em nossas mãos. Muitos se entregam a lutas corruptíveis, mas somente são coroados aqueles que mais tiverem lutado e combatido gloriosamente. Lutemos, pois, também nós, para sermos todos coroados. Para isto, corramos pelo caminho reto, pelo combate incorruptível. Naveguemos em grande número para ele e pelejemos, a fim de obter a coroa. Se não pudermos todos ser coroados, que ao menos dela nos aproximemos. Convém-nos saber que se alguém se entrega a um combate corruptível, mas é surpreendido como corruptor, é flagelado, afastado e expulso do estádio.

Que vos parece? Que deverá padecer quem corrompe o combate da incorrupção? Sobre aqueles que não guardam o caráter, se diz: Seu verme não morre, seu fogo não se extingue e serão dados em espetáculo a toda carne (Is 66,24).


domingo, 10 de novembro de 2019

Domingo da 32ª semana do Tempo Comum




Segunda leitura 

Início da Homilia de um Autor do século segundo 


(Cap. 1,1-2,7: Funk 1,145-149) 


Cristo quis salvar o que estava perdido 

Irmãos, temos de pensar que Jesus Cristo é Deus, juiz dos vivos e dos mortos; e não nos convém ter em pouca monta nossa salvação. Se não lhe dermos importância, também julgaremos ser pouca coisa o que esperamos receber. Aqueles que escutam isto como ninharias, pecam, e nós pecamos, ignorando por que e por quem fomos chamados e para que lugar; e o quanto Jesus Cristo quis padecer por nós.

Que lhe daremos então por paga ou que fruto digno daquele que a si mesmo se deu a nós? Quantos benefícios lhe devemos? Concedeu-nos a luz, qual Pai, nos chamou seus filhos; mortos, salvou-nos. Portanto, que louvor lhe daremos ou remuneração em troca do que recebemos? Nós, fracos de espírito, adoradores de pedras e de madeiras, de ouro, prata e bronze, obras de homens; e nossa vida toda não passava de morte. Envoltos em trevas, com os olhos cheios deste negrume, recuperamos a visão, desfazendo por sua vontade a névoa que nos cobria.

Compadecido e comovido até as entranhas, salvou-nos por ver em nós tanto erro e morte, sem termos nenhuma esperança de salvação, exceto aquela que ele nos traz. Chamou-nos, a nós que não existíamos, e quis criar-nos do nada.

Alegra-te, estéril, que não és mãe; salta e clama, tu que não dás à luz; porque são mais numerosos os filhos da abandonada que daquela que tem marido (cf. Is 54,1). Ao dizer: Alegra-te, estéril, que não és mãe, é a nós que indica: pois estéril era nossa Igreja, antes que filhos lhe fossem dados. E dizendo: Clama, tu que não dás à luz, entende-se: Clamemos sempre a Deus, sem nos cansar, à semelhança das que dão à luz. E com as palavras: Porque são mais numerosos os filhos da abandonada que daquela que tem marido, diz que nosso povo parecia abandonado e privado de Deus. Agora, porém, desde que temos a fé, somos muito mais numerosos do que aqueles que se julgavam possuir a Deus.

Em outro lugar diz a Escritura: Não vim chamar os justos, mas os pecadores (Mt 9,13). Diz que lhe era preciso salvar os que pereciam. Grande e admirável coisa é firmar não aquilo que está de pé, mas o que cai. Assim Cristo quis salvar o que perecia e a muitos salvou com sua vinda, chamando-nos a nós que já perecíamos.