sábado, 26 de setembro de 2020

Sábado da 25ª semana do Tempo Comum

 

Segunda leitura


Dos Tratados sobre os salmos, de Santo Hilário, bispo

 

(Ps 64,14-15: CSEL 22,245-246)

 

(Séc. IV)


O rio impetuoso alegra a cidade de Deus

 

O rio de Deus enche-se a transbordar; e o trigo sois vós que o preparais; deste modo preparais a terra (Sl 64,10). Não há dúvida quanto à significação do rio. Pois o Profeta diz: O rio impetuoso alegra a cidade de Deus (Sl 45,5). E o próprio Senhor diz no Evangelho: Quem beber da água que eu lhe der, de seu seio brotarão rios de água viva, que jorra para a vida eterna (Jo 4,14)). E de novo: Do seio daquele que crer em mim, como está escrito, jorrarão rios. Queria com isto significar o Espírito Santo que iriam receber aqueles que nele cressem (Jo 7,38-39). Portanto, este rio de Deus transborda de água. Pelos dons do Espírito Santo somos inundados e, correndo daquela fonte de vida, o rio de Deus cheio de águas se derrama em nós. Encontramos também o trigo preparado.

Que trigo é este? Certamente aquele que nos prepara para o consórcio com Deus, pela comunhão do santo corpo, que nos insere, em seguida, na comunhão do santo corpo. É este o sentido do salmo que diz: O trigo sois vós que o preparais; deste modo preparais a terra. Com este trigo, embora já sejamos salvos no presente, preparamo-nos para o futuro.

Para nós, renascidos pelo sacramento do batismo, é imensa a alegria quando percebemos em nós certas primícias do Espírito Santo, quando se insinua a compreensão dos sacramentos, a ciência da profecia, a palavra da sabedoria, a firmeza da esperança, os dons de cura e o domínio sobre os demônios vencidos. Quais gotas de chuva tudo isto vai nos penetrando e aos poucos aquilo que germinou se multiplica em frutos copiosos.

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Sexta-feira da 25ª semana do Tempo Comum

 

Segunda leitura


Do Sermão sobre os pastores, de Santo Agostinho, bispo

 

(Sermo 46,29-30: CCL 41,555-557)

 

(Séc. V)

Os pastores bons estão todos no único pastor

 

Cristo te apascenta com justiça; ele distingue as suas ovelhas das que não são suas. As minhas ovelhas ouvem minha voz e me seguem (cf. Jo 10,27).

Encontro aqui todos os pastores bons no único pastor. Os pastores bons não faltam, mas estão no único. Os que estão divididos são muitos. Aqui se fala de um só, porque se quer valorizar a unidade. Na verdade não se diz agora que os pastores se calarão e será um só o pastor, porque o Senhor não encontra a quem confiar suas ovelhas. Ele as confiou porque encontrou a Pedro. Mais ainda, no próprio Pedro, ele recomendou a unidade. Eram muitos os apóstolos, mas a um só disse: Apascenta minhas ovelhas (Jo 21,17). Deus nos livre de que não haja agora bons pastores, de que nos venham a faltar. Esteja longe de sua misericórdia não criá-los e constituí-los.

Na realidade, se houver boas ovelhas, haverá também bons pastores, pois das boas ovelhas se formam os bons pastores. Mas os bons pastores estão todos no único, são um só. Se eles apascentam, é Cristo que apascenta. Os amigos do esposo não dizem ser sua a voz, mas com imensa alegria se rejubilam com a voz do esposo. Por conseguinte, é ele que apascenta quando aqueles apascentam. E diz: "Eu apascento , porque sua voz está neles, sua caridade neles se encontra. Ao próprio Pedro, a quem entregava suas ovelhas como a outra pessoa, queria torná-lo um só consigo, e depois entregar-lhe as ovelhas, de forma que ele fosse a cabeça, fosse a personificação do corpo, isto é, da Igreja, e, à semelhança do esposo com a esposa, fossem dois em uma só carne.

Querendo, pois, entregar as ovelhas, mas não como se as confiasse a outro, que lhe diz antes? Pedro, tu me amas? Respondeu ele: Eu te amo. De novo: Tu me amas? Respondeu: Amo. Pela terceira vez: Tu me amas? E respondeu: Amo (cf. Jo 21,15-17). Confirma a caridade para consolidar a unidade. É ele, portanto, que apascenta; um só neles e eles no único.

Cala-se a respeito dos pastores, mas não se cala. Gloriam-se os pastores, mas quem se gloria, no Senhor se glorie (2Cor 10,17). É isto apascentar o Cristo, é isto apascentar por Cristo, é isto apascentar em Cristo; não se apascenta fora de Cristo! Não foi, na verdade, por falta de pastores, como se o Profeta houvesse predito estes maus tempos futuros que disse: Eu apascentarei minhas ovelhas, não tenho a quem confiá-las. Ainda Pedro estava nesse corpo e nessa vida terrena e também os Apóstolos, quando aquele único, em quem todos são um, disse: Tenho outras ovelhas que não são deste redil. Preciso buscá-las para que haja um só rebanho e um só pastor (Jo 10,16).

Estejam então todos no único pastor e façam ouvir a única voz do pastor, aquele que as ovelhas escutam, e possam seguir seu pastor; não a este ou àquele, mas ao único. E todos nele falem com uma só voz, não tenham vozes diferentes. Rogo-vos, irmãos, dizei todos a mesma palavra e não haja divisão entre vós (1Cor 1,10). A esta voz, lavada de toda a divisão, purificada de toda a heresia, ouçam-na as ovelhas e sigam seu pastor, aquele que diz: As ovelhas que são minhas escutam minha voz e me seguem (Jo 10,27).

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Quinta-feira da 25ª semana do Tempo Comum

 

Segunda leitura


Do Sermão sobre os pastores, de Santo Agostinho, bispo

 

(Sermo 46,24-25.27: CCL 41,551-553)

 

(Séc. V)


Em boas pastagens apascentarei minhas ovelhas

 

E as retirarei dentre as nações, reuni-las-ei de todos os lugares e as conduzirei para sua terra e as apascentarei sobre os montes de Israel (Ez 34,13). Ele criou os montes de Israel; são os autores das divinas Escrituras. Alimentai-vos ali onde com segurança encontrareis alimento. Que vos cause gosto tudo quanto dali ouvirdes; aquilo que lhe é estranho, rejeitai. Não vagueeis no meio do nevoeiro; ouvi a voz do pastor. Reuni-vos nos montes da Sagrada Escritura. Aí se acham as delícias de vosso coração; aí, nada de venenoso, nada de contrário; são pastagens fertilíssimas. Vinde, somente vós, sadias, nutri-vos nos montes de Israel.

E nas nascentes e em todo lugar habitado da terra (Ez 34,13 Vulg). Dos montes a que nos referimos brotaram as nascentes da pregação evangélica, quando por toda a terra se difundiu sua voz (cf. Sl 18,5). E toda a terra habitada se tornou amena e fecunda para alimento das ovelhas.

Em boas pastagens e nos altos montes de Israel as apascentarei. E ali estarão colocados seus redis (Ez 34,14), quer dizer, onde irão descansar, onde dirão: "Como é bom aqui , onde dirão: "É verdade, está tudo claro, não fomos enganadas". Repousarão na glória de Deus, como em seu redil. E dormirão, isto é, repousarão, em grandes delícias.

Em férteis campos serão apascentadas sobre os montes de Israel (Ez 34,14). Já falei dos montes de Israel, dos bons montes para onde erguemos os olhos para daí nos vir auxílio. Mas o nosso auxílio vem do Senhor, que fez o céu e a terra (cf. Sl 123,8). Por isso, para que nem mesmo nos bons montes esteja nossa esperança, tendo dito: Apascentarei minhas ovelhas sobre os montes de Israel, e para que tu não te fixes nos montes, acrescenta logo: Eu apascentarei minhas ovelhas. Ergue os olhos para os montes, donde te virá auxílio, mas presta atenção ao que te diz: Eu apascentarei. Pois teu auxílio vem do Senhor que fez o céu e a terra.

Termina assim: E as apascentarei com justiça (Ez 34,16). Reparai que só ele apascenta desse modo, aquele que apascenta com justiça. Que pode um homem julgar acerca de outro homem? Tudo está repleto de juízos temerários. Aquele de quem desesperávamos, de repente se converte e se torna ótimo. De quem muito esperávamos, subitamente fraqueja e se faz péssimo. Nem nosso temor é seguro, nem certo nosso amor.

Aquilo que cada homem é hoje, mal sabe ele próprio. No entanto, é alguma coisa hoje. O que será amanhã, nem ele o sabe. Portanto, é só Ele quem apascenta com justiça, restituindo a cada um o que é seu: a estas, umas coisas; àquelas, outras. Dando o devido a cada uma, isto ou aquilo. Pois sabe o que faz. Apascenta com justiça aqueles que redimiu ao ser justiçado. Apascenta, portanto, com justiça.