sábado, 26 de junho de 2021

SÃO JOSEMARIA ESCRIVÁ DE BALAGUER, PRESBÍTERO

 Nasceu em Barbasto (Espanha) em 1902 e foi ordenado sacerdote em 1925. No dia 2 de Outubro de 1928 fundou o Opus Dei, que abriu na Igreja uma nova via para que homens e mulheres de todas as condições vivessem plenamente a sua vocação cristã, santificando as suas atividades no meio do mundo. O Opus Dei foi erigido como Prelatura Pessoal em 1982. A sua pregação e escritos contribuíram para que inumeráveis fiéis se tornassem conscientes da sua peculiar missão eclesial. Faleceu em Roma no dia 26 de Junho de 1975.

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Segunda leitura

Da Homilia de São Josemaria Escrivá de Balaguer

(Homilia Rumo à Santidade, em Amigos de Deus, Ed. Rei dos Livros, Lisboa, 3a ed. 1993, nn. 294-315)
(Séc.XX)

Rumo à Santidade

Sentimo-nos tocados, com o coração a bater com mais força, quando ouvimos com toda a atenção este brado de S. Paulo: esta é a vontade de Deus: a vossa santificação. Hoje, mais uma vez o repito a mim mesmo e também o recordo a cada um e à Humanidade inteira: esta é a vontade de Deus, que sejamos santos. Para pacificar as almas com uma paz autêntica, para transformar a Terra, para procurar Deus Nosso Senhor no mundo e através das coisas do mundo, é indispensável a santidade pessoal. Chama cada um à santidade, pede amor a cada um: jovens e velhos, solteiros e casados, sãos e doentes, cultos e ignorantes, trabalhem onde quer que trabalhem, estejam onde quer que estejam. Há um único modo de crescer na familiaridade e na confiança com Deus: a intimidade da oração, falar com Ele, manifestar-Lhe —de coração a coração— o nosso afecto.
Primeiro uma jaculatória, e depois outra e outra... Até que parece insuficiente esse fervor, porque as palavras se tornam pobres...: e abrem-se as portas à intimidade divina, com os olhos postos em Deus sem descanso e sem cansaço. Vivemos então como cativos, como prisionei- ros. Enquanto realizamos com a maior perfeição possível, dentro dos nossos erros e limitações, as tarefas próprias da nossa condição e do nosso ofício, a alma anseia escapar-se. Vai até Deus como o ferro atraído pela força do íman. Começa-se a amar Jesus de forma mais eficaz, com um doce sobressalto.
Mas não esqueçamos que estar com Jesus é seguramente encontrar-se com a sua Cruz. Quando nos abandonamos nas mãos de Deus, é frequente que Ele permita que saboreemos a dor, a solidão, as contradições, as calúnias, as difamações, os escárnios, por dentro e por fora: porque quer conformar-nos à Sua imagem e semelhança e permite também que nos chamem loucos e que nos tomem por néscios. Quando admiramos e amamos deveras a Santíssima Humanidade de Jesus, descobrimos, uma a uma, as suas Chagas. E nesses tempos de expiação passiva, penosos, fortes, de lágrimas doces e amargas que procuramos esconder, sentiremos necessidade de nos meter dentro de cada uma daquelas Feridas Santíssimas: para nos purificarmos, para nos enchermos de alegria com esse Sangue redentor, para nos fortalecermos.
O coração sente então a necessidade de distinguir e adorar cada uma das pessoas divinas. De certo modo, é uma descoberta que a alma faz na vida sobrenatural. E entretém-se amorosamente com o Pai e com o Filho e com o Espírito Santo; e submete-se facilmente à actividade do Paráclito vivificador, que se nos entrega sem o merecermos. As palavras tornam-se supérfluas, porque a língua não consegue expressar-se; o entendi- mento aquieta-se. Não se discorre, olha-se! E a alma rompe outra vez a cantar um cântico novo, porque se sente e se sabe também olhada amorosamente por Deus a toda a hora.
Com esta entrega, o zelo apostólico ateia-se, aumenta dia-a-dia —pegando esta ânsia aos outros— porque o bem é difusivo. Não é possível que a nossa pobre natureza, tão perto de Deus, não arda em desejos de semear no mundo inteiro a alegria e a paz, de regar tudo com as águas redentoras que brotam do lado aberto de Cristo, de começar e acabar todas as tarefas por Amor.
Que a Mãe de Deus e nossa Mãe nos proteja a fim de que cada um de nós possa servir a Igreja na plenitude da fé, com os dons do Espírito Santo e com a vida contemplativa.

quinta-feira, 24 de junho de 2021

NASCIMENTO DE SÃO JOÃO BATISTA

 Segunda leitura

Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo

(Sermo 293,1-3: PL 38,1327-1328)
(Séc.V)

Voz do que clama no deserto
A Igreja celebra o nascimento de João como um acontecimento sagrado. Dentre os nossos antepassados, não há nenhum cujo nascimento seja celebrado solenemente. Celebramos o de João, celebramos também o de Cristo: tal fato tem, sem dúvida, uma explicação. E se não a soubermos dar tão bem, como exige a importância desta solenidade, pelo menos meditemos nela mais frutuosa e profundamente. João nasce de uma anciã estéril; Cristo nasce de uma jovem virgem.

O pai de João não acredita que ele possa nascer e fica mudo; Maria acredita, e Cristo é concebido pela fé. Eis o assunto que quisemos meditar e prometemos tratar. E se não formos capazes de perscrutar toda a profundeza de tão grande mistério, por falta de aptidão ou de tempo, aquele que fala dentro de vós, mesmo em nossa ausência, vos ensinará melhor. Nele pensais com amor filial, a ele recebestes no coração, dele vos tornastes templos.

João apareceu, pois, como ponto de encontro entre os dois Testamentos, o antigo e o novo. O próprio Senhor o chama de limite quando diz: A lei e os profetas até João Batista (Lc 16,16). Ele representa o antigo e anuncia o novo. Porque representa o Antigo Testamento, nasce de pais idosos; porque anuncia o Novo Testamento, é declarado profeta ainda estando nas entranhas da mãe. Na verdade, antes mesmo de nascer, exultou de alegria no ventre materno, à chegada de Maria. Antes de nascer, já é designado; revela-se de quem seria o precursor, antes de ser visto por ele. Tudo isto são coisas divinas, que ultrapassam a limitação humana. Por fim, nasce. Recebe o nome e solta-se a língua do pai. Relacionemos o acontecido com o simbolismo de todos estes fatos.

Zacarias emudece e perde a voz até o nascimento de João, o precursor do Senhor; só então recupera a voz. Que significa o silêncio de Zacarias? Não seria o sentido da profecia que, antes da pregação de Cristo, estava, de certo modo, velado, oculto, fechado? Mas com a vinda daquele a quem elas se referiam, tudo se abre e torna-se claro. O fato de Zacarias recuperar a voz no nascimento de João tem o mesmo significado que o rasgar-se o véu do templo, quando Cristo morreu na cruz. Se João se anunciasse a si mesmo, Zacarias não abriria a boca. Solta-se a língua, porque nasce aquele que é a voz. Com efeito, quando João já anunciava o Senhor, perguntaram-lhe: Quem és tu? (Jo 1,19). E ele respondeu: Eu sou a voz do que clama no deserto (Jo 1,23). João é a voz; o Senhor, porém, no princípio era a Palavra (Jo 1,1). João é a voz no tempo; Cristo é, desde o princípio, a Palavra eterna.

terça-feira, 22 de junho de 2021

SÃO JOÃO FISHER, BISPO, E SANTO TOMÁS MORE, MÁRTIRES

 João Fisher nasceu em 1469. Fez seus estudos em Cambridge (Inglaterra) e foi ordenado sacerdote. Eleito bispo de Rochester, viveu com muita austeridade e tornou-se ótimo pastor, visitando com freqüência seus fiéis. Escreveu também diversas obras contra os erros de seu tempo.

Tomás More nasceu em 1477 e fez seus estudos em Oxford. Tendo contraído matrimônio, teve um filho e três filhas. Ocupou o cargo de chanceler do reino. Escreveu diversos livros sobre a arte de governar e em defesa da religião.
Ambos foram decapitados em 1535 por ordem do rei Henrique VIII, por terem se recusado a ceder na questão da anulação do seu casamento: João Fisher a 22 de junho e Tomás More a 6 de julho. Enquanto estava preso, o bispo João Fisher foi criado cardeal da Santa Romana Igreja pelo papa Paulo III.

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Segunda leitura

 Da Carta, de Santo Tomás More à sua filha Margarida, escrita na prisão

 (The English Works of Sir Thomas More, London, 1557, p. 1454)
 (Séc. XV)

Com total esperança e confiança
entrego-me inteiramente a Deus

Embora tenha plena consciência, minha Margarida, de que os pecados de minha vida passada mereçam justamente que Deus me abandone, contudo, nunca deixarei de sempre confiar na sua imensa bondade e esperar com toda a minha alma. Até agora, a sua santíssima graça me deu forças para tudo desprezar, do íntimo do coração – riquezas, rendimentos e a própria vida – ao invés de jurar contra a voz da minha consciência. Foi Deus que, com bondade, levou o rei a me privar apenas da liberdade. Com isto, Sua Majestade, ao invés de me fazer mal, concedeu-me, para proveito espiritual de minha alma – assim espero – um benefício maior do que todas aquelas honras e bens com que antes me cumulava. Espero que esta mesma graça mova o espírito do rei a não ordenar contra mim nada de mais grave, ou me dê sempre forças para que tudo suporte, com paciência, fortaleza e boa vontade, por mais pesado que seja.
Minha paciência unida aos méritos da atrocíssima paixão do Senhor (infinitamente acima, no mérito e no modo, de tudo quanto eu venha a padecer), aliviará as penas que mereço no purgatório. E, graças à bondade divina, aumentará também um pouco a minha recompensa no céu.
Não quero, minha Margarida, desconfiar da bondade de Deus, por mais débil e fraco que me sinta. Ao contrário, se no meio do terror e da aflição, eu me vir em perigo de cair, lembrar-me-ei de São Pedro que, a uma simples rajada de vento, começou a afundar por causa da sua pouca fé, e farei o mesmo que ele. Gritarei por Cristo: Senhor, salva-me! (cf. Mt 14,30). Espero que ele me estenda a mão e me segure, sem deixar que eu me afogue.
Mas, se permitir que me comporte à semelhança de Pedro, a ponto de me precipitar e cair inteiramente, jurando e abjurando – que Deus em sua misericórdia afaste para bem longe de mim tal infelicidade, pois esta me trará mais prejuízo do que vantagem – mesmo assim continuarei a esperar que o Senhor olhe para mim com olhos cheios de misericórdia, como olhou para Pedro. Espero então que ele me levante de novo para que eu volte a defender a verdade, e alivie a minha consciência. Hei de suportar com coragem o castigo e a vergonha da primeira negação.
Enfim, minha Margarida, estou absolutamente convencido de que, sem culpa minha, Deus não me abandonará. Por isto, com total esperança e confiança entrego-me inteiramente a ele. Se, por causa de meus pecados, Deus permitir que eu pereça, ao menos em mim sua justiça será louvada. Espero, no entanto, e espero com toda a certeza, que sua clementíssima bondade guardará fielmente a minha alma e fará que em mim brilhe mais a sua misericórdia do que sua justiça.
Fica, pois, tranqüila, minha filha, e não te preocupes com o que possa me acontecer neste mundo. Nada poderá acontecer que Deus não queira. E tudo quanto ele quer, mesmo que nos pareça mau, é, na verdade, realmente ótimo.

SÃO PAULINO DE NOLA, BISPO

 Nasceu em Bordéus (França), em 335. Dedicou-se à carreira política, casou-se e teve um filho. Desejando levar uma vida mais austera, recebeu o batismo e, renunciando a todos os seus bens, em 393 abraçou a vida monástica, indo estabelecer-se em Nola, na Campânia (Itália). Sagrado bispo da cidade, promoveu o culto de São Félix, ajudou os peregrinos e empenhou-se com generosidade em aliviar as necessidades do seu tempo. Compôs uma coleção de poemas, notáveis pela elegância de estilo. Morreu em 431.

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Segunda leitura

Das Cartas de São Paulino de Nola, bispo

(Epist. 3 ad Alypium, 1.5.6: CSEL 29,13-14.17-18)

(Séc.IV)

Em toda parte Deus dá o seu amor
aos que lhe pertencem, por meio do Espírito Santo

É verdadeira caridade, é perfeito amor, o sentimento que demonstraste para com minha humilde pessoa, ó homem realmente santo, justamente abençoado e muito amado. Por intermédio de Juliano, um dos meus amigos, que regressava de Cartago, recebi tua carta. Ela trouxe até mim a luz da tua santidade; por ela mais reconheci do que conheci a tua caridade para comigo. Porque esta caridade procede daquele que desde a origem do mundo nos predestinou para si; nele fomos criados antes de nascer; ele mesmo nos fez e somos seus (Sl 99,3), ele que fez tudo quanto havia de existir. Formados, pois, pela sua presciência e ação, ficamos unidos antes mesmo de nos conhecermos, pelos laços da caridade, num mesmo sentimento e na unidade da fé ou na fé da unidade. Assim, antes ainda de nos vermos pessoalmente, já nos conhecemos por revelação do Espírito Santo.

Por isso me felicito e me glorio no Senhor que, sendo o mesmo e único, em toda parte dá o seu amor aos que lhe pertencem, por meio do Espírito Santo. Este amor foi derramado pelo mesmo Espírito em todo ser humano e é semelhante à torrente impetuosa de um rio que alegra a sua cidade. Nela foste merecidamente colocado pela Sé Apostólica como chefe espiritual de seus cidadãos, com os nobres do seu povo (Sl 112,8). Eu também, que estava prostrado por terra, fui erguido por ela para tomar parte no mesmo ministério que o teu. Mais me alegra, porém, aquela graça que o Senhor me fez ao preparar um lugar para mim no íntimo do teu coração e conceder-me a tua amizade. Assim, posso me gloriar com toda confiança no teu amor, que tão empenhadamente me mostraste com estes serviços, e que me obriga a corresponder com amor semelhante.

Para que nada ignores a meu respeito, fica sabendo que fui por muito tempo um pobre pecador; e que, se fui retirado das trevas e da sombra da morte recebendo o sopro da vida, se pus as mãos no arado e comecei a carregar a cruz do Senhor, preciso todavia do auxílio de tuas preces para perseverar até o fim. Será uma recompensa que irá juntar-se a teus méritos, se me ajudares, com esta intercessão, a carregar o meu fardo. Pois o santo que ajuda a quem trabalha – não ouso chamar-te simplesmente de irmão – será exaltado como uma grande cidade.

Enviamos à tua santidade um pão em sinal de unidade, que é também símbolo da indivisível Trindade. Digna-te aceitá-lo como uma bênção.

segunda-feira, 21 de junho de 2021

SÃO LUÍS GONZAGA, RELIGIOSO

 Memória


Nasceu em 1568 perto de Mântua, na Lombardia (Itália), filho dos príncipes de Castiglione. Sua mãe educou-o cristãmente e, desde cedo, manifestou grande desejo de abraçar a vida religiosa. Renunciando ao principado em favor de seu irmão, ingressou na Companhia de Jesus, em Roma. Durante os estudos de teologia, ocupando-se com o serviço dos doentes nos hospitais, contraiu uma doença que o levou à morte em 1591.
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Segunda leitura

Da Carta escrita por São Luís Gonzaga à sua mãe.

(Acta Sanctorum, Iuni,5,578)

(Séc.XVI)

 Cantarei eternamente as misericórdias do Senhor

Ilustríssima senhora, peço que recebas a graça do Espírito Santo e a sua perpétua consolação. Quando recebi tua carta, ainda me encontrava nesta região dos mortos. Mas agora, espero ir em breve louvar a Deus para sempre na terra dos vivos. Pensava mesmo que a esta hora já teria dado esse passo. Se é caridade, como diz São Paulo, chorar com os que choram e alegrar-se com os que se alegram (cf. Rm 12,15), é preciso, mãe ilustríssima, que te alegres profundamente porque, por teus méritos, Deus me chama à verdadeira felicidade e me dá a certeza de jamais me afastar do seu temor.

Na verdade, ilustríssima senhora, confesso-te que me perco e arrebato quando considero, na sua profundeza, a bondade divina. Ela é semelhante a um mar sem fundo nem limites, que me chama ao descanso eterno por um tão breve e pequeno trabalho; que me convida e chama ao céu para aí me dar àquele bem supremo que tão negligentemente procurei, e me promete o fruto daquelas lágrimas que tão parcamente derramei.

 Por conseguinte, ilustríssima senhora, considera bem e toma cuidado em não ofender a infinita bondade de Deus. Isto aconteceria se chorasses como morto aquele que vai viver perante a face de Deus e que, com sua intercessão, poderá auxiliar-te incomparavelmente mais do que nesta vida. Esta separação não será longa; no céu nos tornaremos a ver. Lá, unidos ao autor da nossa salvação, seremos repletos das alegrias imortais, louvando-o com todas as forças da nossa alma e cantando eternamente as suas misericórdias. Se Deus toma de nós aquilo que havia emprestado, assim procede com a única intenção de colocá-lo em lugar mais seguro e fora de perigo, e nos dar aqueles bens que desejamos dele receber.

 Disse tudo isto, ilustríssima senhora, para ceder ao desejo que tenho de que tu e toda a minha família considereis minha partida como um feliz benefício. Que a tua bênção materna me acompanhe na travessia deste mar, até alcançar a margem onde estão todas as minhas esperanças. Escrevo isto com alegria para dar-te a conhecer que nada me é bastante para manifestar com mais evidência o amor e a reverência que te devo, como um filho à sua mãe.