sábado, 24 de abril de 2021

São Fidélis de Sigmaringen, presbítero e mártir

 Memória Facultativa

Nasceu na cidade de Sigmaringen, na Alemanha, em 1578; foi recebido entre os frades menores capuchinhos e levou vida austera em vigílias e orações. Assíduo à pregação da palavra de Deus, recebeu da S. Congregação 'de Propaganda Fide' a missão de confirmar a reta doutrina na Récia. Contudo em 1622, assassinado por hereges em Seewis, na Suíça, morreu mártir.

Fiel de nome e de fato.

Elogio de são Fidélis, presbítero e mártir.

O papa Bento XIV celebrou em são Fidélis, a testemunha da fé católica, com estas palavras:
"Estendendo a plenitude de sua caridade ao alívio e aúxílio do próximo estrangeiro, abraçava em seu coração paternal todos os aflitos e sustentava por esmolas numerosos grupos de pobres recolhidos por toda parte.
Amenizava o abandono dos órfãos e viúvas, obtendo para eles o auxílio dos poderosos e dos príncipes; sem cessar, ajudava nos cárceres os prisioneiros que podia, com socorros corporais e espirituais; não deixava de visitar com frequência os doentes; e animava-os e, reconciliados com Deus preparava-os para o supremo combate. Neste particular, encontrou oportuníssimo campo de fecundos méritos no exército autríaco. Este, acampado na Récia, quase todo contaminado por uma epidemia, oferecia deplorável alimento à doença e à morte".

Não só na caridade, mas também no zelo pela defesa da fé católica, se notabilizou este homem, fiel no nome e na vida. Pregou-a sem descanso e, poucos dias antes de confirmá-la com seu sangue, no último sermão que fez, pronunciou as seguintes palavras como um testemunho: 
“Ó fé católica, como és estável, sólida, bem arraigada, como és bem construída sobre a rocha firme! (cf. Mt 7,25). 
O céu e a terra passarão, tu, porém, não passarás jamais. O mundo inteiro desde o princípio te fez guerra, mas de todos triunfaste com o teu poder. 
Esta é vitória que venceu o mundo: a nossa fé (1Jo 5,4). Ela submeteu ao império de Cristo os reis mais poderosos, ela colocou a serviço de Cristo povos inteiros. 
O que fez os santos apóstolos e mártires suportarem tão duros combates e tão dolorosos tormentos, senão a fé, principalmente a fé na ressurreição?
O que fez os anacoretas desprezarem as delícias, rejeitarem as honras, pisarem as riquezas, viverem castamente no deserto, a não ser a fé viva? O que leva hoje os verdadeiros cristãos a abandonarem o excesso de conforto, não darem importância aos prazeres, suportarem coisas ásperas e aguentarem duros trabalhos?
É a fé viva agindo pela caridade (cf. Gl 5,6). É ela que nos faz renunciar aos bens presentes na esperança dos  bens futuros e trocar as coisas presentes por aquelas que hão de vir”.

sexta-feira, 23 de abril de 2021

SÃO JORGE, MÁRTIR

 Já no século IV era venerado em Dióspolis, na Palestina, onde foi construída uma igreja em sua honra. Seu culto propagou-se pelo Oriente e Ocidente desde a Antiguidade.

 ___________________________ 


Segunda leitura

Dos Sermões de São Pedro Damião, bispo

(Sermo 3, De sancto Georgio: PL 144,567-571)
(Séc. XI)

Invencivelmente protegido pelo estandarte da cruz
A festa de hoje, caríssimos irmãos, renova a alegria pascal e, como pedra preciosa, faz brilhar com a beleza do próprio esplendor o ouro em que se engasta.
Jorge foi transferido de uma milícia para outra, porque deixou o cargo de oficial de um exército terreno para se dedicar à milícia cristã. Nesta, como valente soldado, começou por libertar-se dos bens terrenos, distribuindo-os aos pobres; assim, livre e desembaraçado, revestido com a couraça da fé, lançou-se na linha de frente do combate como valoroso guerreiro de Cristo.
Isto nos ensina claramente que não podem lutar com força e eficácia, em defesa da fé, aqueles que ainda têm medo de se despojar dos bens da terra.
Inflamado pelo fogo do Espírito Santo e invencivelmente protegido pelo estandarte da cruz, São Jorge combateu de tal modo contra o rei iníquo que, vencendo este enviado de Satanás, derrotou o chefe de toda iniqüidade e estimulou os soldados de Cristo a lutarem com valentia.
Assistia ao combate o supremo e invisível Árbitro que, segundo os planos da sua providência, permitiu que os ímpios o atormentassem. De fato, entregou o corpo de seu mártir às mãos dos carrascos, mas guardou a sua alma com proteção constante no baluarte inexpugnável da fé.
Caríssimos irmãos, não nos limitemos a admirar este combatente do exército celeste, mas imitemo-lo também. Eleve-se o nosso espírito para o prêmio da glória celeste, contemplemo-lo com os olhos do coração. Assim não nos abalaremos nem pelo sorriso enganador do mundo nem pelas ameaças do seu ódio perseguidor.
Purifiquemo-nos de toda mancha na carne e no espírito, como nos manda São Paulo, para merecermos um dia entrar naquele templo da bem-aventurança, que por ora apenas entrevemos com o olhar do espírito.
Todo aquele que quer se oferecer a Deus em sacrifício no templo de Cristo, que é a Igreja, depois de lavar-se no banho sagrado do batismo, tem ainda que se revestir com as vestes das várias virtudes, conforme está escrito: Que os vossos sacerdotes se vistam de justiça (Sl 131,9). Quem pelo batismo renasce como homem novo em Cristo, não se vestirá com a mortalha do homem velho, e sim com a veste do homem novo, vivendo sempre renovado numa vida pura.
Só assim, purificados da imundície da nossa antiga condição pecadora e brilhando pelo fulgor de uma vida nova, seremos dignos de celebrar o mistério pascal e imitarmos verdadeiramente o exemplo dos santos mártires.

quarta-feira, 21 de abril de 2021

SANTO ANSELMO, BISPO E DOUTOR DA IGREJA

 Nasceu em Aosta, no Piemonte (Itália), em 1033. Entrou para a Ordem de São Bento no mosteiro de Le Bec, na França. Ensinou Teologia a seus irmãos de hábito, ao mesmo tempo em que ia progredindo com entusiasmo no caminho da perfeição. Transferido para a Inglaterra, foi eleito bispo de Cantuária. Combateu valorosamente pela liberdade da Igreja, o que lhe causou duas vezes o exílio. Escreveu muitas obras de grande valor teológico e místico. Morreu em 1109.

___________________________________ 

Segunda leitura

Do livro "Proslógion", de Santo Anselmo, bispo

(Cap. 14.16.26: Opera omnia, edit. Schmitt,
Seccovii, 1938, 1,111-113.121-122)

(Séc. XI)

Que eu te conheça e te ame,
para encontrar em ti minha alegria
Encontraste, ó minh'alma, o que procuravas? Procuravas a Deus e viste que ele está muito acima de tudo, e nada melhor do que ele se pode pensar; que ele é a própria vida, a luz, a sabedoria, a bondade, a eterna felicidade e a feliz eternidade; e que ele é tudo isto sempre e em toda parte.
Senhor meu Deus, meu Criador e Redentor, dize à minh'alma sedenta em que és diferente daquilo que ela viu, para que veja mais claramente o que deseja. Ela se esforça por ver sempre mais; contudo nada vê além do que já viu, senão trevas. Ou melhor, não vê trevas, porque elas não existem em ti; porém vê que não pode enxergar mais por causa das trevas que possui.
Verdadeiramente, Senhor, esta é a luz inacessível em que habitas; verdadeiramente nada há que penetre nesta luz para ali te ver, tal como és. De fato, eu não vejo essa luz, porque é excessiva para mim; e, no entanto, tudo quanto vejo é através dela: semelhante à nossa vista humana que, pela sua fraqueza, só pode ver por meio da luz do sol e contudo não pode olhar diretamente para o sol.
Minha inteligência é incapaz de ver essa luz, demasiado brilhante para ser compreendida; os olhos de minh'alma não suportam fixar-se nela por muito tempo. Ficam ofuscados pelo seu esplendor, vencidos pela sua imensidade, confundidos pela sua grandeza.
Ó luz suprema e inacessível! Ó verdade plena e bem-aventurada! Como estás longe de mim que de ti estou tão perto! Quão afastada estás de meu olhar, de mim que estou tão presente ao teu olhar!
Estás presente em toda parte, e eu não te vejo. Em ti me movo, em ti existo, e de ti não posso me aproximar. Estás dentro de mim e a meu redor, e eu não te percebo.
Peço-te, meu Deus, faze que eu te conheça e te ame, para encontrar em ti minha alegria. E se não o posso alcançar plenamente nesta vida, que ao menos vá me aproximando, dia após dia, dessa plenitude. Cresça agora em mim o conhecimento de ti, para que chegue um dia ao conhecimento perfeito; cresça agora em mim o amor por ti até que chegue um dia à plenitude do amor; seja agora a minha alegria grande em esperança, para que um dia seja plena mediante a posse da realidade.
Senhor, por meio de teu Filho ordenas, ou melhor, aconselhas a pedir, e prometes acolher o pedido para que nossa alegria seja completa. Por isso, peço-te, Senhor, o que aconselhas por meio do nosso admirável Conselheiro; possa eu receber o que em tua fidelidade prometes, a fim de que minha alegria seja completa. Deus fiel, eu te peço: faze que o receba, para que minha alegria seja completa.
Por enquanto, nisto medite meu espírito e fale minha língua. Isto ame meu coração e proclame minha boca. Desta felicidade prometida tenha fome e sede a minha carne. Todo o meu ser a deseje, até que um dia entre na alegria do meu Senhor, que é Deus uno e trino, bendito pelos séculos. Amém.