sábado, 15 de agosto de 2020

Sábado da 19ª semana do Tempo Comum

 

Segunda leitura


Do Sermão sobre o batismo, de São Paciano, bispo

 

(Nn. 6-7: PL 13,1093-1094)

(Séc. IV)

 

Quem semelhante a ti, ó Deus, que apagas a iniquidade?

 

Como trouxemos a imagem do homem terrestre, levemos a daquele que vem do céu; porque o primeiro homem, da terra, é terrestre, o segundo, do céu, é celeste (cf. 1Cor 15,47-49). Assim agindo, diletíssimos, já não mais morreremos. Mesmo que nosso corpo se desfaça, viveremos em Cristo, conforme ele mesmo disse: Quem crer em mim, mesmo que esteja morto, viverá (Jo 11,15).

Pelo testemunho do Senhor estamos certos de que Abraão, Isaac, Jacó e todos os santos de Deus vivem. Destes mesmos diz o Senhor: Todos para ele vivem; Deus é Deus dos vivos, não dos mortos (cf. Mt 22,32). E o Apóstolo fala de si: Para mim, viver é Cristo e morrer, um lucro; desejo dissolver-me e estar com Cristo (cf. Fl 1,21-23). De novo: Quanto a nós, enquanto estamos neste corpo, peregrinamos longe do Senhor. Pois caminhamos pela fé, não pela visão (2Cor 5,6). É isto o que cremos, irmãos caríssimos. De resto: Se apenas para este século temos esperança, somos os mais deploráveis de todos os homens (cf. 1Cor 15,19). Como se pode ver, a vida no mundo é a mesma para nós e para os animais, as feras e as aves. A vida deles pode até ser mais longa do que a nossa. Mas o que é próprio do homem, que Cristo deu por seu Espírito, é a vida perpétua, contanto que não mais pequemos. Porque como a morte se encontra na culpa e é evitada pela virtude, assim o mal faz perder a vida, a virtude a sustenta. Paga do pecado, a morte; dom de Deus, a vida eterna por Jesus Cristo, nosso Senhor (Rm 6,23).

É ele quem nos redime, perdoando-nos todo o pecado, assim fala o Apóstolo, destruindo o quirógrafo da desobediência lavrado contra nós; tirou-o do meio de nós, pregando-o na cruz. Despindo a carne, rebaixou as potestades, triunfando livremente delas em si mesmo (cf. Cl 2,13-15). Libertou os acorrentados, rompeu nossas cadeias, como Davi predissera: O Senhor levanta os caídos, o Senhor liberta os cativos, o Senhor ilumina os cegos (cf. Sl 145,7-8). E ainda: Rompeste minhas cadeias, sacrificar-te-ei uma hóstia de louvor (Sl 115,16-17). Libertados das cadeias, logo nos reunimos, pelo sacramento do batismo, o sinal do Senhor, livres pelo sangue e pelo nome de Cristo.

Por conseguinte, queridos, somos lavados de uma vez, libertados de uma vez, de uma vez acolhidos no reino imortal. De uma vez para sempre são felizes aqueles aos quais os pecados foram perdoados e cobertas as culpas (cf. Sl 31,1). Segurai com força o que recebestes, guardai-o bem, não pequeis mais. Preservai-vos puros do mal e imaculados para o dia do Senhor.

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Sexta-feira da 19ª semana do Tempo Comum

 

Segunda leitura


Do Sermão sobre o batismo, de São Paciano, bispo

 

(Nn. 5-6: PL 13,1092-1093)

(Séc. IV)

 

Pelo Espírito sigamos o novo modo de viver em Cristo

 

O pecado de Adão passara para toda a raça: Por um homem, assim diz o apóstolo, entrou o delito e pelo delito, a morte; assim também a morte passou para todos os homens (Rm 5,12). Portanto é necessário que a justiça de Cristo também passe para o gênero humano. Como aquele, pelo pecado fez perecer sua raça, assim Cristo pela justiça vivificará todo o seu povo. O Apóstolo insiste: Como pela desobediência de um só muitos foram constituídos pecadores, assim pela obediência de um só muitos se constituem justos. Como reinou o delito para a morte, de igual modo reinará a graça pela justiça para a vida eterna (Rm 5,19.21).

Dirá alguém: "Mas havia motivo para o pecado de Adão passar aos seus descendentes, pois foram gerados por ele; e nós, será que somos gerados por Cristo para podermos ser salvos por ele? Nada de pensamentos carnais. Já diremos de que modo somos gerados, tendo Cristo por pai. Nos últimos tempos, assumiu Cristo de Maria a alma com a carne. A ela veio salvar, não a abandonou nos infernos, uniu-a a seu Espírito, fazendo-a sua. São estas as núpcias do Senhor, a união a uma carne, para formarem, conforme o grande sacramento, de dois uma só carne, Cristo e a Igreja.

Destas núpcias nasce o povo cristão, com a vinda do alto do Espírito do Senhor. À substância de nossas almas une-se logo a semente celeste descida do céu e brotamos nas entranhas da mãe e, postos em seu seio, somos vivificados em Cristo. Daí dizer o Apóstolo: O primeiro Adão, alma vivente; o último Adão, espírito vivificante (1Cor 15,45). Assim gera Cristo, na Igreja, por meio de seus sacerdotes. O mesmo Apóstolo: Em Cristo eu vos gerei (1Cor 4,15). A semente de Cristo, o Espírito de Deus, suscitando o novo homem no seio da mãe e dando-o à luz pelo parto da fonte, é dada pelas mãos do sacerdote; a madrinha do casamento é a fé.

É preciso receber a Cristo para nascer, pois assim diz o apóstolo João: A todos aqueles que o receberam, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus (Jo 1,12). Não há possibilidade de se cumprir isto a não ser pelo sacramento do batismo, da crisma e do sacerdócio. O batismo purifica os pecados. Pela crisma é infundido o Espírito Santo. Solicitamos ambos das mãos e das palavras do bispo. Deste modo o homem todo renasce e se renova em Cristo. Da forma como Cristo ressuscitou dos mortos, assim também nós caminhemos com vida (Rm 6,4). Quer dizer, despojados dos erros da vida antiga, sigamos pelo Espírito o novo modo de viver em Cristo.

quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Quinta-feira da 19ª semana do Tempo Comum

 

Segunda leitura


Do Tratado sobre a verdadeira imagem do cristão, de São Gregório de Nissa, bispo

 

(PG 46, 259-262)

(Séc. IV)

 

Temos Cristo, nossa paz e nossa luz

 

É ele nossa paz, ele que de duas coisas fez uma só (Ef 2,14). Ao refletirmos que Cristo é a paz, mostraremos qual o verdadeiro nome do cristão, se pela paz que está em nós expressarmos Cristo por nossa vida. Ele destruiu a inimizade (cf. Ef 2,16), como diz o Apóstolo. Não consintamos de modo algum que ela reviva em nós, mas declaremo-la totalmente morta. Não aconteça que, maravilhosamente destruída por Deus para nossa salvação, venhamos, para ruína de nossa alma, cheios de cólera e de lembranças das injúrias, a reerguê-la, quando jazia tão bem morta, chamando-a perversamente de novo à vida.

Tendo nós, porém, a Cristo que é a paz, matemos igualmente a inimizade, para que testemunhemos por nossa vida aquilo que cremos existir nele. Se, derrubando a parede intermédia, dos dois criou em si mesmo um só homem, fazendo a paz, assim também nós, reconciliemo-nos não apenas com aqueles que nos combatem do exterior, mas ainda com os que incitam sedições dentro de nós mesmos. Que a carne não mais tenha desejos contrários ao espírito, nem o espírito contra a carne. Mas submetida a prudência da carne à lei divina, reedificados como um homem novo e pacífico, de dois feitos um só, tenhamos a paz em nós.

Na paz se define a concórdia dos adversários. Por isto, terminada a guerra intestina de nossa natureza, cultivando a paz, tornamo-nos paz e manifestamos em nós este verdadeiro e próprio nome de Cristo.

Cristo é ainda a luz verdadeira, totalmente estranha à mentira; sabemos então que também nossa vida tem de ser iluminada pelos raios da verdadeira luz. Os raios do sol da justiça são as virtudes que dele emanam para iluminar-nos, para que rejeitemos as obras das trevas e caminhemos nobremente como em pleno dia (cf. Rm 13,13). Pelo repúdio de toda ação vergonhosa e escusa, agindo sempre na claridade, tornamo-nos nós também luz e, o que é próprio da luz, resplandeceremos para os outros pelas obras.

Considerando Cristo como santificação, se nos abstivermos de tudo quanto é mau e impuro, seja nas ações, seja nos pensamentos, apareceremos como verdadeiros participantes deste seu nome, uma vez que, não por palavras, mas pelos atos de nossa vida, manifestamos o poder da santificação.