sábado, 4 de julho de 2020

Sábado da 13ª semana do Tempo Comum



Segunda leitura

Das Catequeses de São Cirilo, bispo de Jerusalém

(Cat. 1,2-3.5-6: PG 33,371.375-378)
(Séc. IV)

Confessa no tempo propício

Se há aqui alguém escravo do pecado, prepare-se pela fé para o nobre renascimento de filhos por adoção. Rejeitada a péssima escravidão dos pecados e obtida a felicíssima servidão do Senhor, seja considerado digno de alcançar a herança do reino celeste. Portanto despi, pela confissão, o homem velho que se vai corrompendo ao sabor dos desejos maus, a fim de revestirdes o homem novo, que se renova pelo conhecimento daquele que o criou. Adquiri pela fé a segurança do Espírito Santo de serdes acolhidos nas mansões eternas. Aproximai-vos do místico sinal para que possais ser favoravelmente reconhecidos pelo Soberano. Juntai-vos ao santo e racional rebanho de Cristo. Postos um dia de parte à sua direita, entrareis assim na posse da vida preparada por herança para vós.
Com a aspereza dos pecados aderentes como pêlos, estão à esquerda aqueles que não se achegam à graça de Deus concedida por Cristo no banho da regeneração. Refiro-me aqui não à regeneração dos corpos, mas ao novo nascimento espiritual da alma. Os corpos são gerados pelos pais visíveis; a alma é gerada de novo pela fé, porque o Espírito sopra onde quer. Então, se te tornares digno, poderás ouvir: Muito bem, servo bom e fiel, quando não se encontrar em ti qualquer impureza de fingimento na consciência.
Se algum dos que aqui estão espera provocar a graça de Deus, engana-se e desconhece o valor das coisas. Tem, ó homem, alma sincera e livre de disfarce, por causa daquele que perscruta corações e rins.
O tempo agora é tempo de confissão. Confessa o que cometeste por palavra, ou ação, de noite ou de dia. Confessa no tempo propício e recebe no dia da salvação o tesouro celeste.
Limpa tua jarra para conter graça mais abundante, pois a remissão dos pecados é dada igualmente a todos, mas, a comunicação do Espírito Santo é concedida a cada um segundo a fé. Se trabalhares pouco, receberás pouco; se fizeres muito, grande será a recompensa. Corre em teu próprio proveito, vê o que te convém.
Se tens algo contra outro, perdoa. Tu te aproximas para receber o perdão dos pecados; é necessário perdoar a quem te ofendeu.

sexta-feira, 3 de julho de 2020

Sexta-feira da 13ª semana do Tempo Comum



Segunda leitura

Do livro sobre a predestinação dos santos, de Santo Agostinho, bispo

(Cap. 15,30-31: PL 44,981-983)
(Séc. V)

Jesus Cristo, da linhagem de Davi segundo a carne

Esplêndida luz da predestinação e da graça é o próprio Salvador, o mediador entre Deus e os homens, o homem Cristo Jesus. Para que isto acontecesse, como o adquiriu a natureza humana que nele existe? Com que precedentes méritos de obras ou de fé? Respondam-me, por favor: aquele homem, para ser assumido na unidade de pessoa pelo Verbo coeterno com o Pai e ser o Filho unigênito de Deus, o que fez para merecê-lo? Qual o bem que precedeu? Que fez antes, que acreditou, que pediu, para chegar a esta indizível excelência? Na verdade, não foi pela ação do Verbo, ao assumi-lo, que este mesmo homem, desde que começou a existir, começou a ser o Filho único de Deus? Manifeste-se assim a nós, em nossa Cabeça, a fonte de graça, donde ela se vai difundir por todos os membros segundo a medida de cada um.
Com efeito, a graça pela qual, no início de sua fé, um homem se torna cristão, é a mesma pela qual esse homem, desde sua origem, foi feito Cristo. Assim pelo mesmo Espírito renasceu aquele cristão e nasceu este o Cristo. Pelo Espírito, faz-se em nós a remissão dos pecados, por esse mesmo Espírito que fez com que o Cristo não tivesse pecado algum. Deus teve a presciência de que faria tais coisas. Esta é, portanto, a predestinação dos santos, aquela que refulge ao máximo no Santo dos santos. Quem poderá negá-la se compreende com justeza as palavras da verdade? Pois foi-nos ensinado que o próprio Senhor da glória, enquanto homem feito Filho de Deus, foi predestinado.
Jesus foi predestinado: ele, que haveria de ser filho de Davi segundo a carne, haveria de ser também, segundo a virtude, Filho de Deus segundo o Espírito de santidade, porque nasceu do Espírito Santo e da Virgem Maria. É esta a singular assunção do homem pelo Deus Verbo que se realizou de modo inefável, a fim de que o Filho de Deus e, ao mesmo tempo, filho do homem, a saber, filho do homem por causa da humanidade assumida e filho de Deus por causa daquele que assumia – fosse verdadeira e propriamente dito o Deus unigênito. Que não acontecesse termos de crer numa quaternidade e não na Trindade!
A natureza humana foi predestinada a tão imensa, sublime e máxima elevação que não tem por onde mais se elevar, assim como a própria divindade não encontrou meios de se rebaixar mais por nós do que aceitando a natureza do homem, com a fraqueza da carne, até à morte da cruz. Assim como foi predestinado o único para ser nossa Cabeça, assim também, embora muitos, nós somos predestinados para sermos seus membros. Calem-se aqui os méritos humanos, mortos por Adão, e reine aquela que reina, a graça de Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor, único Filho de Deus, um só Senhor. Quem quer que encontre em nossa Cabeça méritos anteriores àquela singular geração, busque em nós, seus membros, os méritos precedentes à múltipla regeneração.

quinta-feira, 2 de julho de 2020

Quinta-feira da 13ª semana do Tempo Comum



Segunda leitura

Homilia aos neófitos sobre o Salmo 41, de São Jerônimo, presbítero

(CCL 78,542-544)
(Séc. V)

Entrarei no lugar do admirável tabernáculo

Como o cervo deseja as fontes das águas, assim minha alma te deseja, ó Deus. Como aqueles cervos desejam as fontes das águas, assim os nossos cervos que, afastando-se do Egito e do século, afogaram o faraó em suas águas e mataram todo o seu exército no batismo, depois da morte do diabo, desejam as fontes da Igreja, isto é, o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
Que o Pai seja dito fonte, encontramos em Jeremias: Afastaram-me a Mim, fonte de água viva, e cavaram para si cisternas rachadas que não podem reter as águas. Sobre o Filho, lemos em certo lugar: Abandonaram a fonte da sabedoria. E sobre o Espírito Santo: Quem beber da água que eu lhe der, dele brotará uma fonte de água que jorra para a vida eterna, que logo o Evangelista explica tratar-se do Espírito Santo nesta palavra do Salvador. Prova-se assim claramente que as três fontes da Igreja são o mistério da Trindade.
A esta Trindade aspira o fiel, aspira o batizado que diz: Minha alma tem sede de Deus, fonte viva. Não quer ver a Deus apenas de leve, mas com todo o ardor, todo abrasado em sede. Com efeito, antes do Batismo, os futuros cristãos falavam entre si e diziam: Quando irei e me apresentarei diante da face de Deus? Agora obtiveram o que pediam: vieram e ficaram diante da face de Deus, apresentaram-se ante o altar, perante o mistério do Salvador.
Admitidos no Corpo de Cristo e renascidos na fonte da vida, proclamam com confiança: Entrarei no lugar do admirável tabernáculo, até a casa de Deus. A casa de Deus é a Igreja, é ela o admirável tabernáculo, nele mora a voz da exultação e do louvor, o ruído dos convivas.
Dizei, portanto, vós que agora, guiados por nós, vos revestistes de Cristo, fostes retirados pela palavra de Deus do mar deste mundo como um peixinho preso pelo anzol. Em nós, porém, a natureza se transformou, pois enquanto os peixes morrem, quando retirados das águas, a nós os apóstolos nos tiraram e pescaram do mar deste mundo para que de mortos passemos a vivos. Enquanto estávamos no século, com os olhos nas profundezas, nossa vida se passava no lodo. Depois de erguidos das ondas, começamos a ver o sol, começamos a olhar a verdadeira luz; e deslumbrados pela imensa alegria dizemos a nossa alma: Espera em Deus porque o louvarei, a ele, salvação de minha face e meu Deus.