sábado, 29 de agosto de 2020

Sábado da 21ª semana do Tempo Comum

 

Segunda leitura


Das Homilias sobre Mateus, de São João Crisóstomo,
bispo

 

(Hom. 50,3-4: PG 58,508-509)

(Séc. IV)

 

Enquanto adornas o templo, não desprezes
o irmão que sofre

 

Queres honrar o corpo de Cristo? Não o desprezes quando nu; não o honres aqui com vestes de seda e abandones fora no frio e na nudez o aflito. Pois aquele que disse: Isto é o meu corpo (Mt 26,26) e confirmou com o ato a palavra, é o mesmo que falou: Tu me viste faminto e não me alimentaste (cf. Mt 25,35); e: O que não fizeste a um destes mais pequeninos, não o fizeste a mim (cf. Mt 25,45). Este não tem necessidade de vestes, mas de corações puros, aquele, porém, precisa de grande cuidado.

Aprendamos, portanto, a raciocinar e a reverenciar a Cristo como lhe agrada. A honra mais agradável a quem se deseja honrar é aquela que ele prefere, não aquela que julgamos melhor. Pedro, por exemplo, julgava honrá-lo, não permitindo lavar-lhe os pés; mas o que queria não vinha a ser honra, mas exatamente o contrário. Assim, honra-o tu com a honra prescrita em lei, distribuindo tua fortuna com os pobres. Deus não precisa de vasos de ouro, mas de almas de ouro.

Digo isto, não para proibir que haja dádivas, mas que com elas e antes delas se dêem esmolas. Porque ele aceita aquelas, porém, muito mais estas. Daquelas só quem oferece tem lucro; destas, também aquele que recebe. Lá o dom parece ser ocasião de ostentação; aqui só pode ser compaixão e benignidade.

Que proveito haveria, se a mesa de Cristo está coberta de taças de ouro e ele próprio morre de fome? Sacia primeiro o faminto e, depois, do que sobrar, adorna sua mesa. Fazes um cálice de ouro e não dás um copo de água? Que necessidade há de cobrir a mesa com véus tecidos de ouro, se não lhe concederes nem mesmo a coberta necessária? Que lucro haverá? Dize-me: se vês alguém que precisa de alimento e, deixando-o lá, vais rodear a mesa, de ouro, será que te agradecerá ou, ao contrário, se indignará? Que acontecerá se ao vê-lo coberto de andrajos e morto de frio, deixando de dar as vestes, mandas levantar colunas douradas, declarando fazê-lo em sua honra? Não se julgaria isto objeto de zombaria e extrema afronta?

Pensa também isto a respeito de Cristo, quando errante e peregrino vagueia sem teto. Não o recebes como hóspede, mas ornas o pavimento, as paredes e os capitéis das colunas, prendes com cadeias de prata as lâmpadas, e a ele, preso em grilhões no cárcere, nem sequer te atreves a vê-lo. Torno a dizer que não proíbo tais adornos, mas que com eles haja também cuidado pelos outros. Ou melhor, exorto a que se faça isto em primeiro lugar. Daquilo, se alguém não o faz, jamais é acusado; isto porém, se alguém o negligencia, provoca-lhe a geena e fogo inextinguível, suplício com os demônios. Por conseguinte, enquanto adornas a casa, não desprezes o irmão aflito, pois ele é mais precioso que o templo.

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Sexta-feira da 21ª semana do Tempo Comum

 

Segunda leitura


Do comentário sobre o profeta Joel, de São Jerônimo, presbítero

 

(PL 25,967-968)

(Séc. V)

 

Convertei-vos a mim

 

Convertei-vos a mim de todo o vosso coração (Jl 2,12) e mostrai o arrependimento do espírito por jejuns, lágrimas e gemidos. Para que, jejuando agora, vos sacieis mais tarde; chorando agora, riais depois; gemendo agora, sejais depois consolados. É costume nas tristezas e adversidades rasgar as vestes. Isso fez o Sumo Pontífice para aumentar a acusação contra o Senhor Salvador, segundo conta o Evangelho e fizeram Paulo e Barnabé ao ouvir as palavras de blasfêmia. Assim eu vos ordeno, não rasgueis as vestimentas, mas os corações que estão cheios de pecados, porque quais odres, se não forem rasgados, se romperão por si mesmos. Tendo assim agido, voltai ao Senhor nosso Deus, a quem vossos pecados anteriores vos fizeram afastar-vos. Não desespereis do perdão pela gravidade das culpas, pois grande misericórdia apagará grandes pecados.

Pois ele é benigno e misericordioso, preferindo a penitência dos pecadores à morte; paciente, de imensa misericórdia, que não imita a impaciência humana, mas espera por longo tempo nossa conversão condescendente ou arrependido do mal que intentara. Se fizermos penitência dos pecados, ele se arrependerá de suas ameaças e não nos fará vir os males que prometeu. Com a mudança de nosso intento, também ele mudará. Não devemos entender aqui "mal como contrário à virtude e sim como aflição, conforme lemos em outro passo: Basta a cada dia seu mal. E: Se houver na cidade mal que o Senhor não tenha enviado.

Da mesma forma, por ter dito acima ser benigno e misericordioso, paciente e de imensa misericórdia, condescendente ou arrependido do mal, para que talvez a grande clemência não nos torne negligentes, acrescenta por intermédio do Profeta: Quem sabe se não voltará atrás e perdoará, e deixará após si uma bênção? (Jl 2,13-14). Eu, diz ele, exorto à penitência, pois é o meu dever, e sei que Deus é indizivelmente clemente. Testemunha é Davi: Tem piedade de mim, ó Deus, segundo a tua grande misericórdia e segundo a multidão de tua compaixão apaga minha iniquidade (Sl 50,1.3). Como, porém, não podemos conhecer a profundidade das riquezas, da sabedoria e da ciência de Deus, amenizo a afirmação e prefiro desejar a presumir, dizendo: Quem sabe se não voltará atrás e perdoará? Dizendo quem sabe, quer significar ser impossível ou difícil.

Sacrifício e libação ao Senhor nosso Deus (cf. Jl 2,14). Depois de ter-nos dado a bênção e perdoado nossos pecados, somos capazes de oferecer hóstias ao Senhor.

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Quinta-feira da 21ª semana do Tempo Comum

 

Segunda leitura


Das Instruções de São Columbano, abade

 

(Instr. 13, De Christo fonte vitae, 2-3:
Opera, Dublin 1957,118-120)

(Séc. VII)

 

Tu és, ó Deus, nosso tudo

 

Irmãos, sigamos a vocação que nos chama da vida para a fonte da vida, fonte não apenas de água viva, mas da eterna vida, fonte de luz e de claridade; dela tudo provém, sabedoria e vida, luz eterna.

Autor da vida, é fonte da vida; Criador da luz, fonte da luz. Portanto, desprezando o que se vê e ultrapassando o mundo até as alturas dos céus, busquemos, quais peixes muito inteligentes e espertos, a fonte da luz, a fonte da vida, a fonte de água viva, para bebermos a água viva que jorra para a vida eterna (cf. Jo 4,14).

Oxalá te dignes admitir-me a esta fonte, Deus misericordioso, bom Senhor, onde eu, com os que têm sede de ti, beberei da onda viva da fonte viva de água corrente. Refeito por sua indizível doçura, esteja sempre unido a ela e diga: "Quão doce é a fonte de água viva, donde nunca falta a água que jorra para a vida eterna!

Ó Senhor, tu és esta fonte, sempre, sempre desejável, sempre, sempre a ser bebida. Dá-nos, sempre, Cristo Senhor, desta água, para que também em nós haja a fonte de água viva que jorra para a vida eterna. Grande coisa peço, quem o duvida? Mas tu, rei da glória, sabes dar grandes coisas e grandes coisas prometeste; nada maior do que tu e te deste a nós, te deste por nós.

Rogamos-te então que conheçamos o que amamos, porque não te pedimos dar-nos nada além de ti. Tu és o nosso tudo, nossa vida, nossa luz, nossa salvação, nosso alimento, nossa bebida, nosso Deus. Rogo-te, nosso Jesus, inspira nossos corações com aquela brisa de teu Espírito e fere nossas almas com tua caridade. Que cada uma de nossas almas possa na verdade dizer: Mostra-me o amado de minha alma (cf. Ct 1,6), porque estou ferida de amor.

Desejo, Senhor, que se grave em mim esta ferida. Feliz a alma que assim foi ferida pela caridade; esta busca a fonte, esta bebe e, no entanto, sempre tem sede bebendo e sempre haure desejando aquela que sempre bebe sedenta. Assim sempre busca amando aquela que se cura ferindo. Que Deus e nosso Senhor Jesus Cristo, o bom médico eficaz, se digne ferir com a chaga da salvação o íntimo de nossa alma. A ele, com o Pai e com o Espírito Santo, pertence a unidade pelos séculos dos séculos. Amém.