Segunda leitura
Da Regra Pastoral, de São Gregório Magno, papa
(Lib. 2,4: PL 77,30-31)
(Séc. VI)
O pastor seja discreto no silêncio, útil na palavra
Seja
o pastor discreto no silêncio, útil na fala, para não falar o que deve
calar, nem calar o que deve dizer. Pois da mesma forma que uma palavra
inconsiderada arrasta ao erro, o silêncio inoportuno deixa no erro
aqueles a quem poderia instruir. Muitas vezes, pastores imprudentes,
temendo perder as boas graças dos homens, têm medo de falar abertamente o
que é reto. E segundo a palavra da Verdade, absolutamente não guardam o
rebanho com solicitude de pastor, mas, por se esconderem no silêncio,
agem como mercenários que fogem à vinda do lobo.
O Senhor, pelo Profeta, repreende estes tais dizendo: Cães mudos que não conseguem ladrar (Is 56,10). De novo queixa-se: Não vos levantastes contra nem opusestes um muro de defesa da casa de Israel, de modo a entrardes em luta no dia do Senhor
(Ez 13,5). Levantar-se contra é contradizer sem rebuços aos poderosos
do mundo em defesa do rebanho. E entrar em luta no dia do Senhor quer
dizer: por amor à justiça resistir aos que lutam pelo erro.
Quando
o pastor tem medo de dizer o que é reto, não é o mesmo que dar as
costas, calando-se? É claro que se, pelo rebanho, se expõe, opõe um muro
contra os inimigos em defesa da casa de Israel. Outra vez, se diz ao
povo pecador: Teus profetas viram em teu favor coisas falsas e estultas; não revelavam tua iniquidade a fim de provocar à penitência (Lm 2,14). Na
Sagrada Escritura algumas vezes os profetas são chamados de doutores
porque, enquanto mostram ser transitórias as coisas presentes,
manifestam as que são futuras. A palavra divina censura aqueles que vêem
falsidades, porque, por medo de corrigir as faltas, lisonjeiam os
culpados com vãs promessas de segurança; não revelam de modo nenhum a
iniquidade dos pecadores porque calam a palavra de censura.
Por
conseguinte, a chave que abre é a palavra da correção porque, ao
repreender, revela a falta a quem a cometeu, pois muitas vezes dela não
tem consciência. Daí Paulo dizer: Que seja poderoso para exortar na sã doutrina e para convencer os contraditores (Tt 1,9). E Malaquias: Guardem os lábios do sacerdote a ciência; e esperem de sua boca a lei porque é um mensageiro do Senhor dos exércitos (Ml 2,7). Daí o Senhor admoestar por meio de Isaías: Clama, não cesses; qual trombeta ergue tua voz (Is 58,1).
Quem
quer que entre para o sacerdócio, recebe o ofício de arauto, porque
caminha à frente, proclamando a vinda do rigoroso juiz, que se aproxima.
Portanto, se o sacerdote não sabe pregar, que protesto elevará o arauto
mudo? Daí se vê por que sobre os primeiros pastores o Espírito Santo
pousou em forma de línguas; com efeito, imediatamente impele a falar
sobre ele aqueles que inunda de luzes.