sexta-feira, 14 de maio de 2021

SÃO MATIAS, APÓSTOLO

  Festa

 Foi escolhido para completar o grupo dos Doze,em substituição de Judas, para ser, como os outros Apóstolos, testemunha da ressurreição do Senhor,como se lê nos Atos dos Apóstolos (1,15-26).
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Segunda leitura

Das Homilias sobre os Atos dos Apóstolos, de São João Crisóstomo, bispo

 (Hom. 3,1.2.3: PG 60,33-36.38)
(Séc.IV)

 Mostra-nos, Senhor, quem escolheste
Naqueles dias, Pedro levantou-se no meio dos irmãos e disse
 (At 1,15). Pedro, a quem Cristo tinha confiado o rebanho, movido pelo fervor do seu zelo e porque era o primeiro do grupo apostólico, foi o primeiro a tomar a palavra: Irmãos, é preciso escolher dentre nós (cf. At 1,22). Ouve a opinião de todos, a fim de que o escolhido seja bem aceito, evitando a inveja que poderia surgir. Pois, estas coisas, com freqüência, são origem de grandes males.
 
 Mas Pedro não tinha autoridade para escolher por si só? É claro que tinha. Mas absteve-se, para não demonstrar favoritismo. Além disso, ainda não tinha recebido o Espírito Santo. Então eles apresentaram dois homens: José, chamado Barsabás, que tinha o apelido de Justo, e Matias (At 1,23). Não foi Pedro que os apresentou, mas todos. O que ele fez foi aconselhar esta eleição, mostrando que a iniciativa não era sua, mas fora anteriormente anunciada pela profecia. Sua intervenção nesse caso foi interpretar a profecia e não impor um preceito.
 
E continua: É preciso dentre os homens que nos acompanharam (cf. At 1,21-22). Repara como se empenha em que tenham sido testemunhas oculares; embora o Espírito Santo devesse ainda vir sobre eles, dá a isso grande importância.

  Dentre os homens que nos acompanharam durante todo o tempo em que o Senhor Jesus vivia no meio de nós, a começar pelo batismo de João (At 1,21-22). Refere-se àqueles que conviveram com Jesus, e não aos que eram apenas discípulos. De fato, eram muitos os que o seguiam desde o princípio. Vê como diz o evangelho: Era um dos dois que ouviram as palavras de João e seguiram Jesus (Jo 1,40). Durante todo o tempo em que o Senhor Jesus vivia no meio de nós, a começar pelo batismo de João. Com razão assinala este ponto de partida, já que ninguém conhecia por experiência o que antes se passara, mas foram ensinados pelo Espírito Santo.

Até ao dia em que foi elevado ao céu. Agora, é preciso que um deles se junte a nós para ser testemunha da sua ressurreição
 (At 1,22). Não disse: “testemunha de tudo o mais”, porém, testemunha de sua ressurreição. Na verdade, seria mais digno de fé quem pudesse testemunhar: “Aquele que vimos comer e beber e que foi crucificado, foi esse que ressuscitou”. Não interessava ser testemunha do tempo anterior nem do seguinte nem dos milagres, mas simplesmente da ressurreição.

Porque todos os outros fatos eram manifestos e públicos; só a ressurreição tinha acontecido secretamente e só eles a conheciam.
  E rezaram juntos, dizendo: Senhor, tu conheces o coração de todos. Mostra-nos (At 1,24). Tu, nós não. Com acerto o invocam como aquele que conhece os corações, pois a eleição deveria ser feita por ele e não por mais ninguém. Assim falavam com toda a confiança, porque a eleição era absolutamente necessária. Não disseram: “Escolhe”, mas: Mostra-nos quem escolheste (At 1,24). Bem sabiam que tudo está predestinado por Deus. Então tiraram a sorte entre os dois (At 1,26). Ainda não se julgavam dignos de fazer por si mesmos a eleição; por isso, desejaram ser esclarecidos por algum sinal.

quarta-feira, 12 de maio de 2021

SÃO NEREU E SANTO AQUILES, MÁRTIRES

Eram soldados adscritos ao tribunal militar. Convertidos à fé cristã, abandonaram o exército. Por isso, foram condenados à morte provavelmente no tempo de Diocleciano. Seu sepulcro conserva-se no cemitério da via Ardeatina, onde há uma basílica edificada em sua honra.

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Segunda leitura

Dos Comentários sobre os Salmos, de Santo Agostinho, bispo

(Ps. 61,4: CCL 39,773-775)
(Séc.V)

Os sofrimentos de Cristo não são apenas de Cristo
Jesus Cristo é um só homem, com sua cabeça e seu corpo: salvador do corpo e membros do corpo são dois numa só carne, numa só voz, numa só paixão; e quando passar o tempo da iniqüidade, num só descanso. Por isso, os sofrimentos de Cristo não são apenas de Cristo, ou melhor, os sofrimentos de Cristo não são senão de Cristo.

Se pensas em Cristo como cabeça e corpo, os sofrimentos de Cristo são apenas de Cristo; se, porém, pensas em Cristo só como cabeça, os sofrimentos de Cristo não são apenas de Cristo. Com efeito, se os sofrimentos de Cristo só atingem a Cristo, isto é, apenas a cabeça, como pode dizer um de seus membros, o apóstolo Paulo: Procuro completar na minha carne o que falta das tribulações de Cristo? (Cl 1,24).

Se, pois, és membro de Cristo – quem quer que sejas tu que ouves estas palavras, ou mesmo que não as ouça (no entanto ouves se és membro de Cristo) – tudo quanto sofreres por parte daqueles que não são membros de Cristo, é o que faltava às tribulações de Cristo.

Por isso se diz que faltava. Tu vens encher a medida, mas não a fazes transbordar. Tu sofres apenas o que faltava da tua parte na paixão total de Cristo, que sofreu como nossa cabeça e sofre ainda em seus membros, quer dizer, em nós mesmos.

Assim como numa sociedade civil, ou “república”, cada um paga conforme as suas posses o que lhe compete, também cada um de nós contribui para esta comunidade, na medida de suas possibilidades, com uma espécie de quota de sofrimentos. A liquidação total dos sofrimentos de todos só se dará quando chegar o fim do mundo.

Portanto, irmãos, não julgueis que todos os justos que sofreram perseguições dos iníquos, mesmo aqueles que foram enviados antes da vinda do Senhor para anunciar sua chegada, não pertenciam aos membros de Cristo. Longe de vós pensar que não pertença aos membros de Cristo quem faz parte da cidade que tem Cristo como rei.

Pois toda esta cidade fala, desde o sangue do justo Abel até o sangue de Zacarias. E a partir de então, desde o sangue de João Batista, é uma só cidade que fala através do sangue dos apóstolos, do sangue dos mártires, do sangue dos fiéis em Cristo.

São Pancrácio, mártir

  Memória Facultativa


Dos Sermões de São Bernardo, abade


(Sermão 17, Sobre o salmo Qui habitat, 4, 6: Opera omnia 4, 489-491) (Sec. XII)


Estou com ele na tribulação

Estou com ele na tribulação, diz o Senhor. Então, que posso eu desejar melhor que a tribulação? É bom para mim estar unido a Deus, e não só isto, mas também pôr no Senhor Deus a minha esperança, porque, diz Ele, Eu o libertarei e glorificarei.

Estou com ele na tribulação. As minhas delícias são estar com os filhos dos homens. É o Emanuel, o Deus connosco. Desceu para estar perto dos corações atribulados, para estar connosco na tribulação. E estará connosco quando formos levados sobre as nuvens ao encontro de Cristo nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. Mas para isso conseguirmos, empenhemo-nos em tê-l’O connosco, para que seja nosso companheiro de viagem Aquele que nos há-de conduzir à pátria; ou melhor, seja agora o nosso caminho Aquele que há-de ser a nossa pátria.

É melhor para mim, Senhor, sofrer a tribulação, desde que estejais comigo, do que reinar sem Vós, banquetear-me sem Vós, gloriar-me sem Vós. É melhor para mim, Senhor, abraçar-me a Vós na tribulação, ter-Vos comigo no meio do fogo, do que estar sem Vós, ainda que fosse no Céu. Na verdade, quem, fora de Vós, há para mim no Céu? E que mais posso desejar sobre a terra? A fornalha prova o ouro e a tribulação prova os justos. Aí, Senhor, estais com eles; aí estais no meio daqueles que se reúnem em vosso nome, como outrora estivestes com os três jovens no meio do fogo.

Porque tememos, porque vacilamos, porque tentamos evitar esta fornalha? Levanta-se o fogo, mas o Senhor está connosco na tribulação. Se Deus está connosco, quem será contra nós? E também, se é Ele quem nos liberta, quem poderá arrancar-nos da sua mão? Finalmente, se é Ele quem glorifica, quem poderá privar-nos desta glória? Se é Ele quem glorifica, quem poderá humilhar-nos?

Hei-de saciá-lo com longa vida. É como se dissesse mais claramente: Eu sei o que ele deseja, sei de que tem sede, sei o que lhe agrada. Não é o ouro ou a prata que lhe agrada, nem o prazer nem a sabedoria nem qualquer dignidade do mundo. Tudo isto considera como prejuízo, tudo isto despreza e considera como lixo. Esvaziou-se completamente de si mesmo e não suporta preocupar-se com coisas que sabe não poderem saciá-lo.

Não ignora à imagem de quem foi criado e de que grandeza é capaz, nem aceita agora uma vantagem pequena que venha a privá-lo de tão grande riqueza.

Por isso, hei-de saciá-lo com longa vida, ao homem que só a verdadeira luz pode satisfazer, só a luz eterna pode saciar; porque aquela longa vida não tem fim, aquela claridade não tem ocaso, aquela sociedade não cansa.