terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

SÃO POLICARPO, BISPO E MÁRTIR

 

São Policarpo, bispo e mártir.  

 

 Memória Obrigatória

 

Policarpo, discípulo dos Apóstolos e bispo de Esmirna, deu hospedagem a Inácio de Antioquia; esteve em Roma para tratar com o papa Aniceto da questão relativa à data da Páscoa. Sofreu o martírio cerca do ano 155, queimado vivo no estádio da cidade.

 

Segunda leitura

Da Carta da Igreja de Esmirna sobre o martírio de São Policarpo

(Cap. 13,2 – 15,3: Funk 1,297-299)
(Séc. II)

Como um sacrifício perfeito e agradável
Quando a fogueira ficou pronta, Policarpo desfez-se de todas as vestes e desatou o cinto; tentou desamarrar as sandálias, o que há muito não fazia, pois os fiéis sempre se apressavam em ajudá-lo, desejando tocar-lhe o corpo, no qual muito antes do martírio já brilhava o esplendor da santidade de sua vida.

Rapidamente cercaram-no com o material trazido para a fogueira. Quando os algozes quiseram pregá-lo ao poste, ele disse: “Deixai-me livre. Quem me dá forças para suportar o fogo, também me concederá que fique imóvel no meio das chamas sem necessitar deste vosso cuidado”. Assim não o pregaram mas limitaram-se a amarrá-lo.

Amarrado com as mãos para trás, Policarpo era como um cordeiro escolhido, tirado de um grande rebanho para o sacrifício, uma vítima agradável preparada para Deus. Levantando os olhos ao céu, ele disse:

“Senhor Deus todo-poderoso, Pai do vosso amado e bendito Filho Jesus Cristo, por quem vos conhecemos, Deus dos anjos e dos poderes celestiais, de toda a criação e de todos os justos que vivem diante de vós, eu vos bendigo porque neste dia e nesta hora, incluído no número dos mártires, me julgastes digno de tomar parte no cálice de vosso Cristo e ressuscitar em corpo e alma para a vida eterna, na incorruptibilidade, por meio do Espírito Santo. Recebei-me hoje, entre eles, na vossa presença, como um sacrifício perfeito e agradável; e o que me havíeis preparado e revelado, realizai-o agora, Deus de verdade e retidão.

Por isso e por todas as coisas, eu vos louvo, bendigo e glorifico por meio do eterno e celeste Pontífice Jesus Cristo, vosso amado Filho. Por ele e com ele seja dada toda glória a vós, na unidade do Espírito Santo, agora e pelos séculos futuros. Amém”.

Depois de ter dito “Amém” e de ter terminado a oração, os algozes atearam o fogo e levantou-se uma grande labareda.

Então nós, a quem foi dado contemplar, vimos um milagre – pois para anunciá-lo aos outros é que fomos poupados: –  o fogo tomou a forma de uma abóbada, como a vela de um barco batida pelo vento, e envolveu o corpo do mártir por todos os lados; ele estava no meio, não como carne queimada, mas como um pão que é cozido ou o ouro e a prata incandescente na fornalha. E sentimos um odor de tanta suavidade que parecia se estar queimando incenso ou outro perfume precioso.


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

CÁTEDRA DE SÃO PEDRO, APÓSTOLO

 

Cátedra de São Pedro, apóstolo  

 

 Festa

 
Desde o século IV, a festa da Cátedra de Pedro é celebrada neste dia em Roma, como sinal da unidade da Igreja, fundada sobre o Apóstolo.

 

Segunda leitura
Dos Sermões de São Leão Magno, papa

(Sermo 4 de Natali ipsius, 2-3: PL 54,149-151)
(Séc.V)

A Igreja de Cristo ergue-se na firmeza da fé do apóstolo Pedro
Dentre todos os homens do mundo, Pedro foi o único escolhido para estar à frente de todos os povos chamados à fé, de todos os apóstolos e de todos os padres da Igreja. Embora no povo de Deus haja muitos sacerdotes e pastores, na verdade, Pedro é o verdadeiro guia de todos aqueles que têm Cristo como chefe supremo. Deus dignou-se conceder a este homem, caríssimos filhos, uma grande e admirável participação no seu poder. E se ele quis que os outros chefes da Igreja tivessem com Pedro algo em comum, foi por intermédio do mesmo Pedro que isso lhes foi concedido.

A todos os apóstolos o Senhor pergunta qual a opinião que os homens têm a seu respeito; e a resposta de todos revela de modo unânime as hesitações da ignorância humana. Mas, quando procura saber o pensamento dos discípulos, o primeiro a reconhecer o Senhor é o primeiro na dignidade apostólica. Tendo ele dito: Tu és Cristo, o Filho do Deus vivo, Jesus lhe respondeu: Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu (Mt 16,16-17). Quer dizer, és feliz, porque o meu Pai te ensinou, e a opinião humana não te iludiu, mas a inspiração do céu te instruiu; não foi um ser humano que me revelou a ti, mas sim aquele de quem sou o Filho unigênito.

Por isso eu te digo, acrescentou, como o Pai te manifestou a minha divindade, também eu te revelo a tua dignidade: Tu és Pedro (Mt 16,18). Isto significa que eu sou a pedra inquebrantável, a pedra principal que de dois povos faço um só (cf. Ef 2,20.14), o fundamento sobre o qual ninguém pode colocar outro. Todavia, tu também és pedra, porque és solidário com a minha força. Desse modo, o poder, que me é próprio por prerrogativa pessoal, te será dado pela participação comigo.
E sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la (Mt 16,18). Sobre esta fortaleza, construirei um templo eterno. A minha Igreja destinada a elevar-se até ao céu deverá apoiar-se sobre a solidez da fé de Pedro. O poder do inferno não impedirá esse testemunho, os grilhões da morte não o prenderão; porque essa palavra é palavra de vida. E assim como conduz aos céus os que a proclamam, também precipita no inferno os que a negam.

Por isso, foi dito a São Pedro: Eu te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que desligares na terra, será desligado nos céus (Mt 16,19). Na verdade, o direito de exercer esse poder passou também para os outros apóstolos, e o dispositivo desse decreto atingiu todos os príncipes da Igreja. Mas não é sem razão que é confiado a um só o que é comunicado a todos. O poder é dado a Pedro de modo singular, porque a sua dignidade é superior à de todos os que governam a Igreja.


domingo, 21 de fevereiro de 2021

SÃO PEDRO DAMIÃO, BISPO E DOUTOR DA IGREJA

 

São Pedro Damião, bispo e doutor da Igreja  

 

 Memória Facultativa

 

Nasceu em Ravena no ano de 1007. Terminados os estudos, dedicou-se ao ensino, que logo abandonou, para se tornar eremita em Fonte Avelana. Eleito prior do mosteiro, dedicou-se incansavelmente a promover a vida religiosa, não só ali, mas também em outras regiões da Itália. Numa época muito difícil, ajudou os Papas em vista da reforma da Igreja, com sua atividade, seus escritos e no desempenho de embaixadas. Foi nomeado cardeal e bispo de Óstia pelo Papa Estêvão IX. Logo depois de sua morte, ocorrida em 1072, começou a ser venerado como santo.

 

Segunda leitura

Das Cartas de São Pedro Damião, bispo

(Lib. 8,6: PL 144,473-476)
(Séc. XI)

Espera confiantemente a alegria
que vem depois da tristeza
Pediste-me, caríssimo, que te escrevesse palavras de consolação, a fim de reconfortar teu ânimo amargurado por tantos golpes dolorosos.
Mas se tua prudência e sensatez não estiverem adormecidas, a consolação já chegou. Na verdade, as próprias palavras mostram, sem sombra de dúvida, que Deus te está instruindo como a um filho, para alcançares a herança. É o que indicam claramente estas palavras: Filho, se decidires servir ao Senhor, permanece na justiça e no temor, e prepara tua alma para a provação (Eclo 2,1-2). Onde existe o temor e a justiça, a prova de qualquer adversidade não é tortura de escravo, mas antes correção paterna.
Pois até o santo Jó, quando diz no meio dos flagelos da infelicidade: Quem dera que Deus me esmagasse, estendesse a sua mão e pusesse fim à minha vida (Jó 6,9), imediatamente acrescenta: É este o meu consolo, porque me atormenta com dores e não me poupa (Jó 6,10).
Para os eleitos de Deus o castigo divino é consolação, porque através das tribulações passageiras que suportam se fortalecem na firme esperança de alcançar a glória da felicidade eterna.
O artesão bate o ouro com o martelo para retirar os resíduos de impureza; a lima raspa muitas vezes para que os veios do metal brilhante cintilem com maior fulgor. Como o forno prova os vasos do oleiro, é na tribulação que são provados os homens justos (Eclo 27,5, Vulg.). Por isso diz também São Tiago: Meus irmãos, quando deveis passar por diversas provações, considerai isso motivo de grande alegria (Tg 1,2).
Sem dúvida, é justo que se alegrem aqueles que neste mundo suportam a tribulação passageira por causa de seus pecados, mas que, pelo bem praticado, têm guardada para si uma recompensa eterna no céu.
Por isso, irmão muito querido, enquanto és atingido pelos golpes da desgraça, enquanto és castigado pelos açoites da correção divina, não te deixes abater pelo desalento, não te queixes nem murmures, não fiques amargurado pela tristeza nem te impacientes pela fraqueza de ânimo. Mas conserva sempre a serenidade em teu rosto, a alegria no teu coração, a ação de graças em teus lábios.
De fato, é preciso louvar a providência divina que castiga os seus nesta vida, a fim de poupá-los dos flagelos eternos; abate para elevar, fere para curar, humilha para exaltar.
Portanto, caríssimo, fortalece o teu espírito na paciência, com estes e outros testemunhos das Sagradas Escrituras e espera confiantemente a alegria que vem depois da tristeza.
Que a esperança dessa alegria te reanime, e a caridade acenda em ti o fervor, de tal modo que o teu espírito, santamente inebriado, esqueça os sofrimentos exteriores e anseie com entusiasmo pelo que contempla interiormente.