sábado, 18 de janeiro de 2020

Sábado da 1ª semana do Tempo Comum


Da Carta aos Coríntios, de São Clemente I, papa 
 
(Nn. 31-33: Funk 1,99-103) 
 

(Séc. I) 
 


Desde o início, Deus a todos justificou pela fé 
 
Com decisão firmemo-nos na bênção de Deus e procuremos ver quais os caminhos desta bênção. Com toda a atenção repassemos no espírito aquilo que desde o início se fez. Por que motivo foi abençoado nosso pai Abraão? Não foi por ter realizado a justiça e a verdade pela fé? Isaac, cheio de confiança, embora soubesse o que ia acontecer, de bom grado deixou-se oferecer em sacrifício. Jacó, com humildade, afastou-se de sua terra, por causa do irmão, e partiu para junto de Labão a quem serviu. Por isso lhe foram dados os doze cetros de Israel.
Se alguém considerar honestamente, um a um, os dons concedidos através de Abraão, entenderá a sua grandeza. Porque dele vêm todos os sacerdotes e levitas que servem ao altar de Deus; dele, segundo a carne, veio o Senhor Jesus; dele vieram os reis, príncipes e chefes de cada família de Judá. Isto sem que as outras tribos tenham menor honra, pois o Senhor prometeu a Abraão: A tua posteridade será numerosa como as estrelas do céu. Todos esses alcançaram glória e majestade, não por obras ou ações justas que tenham praticado, mas por vontade do Senhor. Por isso, também nós, chamados por esta vontade, no Cristo Jesus, não nos justificamos a nós mesmos por causa de nossa sabedoria, ou inteligência, ou piedade, ou ações que tenhamos feito pela santidade do coração, mas apenas pela fé, pela qual Deus onipotente a todos justificou desde o início. A ele a glória pelos séculos dos séculos. Amém.
Que faremos então, irmãos? Vamos deixar de lado as boas obras e largar a caridade? De jeito nenhum! Que o Senhor não o permita! Mas com zelo e alegre coragem apressemo-nos em realizar tudo o que é bom. Pois o Realizador e Senhor de tudo se alegra com suas obras. Por seu altíssimo e imenso poder estendeu os céus e com incompreensível sabedoria os adornou. Separou a terra das águas que a rodeavam, e, sobre o imóvel fundamento de sua vontade, a firmou. Por sua ordem, os animais que a recobrem começaram a existir. Também, tendo criado o mar e tudo o que nele vive, abraça-os com seu poder.
Acima de tudo, suas puras e santas mãos formaram a criatura por excelência, dotada de inteligência: o homem, selo de sua imagem. Pois assim falou Deus: Façamos o homem à nossa imagem e semelhança; e Deus criou o homem, homem e mulher os criou. Terminadas todas essas obras, louvou-as e as abençoou, dizendo: Crescei e multiplicai-vos. Reparemos que todos os justos, se adornaram de boas obras, e o próprio Senhor, adornando-se, alegrou-se com a beleza de sua criação. Diante, pois, de tal modelo, caminhemos atentos à sua vontade e façamos com todas as nossas forças a obra da justiça.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

SANTO ANTÃO, ABADE

Memória 

 Este insigne pai do monaquismo nasceu no Egito por volta do ano 250. Depois da morte dos pais, distribuiu seus bens aos pobres e retirou-se para o deserto, onde começou a levar vida de penitente. Teve numerosos discípulos e trabalhou em defesa da Igreja, estimulando os confessores da fé durante a perseguição de Diocleciano e apoiando Santo Atanásio na luta contra os arianos. Morreu em 356.
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Segunda leitura 

Da Vida de Santo Antão, escrita por Santo Atanásio, bispo 

(Cap.2-4: PG 26,842-846) 

(Séc.IV) 

A vocação de Santo Antão 

Depois da morte de seus pais, tendo ficado sozinho com uma única irmã ainda pequena, Antão, que tinha uns dezoito ou vinte anos, tomou conta da casa e da irmã.
 Mal haviam passado seis meses desde o falecimento dos pais, indo um dia à igreja, como de costume, refletia consigo mesmo sobre o motivo que levara os apóstolos a abandonarem tudo para seguir o Salvador; e por qual razão aqueles homens de que se fala nos Atos dos Apóstolos vendiam suas propriedades e depositavam o preço aos pés dos apóstolos para ser distribuído entre os pobres. Ia também pensando na grande e maravilhosa esperança que lhes estava reservada nos céus. Meditando nestas coisas, entrou na igreja no exato momento em que se lia o evangelho, e ouviu o que o Senhor disse ao jovem rico: Se tu queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres. Depois vem e segue-me, e terás um tesouro no céu (Mt 19,21).
 Antão considerou que a lembrança dos santos exemplos lhe tinha vindo de Deus, e que aquelas palavras eram dirigidas pessoalmente para ele. Logo que voltou da igreja, repartiu com os habitantes da aldeia as propriedades que herdara da família (possuía trezentos campos lavrados, férteis e muito aprazíveis) para que não fossem motivo de preocupação, nem para si próprio nem para a irmã. Vendeu também todos os móveis e distribuiu com os pobres a grande quantia que obtivera, reservando apenas uma pequena parte por causa da irmã.
 Entrando outra vez na igreja, ouviu o Senhor dizer no evangelho: Não vos preocupeis com o dia de amanhã (Mt 6,34). Não podendo mais resistir, até aquele pouco que restara, deu-o aos pobres. Confiou a irmã a uma comunidade de virgens consagradas que conhecia e considerava fiéis, para que fosse educada no Mosteiro. Quanto a ele, a partir de então, entregou-se a uma vida de ascese e rigorosa mortificação, nas imediações de sua casa.
 Trabalhava com as próprias mãos, pois ouvira a palavra da Escritura: Quem não quer trabalhar, também não deve comer (1Ts 3,10). Com uma parte do que ganhava comprava o pão que comia; o resto dava aos pobres.
 Rezava continuamente, pois aprendera que é preciso rezar a sós sem cessar (1Ts 5,17). Era tão atento à leitura que nada lhe escapava do que tinha lido na Escritura; retinha tudo de tal forma que sua memória acabou por se substituir aos livros.
 Todos os habitantes da aldeia e os homens honrados que tratavam com ele, vendo um homem assim, chamavam-no amigo de Deus; uns o amavam como a filho, outros como a irmão.

Sexta-feira da 1ª semana do Tempo Comum


Do Discurso contra os gentios, de Santo Atanásio, bispo. 
 
(Nn. 42-43: PG 25,83-87) 
 

(Séc. IV) 
 


Todas as coisas compõem pelo Verbo
uma divina harmonia 
 
Nada há absolutamente de quanto existe que não tenha sido feito nele e por ele. O Teólogo no-lo ensina pelas palavras: No princípio era o Verbo e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus. Tudo foi feito por ele, e sem ele nada se fez (Jo 1,1).
O musicista, com uma harpa bem afinada, combina artisticamente os sons graves com os agudos e os médios, de modo a produzir uma só harmonia. Assim também, a Sabedoria de Deus, empunhando todo o universo como uma harpa, conjuga as coisas aéreas com as terrenas e as celestes com as aéreas, ligando o todo com suas partes. Assim, dirigindo tudo por um aceno de sua vontade, produz um só universo, um universo com sua ordem cheia de beleza e de harmonia. Entretanto ele mesmo, Verbo de Deus, permanece sempre imóvel junto do Pai, enquanto tudo se move dentro da força da respectiva natureza, segundo o agrado do Pai. Por seu dom, tudo vive e se mantém conforme sua natureza, compondo assim, por ele, uma admirável harmonia, verdadeiramente divina. Só por comparação podemos entender uma realidade tão imensa! Por exemplo: num coro numeroso, com muitos homens, mulheres, crianças, velhos e adolescentes, sob a direção de um só, todos cantam conforme sua capacidade e estado, homem como homem, criança como criança, velho como velho, jovem como jovem. No entanto, todos formam uma só harmonia. Outro exemplo: como nossa alma, ao mesmo tempo, move nossos sentidos segundo suas propriedades. Na presença de alguma coisa, todos eles se movimentam: os olhos vêem, os ouvidos escutam, as mãos tocam, o olfato percebe, o paladar prova e mesmo os outros membros muitas vezes agem, por exemplo, os pés caminham. Assim acontece nas coisas naturais. Estas são imagens, embora fraquíssimas, que nos ajudam a perceber as realidades mais altas.
Na verdade, num instante, um só aceno do Verbo de Deus rege todas as coisas ao mesmo tempo, de forma que cada ser realiza o que lhe é próprio e todos em conjunto perfazem uma só harmonia

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Quinta-feira da 1ª semana do Tempo Comum


Do Discurso contra os gentios, de Santo Atanásio, bispo 
 
(Nn. 40-42: PG 25,79-83) 
 
(Séc. IV) 
 

O Verbo do Pai tudo orna, dispõe e contém 
 
O Pai santíssimo de Cristo – sem comparações mais excelente do que toda a criatura – como ótimo criador, tudo governa, dispõe e faz convenientemente o que lhe parece justo, por sua sabedoria e por seu Verbo, Cristo, nosso Senhor e Salvador. Assim é bom que tudo tenha sido e venha a ser feito como vemos. Que ele o tenha querido assim, ninguém pode duvidar. Porque, se o movimento dos seres criados se fizesse desordenadamente e o mundo girasse ao acaso, com toda a razão se negaria crédito ao que declaramos. Mas, se com medida, sabedoria e ciência o mundo foi criado e enriquecido de toda beleza, não há como fugir que este criador e aperfeiçoador é o próprio Verbo de Deus.
Afirmo que o Verbo do Deus do universo e de todo o bem é o Deus vivo e eficaz que existe por si próprio. Distinto de todo o criado, ele é o próprio e único Verbo do Pai de bondade, por cuja providência o mundo inteiro, por ele feito, é iluminado. Ele, que é o bom Verbo do bom Pai, estabeleceu a ordem de todas as coisas, uniu entre si os contrários, compondo assim grande harmonia. Este único e unigênito é Deus: a bondade que procede do Pai, como de fonte do bem, e adorna, dispõe e mantém todo o universo.
Aquele que por seu eterno Verbo tudo fez, fazendo existir as criaturas cada qual conforme a própria natureza, não permitiu que elas se movessem arbitrariamente, a fim de que não retornassem ao nada; por isso, ele, que é o bem, por meio do seu Verbo, Deus como ele, governa e conserva toda a criação. Deste modo, a criação, iluminada pelo governo, providência e administração do Verbo, pode permanecer firme e manter-se coesa. Portanto, a criação, obra do Verbo do Pai – Verbo que é o próprio ser – dele participa e é por ele auxiliada, a fim de não cessar de existir, o que aconteceria, caso não fosse guardada pelo Verbo, que é a imagem do Deus invisível, primogênito de toda criatura. Por ele e nele tudo existe, tanto as coisas visíveis quanto as invisíveis. Ele é também a cabeça da Igreja, como ensinam os ministros da verdade nas Sagradas Escrituras.
Por conseguinte, este todo-poderoso e santíssimo Verbo do Pai, penetrando em tudo, desdobra por toda a parte as suas forças, e ilumina todas as coisas visíveis e invisíveis. Em si mesmo contém e abraça todas, de modo que não deixa nada alheio a seu poder, mas em tudo e por tudo, a cada um em particular e a todos em conjunto concede a vida e a proteção.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Quarta-feira da 1ª semana do Tempo Comum


Do Tratado contra as heresias, de Santo Irineu, bispo 
 
(Livr. 4,6,3.5.7: SCh 100,442.446.448-454) 
 
(Séc. II) 
 

A manifestação do Filho é o conhecimento do Pai 
 
Ninguém pode conhecer o Pai sem o Verbo de Deus, isto é, sem o Filho que o revela. Também não se conhece o Filho sem a vontade do Pai. O Filho faz a vontade do Pai, pois o Pai o envia. O Filho é enviado e vem a nós. Assim o Pai, que é para nós invisível e incognoscível, torna-se conhecido por seu próprio Verbo. Ora, só o Pai conhece seu Verbo, como o manifestou o Senhor. Por isto o Filho nos leva ao conhecimento do Pai mediante a sua própria encarnação. Com efeito, a manifestação do Filho é o conhecimento do Pai. Na verdade, tudo nos é revelado pelo Verbo.
O Pai revelou o Filho para se dar a conhecer a todos por meio dele. Mais ainda: a fim de acolher, em toda justiça, para a ressurreição eterna, os que nele crêem. Crer nele é viver segundo sua vontade.
De fato, o Verbo já revela o Deus criador pela própria criação; pelo mundo, o Senhor que o construiu; pela criatura plasmada, o artífice que a plasmou; e pelo Filho, o Pai que o gerou. Destas coisas todos falam do mesmo modo, mas não crêem todos do mesmo modo. Pela lei e os profetas, o Verbo, igualmente, anunciava-se a si e ao Pai. Todo o povo do mesmo modo o ouviu, mas não creram todos do mesmo modo. Pelo Verbo, tornado visível e palpável, o Pai se revelou, embora nem todos cressem nele do mesmo modo. Todos, porém, viram o Pai no Filho. A realidade invisível que se manifestava no Filho era o Pai, e a realidade visível na qual o Pai se revelou era o Filho.
O Filho tudo perfaz do princípio ao fim para o Pai, e sem ele ninguém pode conhecer a Deus. O conhecimento do Pai é o Filho. O conhecimento do Filho pertence ao Pai e é revelado pelo Filho. Por este motivo, o Senhor dizia: Ninguém conhece o Filho a não ser o Pai; nem o Pai a não ser o Filho e aqueles a quem o Filho revelar. Revelar não se refere apenas ao futuro como se o Verbo só tivesse começado a revelar o Pai quando nasceu de Maria. De fato, o Verbo se encontra universalmente e em todo o tempo. No início, sendo o Filho presente à sua criatura, ele revela o Pai a todos a quem o Pai quer, quando quer e como quer. Em tudo e por tudo, há um só Deus, o Pai, e um só Verbo, o Filho, e um só Espírito e uma única salvação para todos os que nele crêem.

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Terça-feira da 1ª semana do Tempo Comum


Da Regra mais longa, de São Basílio Magno, bispo 
 
(Resp. 2,1: PG 31,908-910)  

(Séc. IV) 
 

Possuímos inata capacidade de amar 
 
O amor de Deus não é matéria de ensino nem de prescrições. Não aprendemos de outrem a alegrar-nos com a luz, ou a desejar a vida, ou a amar os pais ou educadores. Assim – ou melhor, com muito mais razão –, não se encontra o amor de Deus na disciplina exterior. Mas, quando é criado, o ser vivo, isto é, o homem, a força da razão foi, como semente, inserida nele, uma força que contém em si a capacidade e a inclinação de amar. Logo que entra na escola dos divinos preceitos, o homem toma conhecimento desta força, apressando-se em cultivá-la com ardor, nutri-la com sabedoria e levá-la à perfeição, com o auxílio de Deus.
Sendo assim, queremos provar vosso empenho em atingir este objetivo. Pela graça de Deus e contando com as vossas preces, nós nos esforçaremos, segundo a capacidade dada pelo Espírito Santo, por suscitar a centelha do amor divino escondida em vós.
Antes de mais nada, nós dele recebemos antecipadamente a força e a capacidade de pôr em prática todos os mandamentos que Deus nos deu. Por isso não nos aflijamos como se nos fosse exigido algo de incomum, nem nos tornemos vaidosos pensando que damos mais do que havíamos recebido. Se usarmos bem destas forças, levaremos uma vida virtuosa; no entanto, mal empregadas, cairemos no pecado.
Ora, o pecado se define como o mau uso, o uso contrário à vontade de Deus daquilo que ele nos deu para o bem. Pelo contrário, a virtude, como Deus a quer, é o desenvolvimento destas faculdades que brotam da consciência reta, segundo o preceito do Senhor.
O mesmo diremos da caridade. Ao recebermos o mandamento de amar a Deus, já possuímos capacidade de amar, plantada em nós desde a primeira criação. Não há necessidade de provas externas: cada qual por si e em si mesmo pode descobri-la. De fato, nós desejamos, naturalmente, as coisas boas e belas, embora, à primeira vista, algumas pareçam boas e belas a uns e não a outros. Amamos também, sem ser necessário que nos ensinem nossos parentes e amigos e temos espontaneamente grande amizade por nossos benfeitores.
O que haverá, pergunto então, de mais admirável do que a beleza divina? Que coisa pode haver mais suave e deliciosa do que a meditação da magnificência de Deus? Que desejo será mais veemente e violento do que aquele inserido por Deus na alma liberta de toda impureza e que lhe faz dizer do fundo do coração: Estou ferida de amor? É na verdade totalmente indescritível o fulgor da beleza de Deus.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

SANTO HILÁRIO, BISPO E DOUTOR DA IGREJA

Nasceu em Poitiers no início do século IV. Cerca do ano 350, foi eleito bispo de sua cidade natal. Lutou corajosamente contra a heresia dos arianos, sendo por isso exilado pelo imperador Constâncio. Escreveu várias obras cheias de sabedoria e doutrina, para defender a fé católica e interpretar a Sagrada Escritura. Morreu em 367. 

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 Segunda leitura 

Do Tratado sobre a Trindade, de Santo Hilário, bispo 

(Lib. 1,37-38: PL 10,48-49) 

Servir-te-ei na pregação 

Estou bem consciente, Deus Pai todo-poderoso, de ser a vós que devo consagrar a tarefa mais importante de minha vida: que todos os meus pensamentos e minhas palavras falem de vós.O dom da palavra que me concedestes, não pode ter maior recompensa que a de vos servir na pregação, e demonstrar ao mundo que ignora ou ao herege que nega que sois Pai, isto é, Pai do Deus unigênito.
Apesar de ser esta a única manifestação da minha vontade, é preciso suplicar o auxílio de vossa misericórdia. Desfraldando as velas da nossa fé e do nosso testemunho, vinde enchê-las com o sopro do vosso Espírito, e orientai-nos pelo caminho da pregação que iniciamos. Pois não nos faltará aquele que prometeu: Pedi e vos será dado! Procurai e achareis! Batei e a porta vos será aberta! (Mt 7,7).
Nós somos pobres, e por isso pedimos o que nos falta; perscrutamos com esforço obstinado as palavras de vossos profetas e apóstolos, e batemos com insistência para que se abram para nós as portas do conhecimento da verdade. Mas é somente de vós que depende dar o que se pede, estar presente, quando se procura, e abrir para quem bate.
Quando se trata de compreender as verdades que se referem a vós, vemo-nos impedidos por um certo entorpecimento preguiçoso da nossa natureza e nos sentimos limitados pela nossa inevitável ignorância e fraqueza. Mas o estudo da vossa doutrina nos dispõe para compreender as realidades divinas e a obediência da fé nos conduz a superar o nosso conhecimento natural.
Esperamos, portanto, que façais progredir o nosso tímido esforço inicial, que consolideis seu desenvolvimento crescente e o leveis à união com o espírito dos profetas e dos apóstolos. Assim compreenderemos o sentido exato de suas palavras e interpretaremos o seu verdadeiro significado.
Então proclamaremos o que eles pregaram no mistério: que vós sois o Deus eterno, o Pai do Unigênito eterno de Deus; que somente vós sois sem nascimento; e que há um só Senhor Jesus Cristo que procede de vós por nascimento eterno; não afirmamos que ele seja outro deus além de vós, mas proclamamos que foi gerado de vós que sois o único Deus; e professamos que ele é Deus verdadeiro, nascido de vós que sois verdadeiro Deus e Pai.
Dai-nos, pois, o significado autêntico das palavras, dai-nos a luz da inteligência, a perfeição da linguagem, a verdadeira fé. Tornai-nos capazes de exprimir nossa fé, ou seja, que vós sois o único Deus Pai e que há um único Senhor Jesus Cristo, segundo o que nos transmitiram os profetas e os apóstolos. E contra os hereges que negam tais afirmações, fazei que saibamos afirmar que vós sois Deus com o Filho e que proclamamos sem erro a sua divindade.

Segunda-feira da 1ª semana do Tempo Comum


Da Carta aos Coríntios, de São Clemente I, papa 
 
(Nn. 59.2-60,4; 61,3: Funk 1, 135-141) 
 
(Séc. I) 
 
Fonte da sabedoria, a Palavra de Deus nas alturas 
 
Com orações e súplicas incessantes, pedimos ao Criador de todas as coisas que conserve íntegro o número de seus eleitos em todo o mundo, por meio de seu amado Filho, Jesus Cristo. Por ele, fomos chamados das trevas para a luz, da ignorância para o conhecimento de seu nome glorioso. Concedei-nos, Senhor, a graça de esperar em vosso nome, princípio de toda criatura. Abertos os olhos de nosso coração, conheçamos a vós somente, altíssimo entre os altíssimos, santo a repousar entre os santos. Vós humilhais a arrogância dos soberbos. Arrasais os planos dos pagãos. Elevais os humildes e humilhais os poderosos, fazeis os ricos e os pobres. Levais à morte, salvais e vivificais, único benfeitor dos espíritos e Deus de toda a carne. Vós contemplais os abismos e observais as obras dos homens. Sois o auxílio dos que estão em perigo, salvador dos desesperados, criador e guarda de todas as almas. Multiplicais os povos pela terra e, entre todos, escolheis aqueles que vos amam, por Jesus Cristo, vosso Filho amado, por quem nos renovais, santificais e cobris de honra.
Nós vos rogamos, Senhor, que sejais o nosso "sustentáculo e auxílio". Libertai os nossos que estão atribulados. Compadecei-vos dos pequeninos. Levantai os caídos. Sustentai os indigentes. Sarai os doentes. Fazei voltar os que se desgarram de vosso povo. Dai de comer aos famintos. Tirai da prisão nossos cativos. Erguei os fracos, confortai os medrosos. Todas as nações vos conheçam, porque só vós sois Deus, e conheçam igualmente a Jesus Cristo, vosso Filho, e com elas também nós, o vosso povo e as ovelhas do vosso rebanho.
Por vossas obras manifestastes a perene constituição do mundo. Vós, Senhor, criastes o globo terrestre. Sois fiel para com todas as gerações, justo nos julgamentos, admirável de força e de magnificência. Sois cheio de sabedoria ao criar e prudente em firmar as coisas criadas. Sois bom em tudo quanto é visível, fiel para com aqueles que em vós confiam, benigno e misericordioso. Perdoai nossas infidelidades e injustiças, nossos pecados e delitos.
Não acuseis de pecado vossos servos e vossas servas, mas purificai-nos em vossa verdade e conduzi nossos passos para caminharmos com piedade, justiça e simplicidade de coração, fazendo tudo o que é bom e agradável a vossos olhos e diante de nossos pastores. Sobretudo, Senhor, mostrai-nos vossa face e possamos nós gozar dos bens na paz à sombra de vossa mão poderosa; por vosso braço estendido sejamos livres de todo pecado; guardai-nos daqueles que nos odeiam sem motivo.
Dai-nos concórdia e paz, a nós e a todos os habitantes da terra, como as destes a nossos antepassados, que piedosamente vos invocavam na fé e na verdade. Unicamente vós podeis agir assim e ainda maiores benefícios realizar em nosso favor. Nós vos louvamos pelo pontífice e protetor de nossas vidas, Jesus Cristo. Por ele glória e majestade a vós agora, por todas as gerações e por todos os tempos. Amém.

domingo, 12 de janeiro de 2020

Batismo do Senhor


Dos Sermões de São Gregório de Nazianzo, bispo 

(Oratio in sancta Lumina, 14-16. 20:PG 36, 350-351. 354. 358-359) 
  
(Séc. IV) 

O batismo de Cristo 
  Cristo é iluminado no batismo, recebemos com ele a luz; Cristo é batizado, desçamos com ele às águas para com ele subirmos. João batiza e Jesus se aproxima; talvez para santificar igualmente aquele que o batiza e, sem dúvida, para sepultar nas águas o velho Adão. Antes de nós, e por nossa causa, ele que é Espírito e carne santificou as águas do Jordão, para assim nos iniciar nos sacramentos mediante o Espírito e a água.
João reluta, Jesus insiste. Eu é que devo ser batizado por ti (cf. Mt 3,14), diz a lâmpada ao Sol, a voz à Palavra, o amigo ao Esposo, diz o maior entre todos os nascidos de mulher ao Primogênito de toda criatura, aquele que estremecera de alegria no seio materno ao que fora adorado no seio de sua Mãe, o que era e seria precursor ao que já tinha vindo e de novo há de vir.  Eu é que devo ser batizado por ti. Podia ainda acrescentar: e por causa de ti. Pois sabia que ia receber o batismo de sangue ou que, como Pedro, não lhe seriam apenas lavados os pés.
Jesus sai das águas, elevando consigo o mundo que estava submerso, e vê abrirem-se os céus de par em par, que Adão tinha fechado para si e sua posteridade, assim como o paraíso lhe fora fechado por uma espada de fogo. O Espírito, acorrendo àquele que lhe é igual, dá testemunho da sua divindade. Vem do céu uma voz, pois também vinha do céu aquele de quem se dava testemunho. E ao mostrar-se na forma corporal de uma pomba, o Espírito glorifica o corpo de Cristo, já que este, por sua união com a  divindade, é o corpo de Deus. De modo semelhante, muitos séculos antes, uma pomba anunciara o fim do dilúvio.
Veneremos hoje o batismo de Cristo e celebremos dignamente esta festa. Permanecei inteiramente puros e purificai-vos sempre mais. Nada agrada tanto a Deus quanto o arrependimento e a salvação do homem, para quem se destinam todas as suas palavras e mistérios. Sede como luzes no mundo, isto é, como uma força vivificante para os outros homens. Permanecendo como luzes perfeitas diante da grande luz, sereis inundados pelo esplendor dessa luz que brilha no céu e iluminados com maior pureza e fulgor pela Trindade. Dela acabastes de receber, embora não em plenitude, o único raio que procede da única Divindade, em Jesus Cristo, nosso Senhor, a quem pertencem a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Amém.