sábado, 9 de outubro de 2021

SÃO JOÃO LEONARDI, PRESBÍTERO

 Nasceu em Luca (Toscana) no ano 1541. Estudou Farmácia, mas abandonou esta profissão e ordenou-se sacerdote. Dedicou-se à pregação, instruindo em especial as crianças na doutrina cristã. Em 1574 fundou a Ordem dos Clérigos Regulares da Mãe de Deus, pela qual teve de sofrer muitas tribulações. Instituiu também uma associação de sacerdotes para a propagação da fé que lhe valeu ser merecidamente o criador do Instituto que, ampliado pelos Sumos Pontífices, recebeu o nome “De Propaganda Fide”. Com a sua caridade e prudência restaurou a disciplina em várias Congregações religiosas. Morreu em Roma no ano 1609.

___________________________________ 


Segunda leitura

  Das Cartas ao Papa Paulo V, de São João Leonardi, presbítero

(Epist. Pro universali totius Ecclesiae reformatione: in archivo Ordinis Clericorum Regularium Matris Dei)
(Séc. XVI)

Indicar-te-ei, ó homem, o que Deus pede de ti 


Quando se deseja reformar os costumes das pessoas, faz-se necessário em primeiro lugar que, procurando antes de mais a glória do Senhor, se peça e se espere o auxílio daquele de quem procede todo o bem nesta difícil e tão salutar matéria. Em seguida, ponham-se os reformadores ante os olhos daqueles a serem reformados, como espelhos de virtudes, e como lâmpadas colocadas sobre o candelabro, para que pela integridade da vida e esplendor do comportamento brilhem para todos que estão na casa de Deus. Deste modo os atraiam suavemente para a reforma em lugar de obrigá-los, e não se exija do corpo o que não se encontra na cabeça, conforme diz o Concílio de Trento, pois assim seria ameaçada a estabilidade e a ordem de toda a família de Deus. Além disto, procurarão com diligência, à semelhança de um bom médico, conhecer todos os males que afligem a Igreja e quais exatamente os remédios requeridos, a fim de ministrar o tratamento oportuno a cada um deles.

Agora, quanto aos remédios que a Igreja deve empregar, são para todos, porque a reforma tem de começar do alto e de baixo ao mesmo tempo, isto é, dos chefes e dos pequeninos. Em primeiro lugar deve-se voltar os olhos para todos os prelados, de modo a iniciar-se a reforma donde poderá fluir para os outros.
Cardeais, patriarcas, arcebispos, bispos e párocos, aos quais foi entregue sem intermediários a cura das almas, a respeito de todos estes, cumpre empregar todos os esforços para que sejam pessoas capazes, a quem se confie com tranqüilidade o governo do rebanho do Senhor. Mas desçamos também do alto até embaixo, quero dizer, dos chefes aos pequeninos, pois não devem ser desprezados aqueles por quem se começará a emenda dos costumes eclesiásticos. Não convém deixar sem se experimentar absolutamente nada que possa formar as crianças, desde os tenros anos, na fé cristã sincera e nos bons costumes. Para conseguir este objetivo nada mais adequado do que a santa prática de ensinar a doutrina cristã e de somente entregar os meninos a pessoas boas e tementes a Deus para serem instruídos.
Foi isto, beatíssimo Pai, o que neste gravíssimo assunto atual o Senhor se dignou sugerir-me. Se isto à primeira vista parece dificílimo, quando comparado à enormidade da empresa, irá ser considerado até como facílimo: coisas grandes não se fazem sem grandes meios, e convém aos grandes grandes coisas.

SÃO DIONÍSIO, BISPO, E SEUS COMPANHEIROS, MÁRTIRES

 Segundo uma tradição referida por São Gregório de Tours, Dionísio veio de Roma para a Gália (França) nos meados do século III. Foi o primeiro bispo de Paris e morreu mártir perto desta cidade, juntamente com dois membros do seu clero.

_________________________ 


Segunda leitura

Do Comentário sobre o Salmo cento e dezoito, de Santo Ambrósio, bispo

 (Sermo 20,47-50: CSEL 62,467-469)
(Séc. III)

Sê testemunha forte e fiel
És testemunha de Cristo em muitas perseguições, muitos martírios a cada dia. És tentado pelo espírito da luxúria, mas, temendo o futuro juízo de Cristo, julgaste não dever profanar a pureza da mente e do corpo: És mártir de Cristo. És tentado pelo espírito de avareza a invadir a propriedade do pequeno, a violar o direito da viúva indefesa; no entanto, pela contemplação dos preceitos celestes, preferiste prestar auxílio em vez de praticar a injustiça: És testemunha de Cristo. Enfim, Cristo quer assistir tais testemunhas, segundo está escrito: Julgai a causa do órfão e fazei justiça à viúva, e vinde, discutamos, diz o Senhor (Is 1,17-18). És tentado pelo espírito de soberba, mas ao ver o desamparado e o indigente, com bom coração te compadeceste, amaste mais a humildade do que a arrogância: És testemunha de Cristo. E o que é ainda maior, não deste testemunho só com palavras, mas com atos.
Que testemunha será mais digna de crédito do que quem confessa ter o Senhor Jesus vindo na carne (1Jo 4,2), e guarda os preceitos do Evangelho? Pois quem ouve e não faz, nega a Cristo: embora afirme pela palavra, nega com os atos. A quantos disserem: Senhor, Senhor, acaso não profetizamos em teu nome e expulsamos demônios e fizemos muitos milagres? naquele dia responderá: Afastai-vos de mim todos os que praticastes a iniqüidade (Mt 7,22-23). É, por conseguinte, testemunha quem dá testemunho dos preceitos do Senhor Jesus com a garantia dos atos.
Quantos, então, são diariamente, em segredo, mártires de Cristo e confessam Jesus como Senhor! Conhecia este martírio e testemunho fiel de Cristo o Apóstolo, que disse: É esta a nossa glória e o testemunho de nossa consciência (2Cor 1,12). Quantos por fora atestaram e por dentro negaram! Não confieis em espírito qualquer (1Jo 4,1), mas por seus frutos (cf. Mt 7,16) reconhecei em quem deveis confiar. Portanto, nas perseguições interiores, sê fiel e forte para seres aprovado também nas perseguições públicas. Com efeito, nas íntimas perseguições, há reis, governantes e juízes terríveis pelo poder. Tens um exemplo na tentação sofrida pelo Senhor.
E lê-se em outro lugar: Que o pecado não reine em vosso corpo mortal (Rm 6,12). Vês diante de que reis és levado, então, ó homem, ante que senhores dos pecados, quando reina em ti a culpa? Quantos pecados, quantos vícios, outros tantos reis. E somos conduzidos à sua presença, estamos diante deles. Têm também estes reis um tribunal nas mentes de muitos. Todavia se alguém confessa a Cristo, imediatamente faz prisioneiro aquele rei, derruba-o do trono de seu espírito. Como poderia manter-se o tribunal do demônio naquele em que se levanta o tribunal de Cristo?

sexta-feira, 8 de outubro de 2021

SÃO JOÃO CALÁBRIA, PRESBÍTERO

 Nasceu em 8 de outubro de 1873, em Verona, Itália. Muito preocupado com os necessitados, desde o início cultivou o hábito de visitar os doentes, desdobrando-se também na catequese das crianças abandonadas. Fundou a Congregação dos Pobres Servos da Divina Providência e devido às necessidades funda o ramo feminino da Obra, as Pobres Servas da Divina Providência. A orientação básica que costumava repetir era muito simples, como foi toda a sua vida: "Sejamos evangelhos vivos". Faleceu no dia 4 de dezembro de 1954, quando ofereceu sua vida no lugar da do Papa Pio XII, que na ocasião também estava doente. Quando este recebeu a notícia da morte de padre Calábria, cuja vida acompanhou e admirava, assim o definiu: era um "campeão de evangélica caridade". Foi canonizado pelo papa João Paulo II em 1999.

___________________________________ 


Segunda leitura

  Da Carta de São João Calábria aos seus Religiosos

(nº 63 em 1° de julho de 1949, Arq. Hist. Doc. 6040, pp. 292-293)
(Séc.XX)

A Divina Providência é uma terna Mãe
A missão que a Divina Providência confia à nossa Obra é reavivar neste pobre mundo a fé, por meio da palavra e mais ainda do exemplo. Deus, a alma, a eternidade, para muitos são palavras quase sem significado. Nós ao contrário, é desta fé que vivemos, fé certa e inviolável, que não desfalece, sejam quais forem as provações, mesmo que se tratasse de perseguições e da própria morte.

Deus não precisa ser demonstrado, e sim ser levado por nós. O exemplo vale mais do que qualquer apologia. Ah! Se vivêssemos concretamente as grandes verdades de nossa fé, o mistério inefável da Encarnação, o Presépio, o Calvário, a Eucaristia, Deus no meio de nós, conosco e em nós! São mistérios estes que deveriam extasiar-nos num arrebatamento de gratidão e de amor! De sermões ninguém mais quer saber, mas se os homens virem estas verdades realmente praticadas, que felizes e santas emoções provariam!

Mas de onde, meus queridos e amados irmãos, haveremos de haurir esta fé viva, senão das puras fontes do Santo Evangelho? Por isso tantas vezes lhes disse e repeti que é preciso sermos outros Cristos e evangelhos vivos, para sermos faróis de luz a iluminar a pobre humanidade tateando nas densas trevas de tantos erros e na lama de tantos vícios. É preciso que se realize em nós a palavra de Jesus bendito: Brilhe a vossa luz diante dos homens, de modo que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem vosso Pai, que está nos céus (Mt 5,16).
Nestas palavras vocês podem notar que Jesus, convidando-nos a olhar para Deus, chama-o de Pai, aliás, de nosso Pai. Com isso quero dizer-lhes, meus queridos irmãos, que a fé verdadeira e genuína considera a Deus não só como Criador e Senhor, mas antes como Pai. Fé, portanto, na paternidade de Deus e por isso confiança sem limites, abandono filial na Divina Providência, que é característica indispensável para a Obra, é uma das mensagens, que o Senhor, por meio da Obra, quer enviar ao mundo.

Lembremo-nos de que a Divina Providência é uma terna Mãe que dispõe tudo para o bem, aliás, para o nosso maior bem; devemos sentir-nos carregados em suas mãos maternais (cf. Os 11,4). Sem dúvida nenhuma, muitas vezes enfrentamos sofrimentos e nossa natureza poderá se assustar bastante; mas não é de se admirar por isso; também Jesus experimentou a tristeza, a angústia e o medo, e chegou até o ponto de orar ao Pai para que lhe afastasse o cálice amargo, acrescentando, no entanto, que se entregava à sua paterna vontade (cf. Lc 22,42).
Agora, nós podemos ver somente a urdidura do trabalho e o avesso do bordado: podemos ter a impressão de que há só confusão, mas quando chegarmos a ver o trabalho acabado e o lado correto, então o contemplaremos na sua magnífica e maravilhosa beleza. Se a Divina Providência cuida de todos, lembremo-lo bem, meus amados irmãos, ela cuida de nós com um carinho fora do comum, na medida em que vivermos o nosso grande e divino programa.

Pelo amor de Deus, nada de angústias e ansiedades!

Sim, poderá o Senhor permitir alguma grave provação para experimentar a nossa fé. Mas então não haveremos de nos angustiar, e sim, pelo contrário, alegrar-nos e considerarmo-nos quase que, diria, na "perfeita alegria". Tenhamos a certeza de que, se a consciência não nos acusar de infidelidade à nossa santa vocação, após a provação, a Providência irá voltar em medida repleta, sacudida, transbordante (cf. Lc 6,38).

quinta-feira, 7 de outubro de 2021

NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO

 Memória

 Esta comemoração foi instituída pelo Papa São Pio V no aniversário da vitória obtida pelos cristãos na batalha naval de Lepanto e atribuída ao auxílio da Santa Mãe de Deus, invocada com a oração do Rosário (1571). A celebração deste dia é um convite a todos os fiéis para que meditemos mistérios de Cristo, em companhia da Virgem Maria, que foi associada de modo muito especial à Encarnação, à Paixão e à Ressurreição do Filho de Deus.
__________________________ 


Segunda leitura

Dos Sermões de São Bernardo, abade
(Sermo de Aquaeductu: Opera omnia, Edit. Cisterc. 5[1968],282-283)
(Séc. XII)

É preciso meditar sobre os mistérios da salvação 

O santo, que nascer de ti, será chamado Filho de Deus
 (cf. Lc 1,35), fonte de sabedoria, o Verbo do Pai nas alturas! Este Verbo, através de ti, Virgem santa, se fará carne, de modo que aquele que diz: Eu no Pai e o Pai em mim (Jo 10,38), dirá também: Eu saí do Pai e vim (Jo 16,28).

No princípio, 
diz João, era o Verbo. Já borbulha a fonte, mas por enquanto apenas em si mesma. Depois, e o Verbo era com Deus (Jo 1,1), habitando na luz inacessível. O Senhor dizia anteriormente: Eu tenho pensamentos de paz e não de aflição (cf. Jr 29,11). Mas teu pensamento está dentro de ti, ó Deus, e não sabemos o que pensas; pois quem conheceu a mente do Senhor ou quem foi seu conselheiro? (cf. Rm 11,34).

Desceu, por isto, o pensamento da paz para a obra da paz: O Verbo se fez carne e já habita em nós (Jo 1,14). Habita totalmente pela fé em nossos corações, habita em nossa memória, habita no pensamento e chega a descer até a imaginação. Que poderia antes o homem pensar sobre Deus, a não ser talvez fabricando um ídolo no coração? Era incompreensível e inacessível, invisível e inteiramente impensável; agora, porém, quis ser compreendido, quis ser visto, quis ser pensado.

De que modo, perguntas? Por certo, reclinado no presépio, deitado ao colo da Virgem, pregando no monte, pernoitando em oração; ou pendente da cruz, pálido na morte, livre entre os mortos e dominando o inferno; ou ainda ressurgindo ao terceiro dia, mostrando aos apóstolos as marcas dos cravos, sinais da vitória, e, por último, diante deles subindo ao mais alto do céu.

O que não se poderá pensar verdadeira, piedosa e santamente disto tudo? Se penso algo destas realidades, penso em Deus e em tudo ele é o meu Deus. Meditar assim, considero sabedoria, e tenho por prudência renovar a lembrança da suavidade que, em essência tão preciosa, a descendência sacerdotal produziu copiosamente, e que, haurindo do alto, Maria trouxe para nós em profusão.

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

SÃO BRUNO, PRESBÍTERO

 Nasceu em Colônia (Alemanha), cerca do ano 1035. Educado em Paris e ordenado sacerdote, ensinou Teologia; mas, aspirando à vida solitária, retirou-se e fundou o mosteiro dos Cartuxos. Chamado a Roma pelo Papa Urbano II, ajudou-o nos difíceis problemas da Igreja. Morreu em Esquilace (Calábria) no ano 1101.

____________________________ 


Segunda leitura

Da Carta a seus filhos Cartuxos, de São Bruno, presbítero

(Nn. 1-3: SCh 88,82-84)
(Séc. XI)

Meu espírito exulte no Senhor 


Tomei conhecimento do inflexível rigor de vossa ponderada e louvável disciplina, pelos freqüentes e agradáveis relatos de nosso caríssimo irmão Landovino. Ouvindo também falar de vosso santo amor e incessante empenho por tudo quanto é íntegro e honesto, exulta meu espírito no Senhor. Verdadeiramente exulto e sou levado a transportes de louvor e de ação de graças ao Senhor, mas ao mesmo tempo suspiro amargamente. Exulto, sim, como é justo, pelo incremento dos frutos de vossas virtudes; tenho tristeza e vergonha de jazer incapaz e covarde na lama de meus pecados.

Alegrai-vos, então, irmãos meus caríssimos, pelo quinhão de vossa felicidade e pela liberalidade da graça de Deus em vós. Alegrai-vos por terdes fugido dos múltiplos perigos e naufrágios deste mundo agitado. Alegrai-vos porque alcançastes o tranqüilo e seguro repouso do porto mais profundo. Muitos desejam aí chegar, muitos empregaram ingentes esforços e não o conseguem. E muitos, depois de obtê-lo, foram afastados, porque a nenhum deles foi dado perseverar.
Por isso, irmãos meus, tende por certo e provado que quem possuiu este bem desejável e o perdeu de qualquer modo que seja, sentirá tristeza até o fim, se de fato sentir preocupação e cuidado pela salvação de sua alma.
A vosso respeito, diletíssimos irmãos leigos, digo: Minha alma engrandece o Senhor (Lc 1,46), porque vejo a magnificência de sua misericórdia sobre vós, através da exposição feita por vosso prior e pai amantíssimo, que muito se gloria e se alegra por vossa causa.
Alegremo-nos também nós, porque, mesmo desprovidos de instrução, poderoso é Deus, para com seu dedo escrever em vossos corações não apenas o amor, mas também o conhecimento de sua santa lei. Na ação manifestais o que amais e o que sabeis. Pois, quando observais com toda a cautela e empenho a verdadeira obediência, torna-se evidente que também vós sabiamente recolheis o fruto suavíssimo e vital da Escritura divina.

terça-feira, 5 de outubro de 2021

SÃO BENEDITO, O NEGRO, RELIGIOSO

 Benedito, cognominado o Mouro, ou “o Negro” no Brasil, nasceu na Sicília. Filho de escravos vindos da Etiópia para San Fratello, na Sicília, vendeu seus bens e fez-se eremita franciscano nas vizinhanças de Palermo. Mais tarde, obedecendo a uma determinação do Papa Pio VI, obrigando todos os seguidores da Regra de São Francisco a viverem em conventos de sua Ordem, abandonou o eremitério. No convento, dedicou-se a trabalhos humildes. Chegou a exercer o cargo de Superior, mesmo não sendo sacerdote e, mais tarde, vemo-lo novamente trabalhando na cozinha. Morreu em 1589. Seu culto logo se espalhou pela Itália, Espanha, Portugal, Brasil e México. O papa Pio VIII inscreveu-o no rol dos santos.

__________ 

Segunda leitura

Da Regra não bulada, de São Francisco de Assis

(Escritos e Biografias de São Francisco de Assis, Ed. Vozes-CEFEPAL, Petrópolis 1982, p. 146-147)
(Séc. XIII)

Do modo de servir e de trabalhar 


Os irmãos que forem capazes de trabalhar, trabalhem; e exerçam a profissão que aprenderam, enquanto não prejudicar o bem de sua alma e eles puderem exercê-la honestamente. Porquanto diz o profeta: Viverás do trabalho de tuas mãos: serás feliz e terás bem-estar (Sl 127,2); e o Apóstolo: Quem não quer trabalhar não coma (2Ts 3,10). Cada qual permaneça naquele ofício e cargo para o qual foi chamado (1Cor 7,24). E como retribuição pelo trabalho podem aceitar todas as coisas de que precisam, exceto dinheiro. E, se for necessário, podem pedir esmolas como outros pobres. E podem ter as ferramentas necessárias ao seu ofício.

Todos os irmãos se esforcem seriamente em praticar boas obras, pois está escrito: “Vê se estás sempre empenhado em praticar alguma boa obra, para que o diabo te encontre ocupado”; e ainda: “A ociosidade é inimiga da alma”. Por isso os servos de Deus devem estar sempre entregues à oração ou a qualquer outra boa obra.

Cuidem os irmãos, onde quer que estejam, nos eremitérios ou em outros lugares, de não apropriar-se de qualquer lugar nem disputá-lo a outrem. E todo aquele que deles se acercar, seja amigo ou adversário, ladrão ou bandido, recebam-no com bondade. E onde quer que estejam os irmãos, e sempre que se encontrarem em algum lugar, devem respeitar-se e honrar-se espiritual e diligentemente uns aos outros, sem murmuração (1Pd 4,9). E guardem-se os irmãos de se mostrarem em seu exterior como tristes e sombrios hipócritas. Mas antes comportem-se como gente que se alegra no Senhor, satisfeitos e amáveis, como convém.

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

SÃO FRANCISCO DE ASSIS

 Memória

Nasceu em Assis (Itália), no ano 1182. Depois de uma juventude leviana, converteu-se a Cristo, renunciou a todos os bens paternos e entregou-se inteiramente a Deus. Abraçou a pobreza para seguir mais perfeitamente o exemplo de Cristo, e pregava a todos o amor de Deus. Formou os seus companheiros com normas excelentes, inspiradas no Evangelho, que foram aprovadas pela Sé Apostólica. Fundou também uma Ordem de religiosas (Clarissas) e uma Ordem de Penitentes Seculares; e promoveu a pregação da fé entre os infiéis. Morreu em 1226.

__________________________________ 


Segunda leitura

Da Carta a todos os fiéis, de São Francisco de Assis

(Opuscula, edit. Quaracchi 1949,87-94)
(Séc. XIII)

Devemos ser simples, humildes e puros
O Pai Altíssimo anunciou a vinda do céu do tão digno, tão santo e glorioso Verbo do Pai, através de seu santo, Gabriel, à santa e gloriosa Virgem Maria, em cujo seio recebeu a verdadeira carne de nossa humanidade e fragilidade. Ele quis, no entanto, sendo incomparavelmente mais rico, escolher a pobreza junto com a sua santíssima mãe. Nas vésperas de sua paixão, celebrou a Páscoa com os discípulos. Depois, orou ao Pai dizendo: Pai, se for possível, afaste-se de mim este cálice (Mt 26,39).

Pôs, contudo, sua vontade na vontade do Pai. E a vontade do Pai era que seu Filho bendito e glorioso, dado a nós e nascido para nós, se oferecesse em sacrifício e vítima no altar da cruz, pelo seu próprio sangue. Sacrifício não para si, por quem tudo foi feito, mas por nossos pecados, deixando-nos o exemplo para lhe seguirmos as pegadas (cf. 1Pd 2,21). E quer que todos nos salvemos por ele e o acolhamos com coração puro e corpo casto.

Ó como são felizes e benditos aqueles que amam o Senhor e fazem o que o mesmo Senhor diz no evangelho: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e ao próximo como a ti mesmo! (Lc 10,27). Amemos, portanto, a Deus e adoremo-lo com coração puro e mente pura porque, acima de tudo, disto está ele à procura e diz: Os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade (Jo 4,23). É necessário que todos que o adoram, o adorem no espírito da verdade. E dia e noite elevemos para ele louvores e orações, dizendo: Pai nosso que estás nos céus (Mt 6,9); porque é preciso orar sempre e não desfalecer (cf. Lc 18,1).

Além disto, produzamos dignos frutos de penitência (cf. Mt 3,8). E amemos os próximos como a nós mesmos. Tenhamos caridade e humildade e façamos esmolas, já que estas lavam as almas das nódoas dos pecados. Os homens perdem tudo o que deixam neste mundo. Levam consigo somente a paga da caridade e as esmolas que fizeram: delas receberão do Senhor o prêmio e a justa recompensa.

Não nos convém sermos sábios e prudentes segundo a carne, mas temos antes de ser simples, humildes e puros. Jamais desejemos ficar acima dos outros, mas prefiramos ser servos e submissos a toda criatura humana, por causa de Deus. Sobre todos os que assim agirem e perseverarem até o fim repousará o Espírito do Senhor e fará neles sua casa e mansão. Serão filhos do Pai celeste, pois fazem suas obras, e são esposos, irmãos e mães de nosso Senhor Jesus Cristo.

domingo, 3 de outubro de 2021

SANTOS ANDRÉ DE SOVERAL, AMBRÓSIO FRANCISCO, PRESBÍTEROS, E SEUS COMPANHEIROS, MÁRTIRES

 Memória

No dia 16 de julho de 1645, os holandeses que ocupavam o nordeste do Brasil, chegaram a Cunhaú, no Rio Grande do Norte, onde residiam vários colonos ao redor do Engenho, ocupados no plantio da cana-de-açúcar. Era um domingo. Na hora da missa, 69 pessoas se reuniram na capela de Nossa Senhora das Candeias. A capela foi cercada e invadida por soldados e índios que trucidaram a todos que aí estavam, inclusive o Pároco Pe. André de Soveral que celebrava a missa. Não opuseram resistência aos agressores e entregaram piedosamente suas almas ao Criador.

Aterrorizados com o acontecimento de Cunhaú, muitos moradores de Natal pediram asilo no Forte dos Reis Magos ou se refugiaram em abrigos improvisados. No dia 3 de outubro, foram levados para as margens do Rio Uruaçu, onde os aguardavam índios e soldados holandeses armados. Eram cerca de 80 pessoas. Os holandeses, de religião calvinista, trouxeram um pastor protestante para demovê-los de sua fé católica. Todos resistiram a esta tentativa e foram barbaramente sacrificados. Entre eles estava Mateus Moreira que, ao lhe ser arrancado o coração pelas costas, morreu exclamando: "Louvado seja o Santíssimo Sacramento".

___________________________________ 

Segunda leitura

Das Cartas de São Cipriano, bispo e mártir 

(Ep.6,1-2:CSEL3,480-482)
(Séc. III)

Todos os que desejamos alcançar as promessas do Senhor, devemos imitá-lo em tudo 

Eu vos saúdo, irmãos caríssimos, ansioso por gozar da vossa presença, se o lugar onde estou me permitisse ir até vós. Que me poderia acontecer de mais desejável e alegre que estar junto a vós neste momento, para apertar essas mãos, puras e inocentes, que por fidelidade ao Senhor recusaram os sacrifícios sacrílegos?  

Que haveria para mim de mais agradável e sublime que beijar agora os vossos lábios que proclamaram a glória do Senhor, como também ser visto por vossos olhos que, desprezando o mundo, se tornaram dignos de contemplar a Deus?

Mas, como não me é dada essa alegria, eu vos envio esta carta, que me substituirá ante os vossos olhos e ouvidos. Por ela vos felicito e ao mesmo tempo exorto a perseverardes fortes e inabaláveis na proclamação da glória celeste. Uma vez no caminho da graça do Senhor, deveis prosseguir com espírito forte até conquistardes a coroa, tendo o Senhor como protetor e guia, pois ele disse: Eis que eu estou convosco todos os dias até o fim do mundo (Mt 28,20).

Ó cárcere feliz, iluminado pela vossa presença! Ó cárcere feliz, que leva para o céu os homens de Deus! Ó trevas mais luminosas que o próprio sol e mais brilhantes que a luz deste mundo, onde estão agora colocados os templos de Deus, que são os vossos corpos santificados pela proclamação da fé!

Nada mais ocupe agora vossas mentes e corações,senão os preceitos divinos e os mandamentos celestes, pelos quais o Espírito Santo sempre vos animou a suportar os sofrimentos. Ninguém pense na morte mas na imortalidade nem no sofrimento passageiro, mas na glória eterna. Pois está escrito: É preciosa aos olhos do Senhor a morte dos seus justos (Sl 115,15). E também: É um sacrifício agradável a Deus um espírito que sofre; Deus não desprezará um coração contrito e humilhado (Sl 50,19).

E ainda em outro lugar fala a Escritura divina dos tormentos que consagram os mártires de Deus e os santificam pelas provações dos sofrimentos: Embora tenham suportado tormentos diante dos homens, sua esperança está cheia de imortalidade. Julgarão as nações e dominarão os povos, e o Senhor reinará sobre eles para sempre (Sb 3, 4.8).

Assim, quando vos lembrais de que ides julgar e reinar com o Cristo Senhor, a alegria é que deve prevalecer em vós, superando os suplícios presentes pela exultação futura. Bem sabeis que, desde o princípio, a justiça está em luta com o mundo: logo na origem da humanidade, o justo Abel foi assassinado, como depois dele todos os justos, profetas e apóstolos enviados por Deus.

A todos eles o Senhor quis dar a si mesmo como exemplo, ensinando que só aqueles que seguissem o seu caminho poderiam entrar em seu reino: Quem ama a sua vida neste mundo, perdê-la-á. E quem odeia a sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna (Jo 12,25). E ainda: Não temais os que matam os corpos, não podem, contudo, matar a alma; temei antes aquele que pode matar na geena a alma e o corpo (Mt 10,28).

São Paulo também nos exorta a imitar em tudo o Senhor, se desejamos alcançar as suas recompensas. Diz ele: Somos filhos de Deus. E, se somos filhos, somos também herdeiros – herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo; se realmente sofremos com ele, é para sermos também glorificados com ele (Rm 8,17).