sábado, 20 de junho de 2020

Sábado da 11ª semana do Tempo Comum



Segunda leitura

Do Tratado sobre a Oração do Senhor, de São Cipriano, bispo e mártir

(Nn. 28-30: CSEL 3,287-289)
(Séc. III)

Não apenas com palavras, mas ainda com atos se deve orar

Não é de admirar, irmãos caríssimos, que a oração, tal como Deus a ensinou, enfeixe, por seu ensinamento, toda a nossa prece numa breve palavra de salvação. Já pelo profeta Isaías isto tinha sido predito, quando, cheio do Espírito Santo, falava da majestade e bondade de Deus: Verbo que completa e abrevia na justiça, porque Deus fará uma palavra abreviada em todo o orbe da terra. Pois a palavra de Deus, nosso Senhor Jesus Cristo, veio para todos e, reunindo doutos e ignorantes, sexos e idades, lhes deu preceitos salutares, resumindo de tal maneira seus mandamentos, que a memória dos discípulos não sentisse dificuldade com o ensinamento celeste, mas rapidamente aprendesse o que era necessário à simples fé.
Do mesmo modo, ao ensinar-nos o que seja a vida eterna, condensou o mistério da vida com grande e divina brevidade, dizendo: Esta é a vida eterna, que te conheçam a ti, único e verdadeiro Deus, e a quem enviaste, Jesus Cristo. E ainda, querendo salientar os primeiros e maiores preceitos da lei e dos profetas, diz: Ouve, Israel. O Senhor, teu Deus, é um só Senhor; e Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças. Este é o primeiro; e o segundo é semelhante a este: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas. E de novo: Tudo quanto quiserdes que vos façam os homens, fazei-o a eles. Isto é a lei e os profetas.
Deus não nos ensinou a orar apenas com palavras, mas também com atos. Ele próprio com frequência orou e suplicou, mostrando-nos com seu exemplo o que temos de fazer. Está escrito: Ele se afastava para os lugares solitários e adorava. E ainda: Saiu para o monte a fim de orar e passou a noite inteira em oração a Deus.
O Senhor orava e pedia não para si – que pediria, o inocente, para si? – mas por nossos delitos, como ele mesmo o declarou ao dizer a Pedro: Eis que Satanás procurava joeirar-vos como trigo. Mas eu roguei por ti, para que tua fé não desfaleça. E pouco depois rogou ao Pai por todos, dizendo: Não rogo apenas por estes, mas também por aqueles que irão crer em mim pelas palavras deles, a fim de que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que também eles estejam em nós.
Imensa benignidade e piedade de Deus para nossa salvação! Não contente de redimir-nos com seu sangue, ainda quis com tanta generosidade rogar por nós. Considerai o desejo daquele que rogou, para que do mesmo modo como o Pai e o Filho são um, assim também nós permaneçamos na mesma unidade.

sexta-feira, 19 de junho de 2020

Sexta-feira da 11ª semana do Tempo Comum



Segunda leitura

Do Tratado sobre a Oração do Senhor, de São Cipriano, bispo e mártir

(Nn. 23-24: CSEL 3,284-285)
(Séc. III)

Nós, filhos de Deus, permaneçamos na paz de Deus

Cristo acrescentou claramente uma lei que nos obriga a determinada condição: que peçamos a remissão das dívidas, se nós mesmos perdoarmos aos nossos devedores, sabendo que não podemos alcançar o perdão pedido a não ser que façamos o mesmo em relação aos que nos ofendem. Por esta razão, diz em outro lugar: Com a mesma medida com que medirdes, sereis medidos. E aquele servo que, perdoado de toda a dívida por seu senhor, mas não quis perdoar o companheiro, foi lançado ao cárcere. Por não ter querido ser indulgente com o companheiro, perdeu a indulgência com que fora tratado por seu senhor.
Cristo propõe o perdão com preceito mais forte e censura ainda mais vigorosa: Quando fordes orar, perdoai se tendes algo contra outro, para que vosso Pai, que está nos céus, vos perdoe os pecados. Se, porém, não perdoardes, também vosso Pai, que está nos céus, não vos perdoará os pecados. Não te restará a menor desculpa no dia do juízo, quando serás julgado de acordo com tua própria sentença e o que tiveres feito, o mesmo sofrerás.
Deus ordenou que sejamos pacíficos, concordes e unânimes em sua casa. Mandou que sejamos tais como nos tornou pelo segundo nascimento; assim também ele nos quer renascidos e perseverantes. Deste modo nós, filhos de Deus, permaneçamos na paz de Deus e os que possuem um só Espírito tenham uma só alma e um só coração.
Deus não aceita o sacrifício do que vive em discórdia e ordena deixar o altar e ir primeiro reconciliar-se com o irmão, para que, com preces pacíficas, possa Deus ser aplacado. Maior serviço para Deus é a nossa paz e concórdia fraterna e o povo que foi feito uno pela unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Nos sacrifícios que Abel e Caim foram os primeiros a oferecer, Deus não olhava os dons, mas os corações, de forma que lhe agradava pelo dom aquele que lhe agradava pelo coração. Abel, pacífico e justo, sacrificando com inocência a Deus, ensinou os outros a depositar seus dons no altar com temor de Deus, simplicidade de coração, empenho de justiça e de concórdia. Aquele que assim procedeu no sacrifício de Deus tornou-se merecidamente sacrifício para Deus. Sendo o primeiro a dar a conhecer o martírio, iniciou pela glória de seu sangue a paixão do Senhor, por ter mantido a justiça e a paz do Senhor. Esses serão, no fim, coroados pelo Senhor; esses, no dia do juízo, triunfarão com o Senhor.
Quanto aos discordantes, aos dissidentes, aos que não mantêm a paz com os irmãos, mesmo que sejam mortos pelo nome de Cristo, não poderão, conforme o testemunho do santo Apóstolo e da Sagrada Escritura, escapar do crime de desunião fraterna, pois está escrito: Quem odeia seu irmão é homicida. Não chega ao reino dos céus nem vive com Deus um homicida. Não pode estar com Cristo quem preferiu a imitação de Judas à de Cristo.

quinta-feira, 18 de junho de 2020

Quinta-feira da 11ª semana do Tempo Comum



Segunda leitura

Do Tratado sobre a Oração do Senhor, de São Cipriano, bispo e mártir

(Nn. 18.22: CSEL 3,280-281.283-284)
(Séc. III)

Depois do pão, pedimos o perdão dos pecados

Continuando a oração, fazemos o pedido: O pão nosso de cada dia nos dai hoje. Pode-se entendê-lo tanto espiritual como naturalmente. De ambos os modos Deus se serve para nossa salvação. Cristo é o pão da vida e este pão não é de todos, é nosso. Assim como dizemos Pai nosso, por ser Pai dos que entendem e crêem, assim dizemos pão nosso, porque Cristo é o pão dos que comem o seu corpo. Pedimos a dádiva deste pão, todos os dias; não aconteça que nós, que estamos em Cristo e diariamente recebemos sua eucaristia como alimento de salvação, sobrevindo alguma falta mais grave, nos abstenhamos e sejamos privados de comungar o pão celeste e venhamos a nos separar do corpo de Cristo, porque são suas as palavras: Eu sou o pão da vida, que desci do céu. Se alguém comer deste pão viverá eternamente. O pão que eu darei é a minha carne para a vida do mundo.
Assim, dizendo ele que viverá eternamente quem comer deste pão, como é evidente que vivem aqueles que pertencem ao seu corpo e recebem a eucaristia nas devidas disposições, é de se temer, pelo contrário, que se afaste da salvação aquele que se abstém do corpo de Cristo, conforme a advertência do Senhor: Se não comerdes da carne do Filho do homem e não beberdes de seu sangue, não tereis a vida em vós. Por este motivo, pedimos que nos seja dado diariamente nosso pão, o Cristo, para que não nos apartemos de sua santificação e de seu corpo, nós os que permanecemos e vivemos em Cristo.
Em seguida, também suplicamos pelos nossos pecados: E perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores. Depois do pão, pedimos o perdão dos pecados.
Quão necessária, providencial e salvadora a advertência de sermos pecadores, e obrigados a rogar a Deus pelos pecados! Porque, quando recorre à indulgência de Deus, a alma se lembra de sua condição. Para que ninguém esteja contente consigo, como se fosse inocente e pela soberba se perca mais completamente, quando se lhe ordena pedir todos os dias perdão pelos pecados, cada um toma consciência de que diariamente peca.
Assim também João, em sua carta, nos adverte: Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos e a verdade não estará em nós. Se porém confessarmos nossas culpas, o Senhor, justo e fiel, perdoar-nos-á os pecados. Em sua carta reuniu as duas coisas: o dever de rogar pelos pecados e, rogando, suplicar a indulgência. Por isso diz que o Senhor é fiel, mantendo a sua promessa de perdoar as culpas, pois quem nos ensinou a orar por nossas dívidas e pecados também prometeu, logo em seguida, a misericórdia paterna e o perdão.