sábado, 26 de outubro de 2019

Sábado da 29ª semana do Tempo Comum



Segunda leitura 

Dos Sermões de São Pedro Crisólogo, bispo

(Sermo 117: PL 52,520-521) 
(Séc. V)

O Verbo, Sabedoria de Deus, se fez carne

O santo Apóstolo refere que dois homens deram início ao gênero humano: Adão e Cristo. Dois homens, iguais quanto ao corpo, mas desiguais no valor. Com toda a verdade, inteiramente semelhantes na compleição física, mas, sem dúvida, diferentes por seu princípio. O primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente; o último Adão, espírito vivificante (1Cor 15,45).

O primeiro foi feito pelo último, de quem também recebeu a alma para poder viver. É ele figura de seu criador, que não espera de outro a vida, mas só ele a concede a todos. Aquele de limo vil é plasmado; este vem do precioso seio da Virgem. Naquele a terra se muda em carne; neste a carne é promovida a Deus.

E que mais? É este o Adão que naquele primeiro pôs sua imagem ao criá-lo, e dele recebeu não só a personalidade, mas ainda o nome para que, tendo-o feito para si à sua imagem, não viesse a perecer.Primeiro Adão, último Adão. O primeiro tem começo, o último não conhece fim. Porque o último é na realidade o primeiro, conforme suas palavras: Eu, o primeiro, e eu, o último (Is 48,12).

Eu sou o primeiro, isto é, sem começo. Eu, o último, absolutamente sem fim. Contudo, o que veio primeiro não foi o espiritual, mas o natural; em seguida, o espiritual (1Cor 15,46). Na verdade, primeiro a terra, depois o fruto; mas não tão preciosa a terra quanto o fruto. Ela exige gemidos e trabalhos; este oferece alimento e vida.

Tem razão o Profeta de gloriar-se por tal fruto: Nossa terra deu seu fruto (cf. Sl 84,13). Que fruto? Aquele de que se fala em outro lugar: Do fruto de teu ventre porei sobre teu trono (Sl 131,11). O primeiro homem, diz o Apóstolo, vindo da terra, é terreno; o segundo, vindo do céu, é celeste.

Qual o terreno, tais os terrenos; qual o celeste, tais os celestes (1Cor 15,47-48). Não nasceram assim. De que maneira então se transformaram, deixando seu ser do nascimento, permanecem agora no ser em que renasceram? Para isto, irmãos, o Espírito celeste fecunda por secreta infusão de sua luz a fonte do seio da Virgem, de sorte que aqueles que a origem da raça lamacenta produzira terrenos em mísera condição, sejam dados à luz celeste e elevados à semelhança de seu criador. Por conseguinte, já renascidos, já formados de novo à imagem de nosso Criador, realizemos a recomendação do Apóstolo: Portanto, como trouxemos a imagem do terrestre, traremos também a imagem do celeste (1Cor 15,49).

Já renascidos, como dissemos, em conformidade com nosso Senhor, verdadeiramente adotados por Deus como filhos, traremos com plena semelhança a imagem perfeita de nosso Criador; não quanto à majestade em que é único, mas na inocência, simplicidade, mansidão, paciência, humildade, misericórdia, concórdia, em que, por condescendência, ele se fez tudo isto por nós e nos deu sua comunhão.

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Sexta-feira da 29ª semana do Tempo Comum



Segunda leitura 

Da Carta a Proba, de Santo Agostinho, bispo 

(Ep. 130,14,27-15,28: CSEL 44,71-73) 

(Séc. V) 


O Espírito intercede por nós 

Quem pede ao Senhor aquele único bem e o procura com empenho, pede cheio de segurança e não teme ser-lhe prejudicial o recebê-lo; sem ele, nada do que puder receber como convém lhe adiantará. Pois é a única verdadeira vida e a única feliz. Contemplar eternamente a maravilha do Senhor, imortais e incorruptos de corpo e de espírito. Em vista desta única vida tudo o mais se há de pedir sem impropriedade. Quem a possuir terá tudo quanto desejar. Nem desejará o que não convém e que ali nem mesmo pode existir.

Ali, com efeito, está a fonte da vida, de que temos sede agora na oração, enquanto vivemos na esperança e ainda não vemos o que esperamos; à sombra de suas asas, diante de quem está todo nosso desejo, para embriagarmo-nos da riqueza de sua casa e bebermos da torrente de suas delícias. Porque junto dele está a fonte da vida e à sua luz veremos a luz (cf. Sl 35,8-10), quando se saciar de bens nosso anseio e nada mais haverá a procurar com gemidos, mas só aquilo que no gozo abraçaremos.

Todavia ela é também a paz que supera todo entendimento. Por isso, ao orarmos para obtê-la, não sabemos fazê-lo como convém. Porque não podemos nem mesmo imaginar como é, então não sabemos.

Mas tudo o que nos ocorre ao pensar, afastamos, rejeitamos, desaprovamos. Não é isto o que procuramos, embora não saibamos ainda qual seja.

Há em nós, por assim dizer, uma douta ignorância, mas douta pelo Espírito de Deus que vem em auxílio de nossa fraqueza. Tendo o Apóstolo dito: Se, porém, esperamos o que não vemos, aguardamos com paciência, acrescenta: Do mesmo modo o Espírito vem em auxílio de nossa fraqueza; pois não sabemos orar como convém; mas o próprio Espírito intercede com gemidos inexprimíveis. Aquele que perscruta os corações conhece o desejo do Espírito, porque sua intercessão pelos santos corresponde ao desígnio de Deus (Rm 8,25-27).

Não se há de entender isto como se o Santo Espírito de Deus, que é Deus na Trindade imutável e com o Pai e o Filho um só Deus, interceda em favor dos santos, como alguém que não seja o mesmo Deus. Na verdade se diz: Interpela em favor dos santos porque faz os santos intercederem. Como se diz: O Senhor, vosso Deus, vos tenta para saber se o amais (Dt 13,4), quer dizer: para vos fazer saber. Por conseguinte faz que os santos intercedam com gemidos inexprimíveis, inspirando-lhes o desejo da maravilha ainda desconhecida que aguardamos pela paciência. Por que e como exprimir o desejo daquilo que se ignora? Na realidade, se se ignorasse totalmente, não se desejaria. Por outro lado, se já se visse, não se desejaria nem se procuraria com gemidos.

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Quinta-feira da 29ª semana do Tempo Comum



Segunda leitura 
Da Carta a Proba, de Santo Agostinho, bispo 

(Ep. 130,14,25-26: CSEL 44,68-71) 

(Séc. V) 


Não sabemos pedir o que nos convém 

Talvez ainda indagues por que o Apóstolo disse: Não sabemos pedir o que nos convém (Rm 8,26) . Pois de modo algum se pode crer que ele ou aqueles a quem dizia isto ignorassem a oração dominical.

O Apóstolo não se excluiu desta ignorância. Talvez não tivesse conhecido como convinha orar, quando pela grandeza das revelações lhe foi dado um espinho na carne, um anjo de Satanás para esbofeteá-lo. Por este motivo rogou por três vezes ao Senhor que o livrasse e, na verdade, não sabia orar o que convinha. Por fim ouviu a resposta de Deus por que não atendia ao que lhe pedia tão grande homem e por que não lhe era conveniente: Basta-te a minha graça, porque a força se perfaz na fraqueza (2Cor 12,9).

Portanto, nas tribulações que tanto podem ser proveitosas quanto prejudiciais, não sabemos o que pedir como convém. No entanto, por serem duras, desagradáveis, contrárias ao modo de sentir de nossa fraqueza, pelo anseio humano universal, rogamos que sejam afastadas de nós. Contudo temos de ter confiança no Senhor, nosso Deus, e, se não as retira, não pensemos logo que nos abandona, mas antes que, por suportar generosamente os males, podemos esperar maiores bens. Assim a força se perfaz na fraqueza.

Estas coisas foram escritas para que não aconteça que alguém se tenha em alta conta, se for atendido quando pede com impaciência algo que lhe seria mais proveitoso não alcançar. Ou desanime e desespere da divina misericórdia, se não for atendido, quando talvez peça aquilo que lhe será causa de mais atrozes aflições ou o corromperá pela prosperidade e o fará perder-se inteiramente. Em todas estas coisas não sabemos orar como convém.

Por este motivo, se nos acontece o contrário do que pedimos, não há que duvidar ser muito melhor suportar com paciência e, dando graças por tudo, porque foi a vontade de Deus que se fez e não a nossa. Pois o próprio Mediador nos deu exemplo ao dizer: Pai, se for possível, afaste-se de mim este cálice, mas logo, mudando em si a vontade humana assumida pela encarnação, acrescentou: Porém não o que eu quero, mas o que tu queres, Pai (Mt 26,39). Por isto, com toda a razão, pela obediência de um, muitos foram constituídos justos (cf. Rm 5,19).

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Quarta-feira da 29ª semana do Tempo Comum



Segunda leitura 

Da Carta a Proba, de Santo Agostinho, bispo 

(Ep. 130,12,22-13,24: CSEL 44,65-68) 

(Séc. V) 


Nada encontrarás que não esteja contido
na oração do Senhor 

Quem diz, por exemplo: Sê glorificado em todos os povos, assim como foste glorificado em nós (Eclo 36,3) e: Sejam reconhecidos fiéis os teus profetas (Eclo 36,15), o que diz senão: Santificado seja o teu nome?

Quem diz: Deus dos exércitos, converte-nos e mostra tua face e seremos salvos (Sl 79,4), o que diz senão: Venha o teu reino?

Quem diz: Orienta meus caminhos segundo tua palavra e nenhuma iniquidade me dominará (Sl 118,133), o que diz senão: Seja feita tua vontade assim na terra como no céu?

Quem diz: Não me dês indigência nem riquezas (Pr 30,8) o que diz senão: O pão nosso de cada dia dá-nos hoje?

Quem diz: Lembra-te, Senhor, de Davi e de sua mansidão (Sl 131,1) ou Senhor, se assim agi, se há iniquidade em minhas mãos, se paguei o bem com o mal (cf. Sl 7,14), o que diz senão: Perdoa nossas dívidas assim como perdoamos a nossos devedores?

Quem diz: Arrebata-me de meus inimigos, ó Deus, e dos que se levantam contra mim liberta-me (Sl 58,2), o que diz senão: Livra-nos do mal?

E se percorreres todas as palavras das santas preces, em meu parecer, nada encontrarás que não esteja contido nesta oração dominical ou que ela não encerre. Por isto cada qual ao orar é livre de dizer estas ou aquelas palavras, mas não pode sentir-se livre de dizer coisa diferente.

Sem a menor dúvida, é isso que devemos pedir na oração, por nós, pelos nossos, pelos estranhos e até pelos inimigos; uma coisa para este, outra para aquele, conforme o parentesco mais próximo ou mais afastado, segundo brote ou inspire o sentimento no coração do orante.

Sabes, agora, assim penso, não apenas como rezar, mas o que rezar; não fui eu o mestre, mas aquele que se dignou ensinar-nos a todos nós.

A vida feliz, a ela temos de tender, temos de pedi-la ao Senhor Deus. O que seja ser feliz tem sido muito e por muitos discutido. Nós, porém, para que irmos atrás de muitos e de muitas coisas? Na Escritura de Deus, com toda a verdade e concisão, se diz: Feliz o povo que tem por Senhor o próprio Deus (Sl 143,15). Para sermos deste povo, chegar a contemplar a Deus e com ele viver sem fim, a meta do preceito é a caridade com um coração puro, consciência boa e fé sem hipocrisia (cf. 1Tm 1,5).

Nestes três objetivos, a esperança corresponde à boa consciência. Portanto a fé, a esperança e a caridade levam a Deus o orante, aquele que crê, que espera, que deseja e que presta atenção ao que pede ao Senhor na oração dominical.

terça-feira, 22 de outubro de 2019

Terça-feira da 29ª semana do Tempo Comum



Segunda leitura 

Da Carta a Proba, de Santo Agostinho, bispo 

(Ep. 130,11,21-12,22: CSEL 44,63-64) 

(Séc. V) 


A oração do Senhor 

Temos necessidade de palavras para incitar-nos e ponderarmos o que pediremos, e não com a intenção de dá-lo a saber ao Senhor ou a comovê-lo.

Quando, pois, dizemos: Santificado seja o teu nome, exortamo-nos a desejar que seu nome, imutavelmente santo, seja também considerado santo pelos homens, isto é, não desprezado. O que é de proveito para os homens, não para Deus.

E ao dizermos: Venha teu reino que, queiramos ou não, virá sem falta, acendemos o desejo deste reino; que venha para nós e nele mereçamos reinar.

Ao dizermos: Faça-se a tua vontade assim na terra como no céu, pedimos-lhe conceder-nos esta obediência de sorte que se faça em nós sua vontade do mesmo modo como é feita no céu por seus anjos.

Dizemos: O pão nosso de cada dia dá-nos hoje. Pela palavra hoje se entende este nosso tempo. Ou, com a menção da parte principal, indicando o todo pela palavra pão, pedimos aquilo que nos basta. O sacramento dos fiéis, necessário agora, não, porém, para a felicidade deste tempo, mas para alcançarmos a felicidade eterna.

Dizendo: Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos a nossos devedores, tomamos consciência do que pedimos e do que temos de fazer para merecer obtê-lo.

Ao dizer: Não nos leves à tentação, advertimo-nos a pedir que não aconteça que, privados de seu auxílio em alguma tentação, iludidos, consintamos nela, ou cedamos perturbados.

Dizer: Livra-nos do mal nos leva a pensar que ainda não estamos naquele Bem em que não padeceremos de mal algum. E este último pedido da oração dominical é tão amplo, que o cristão em qualquer tribulação em que se veja, por ele pode gemer, nele derramar lágrimas, daí começar, nele demorar-se, nele terminar a oração. É preciso guardar em nossa memória, por meio destas palavras, as realidades mesmas.

Pois quaisquer outras palavras que dissermos – tanto as formadas pelo afeto que as precede e esclarece, quanto as que o seguem e crescem pela atenção dele – não dirão nada que não se encontre nesta oração dominical, se orarmos como convém. Quem disser algo que não possa ser contido nesta prece evangélica, sua oração, embora não ilícita, é carnal; contudo não sei como não ser ilícita, uma vez que somente de modo espiritual devem orar os renascidos do Espírito.

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Segunda-feira da 29ª semana do Tempo Comum



Segunda leitura 

Da Carta a Proba, de Santo Agostinho, bispo 

(Ep. 130,9,18-10,20: CSEL 44,60-63) 

(Séc. V) 


Em horas determinadas concentremos o espírito para orar 

Desejemos sempre a vida feliz que vem do Senhor Deus e assim oraremos sempre. Todavia por causa de cuidados e interesses outros, que de certo modo arrefecem o desejo, concentramos em horas determinadas o espírito para orar. As palavras da oração nos ajudam a manter a atenção naquilo que desejamos, para não acontecer que, tendo começado a arrefecer, não se esfrie completamente e se extinga de todo, se não for reacendido com mais frequência.

Por isso as palavras do Apóstolo: Sejam vossos pedidos conhecidos junto de Deus (Fl 4,6) não devem ser entendidas no sentido de que Deus os conheça, ele que na realidade já os conhece antes de existirem, mas em nosso favor sejam conhecidos junto de Deus por sua tolerância, não junto dos homens por sua jactância.

Sendo assim, se se tem o tempo de orar longamente, sem que sejam prejudicadas as outras ações boas e necessárias, isto não é mau nem inútil, embora, como disse, também nelas sempre se deva orar pelo desejo. Também orar por muito tempo não é o mesmo que orar com muitas palavras, como pensam alguns. Uma coisa é a palavra em excesso, outra a constância do afeto. Pois do próprio Senhor se escreveu que passava noites em oração e que orava demoradamente; e nisto, o que fazia a não ser dar-nos o exemplo, ele que no tempo é o intercessor oportuno e, com o Pai, aquele que eternamente nos atende.

Conta-se que os monges no Egito fazem frequentes orações, mas brevíssimas, à maneira de tiros súbitos, para que a intenção, aplicada com toda a vigilância e tão necessária ao orante, não venha a dissipar-se e afrouxar pela excessiva demora. Ensinam ao mesmo tempo com clareza que, se a atenção não consegue permanecer desperta, não deve ser enfraquecida, e se permanecer desperta, não deve ser logo cortada.

Não haja, pois, na oração muitas palavras, mas não falte muita súplica, se a intenção continuar ardente. Porque falar demais ao orar é tratar de coisa necessária com palavras supérfluas. Porém rogar muito é, com frequente e piedoso clamor do coração, bater à porta daquele a quem imploramos. Nesta questão, trata-se mais de gemidos do que de palavras, mais de chorar do que de falar. Porque ele põe nossas lágrimas diante de si (Sl 55,9), e nosso gemido não passa despercebido (cf. Sl 37,9 Vulg.) àquele que tudo criou pela Palavra e não precisa das palavras humanas.

domingo, 20 de outubro de 2019

Domingo da 29ª semana do Tempo Comum



Segunda leitura 

Da Carta a Proba, de Santo Agostinho, bispo 

(Ep. 130,8.15.17-9,18: CSEL 44,56-57.59-60) 

(Séc. V) 


Na oração exercita-se a nossa vontade 

Por que nos dispersamos entre muitas coisas e, temendo rezar de modo pouco conveniente, indagamos o que pedir, em vez de dizer com o salmo: Uma só coisa pedi ao Senhor, a ela busco: habitar na casa do Senhor todos os dias de minha vida, para contemplar as delícias do Senhor e visitar seu templo? (Sl 26,4). Pois ali os dias não vêm e vão, o fim de um não é o princípio de outro. Todos ao mesmo tempo não têm fim, ali onde nem a própria vida, a que pertencem estes dias, tem fim.

Para alcançarmos esta vida feliz, a verdadeira Vida nos ensinou a orar. Não com multiplicidade de palavras, como se quanto mais loquazes fôssemos, mais nos atenderia. Mas rogamos àquele que conhece, conforme suas mesmas palavras, aquilo que nos é necessário, antes mesmo de lhe pedirmos (cf. Mt 6,7-8).

Pode alguém estranhar por que motivo assim dispôs quem já de antemão conhece nossa necessidade. Temos de entender que o intuito de nosso Senhor e Deus não é ser informado sobre nossa vontade, que não pode ignorar. Mas despertar pelas orações nosso desejo, o que nos tornará capazes de conter aquilo que se prepara para nos dar. Isso é imensamente grande, mas nós somos pequenos e estreitos demais para recebê-lo. Por isto, nos é dito: Dilatai-vos; não aceiteis levar o jugo com os infiéis (2Cor 6,13-14).

Isso é tão imensamente grande que os olhos não o viram, porque não é cor; nem os ouvidos ouviram, porque não é som; nem subiu ao coração do homem (cf. 1Cor 2,9), já que o coração do homem deve subir para lá. Isso nós o recebemos com tanto maior capacidade quanto mais fielmente cremos, com mais firmeza esperamos, mais ardentemente desejamos.

Por conseguinte, nesta fé, esperança e caridade, sempre oramos pelo desejo incessante. Contudo, em certas horas e tempos também rezamos a Deus com palavras, para nos exortar a nós mesmos, mediante seus símbolos, e avaliar nosso progresso neste desejo e a nos estimular com maior veemência a aumentá-lo. Pois tanto mais digno resultará o efeito, quanto mais fervoroso preceder o afeto.

É também por isso que diz o Apóstolo: Orai sem cessar! (1Ts 5,17). O que isso pode significar a não ser: desejai sem cessar a vida feliz, a eterna, e nenhuma outra, recebida daquele que é o único que a pode dar?