sábado, 25 de abril de 2020

Sábado da 2ª semana da Páscoa

Segunda leitura

Da Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia, do Concílio Vaticano II

(N.5-6)
(Séc.XX)

O plano da salvação
Deus quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade (1Tm 2,4); por isso muitas vezes e de muitos modos falou outrora aos nossos pais, pelos profetas (Hb 1,1). Quando se completou o tempo previsto, enviou o seu Filho (Gl 4,4), a Palavra que se fez carne, ungido pelo Espírito Santo, para anunciar a boa-nova aos pobres e curar os contritos de coração, como médico dos corpos e das almas, mediador entre Deus e os homens. Sua humanidade, na unidade da pessoa do Verbo, foi o instrumento de nossa salvação. Deste modo, em Cristo realizou-se perfeitamente a nossa reconciliação com Deus e nos foi dada a plenitude do culto divino.

Esta obra da redenção humana e da perfeita glorificação de Deus, prefiguradas pelas obras maravilhosas que ele operou no povo da Antiga Aliança, foi realizada por Cristo, principalmente pelo mistério pascal de sua bem-aventurada paixão, ressurreição dos mortos e gloriosa ascensão. Por este mistério, morrendo destruiu nossa morte e, ressuscitando, restituiu-nos a vida. Foi do lado de Cristo adormecido na cruz, que nasceu o admirável sacramento de toda a Igreja.

Assim como Cristo foi enviado pelo Pai, da mesma forma enviou os apóstolos, repletos do Espírito Santo, não apenas para pregarem o evangelho a toda criatura, anunciando que o Filho de Deus, por sua morte e ressurreição, nos libertou da morte e do poder de Satanás e nos introduziu no reino do Pai, mas também para realizarem a obra da salvação que anunciavam, por meio do sacrifício e dos sacramentos, ao redor dos quais se desenvolve toda a vida litúrgica. Pelo batismo, os homens são incorporados no mistério pascal de Cristo: mortos com ele, sepultados com ele e com ele ressuscitados, recebem o Espírito de adoção filial no qual todos nós clamamos: Abá – ó Pai! (Rm 8,15), transformando-nos assim nos verdadeiros adoradores que o Pai procura.

Do mesmo modo, todas as vezes que comem a ceia do Senhor, anunciam a sua morte até que ele venha. Por isso, no próprio dia de Pentecostes, quando a Igreja se manifestou ao mundo, os que aceitaram as palavras de Pedro receberam o batismo (At 2,41). Eles eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações. Louvavam a Deus e eram estimados por todo o povo. (At 2,42.47).

Desde então, nunca mais a Igreja deixou de se reunir para celebrar o mistério pascal lendo todas as passagens da Escritura que falavam dele (Lc 24,27), celebrando a Eucaristia na qual se tornam presentes a vitória e o triunfo de sua morte e, ao mesmo tempo, dando graças a Deus, pelo seu dom inefável (2Cor 9,15) em Cristo Jesus, para o louvor de sua glória (Ef 1,12).

sexta-feira, 24 de abril de 2020

Sexta-feira da 2ª semana da Páscoa

Segunda leitura

Dos Sermões de São Teodoro Estudita

(Oratio inadorationem crucis: PG 99,691-694.695.698-699)
(Séc.IX)

É preciosa e vivificante a cruz de Cristo

Ó preciosíssimo dom da cruz! Vede o esplendor de sua forma! Não mostra apenas uma imagem mesclada de bem e de mal, como aquela árvore do Paraíso, mas totalmente bela e magnífica para a vista e o paladar. É uma árvore que não gera a morte, mas a vida; que não difunde as trevas, mas a luz; que não expulsa do Paraíso, mas nele introduz. A esta árvore subiu Cristo, como um rei que sobe no carro triunfal, e venceu o demônio, detentor do poder da morte, para libertar o gênero humano da escravidão do tirano. Sobre esta árvore o Senhor, como um valente guerreiro,ferido durante o combate em suas mãos, nos pés e em seu lado divino, curou as chagas dos nossos pecados, isto é, curou a nossa natureza ferida pela serpente venenosa.

Se antes, pela árvore, fomos mortos, agora, pela árvore, recuperamos a vida; se antes, pela árvore, fomos enganados, agora, pela árvore, repelimos a astúcia da serpente. Sem dúvida, novas e extraordinárias mudanças! Em vez da morte, nos é dada a vida; em lugar da corrupção, a incorrupção; da vergonha, a glória. Não é sem razão que o Apóstolo exclama: Quanto a mim, que eu me glorie somente na cruz do Senhor nosso, Jesus Cristo. Por ele, o mundo está crucificado para mim, como eu estou crucificado para o mundo (Gl 6,14). Pois aquela suprema sabedoria que floresceu na cruz, desmascarou a presunção e a arrogante loucura da sabedoria do mundo; toda a espécie de bens maravilhosos que brotaram da cruz, extirparam inteiramente a raiz da maldade e do pecado.

Já desde o começo do mundo, houve figuras e alegorias desta árvore que anunciavam e Indicavam realidades verdadeiramente admiráveis. Repara bem, tu que sentes um grande desejo de saber: Não é verdade que Noé, com seus filhos e esposas, e os animais de toda espécie, escapou da morte do dilúvio, por ordem de Deus, numa frágil arca de madeira? E o que dizer da vara de Moisés? Não era figura da cruz quando transformou a água em sangue, quando devorou as falsas serpentes dos magos, quando separou as águas do mar como poder do seu golpe, quando as fez voltar ao seu curso normal, afogando os inimigos e salvando aqueles que eram o povo de Deus?

Símbolo da cruz foi também a vara de Aarão, quando se cobriu de folhas num só dia para indicar quem devia ser o sacerdote legítimo. Abraão também prenunciou a cruz, quando colocou seu filho amarrado sobre o feixe de lenha. Pela cruz, a morte foi destruída e Adão recuperou a vida. Pela cruz, todos os apóstolos foram glorificados, todos os mártires coroados e todos os que crêem, santificados. Pela cruz, fomos revestidos de Cristo ao nos despojarmos do homem velho. Pela cruz, nós, ovelhas de Cristo, fomos reunidos num só rebanho e destinados às moradas celestes.

quinta-feira, 23 de abril de 2020

Quinta-feira da 2ª semana da Páscoa

Segunda leitura

Dos Tratados de São Gaudêncio, bispo de Bréscia
(Tract.2:CSEL68,30-32) (Séc.V)

O dom do Novo Testamento concedido como herança
O sacrifício celeste instituído por Cristo é verdadeiramente um dom do Novo Testamento concedido como herança; é o dom que ele nos deixou como garantia da sua presença, na noite em que foi entregue para ser crucificado. Este é o viático da nossa peregrinação. É o alimento que nos sustenta nos caminhos desta vida até o dia em que, partindo deste mundo, formos ao encontro do Senhor. Pois ele mesmo disse: Se não comerdes a minha carne e não beberdes o meu sangue, não tereis a vida em vós (cf. Jo 6,53).

Ele quis efetivamente com seus dons permanecer junto de nós; quis que as almas, remidas com o seu sangue precioso, se santificassem continuamente pelo memorial de sua Paixão. Por esse motivo, ordenou aos seus discípulos fiéis, constituídos como primeiros sacerdotes de sua Igreja, que sem cessar celebrassem estes mistérios da vida eterna. É necessário, portanto, que estes sacramentos sejam celebrados por todos os sacerdotes em cada Igreja do mundo inteiro, até que Cristo desça novamente dos céus. Deste modo, tanto os sacerdotes como todo o povo fiel, tendo diariamente ante os olhos o sacramento da Paixão de Cristo, tomando-o nas suas mãos e recebendo-o na boca e no coração, guardem indelével a memória de nossa redenção.

Com razão se considera o pão como uma imagem inteligível do Corpo de Cristo. De fato, assim como para fazer o pão é necessário reunir muitos grãos de trigo, transformá-los em farinha, amassar a farinha com água e cozê-la ao fogo, assim também o Corpo de Cristo reúne a multidão de todo o gênero humano e o leva à perfeita unidade de um só corpo por meio do fogo do Espírito Santo.

Cristo nasceu pelo poder do Espírito Santo. E porque convinha que nele se cumprisse toda a justiça, penetrou nas águas do batismo para santificá-las, e saiu do rio Jordão cheio do Espírito Santo que tinha descido sobre ele em forma de pomba. O evangelista dá testemunho disso dizendo: Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão (Lc 4,1).

Do mesmo modo, o vinho do seu sangue, proveniente de muitos cachos, quer dizer, feito das uvas da videira por ele plantada, espremido no lagar da cruz, fermenta por si mesmo em amplos recipientes que são os corações dos fiéis. Todos vós, pois, que fostes libertados do Egito e do poder do Faraó, isto é, do demônio, recebei com santa avidez de coração junto conosco, este sacrifício pascal portador de salvação. E assim, sejamos santificados até o mais íntimo de nosso ser por Jesus Cristo nosso Senhor, que cremos estar presente em seus sacramentos. Seu poder inestimável permanece por todos os séculos.

quarta-feira, 22 de abril de 2020

Quarta-feira da 2ª semana da Páscoa

Segunda leitura

Dos Sermões de São Leão Magno, papa

(Sermo 12, De Pasione, 3. 6-7:PL54,355-357) (Séc.V)

Cristo vivo em sua Igreja


Caríssimos filhos, a natureza humana foi assumida tão intimamente pelo Filho de Deus, que o único e mesmo Cristo está não apenas neste homem, primogênito de toda a criatura, mas também em todos os seus santos. Disto não podemos duvidar. E como a Cabeça não pode separar-se dos membros, também os membros não podem separar-se da Cabeça.

Se é certo que Deus será tudo em todos não nesta vida mas na eterna, também é verdade que, desde agora, ele habita inseparavelmente no seu templo, que é a Igreja, conforme sua promessa: Eis que eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo (Mt 28,20). Por conseguinte, tudo quanto o Filho de Deus fez e ensinou para a reconciliação do mundo, podemos saber não apenas pela história do passado, mas experimentando-o na eficácia do que ele realiza no presente.

É ele que, tendo nascido da Virgem Mãe pelo poder do Espírito Santo, por ação do mesmo Espírito, fecunda a sua Igreja imaculada, a fim de gerar pelo nascimento batismal, uma inumerável multidão de filhos de Deus. É deles que se diz: Estes não nasceram do sangue nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus mesmo (Jo 1,13). É nele que foi abençoada a descendência de Abraão por meio da adoção filial de todos os povos do mundo; e o santo patriarca torna-se pai das nações quando, pela fé e não pela carne, lhe nascem os filhos da promessa.

É ele que, sem excluir povo algum, reúne em um só rebanho as santas ovelhas de todas as nações que existem debaixo do céu,e todos os dias cumpre o que prometera, ao dizer: Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil: também a elas devo conduzir; escutarão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor (Jo 10,16).

Embora tenha dito de modo especial a São Pedro: Apascenta as minhas ovelhas (Jo 21,17), é ele o único Senhor que orienta o ministério de todos os pastores. É ele que alimenta os que se aproximam desta pedra, com pastos tão férteis e bem irrigados, que inúmeras ovelhas, fortalecidas pela generosidade do seu amor, não hesitam em morrer pelo Pastor, o Bom Pastor que deu a vida por suas ovelhas.

É ele que une à sua Paixão não apenas a gloriosa fortaleza dos mártires, mas também a fé de todos aqueles que renasceram nas águas batismais. É nisso que consiste celebrar dignamente a Páscoa do Senhor com os ázimos da sinceridade e da verdade: tendo rejeitado o fermento da antiga malícia, a nova criatura se inebria e se alimenta do próprio Senhor. A nossa participação no corpo e no sangue de Cristo age de tal modo que nos transformamos naquele que recebemos. Mortos, sepultados e ressuscitados nele, que o tenhamos sempre em nós tanto no espírito quanto no corpo.

terça-feira, 21 de abril de 2020

Terça-feira da 2ª semana da Páscoa

Segunda leitura
Dos “Livros a Monimo”, de São Fulgêncio, bispo de Ruspe
(Lib. 2,11-12: CCL 91,46-48)     (Séc.VI)
 O sacramento da unidade e da caridade
 A edificação espiritual do corpo de Cristo realiza-se na caridade, segundo as palavras de São Pedro: Como pedras vivas, formai um edifício espiritual, um sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus, por Jesus Cristo (1Pd 2,5). Esta edificação espiritual atinge sua maior eficácia no momento em que o próprio Corpo do Senhor, que é a Igreja, no sacramento do pão e do cálice, oferece o corpo e o sangue de Cristo: o cálice que bebemos é a comunhão com o sangue de Cristo; e o pão que partimos, é a comunhão com o corpo de Cristo. Porque há um só pão, nós todos participamos desse único pão (cf. 1Cor 10,16-17).
 Por isso pedimos que a mesma graça que faz da Igreja o Corpo de Cristo, faça com que todos os membros, unidos pelos laços da caridade, perseverem firmemente na unidade do corpo. E com razão suplicamos que isto se realize em nós pelo dom daquele Espírito que é ao mesmo tempo o Espírito do Pai e do Filho; porque sendo a Santíssima Trindade, na unidade de natureza, igualdade e amor, o único e verdadeiro Deus, é unânime a ação das três Pessoas divinas na obra santificadora daqueles que adota como filhos.
 Eis por que está escrito: O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado (Rm 5,5).
 O Espírito Santo, que é unidade do Pai e do Filho, realiza agora naqueles a quem concedeu a graça da adoção divina, transformação idêntica à que realizou naqueles que receberam o mesmo Espírito, conforme lemos no livro dos Atos dos Apóstolos: A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma (At 4,32). Quem fez dessa multidão dos que creram em Deus um só coração e uma só alma, foi aquele Espírito que é unidade do Pai e do Filho e com o Pai e o Filho é um só Deus.
  Por isso, o Apóstolo exorta a conservarmos com toda a solicitude esta unidade do espírito no vínculo da paz, quando diz aos efésios: Eu, prisioneiro no Senhor, vos exorto a caminhardes de acordo com a vocação que recebestes: com toda a humildade e mansidão, suportando-vos uns aos outros com paciência, no amor. Aplicai-vos a guardar a unidade do espírito pelo vínculo da paz. Há um só Corpo e um só Espírito (Ef 3,1-4).
 Deus, com efeito, enquanto conserva na Igreja o amor que ela recebeu pelo Espírito Santo, transforma-a num sacrifício agradável a seus olhos. De modo, que, recebendo continuamente esse dom da caridade espiritual, a Igreja possa sempre se apresentar como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus.

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Segunda-feira da 2ª semana da Páscoa

Segunda leitura

Da Homilia pascal de um Autor antigo

(PG59,723-724)

A Páscoa espiritual

A Páscoa que celebramos é a causa da salvação de todo o gênero humano, a começar pelo primeiro ser humano, que é salvo e vivificado em cada um de nós. Mas a salvação foi preparada por diversas instituições, imperfeitas e provisórias, que eram símbolos e imagens das coisas perfeitas e eternas, para anunciarem em esboço a realidade que surge atualmente à plena luz da verdade. Contudo, uma vez que essa verdadeira realidade se tornou presente, a figura deixa de ter sentido. Quando chega o rei, ninguém irá homenagear sua estátua, deixando de lado a pessoa do próprio rei.

Assim se vê claramente em que medida a figura é inferior à realidade verdadeira, pois a figura representa a vida breve dos primogênitos dos judeus, ao passo que a realidade celebra a vida eterna de todos os seres humanos. Não é grande coisa alguém livrar-se da morte por algum tempo, se pouco depois terá de morrer. O que é admirável é evitar a morte de uma vez para sempre, como aconteceu conosco por meio de Cristo, que foi imolado como nosso cordeiro pascal.

O próprio nome da festa, se compreendermos o seu verdadeiro significado, nos sugere a sua peculiar excelência. Páscoa, com efeito, significa “passagem”, pois o anjo exterminador, que feria de morte os primogênitos dos egípcios, passava adiante, sem entrar nas casas dos hebreus. Todavia, em relação a nós, a passagem do exterminador é um fato, porque passou realmente sem nos tocar, a nós que por Cristo ressuscitamos para a vida eterna. E o que significa, em seu sentido místico, o fato de se determinar como início do ano, o tempo em que se celebrava a Páscoa e a salvação dos primogênitos? Significa que também para nós o sacrifício da verdadeira Páscoa constitui o início da vida eterna.

Na verdade, o ano é símbolo da eternidade. Sendo a sua órbita circular, o ano gira continuamente sobre ela sem nunca parar. Mas Cristo, pai do mundo novo, oferecendo-se por nós em sacrifício, como que anulou a nossa existência anterior, proporcionando-nos, pelo batismo do novo nascimento, o começo de uma outra vida, à semelhança da sua morte e ressurreição.

Por conseguinte, quem tiver consciência de que a Páscoa foi imolada em seu benefício, deve aceitar como início de sua vida o momento em que Cristo se imolou por ele. Ora, tal imolação atualiza-se em cada um, quando reconhece essa graça e compreende que vida lhe foi dada por esse sacrifício. Quem chegou a este conhecimento, esforce-se por aceitar o começo da vida nova, sem pretender voltar à vida antiga que foi ultrapassada. De fato, se já morremos para o pecado, pergunta o Apóstolo, como vamos continuar vivendo nele? (Rm 6,2).

domingo, 19 de abril de 2020

Domingo da Divina Misericórdia

Segunda leitura
Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo

(Sermo 8, in octava Paschae 1. 4: PL46, 838. 841)
(Séc.V)

Nova criatura em Cristo

Minha palavra se dirige a vós, filhos recém-nascidos, pequeninos em Cristo, nova prole da Igreja, graça do Pai, fecundidade da Mãe, germe santo, multidão renovada, flor de nossa honra e fruto do nosso trabalho, minha alegria e coroa, todos vós que permaneceis firmes no Senhor. É com palavras do Apóstolo que vos falo: Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não deis atenção à carne para satisfazer as suas paixões (Rm 13,14), a fim de que, também na vida, vos revistais daquele que revestistes no sacramento. Todos vós que fostes batizados em Cristo vos revestistes de Cristo. O que vale não é mais ser judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vós sois um só, em Jesus Cristo (Gl 3,27-28).

Nisto reside a força do sacramento: é o sacramento da vida nova que começa no tempo presente pela remissão de todos os pecados passados, e atingirá sua plenitude na ressurreição dos mortos. Pelo batismo na sua morte, fostes sepultados com Cristo, para que, como Cristo ressuscitou dos mortos, assim também leveis uma vida nova (cf. Rm 6,4). Agora caminhais pela fé, vivendo neste corpo mortal como peregrinos longe do Senhor.
Mas o vosso caminho seguro é aquele mesmo para quem vos dirigis, Jesus Cristo, que se fez homem por amor de nós. Para os seus fiéis ele preparou um grande tesouro de felicidade, que há de revelar e dar abundantemente a todos os que nele esperam, quando recebermos na realidade aquilo que recebemos agora só na esperança.

Hoje é o oitavo dia do vosso nascimento. Hoje completa-se em vós o sinal da fé que, entre os antigos patriarcas, consistia na circuncisão do corpo no oitavo dia depois do nascimento segundo a carne. Por isso, o próprio Senhor, despojando-se por sua ressurreição da mortalidade da carne e revestindo-se de um corpo não diferente mas imortal, ao ressuscitar consagrou o “dia do Senhor”, que é o terceiro dia depois de sua paixão, mas na contagem semanal dos dias, é o oitavo a partir do sábado, e coincide com o primeiro dia da semana.

Por conseguinte, também vós participais do mesmo mistério, não ainda na realidade perfeita mas na certeza da esperança,porque recebestes a garantia do Espírito. Com efeito, se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres. Pois vós morrestes, e a vossa vida está escondida, com Cristo, em Deus. Quando Cristo, vossa vida, aparecer em seu triunfo, então vós aparecereis também com ele, revestidos de glória (Gl 3,1-4).