sábado, 4 de abril de 2020

Sábado da 5ª semana da Quaresma


 Segunda leitura 

Dos Sermões de São Gregório de Nazianzo, bispo 

 (Oratio 45,23-24:PG36,654-655) 

(Séc.IV) 

 Vamos participar da festa da Páscoa 

Vamos participar da festa da Páscoa, por enquanto ainda em figuras, embora mais claramente do que na antiga lei (a Páscoa legal era, por assim dizer, uma figura muito velada da própria figura). Mas, em breve, participaremos de modo mais perfeito e mais puro, quando o Verbo vier beber conosco o vinho novo no reino de seu Pai, revelando definitivamente o que até agora só em parte nos mostrou. A nossa Páscoa é sempre nova.
 Qual é essa bebida e esse conhecimento? A nós compete dizê-lo; e ao Verbo compete ensinar e comunicar essa doutrina a seus discípulos. Porque a doutrina daquele que alimenta é também alimento.
 Quanto a nós, participemos também dessa festa ritual, não segundo a letra mas segundo o Evangelho; de modo perfeito, não imperfeito; para a eternidade, não temporariamente. Seja a nossa capital, não a Jerusalém terrestre, mas a cidade celeste; não a que é agora arrasada pelos exércitos, mas a que é exaltada pelo louvor e aclamação dos anjos.
 Sacrifiquemos não novilhos ou carneiros com chifres e cascos, vítimas sem vida e sem inteligência; pelo contrário, ofereçamos a Deus um sacrifício de louvor sobre o altar celeste, em união com os coros angélicos. Atravessemos o primeiro véu, aproximemo-nos do segundo e fixemos o olhar no Santo dos Santos.
Direi mais: imolemo-nos a Deus, ou melhor, ofereçamo-nos a ele cada dia, com todas as nossas ações. Façamos o que nos sugerem as palavras: imitemos com os nossos sofrimentos a Paixão de Cristo, honremos com o nosso sangue o seu sangue, e subamos corajosamente à sua cruz.  Se és Simão Cireneu, toma a cruz e segue a Cristo.
 Se, qual o ladrão, estás crucificado com Cristo, como homem íntegro, reconhece a Deus. Se por tua causa e por teu pecado ele foi tratado como malfeitor, torna-te justo por seu amor. Adora aquele que foi crucificado por tua causa. Preso à tua cruz, aprende a tirar proveito até da tua própria iniqüidade. Adquire a tua salvação com a sua morte, entra com Jesus no paraíso, e saberás que bens perdeste com a tua queda. Contempla as belezas daquele lugar, e deixa que o ladrão rebelde fique dele excluído, morrendo na sua blasfêmia.
 Se és José de Arimatéia, pede o corpo a quem o mandou crucificar; e assim será tua a vítima que expiou o pecado do mundo. Se és Nicodemos, aquele adorador noturno de Deus, unge-o com perfumes para a sua sepultura.
 Se és Maria, ou a outra Maria, ou Salomé, ou Joana, derrama tuas lágrimas por ele. Levanta-te de manhã cedo, procura ser o primeiro a ver a pedra do túmulo afastada, e a encontrar talvez os anjos, ou melhor ainda, o próprio Jesus.

sexta-feira, 3 de abril de 2020

Sexta-feira da 5ª semana da Quaresma


Segunda leitura 
 
Do Tratado sobre a fé de Pedro, de São Fulgêncio de Ruspe, bispo 
 
(Cap.22.62: CCL 91A, 726.750-751) 
 
(Séc. VI) 
 
Cristo ofereceu-se por nós 
 
Os sacrifícios das vítimas materiais, que a própria Santíssima Trindade, Deus único do Antigo e do Novo Testamento, tinha ordenado que nossos antepassados lhe oferecessem, prefiguravam a agradabilíssima oferenda daquele sacrifício em que o Filho unigênito de Deus feito carne iria, misericordiosamente, oferecer-se por nós.
De fato, segundo as palavras do Apóstolo, ele se entregou a si mesmo a Deus por nós, em oblação e sacrifício de suave odor (Ef 5,2). É ele o verdadeiro Deus e o verdadeiro sumo-sacerdote que por nossa causa entrou de uma vez para sempre no santuário, não com o sangue de touros e bodes, mas com o seu próprio sangue. Era isto que outrora prefigurava o sumo-sacerdote, quando, uma vez por ano, entrava no santuário com o sangue das vítimas.
É Cristo, com efeito, que, por si só, ofereceu tudo o quanto sabia ser necessário para a nossa redenção; ele é ao mesmo tempo sacerdote e sacrifício, Deus e templo. Sacerdote, por quem somos reconciliados; sacrifício, pelo qual somos reconciliados; templo, onde somos reconciliados; Deus, com quem somos reconciliados. Entretanto, só ele é o sacerdote, o sacrifício e o templo, enquanto Deus na condição de servo; mas na sua condição divina, ele é Deus com o Pai e o Espírito Santo.
Acredita, pois, firmemente e não duvides que o próprio Filho Unigênito de Deus, a Palavra que se fez carne, se ofereceu por nós como sacrifício e vítima agradável a Deus. A ele, na unidade do Pai e do Espírito Santo, eram oferecidos sacrifícios de animais pelos patriarcas, profetas e sacerdotes do Antigo Testamento. E agora, no tempo do Novo Testamento, a ele, que é um só Deus com o Pai e o Espírito Santo, a santa Igreja católica não cessa de oferecer em toda a terra, na fé e na caridade, o sacrifício do pão e do vinho.
Antigamente, aquelas vítimas animais prefiguravam o corpo de Cristo, que ele, sem pecado, ofereceria pelos nossos pecados, e seu sangue, que ele derramaria pela remissão desses mesmos pecados. Agora, este sacrifício é ação de graças e memorial do Corpo de Cristo que ele ofereceu por nós, e do sangue que o mesmo Deus derramou por nós. A esse respeito, fala São Paulo nos Atos dos Apóstolos: Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho, sobre o qual o Espírito Santo vos colocou como guardas, para pastorear a Igreja de Deus, que ele adquiriu com o sangue do seu próprio Filho (At 20,28). Antigamente, aqueles sacrifícios eram figura do dom que nos seria feito; agora, este sacrifício manifesta claramente o que já nos foi doado.
Naqueles sacrifícios anunciava-se de antemão que o Filho de Deus devia sofrer a morte pelos ímpios; neste sacrifício anuncia-se que ele já sofreu essa morte, conforme atesta o Apóstolo: Quando éramos ainda fracos, Cristo morreu pelos ímpios, no tempo marcado (Rm 5,6). E ainda: Quando éramos inimigos de Deus, fomos reconciliados com ele pela morte do seu Filho (Rm 5,10).

quinta-feira, 2 de abril de 2020

Quinta-feira da 5ª semana da Quaresma


Segunda leitura 
 
Da Constituição Dogmática Lumen Gentium sobre a Igreja, do Concílio Vaticano II 
 
(N.9)  
  (Séc.XX) 
 
A Igreja, sacramento visível da unidade salvífica 
 
Eis que virão dias, diz o Senhor, em que concluirei com a casa de Israel e a casa de Judá uma nova aliança... Imprimirei minha lei em suas entranhas, e hei de inscrevê-la em seu coração; serei seu Deus e eles serão meu povo... Todos me conhecerão, do menor ao maior deles, diz o Senhor (cf. Jr 31,31.33.34). Foi essa aliança nova que Cristo instituiu, isto é, a nova aliança no seu sangue, chamando judeus e pagãos para formarem um povo que se reunisse na unidade, não segundo a carne, mas no Espírito, e constituísse o novo povo de Deus.
Os que crêem em Cristo, renascidos não de uma semente corruptível, mas incorruptível, pela palavra do Deus vivo, não da carne, mas da água e do Espírito Santo, são por fim constituídos a raça escolhida, o sacerdócio do Reino, a nação santa, o povo que ele conquistou... que antes não eram povo, agora, porém, são povo de Deus (1Pd 2,9.10). Este povo messiânico tem por cabeça Cristo, que foi entregue por causa de nossos pecados e foi ressuscitado para nossa justificação (Rm4,25) e agora, tendo recebido um nome que está acima de todo nome, reina gloriosamente nos céus.
Este povo tem a dignidade e a liberdade dos filhos de Deus, em cujos corações o Espírito Santo habita como em seu templo. Tem como lei o novo mandamento de amar como o próprio Cristo nos amou. Tem como fim o Reino de Deus, que ele mesmo iniciou na terra, e deve desenvolver-se sempre mais, até ser no fim dos tempos consumado pelo próprio Deus, quando Cristo, nossa vida, aparecer e a criação for libertada da escravidão da corrupção e, assim, participar da liberdade e da glória dos filhos de Deus (Rm 8,21).
Portanto, o povo messiânico, embora não abranja atualmente todos os homens e apareça muitas vezes como um pequeno rebanho, é entretanto, para todo o gênero humano, fecundíssima semente de unidade, de esperança e de salvação. Constituído por Cristo para uma comunhão de vida, de amor e de verdade, e por ele assumido para ser instrumento da redenção universal, é enviado ao mundo inteiro como luz do mundo e sal da terra. Assim como Israel segundo a carne, que peregrinava no deserto, já é chamado Igreja de Deus, também o novo Israel, que caminha neste mundo em busca da cidade futura e permanente, é chamado Igreja de Cristo, pois foi ele que a adquiriu com o seu sangue, encheu-a de seu Espírito e dotou-a de meios aptos para uma união visível e social.
Deus convocou todos aqueles que olham com fé para Jesus, autor da salvação e princípio da unidade e da paz, e com eles constituiu a Igreja, a fim de que ela seja, para todos e para cada um, o sacramento visível desta unidade salvífica.

quarta-feira, 1 de abril de 2020

Quarta-feira da 5ª semana da Quaresma


Segunda leitura 

Dos Comentários sobre os Salmos, de Santo Agostinho, bispo 

(Sl 85,1: CCL39,1176-1177) 

(Séc.V) 

 Jesus Cristo ora por nós, ora em nós, e recebe a nossa oração 

Deus não poderia conceder dom maior aos homens do que dar-lhes como Cabeça a sua Palavra, pela qual criou todas as coisas, e a ela uni-los como membros, para que o Filho de Deus fosse também filho do homem, um só Deus com o Pai, um só homem com os homens. Por conseguinte, quando dirigimos a Deus nossas súplicas, não separemos dele o Filho; e, quando o Corpo do Filho orar, não separe de si sua Cabeça. Deste modo, o único salvador de seu corpo, nosso Senhor Jesus Cristo, é o mesmo que ora por nós, ora em nós e recebe a nossa oração.
 Ele ora por nós como nosso sacerdote; ora em nós como nossa cabeça e recebe a nossa oração como nosso Deus.
Reconheçamos nele a nossa voz, e em nós a sua voz. E quando se disser sobre o Senhor Jesus, sobretudo nos profetas, algo referente àquela humilhação aparentemente indigna de Deus, não hesitemos em lhe atribuir, já que ele não hesitou em fazer-se um de nós. É a ele que toda a criação serve, porque todo o universo é obra de suas mãos.
Por isso, contemplamos sua divindade e majestade, quando ouvimos: No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus; e a Palavra era Deus. No princípio estava ela com Deus. Tudo foi feito por ela e sem ela nada se fez (Jo 1,1-3). Mas se nesta passagem contemplamos a divindade do Filho de Deus que supera as mais excelsas criaturas, ouvimos também em outras passagens da Escritura o mesmo Filho de Deus que geme, ora e louva.
Hesitamos então em atribuir-lhe tais palavras, porque nosso pensamento reluta em passar da contemplação de sua divindade à sua humilhação, como se fosse uma injúria reconhecer como homem aquele a quem orávamos como a Deus; por isso, o nosso pensamento fica muitas vezes perplexo, e esforça-se por alterar o sentido das palavras. Porém, não encontramos na Escritura recurso algum para aplicar tais palavras senão ao Filho de Deus, sem jamais separá-las dele.
Despertemos, pois, e estejamos vigilantes na fé. Consideremos aquele que assumiu a condição de servo, a quem há pouco contemplávamos na condição de Deus; tornando-se semelhante aos homens e sendo visto como homem, humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até à morte (cf. Fl 2,7-8). E quis tornar suas as palavras do salmo, ao dizer, pregado na cruz: Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste? (Sl 21,1).
Ele ora na sua condição de servo, e recebe a nossa oração na sua condição de Deus; ali é criatura, aqui o Criador; sem sofrer mudança, assumiu a condição mutável da criatura, fazendo de nós, juntamente com ele, um só homem, cabeça e corpo. Nossa oração, pois, se dirige a ele, por ele e nele; oramos juntamente com ele e ele ora juntamente conosco.

terça-feira, 31 de março de 2020

Terça-feira da 5ª semana da Quaresma


 Segunda leitura 

Dos Sermões de São Leão Magno, papa 

 (Sermo8, De passione Domini,6-8: PL 54,340-342) 

(Séc.V) 

A cruz de Cristo é fonte de todas as bênçãos e origem de todas as graças 

Que a nossa inteligência, iluminada pelo Espírito da Verdade, acolha com o coração puro e liberto, a glória da cruz que se irradia pelo céu e a terra; e perscrute, com o olhar interior, o sentido destas palavras do Senhor, ao falar da iminência de sua paixão: Chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado (Jo 12,23). E em seguida: Agora sinto-me angustiado. E que direi? “Pai, livra-me desta hora!”? Mas foi precisamente para esta hora que eu vim. Pai, glorifica o teu Filho! (Jo 12,27). E tendo vindo do céu a voz do Pai que dizia: Eu o glorifiquei e o glorificarei de novo! (Jo 12,28), Jesus continuou, dirigindo-se aos presentes: Esta voz que ouvistes não foi por causa de mim, mas por causa de vós. É agora o julgamento deste mundo. Agora o chefe deste mundo vai ser expulso, e eu, quando for elevado da terra, atrairei tudo a mim (Jo 12,30-32).
 Ó admirável poder da cruz! Ó inefável glória da Paixão! Nela se encontra o tribunal do Senhor, o julgamento do mundo, o poder do Crucificado!  Atraístes tudo a vós, Senhor, para que o culto divino fosse celebrado, não mais em sombra e figura, mas num sacramento perfeito e solene, não mais no templo da Judéia, mas em toda parte e por todos os povos da terra.
 Agora, com efeito, é mais ilustre a ordem dos levitas, maior a dignidade dos sacerdotes e mais santa a unção dos pontífices. Porque vossa cruz é fonte de todas as bênçãos e origem de todas as graças. Por ela, os que crêem recebem na sua fraqueza a força, na humilhação, a glória, na morte, a vida. Agora, abolida a multiplicidade dos sacrifícios antigos, toda a variedade das vítimas carnais é consumada na oferenda única do vosso corpo e do vosso sangue, porque sois o verdadeiro Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo (Jo 1,29). E assim realizais em vós todos os mistérios, para que todos os povos formem um só reino, assim como todas as vítimas são substituídas por um só sacrifício.
 Proclamemos, portanto, amados filhos, o que o santo doutor das nações, o apóstolo Paulo, proclamou solenemente: Segura e digna de ser acolhida por todos é esta palavra: Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores (1Tm1,15).
 E é ainda mais admirável a misericórdia de Deus para conosco porque Cristo não morreu pelos justos, nem pelos santos, mas pelos pecadores e pelos ímpios. E como a natureza divina não estava sujeita ao suplício da morte, ele assumiu, nascendo de nós, o que poderia oferecer por nós.
 Outrora ele ameaçava nossa morte com o poder de sua morte, dizendo pelo profeta Oséias: Ó morte, eu serei a tua morte; inferno, eu serei a tua ruína (cf. Os 13,14). Na verdade, morrendo, ele se submeteu às leis do túmulo, mas destruiu-as, ressuscitando. Rompeu a perpetuidade da morte, transformando-a de eterna em temporal. Pois, como em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos reviverão (1Cor 15,2).

segunda-feira, 30 de março de 2020

Segunda-feira da 5ª semana da Quaresma


Segunda leitura 
 
Dos Comentários sobre os Salmos, de São João Fisher, bispo e mártir 
 
(Ps 129:Opera omnia,edit.1579, p.1610) 
 
(Séc. XVI) 
 
Se alguém pecar, temos junto do Pai um Defensor 
 
Jesus Cristo é o nosso sumo sacerdote e o seu precioso corpo é o nosso sacrifício, que ele ofereceu no altar da cruz para a salvação de todos os homens. O sangue derramado por nossa redenção não era de novilhos e bodes (como na antiga Lei), mas do inocentíssimo cordeiro Cristo Jesus, nosso Salvador.
O templo onde nosso sumo sacerdote ofereceu o sacrifício não era feito por mãos humanas, mas edificado unicamente pelo poder de Deus. Porque ele derramou seu sangue diante do mundo, que é na verdade o templo construído só pela mão de Deus. Este templo tem duas partes: uma é a terra que agora habitamos; a outra ainda é desconhecida por nós mortais.
Jesus Cristo ofereceu seu primeiro sacrifício aqui na terra quando padeceu a morte crudelíssima. Em seguida, revestido da nova veste da imortalidade, com seu próprio sangue entrou no Santo dos Santos, isto é, no céu, onde apresentou diante do trono do Pai celeste aquele sangue de valor infinito, que derramara uma vez para sempre por todos os homens cativos do pecado. Este sacrifício é tão agradável e aceito por Deus que, logo ao vê-lo, não pode deixar de compadecer-se de nós e derramar a sua misericórdia sobre   todos os que estão verdadeiramente arrependidos.
É, além disso, um sacrifício eterno. Não é oferecido apenas uma vez cada ano (como acontecia entre os judeus), mas cada dia para o nosso consolo, e ainda mais, a cada hora e a cada momento, para nosso conforto e nossa alegria. Por isso o Apóstolo acrescenta: Obtendo uma eterna redenção (Hb 9,12). Deste santo e eterno sacrifício, participam todos os que experimentaram a verdadeira contrição e arrependimento dos pecados cometidos, e tomaram a inabalável resolução de não mais voltar aos vícios antigos e de perseverar com firmeza no caminho das virtudes a que se consagraram.
É o que ensina São João com estas palavras: Meus filhinhos, escrevo isto para que não pequeis. No entanto, se alguém pecar, temos junto ao Pai um Defensor: Jesus Cristo, o Justo. Ele é a vítima de expiação pelos nossos pecados, e não só pelos nossos, mas também pelos do mundo inteiro (1Jo 2,1-2).

domingo, 29 de março de 2020

Domingo da 5ª semana da Quaresma


Segunda leitura 
 
Das Cartas pascais de Santo Atanásio, bispo 
 
(Ep.14,1-2:PG26,1419-1420) 
 
(Séc.IV) 
 
Celebremos com palavras e atos a festa do Senhor que se aproxima 
 
Está próximo de nós o Verbo de Deus, nosso Senhor Jesus Cristo, que se fez tudo por nós, e promete estar conosco para sempre. Ele o proclama com estas palavras: Eis que eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo(Mt 28,20). E porque quis fazer-se tudo para nós, ele é o nosso pastor, sumo sacerdote, caminho e porta; e é também a nossa festa e solenidade como diz o Apóstolo: O nosso cordeiro pascal, Cristo, já está imolado (1Cor 5,7). Cristo, esperança dos homens, veio ao nosso encontro, dando novo sentido às palavras do salmista: Vós sois a minha alegria; livrai-me daqueles que me cercam (cf. Sl31,7). Esta é a verdadeira alegria, esta é a verdadeira solenidade: vermo-nos livres do mal.

Para tanto, que cada um se esforce por viver em santidade e medite interiormente na paz e no temor de Deus. Os santos, enquanto viviam neste mundo, estavam sempre alegres, como em contínua festa. Um deles, o bem-aventurado Davi, levantava-se de noite, não uma mas sete vezes, para atrair com suas preces a benevolência de Deus. Outro, o grande Moisés, exprimia a sua alegria entoando hinos e cânticos de louvor a Deus pela vitória alcançada sobre o Faraó e sobre todos os que tinham oprimido o povo hebreu. Outros ainda, dedicavam-se alegremente ao exercício contínuo do culto sagrado, como o grande Samuel e o bem-aventurado Elias. Todos eles, pelo mérito das suas obras, já alcançaram a liberdade e celebram no céu a festa eterna. Alegram-se com a lembrança da sua peregrinação terrena, vivida entre as sombras do que havia de vir e, passado o tempo das figuras, contemplam agora a verdadeira realidade.
E nós, que nos preparamos para a grande solenidade, que caminho havemos de seguir? Ao aproximarem-se as festas pascais, a quem tomaremos por guia? Certamente nenhum outro, amados irmãos, senão aquele a quem chamamos nosso Senhor Jesus Cristo, e que disse: Eu sou o caminho (Jo 14,6). É ele, como diz São João, que tira o pecado do mundo (Jo 1,29); é ele que purifica nossas almas, como declara o profeta Jeremias: Parai um pouco na estrada para observar, e perguntai sobre os antigos caminhos, e qual será o melhor, para seguirdes por ele; assim ficareis mais tranqüilos em vossos corações (Jr 6,16).
Outrora, era com sangue de bodes e a cinza de novilhas que se aspergiam os que estavam impuros, mas só os corpos ficavam purificados. Agora, pela graça do Verbo de Deus, alcançamos a purificação total. Se seguirmos a Cristo, poderemos sentir-nos desde já nos átrios da Jerusalém celeste e saborear de antemão as primícias daquela festa eterna. Assim fizeram os Apóstolos, que foram e continuam a ser os mestres desta graça divina, porque seguiram o Salvador; diziam eles: Nós deixamos tudo e te seguimos (Mt 19,17). Sigamos também nós o Senhor; preparemo-nos para celebrar a festa do Senhor não apenas com palavras mas também com nossos atos.