sexta-feira, 12 de novembro de 2021

SÃO JOSAFÁ, BISPO E MÁRTIR

 Memória

Nasceu na Ucrânia, cerca do ano 1580, de pais ortodoxos. Abraçou a fé católica e entrou na Ordem de São Basílio. Ordenado sacerdote e eleito bispo de Polock, dedicou-se com grande empenho à causa da unidade da Igreja, pelo que foi perseguido pelos seus inimigos e morreu mártir em 1623. 

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Segunda leitura

Da Encíclica Ecclesiam Dei, de Pio XI, papa

 (AAS 15[1923],573.576-577)
(Séc. XX)

Derramou o seu sangue pela unidade da Igreja
A Igreja de Deus por admirável desígnio foi constituída de forma a ser, na plenitude dos tempos, semelhante a imensa família, abraçando a totalidade do gênero humano; e, por dom de Deus, sabemos ser ela visível não só por suas notas principais, como também pela unidade universal.

De fato, Cristo Senhor não apenas confiou somente aos apóstolos o dom que ele próprio recebera do Pai, ao dizer: Todo o poder me foi dado no céu e na terra; ide, pois, ensinai a todos os povos (Mt 28,18-19); mas também quis que o grupo dos apóstolos fosse em sumo grau um colégio só, duplamente ligado por estreito vínculo: intrinsecamente pela mesma fé e caridade, infundida em nossos corações pelo Espírito Santo (cf. Rm 5,5); extrinsecamente, pelo governo de um só sobre todos, ao entregar o principado a Pedro qual perpétuo princípio e visível fundamento da unidade.

Para que se mantivesse para sempre esta unidade e concórdia, Deus de suma providência consagrou-a com o sinete da santidade e do martírio.
Este grande louvor obteve-o o arcebispo de Polock, Josafá, de rito eslavônio oriental; com toda a razão o saudamos como honra insigne e coluna dos eslavos orientais. Com efeito, mal se encontra quem tenha mais ilustrado o nome deles ou servido melhor a sua salvação, que este pastor e apóstolo, mormente ao derramar o sangue pela unidade da santa Igreja. Além disto, sentindo-se divinamente impelido à reintegração universal na unidade santa, compreendeu que a melhor contribuição a dar seria guardar o rito oriental eslavônio e o monaquismo basiliano na unidade da Igreja universal.

Entrementes, solícito em primeiro lugar pela união de seus concidadãos com a cátedra de Pedro, buscava por toda a parte com empenho todos os argumentos que pudessem promovê-la ou confirmá-la. De modo especial, folheava assiduamente os livros litúrgicos usados pelos orientais e pelos dissidentes, segundo as ordenações dos santos padres. Preparado tão diligentemente, iniciou o trabalho de refazer a unidade, com tanto vigor e suavidade e com tanto êxito, que pelos próprios adversários foi chamado de “raptor de almas”.

quinta-feira, 11 de novembro de 2021

SÃO MARTINHO

 Memória

Nasceu na Panônia cerca do ano 316, de pais pagãos. Depois de receber o batismo e de renunciar à carreira militar, fundou um mosteiro em Ligugé (França), onde levou vida monástica sob a direção de Santo Hilário. Foi depois ordenado sacerdote e, mais tarde, eleito bispo de Tours. Foi modelo insigne de bom pastor. Fundou outros mosteiros, dedicou-se à formação do clero e à evangelização dos pobres. Morreu no ano 397.

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Segunda leitura

Das Cartas de Sulpício Severo
(Epist. 3,6.9-10.11.14-17.21: SCh 133,336-344
)
(Séc.V)


Martinho, pobre e humilde

Martinho soube com muita antecedência o dia da sua morte e comunicou aos irmãos estar iminente a dissolução de seu corpo. Entretanto, surgiu a necessidade de ir à diocese de Candax, pois os eclesiásticos desta Igreja estavam em discórdia. Desejando restabelecer a paz, embora não ignorasse o fim de seus dias, não recusou partir, julgando que seria um excelente fecho de suas obras deixar a Igreja em paz.
Demorou-se por algum tempo na aldeia e na Igreja aonde fora, e a paz voltou para os clérigos. Quando já pensava em regressar ao mosteiro, começaram de repente a faltar-lhe as forças e, chamando os irmãos, disse-lhes que ia morrer. Diante disto todos se entristeceram grandemente, chorando e dizendo, a uma só voz: “Por que, pai, nos abandonas? A quem nos entregas, desolados? Lobos vorazes invadem teu rebanho; quem, ferido o pastor, nos livrará de seus dentes? Sabemos que desejas a Cristo, mas teus prêmios já estão seguros e não diminuirão com o adiamento! Tem compaixão de nós, a quem desamparas!”
Comovido com estas lágrimas, ele que sempre possuíra entranhas de misericórdia, também chorou, segundo contam. Voltando-se então para o Senhor, respondeu aos queixosos somente com estas palavras: “Senhor, se ainda sou necessário a teu povo, não recuso o trabalho. Que se faça tua vontade”.
Que homem incomparável! O trabalho não o vence, a morte não o vencerá! Ele, que não se inclinava para nenhum dos lados, não temeria morrer e nem recusaria viver! No entanto, olhos e mãos sempre erguidos para o céu, não abandonava a oração o espírito invicto; e quando os presbíteros, que se haviam reunido junto dele, lhe pediram aliviar o frágil corpo, virando-o para o lado, disse: “Deixai-me, deixai-me, irmãos, olhar para o céu de preferência à terra, para que o espírito já se dirija ao caminho que o levará ao Senhor”. Dito isto, viu o demônio ali perto. “Por que estás aqui, fera nefasta? Nada em mim, ó cruel, encontrarás! O seio de Abraão me acolhe”. Com estas palavras entregou o espírito ao céu. Martinho, feliz, é recebido no seio de Abraão; Martinho, pobre e humilde, entra rico no céu.

quarta-feira, 10 de novembro de 2021

SÃO LEÃO MAGNO, PAPA E DOUTOR DA IGREJA

 Memória

Nasceu na Toscana (Itália) e no ano 440 foi elevado à Cátedra de Pedro, cargo que exerceu como verdadeiro pastor e pai. Trabalhou intensamente pela integridade da fé, defendeu com ardor a unidade da Igreja, empenhou-se por todos os meios possíveis em evitar as incursões dos bárbaros ou mitigar os seus efeitos. Por toda esta atividade extraordinária mereceu com toda a justiça ser apelidado “Magno”. Morreu no ano 461.

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Segunda leitura

Dos Sermões de São Leão Magno, papa

(Sermo 4,1-2: PL 54,148-149)
(Séc. V)

O serviço especial do nosso ministério
Embora seja a Igreja de Deus toda ela ordenada em distintos graus, de forma a subsistir a integridade nos diversos membros do Corpo sagrado, todos, no entanto, no dizer do Apóstolo, em Cristo, somos um (cf. Gl 3,28). Ninguém está tão separado do outro pelo ofício, que até a mínima porção não pertença à conexão da cabeça. De fato, na unidade da fé e do batismo, nossa sociedade não conhece discriminações e é geral a dignidade, segundo a palavra do santo apóstolo Pedro: Quais pedras vivas deixai-vos edificar como casas espirituais, um sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais aceitos de Deus por Jesus Cristo (1Pd 2,5); e depois: Vós, porém, raça eleita e sacerdócio real, nação santa, povo adquirido (1Pd 2,9).

A todos os renascidos em Cristo o sinal da cruz torna reis, a unção do Espírito Santo consagra sacerdotes. Por isso, afora o especial serviço de nosso ministério, saibam todos os cristãos espirituais e racionais serem consortes da raça real e do ofício sacerdotal. Que de mais régio do que ser o espírito submisso a Deus, senhor de seu corpo? E que de mais sacerdotal do que entregar ao Senhor a consciência pura e oferecer as hóstias imaculadas da piedade no altar do coração? Sendo obra, pela graça de Deus, comum a todos, contudo, é piedoso e louvável de vossa parte alegrar-vos, como honra vossa, pelo dia de nossa elevação. Que se celebre no Corpo todo da Igreja o único sacramento do sacerdócio. Ao derramar-se o ungüento da consagração, este sacramento derramou-se certamente com mais abundância nos membros superiores, mas não com menor liberalidade nos inferiores.

Havendo assim, diletíssimos, pela participação neste dom, grande motivo de alegria em comum, haverá mais verdadeira e mais excelente causa de júbilo, se não pararmos na consideração de nossa pequenez. Com efeito muito mais vantajoso e mais digno será erguermos a força do espírito para contemplar a glória do santíssimo apóstolo Pedro; e, de preferência, neste dia venerar aquele que foi abundantemente regado pela fonte mesma dos carismas, para que, tendo recebido sozinho, nada seja transmitido a alguém sem sua participação. O Verbo feito carne já habitava entre nós. Cristo já se tinha entregado totalmente para restaurar o gênero humano.

terça-feira, 9 de novembro de 2021

DEDICAÇÃO DA BASÍLICA DO LATRÃO

 Festa

Segundo uma tradição que remonta ao século XII, celebra-se neste dia o aniversário da dedicação da basílica do Latrão, construída pelo imperador Constantino. Inicialmente foi uma festa exclusivamente da cidade de Roma; mais tarde, estendeu-se à Igreja de Rito romano, com o fim de honrar a basílica que é chamada “mãe e cabeça de todas as igrejas da Urbe e do Orbe e como sinal de amor e unidade para com a Cátedra de Pedro que, como escreveu Santo Inácio de Antioquia, “preside a assembleia universal da caridade”.

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Segunda leitura
Dos Sermões de São Cesário de Arles, bispo

(Sermo 229,1-3: CCL 104,905-908)
(Séc. VI)

Pelo batismo fomos todos feitos templos de Deus
Celebramos hoje, irmãos diletos, com exultação jubilosa e com a bênção de Cristo, o natalício deste templo. Nós, porém, é que temos de ser o verdadeiro templo vivo  de Deus. Todavia é com muita razão que os povos cristãos observam com fé a solenidade da Igreja-mãe, por quem reconhecem ter nascido espiritualmente. Pois pelo primeiro nascimento éramos vasos da ira de Deus; pelo segundo, foi-nos dado ser vasos da sua misericórdia. O primeiro nascimento lançou-nos na morte; e o segundo, chamou-nos de novo à vida.

Todos nós, caríssimos, antes do batismo fomos templos do demônio; depois do batismo, obtivemos ser templos de Cristo. E se meditarmos com atenção sobre a salvação de nossa alma, reconheceremos que somos o verdadeiro templo vivo de Deus. Deus não habita somente em construções de mão de homem (At 17,24) nem em casa feita de pedras e madeira; mas principalmente na alma feita à imagem de Deus e edificada por mãos deste artífice. Desse modo pôde São Paulo dizer: O templo de Deus, que sois vós, é santo (1Cor 3,17).

E já que Cristo, quando veio, expulsou o diabo de nossos corações para preparar um templo para si, quanto pudermos, esforcemo-nos com seu auxílio para que em nós não sofra injúria por nossas más obras. Pois quem proceder mal, faz injúria a Cristo. Como disse acima, antes que Cristo nos redimisse, éramos casa do diabo; depois foi-nos dado ser casa de Deus. Deus se dignou fazer de nós sua casa.

Por isso, diletos, se queremos celebrar na alegria o natalício do templo, não devemos destruir em nós, pelas obras más, os templos vivos de Deus. E falarei de modo que todos compreendam: cada vez que entramos na igreja, queremos encontrá-la tal como devemos dispor nossas almas. Queres ver bem limpa a basílica? Não manches tua alma com as nódoas do pecado. Se desejas que a basílica seja luminosa, também Deus quer que tua alma não esteja em trevas, mas que em nós brilhe a luz das boas obras, como disse o Senhor, e seja glorificado aquele que está nos céus. Do mesmo modo como tu entras nesta igreja, assim quer Deus entrar em tua alma, conforme prometeu: E habitarei e andarei entre eles (cf. Lv 26,11.12).