sábado, 26 de fevereiro de 2022

Sábado da 7ª semana do Tempo Comum

 Segunda leitura

Do Comentário sobre o Eclesiastes, de São Gregório de Agrigento, bispo

(Lib. 10, 2: PG 98,1138-1139)
(Séc. VI)

Aproximai-vos de Deus e ficareis luminosos
Suave, diz o Eclesiastes, é esta luz e extremamente bom, para nossos olhos penetrantes, é contemplar o sol esplêndido. Pois sem a luz o mundo não teria beleza, a vida não seria vida. Por isto, já de antemão, o grande contemplador de Deus, Moisés, disse: E Deus viu a luz e declarou-a boa. Porém é conveniente para nós pensar naquela grande, verdadeira e eterna luz que ilumina a todo homem que vem a este mundo, quer dizer, Cristo, salvador e redentor do mundo, que, feito homem, quis assumir ao máximo a condição humana. Dele fala o profeta Davi: Cantai a Deus, salmodiai a seu nome, preparai o caminho para aquele que se dirige para o ocaso; Senhor é seu nome; e exultai em sua presença.

Suave declarou o Sábio ser a luz e prenunciou ser bom ver com seus olhos o sol da glória, aquele sol que no tempo da divina encarnação disse: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não caminha nas trevas, mas terá a luz da vida. E outra vez: Este o juízo: a luz veio ao mundo. Desta maneira, pela luz do sol, gozo de nossos olhos corporais, anunciou o Sol da justiça espiritual, tão suave àqueles que foram encontrados dignos de conhecê-lo. Viam-no com seus próprios olhos, com ele viviam e conversavam, como um homem qualquer, embora não fosse um qualquer. Era, de fato, verdadeiro Deus que deu vista aos cegos, fez os coxos andar, os surdos ouvir, limpou os leprosos, aos mortos devolveu a vida.

Todavia, mesmo agora é realmente delicioso vê-lo com olhos espirituais e contemplar demoradamente sua simples e divina beleza. Além disso, é delicioso, pela união e comunicação com ele, tornar-se luminoso, ter o espírito banhado de doçura e revestido de santidade, adquirir o entendimento e vibrar de uma alegria divina que se estenda a todos os dias da presente vida. O sábio Eclesiastes bem o indicou quando disse: Por muitos anos que viva o homem, em todos eles se alegrará. É evidente que o Autor de toda alegria o é para os que vêem o Sol de justiça. Dele disse o profeta Davi: Exultem diante da face de Deus, gozem na alegria; e também: Exultai, ó justos, no Senhor; aos retos convém o louvor.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Sexta-feira da 7ª semana do Tempo Comum

 Segunda leitura

Do Comentário sobre o Eclesiastes, de São Gregório de Agrigento, bispo

(Lib. 8,6: PG 98,1071-1074)
(Séc. VI)

Exulte minha alma no Senhor
Vem, come com alegria teu pão e bebe com coração feliz o teu vinho, porque tuas obras já agradaram a Deus. A explicação mais simples e óbvia desta frase parece-me ser uma justa exortação que nos dirige o Eclesiastes: abraçando um tipo de vida simples e apegados à instrução de uma fé sincera para com Deus, comamos o pão com alegria e bebamos o vinho de coração feliz; sem resvalar para as palavras maldosas, nem nos comportar com duplicidade. Pelo contrário, pensemos sempre o que é reto, e, quanto nos seja possível, auxiliemos com misericórdia e liberalidade os necessitados e mendigos, isto é, atentos aos desejos e ações com que o próprio Deus se deleita.

No entanto, o sentido místico nos leva a mais altos pensamentos e ensina-nos a ver aqui o pão celeste e sacramental que desceu do céu e trouxe a vida ao mundo. Ensina-nos também, com o coração feliz, a beber o vinho espiritual, aquele vinho que jorrou do lado da verdadeira vide, no momento da paixão salvífica. Destes fala o Evangelho de nossa salvação: Tendo Jesus tomado o pão, abençoou-o e disse a seus santos discípulos e apóstolos: Tomai e comei: isto é meu corpo que por vós é repartido para a remissão dos pecados; o mesmo fez com o cálice e disse: Bebei todos dele; este é o meu sangue da nova Aliança, que por vós e por muitos é derramado em remissão dos pecados. Aqueles que comem deste pão e bebem o vinho sacramental, na verdade enchem-se de alegria, exultam e podem exclamar: Deste alegria a nossos corações.

Ainda mais – julgo eu – este pão e este vinho designam, no livro dos Provérbios, a sabedoria de Deus, subsistente por si mesma, Cristo, o nosso salvador, quando diz: Vinde, comei do meu pão e bebei do vinho que preparei para vós; indicando assim a mística participação do Verbo. Aqueles que são dignos desta participação, trazem em todo o tempo vestes ou obras não menos luminosas do que a luz, realizando o que o Senhor diz no Evangelho: Que vossa luz brilhe diante dos homens, para que vejam vossas obras boas e glorifiquem vosso Pai que está nos céus. Igualmente se percebe que em suas cabeças corre sempre o óleo, isto é, o Espírito da verdade que os protege e defende contra todo dano do pecado.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

Quinta-feira da 7ª semana do Tempo Comum

 Segunda leitura

Das Instruções de São Columbano, abade

(Instr. 1 de Fide, 3-5: Opera, Dublin, 1957, pp. 62-66)
(Séc. VII)

A insondável profundidade de Deus
Deus está em todo lugar, imenso e próximo em toda parte, conforme o testemunho dado por ele mesmo: Eu sou o Deus próximo e não o Deus de longe. Não busquemos, então, longe de nós a morada de Deus, que temos dentro de nós, se o merecermos. Habita em nós como a alma no corpo, se formos seus membros sadios, mortos ao pecado. Então verdadeiramente mora em nós aquele que disse: E habitarei neles e entre eles andarei. Se, portanto, formos dignos de tê-lo em nós, em verdade seremos vivificados por ele, como membros vivos seus: nele, assim diz o Apóstolo, vivemos, nos movemos e somos.

Quem, pergunto eu, investigará o Altíssimo em sua inefável e incompreensível essência? Quem sondará as profundezas de Deus? Quem se gloriará de conhecer o Deus infinito que tudo enche, tudo envolve, penetra em tudo e ultrapassa tudo, tudo contém e esquiva-se a tudo? Aquele que ninguém jamais viu como é. Por isto, não haja a presunção de indagar sobre a impenetrabilidade de Deus, o que foi, como foi, quem foi. São realidades indizíveis, inescrutáveis, ininvestigáveis; simplesmente, mas com todo o ardor, crê que Deus é como será, do modo como foi, porque Deus é imutável.

Quem, pois, é Deus? Pai, Filho e Espírito Santo, um só Deus. Não perguntes mais sobre Deus; porque os que querem conhecer a imensa profundidade, têm antes de considerar a natureza. Com razão compara-se o conhecimento da Trindade à profundeza do mar, conforme diz o Sábio: E a imensa profundidade, quem a alcançará? Do modo como a profundeza do mar é invisível ao olhar humano, assim a divindade da Trindade é percebida como incompreensível pelo entendimento humano. Por conseguinte, se alguém quiser conhecer aquele em quem deverá crer, não julgue compreender melhor falando do que crendo; ao ser investigada, a sabedoria da divindade foge para mais longe do que estava.

Procura, portanto, a máxima ciência não por argumentos e discursos, mas por uma vida perfeita; não pela língua, mas pela fé que brota da simplicidade do coração, não adquirida por doutas conjeturas da impiedade. Se, por doutas investigações procurares o inefável, irá para mais longe de ti do que estava; se, pela fé, a sabedoria estará à porta, onde se encontra; e onde mora poderá ser vista ao menos em parte. Mas em verdade até certo ponto também será atingida, quando se crer no invisível, mesmo sem compreendê-lo; deve-se crer em Deus por ser invisível, embora em parte o coração puro o veja.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Quarta-feira da 7ª semana do Tempo Comum

 Segunda leitura

Do Comentário sobre o Eclesiastes, de São Jerônimo, presbítero

(PL 23,1057-1059)
(Séc. V)

Procurai as coisas do alto
Recebeu alguém de Deus riquezas e bens e a possibilidade de gozar deles, de tomar sua porção e de alegrar-se em seu trabalho, também isso é dom de Deus. Não terá muito que pensar nos dias de sua vida, visto que Deus o ocupa com a alegria do coração. Em comparação daquele que se sacia de suas posses nas trevas das preocupações e, com grande tédio da vida, acumula as coisas perecíveis, declara ser preferível aquele que desfruta coisas presentes. Este, pelo menos, sente-se feliz em usá-las; para aquele, porém, apenas o peso das inquietações. E diz por que é um dom de Deus poder gozar das riquezas. É porque não terá muito que pensar nos dias de sua vida.

Com efeito, Deus o ocupa com a alegria de seu coração: não terá tristeza, não se afligirá com pensamentos, levado pela alegria e o prazer das coisas diante de si. Contudo, melhor ainda é entender, com o Apóstolo, o alimento e a bebida espirituais, dados por Deus, e ver a bondade de todo seu esforço, porque com enorme trabalho e desejo vamos poder contemplar os bens verdadeiros. É esta a nossa porção, alegrarmo-nos em nosso desejo e fadiga. Que é um bem, sem dúvida, mas até que Cristo, nossa vida, se manifeste, ainda não é a plenitude do bem. Todo o trabalho do homem é para sua boca e, no entanto, seu espírito não se sacia. Qual é a vantagem do sábio sobre o insensato? Qual a do pobre, se não de saber como caminhar em face da vida?

O fruto de todo trabalho dos homens neste mundo é consumido pela boca, mastigado e desce ao estômago para ser digerido. E por muito pouco tempo deleita o paladar, pois dá prazer somente enquanto está na boca.

Além disto, não se sacia a alma de quem comeu. Primeiro, porque deseja comer, de novo, pois quer o sábio, quer o tolo, não pode viver sem alimento, e a preocupação do pobre é sustentar seu mirrado corpo para não morrer à míngua. Segundo, porque a alma não encontra utilidade alguma na refeição do corpo, o alimento é comum ao sábio e ao ignorante, e o pobre vai aonde percebe haver recursos.

Todavia é preferível entender a expressão do autor do Eclesiástico que, instruído nas Escrituras celestes, concentra todo o trabalho em sua boca, e sua alma não se sacia por desejar sempre aprender. Nisso tem mais o sábio do que o insensato; porque, embora se sinta pobre (aquele pobre que o Evangelho declara feliz), caminha para alcançar a vida, seguindo pela estrada apertada e difícil que a ela conduz. É pobre de obras más, porém, sabe onde mora Cristo, a vida.