Segunda leitura
Do Livro sobre a vida cristã, de São Gregório de Nissa, bispo
(PG 46,295-298)
(Séc. IV)
Combate o bom combate da fé
Se há em Cristo nova criação, passou a antiga
(2Cor 5,17). Nova criação é o nome dado à inabitação do Espírito Santo
no coração puro e irrepreensível, liberto de toda maldade, cobiça e
ignomínia. Pois o homem que tem ódio ao pecado e se entrega com todo o
empenho ao serviço da virtude e que, tendo mudado de vida, recebeu em si
a graça do Espírito, este homem se fez todo novo, restaurado e
reconstruído. Ainda mais isto: Purificai-vos do velho fermento para serdes nova massa (1Cor 5,7). E esta: Festejemos, não com o velho fermento, mas com os ázimos da sinceridade e da verdade (1Cor 5,8). Estas citações concordam com o que foi dito sobre a nova criação.
Sem
dúvida alguma o tentador arma ciladas para nós. A natureza humana é em
si mesma fraca demais para obter vitória sobre ele. Por isto o Apóstolo
nos ordena cobrir-nos com as armaduras celestes: Vesti a couraça da
justiça, tende os pés calçados com o zelo para propagar o Evangelho da
paz e ficai de pé, de rins cingidos com a verdade (cf. Ef 6,14). Vês
quantos modos de te salvar o Apóstolo te sugere. Todos se dirigem ao
mesmo caminho, ao mesmo fim. Por eles com facilidade se efetua o curso
da vida que tem em mira a perfeição dos mandamentos de Deus. Em outro
lugar diz o mesmo Apóstolo: Pela paciência corramos à luta que nos foi designada, contemplando o autor e consumador da fé, Jesus (Hb 12,1-2).
Por
esta razão é necessário a quem desdenha completamente as grandes coisas
desta vida e rejeita toda glória mundana, que também renuncie junto com
a vida até à própria alma. Renúncia da alma significa não seguir nunca a
sua vontade mas a de Deus, e tomá-la como excelente guia. Em seguida,
nada possuir que não seja comum. Porque assim estará mais desembaraçado
para realizar com presteza, na alegria e esperança, aquilo que o
superior ordena, como servo de Cristo, liberto para o comum serviço dos
irmãos. Isto quer o Senhor, quando diz: Quem dentre vós quiser ser o primeiro e o maior, faça-se o último e o servo de todos (cf. Mc 9,35).
Na
realidade, este serviço aos homens deve ser gratuito, e um tal servo
irá sujeitar-se a todos e servir os irmãos como um devedor insolvente.
Quanto àqueles que ocupam cargos de direção, devem eles assumir maiores
trabalhos que os outros, portar-se com mais humildade que os
subordinados e demonstrar a imagem e o exemplo do Servo. Considerem um
depósito de Deus aqueles que foram confiados à sua fidelidade.
Assim,
pois, cabe aos que governam cuidar dos irmãos, à semelhança de bons
educadores em relação às crianças que lhes foram entregues pelos pais.
Se for este o sentir dos subordinados ou dos superiores, os primeiros
obedecerão com alegria às ordens e determinações, e os outros, por sua
vez, terão prazer em guiar os irmãos à perfeição. Se tiverdes atenções
uns para com os outros, levareis na terra a vida dos anjos.
Segunda leitura
Do Tratado sobre a Carta aos Filipenses, do Pseudo-Ambrósio
(PLS 1: 617-618)
(Séc. IV)
Alegrai-vos sempre no Senhor
Caríssimos
irmãos, para nossa salvação a divina misericórdia nos chama às alegrias
da eterna felicidade. Foi isto o que ouvistes há pouco na lição em que o
Apóstolo dizia: Alegrai-vos sempre no Senhor (Fl 4,4). As
alegrias do mundo tendem para a eterna tristeza; mas as que brotam da
vontade do Senhor levam os fiéis, que nelas perseveram, às alegrias
duradouras e eternas. Por isso diz o Apóstolo: De novo digo: Alegrai-vos (Fl 4,4).
Ele
incita a que cada vez mais cresça nossa alegria em Deus e a decisão de
cumprir seus mandamentos. Porque, quanto mais lutarmos neste mundo por
nos sujeitarmos aos preceitos de Deus, nosso Senhor, tanto mais seremos
felizes na vida futura e tanto maior glória alcançaremos diante de Deus.
Seja vossa moderação conhecida por todos
(Fl 4,5); quer dizer, que vosso santo modo de viver se manifeste não
apenas diante de Deus, mas ainda diante dos homens. Seja exemplo de
modéstia e de sobriedade para aqueles que convivem conosco na terra e
deixe uma boa lembrança perante Deus e os homens.
O Senhor está perto; de nada vos inquieteis
(Fl 4,5-6). O Senhor está sempre perto daqueles que o invocam na
verdade, com fé integra, esperança firme, caridade perfeita. Ele sabe do
que precisais, antes mesmo que o peçais. Está sempre pronto a vir em
auxílio dos que o servem fielmente, em qualquer necessidade sua.
Por
conseguinte, não temos de preocupar-nos demais com as dificuldades
iminentes, porque sabemos estar próximo Deus, nosso defensor, conforme
foi dito: O Senhor está junto dos que têm o coração atribulado e
salva os humildes no espírito. Muitas as tribulações dos justos, porém,
de todas elas o Senhor os livrará (Sl 33,19-20). Se nos esforçarmos por realizar e guardar o que ordenou, ele não tardará a nos dar o prometido.
Mas em tudo, por orações e súplicas acompanhadas de ação de graças, apresentai vossos pedidos a Deus
(Fl 4,6): não aconteça que, aflitos, suportemos as tribulações com
murmuração e tristeza. Isto nunca, mas com paciência e de rosto alegre, dando sempre e por tudo graças a Deus (Ef 5,20).
Segunda leitura
Da Carta aos filipenses, de São Policarpo, bispo e mártir
(Nn. 12,1-14: Funk 1,279-283)
(Séc. II)
Cristo vos faça crescer na fé e na verdade
Tenho
a certeza de que estais bem instruídos nas sagradas Escrituras e de que
nada vos escapa; não me foi isto concedido a mim. Agora, nestas
Escrituras lê-se: Irritai-vos, mas não pequeis (cf. Sl 4,5); e: Que o sol não se deite sobre a vossa ira (Ef 4,26). Feliz quem se lembra disto; creio que há destes entre vós.
Que
Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo e o eterno Pontífice, o Filho
de Deus, Jesus Cristo, vos façam crescer na fé e na verdade, em toda
mansidão, sem cólera, na paciência e longanimidade, na tolerância, na
castidade. E vos concedam a participação entre os santos. E convosco
também a nós e a todos que existem sob o céu e que hão de crer em nosso
Senhor Jesus Cristo e em seu Pai que o ressuscitou dos mortos (Gl 1,1).
Orai
por todos os santos. E também pelos reis, governantes e príncipes e
ainda pelos que vos perseguem e odeiam, pelos inimigos da cruz, para que
vosso fruto apareça diante de todos e sejais perfeitos nele.
Vós
e também Inácio me escrevestes que se alguém for à Síria, leve a carta
que eu vos tiver escrito, se houver boa ocasião, seja por mim ou por
aquele que enviarei em vosso lugar.
As
cartas de Inácio que ele vos fez chegar e as outras, todas as que
tínhamos conosco, vos entregamos conforme pedistes; vão unidas a esta
carta; delas tirareis grande proveito. Pois contêm a fé, a paciência e
toda edificação que levam a nosso Senhor. E sobre Inácio e seus
companheiros, tudo quanto souberdes com certeza, dai-me a conhecer.
Escrevi
por intermédio de Crescente, que vos recomendei pessoalmente; de novo
agora recomendo. Conviveu conosco de modo impecável; creio que
igualmente entre vós. Acolhei com estima sua irmã quando for ter
convosco.
Conservai-vos firmes no Senhor Jesus Cristo e sua graça esteja em todos vós. Amém.
Segunda leitura
Da Carta aos filipenses, de São Policarpo, bispo e mártir
(Nn. 9,1-11,4: Funk 1,275-279)
(Séc. II)
Corramos na fé e na justiça
Rogo a todos vós
que sejais obedientes à palavra da justiça e demonstreis inteira
paciência. Com vossos olhos a testemunhastes não apenas nos santos
Inácio, Zózimo e Rufo, mas também nos outros vossos irmãos e ainda em
Paulo e nos apóstolos. Estais convencidos de que não correram em vão
(cf. Fl 2,16), mas na fé e na justiça, e de que estão no lugar devido
junto do Senhor com quem suportaram o sofrimento. Pois não amaram este mundo (cf. 2Tm 4,10), mas aquele que por nós morreu e a quem por nossa causa Deus ressuscitou.
Permanecei
com eles e segui o exemplo do Senhor. Firmes na fé, inabaláveis, cheios
de caridade fraterna, amando-vos mutuamente, unidos na verdade,
esperando um do outro a mansidão do Senhor, a ninguém desprezando. Se
puderdes fazer algum bem não deixeis para mais tarde, porque a esmola livra da morte (Tb 4,10). Obedecei-vos uns aos outros, levando vida irrepreensível entre os pagãos para que pelas boas obras (1Pd 2,12) não só mereçais louvor, mas também não seja o Senhor objeto de blasfêmia por vossa causa. Ai daquele por quem é blasfemado o nome do Senhor (cf. Is 52,5). Ensinais a todos a sobriedade em que vós mesmos viveis.
Estou
profundamente triste com Valente que era presbítero entre vós, por não
ter assim reconhecido a posição que lhe foi dada. Exorto-vos, por isso, a
vos guardardes da avareza e a serdes castos e verazes. Afastai-vos de
todo mal. Quem não pode dominar-se nestas coisas, como as irá proclamar a
outros? Quem não abandona a avareza se manchará com a idolatria e será
contado entre os gentios que ignoram o julgamento do Senhor. Assim Paulo
ensina: Ou não sabemos que os santos julgarão o mundo? (1Cor 6,2).
Contudo
eu nada disto percebi nem ouvi em vós, junto de quem São Paulo
trabalhou. E fostes dos primeiros a receber carta sua. Com efeito,
gloria-se por vossa causa em todas as Igrejas que eram então as únicas a
conhecer a Deus; nós ainda não o conhecíamos.
Por
isso muito me entristeço por Valente e por sua esposa; que Deus lhes
conceda verdadeira penitência. Sede, portanto, sóbrios também vós a este
respeito. Não os tenhais por inimigos (cf. 2Ts 3,15), mas como
membros enfermos e desviados do caminho. Procurai reconduzi-los para que
salveis vosso corpo todo. Assim procedendo, vós vos edificais.
Segunda leitura
Da Carta aos filipenses, de São Policarpo, bispo e mártir
(Nn. 6,1-8,2: Funk 1,273-275)
(Séc. II)
Cristo deu-nos o exemplo com a sua vida
Sejam
os presbíteros inclinados à compaixão, misericordiosos para com todos,
reconduzam os que se desviaram do caminho, visitem todos os enfermos;
não se descuidem da viúva, do órfão ou do pobre. Mas sempre cheios de solicitude para o bem diante de Deus e dos homens
(cf. 2Cor 8,21), evitem a cólera, a acepção de pessoas, o julgamento
injusto. Repilam para longe toda a avareza; não dêem logo crédito contra
alguém, não sejam demasiado severos ao julgar, certos de que todos nós
somos devedores do pecado.
Se, portanto,
suplicamos a Deus perdoar-nos, devemos também nós perdoar. Pois estamos
diante do Senhor e dos olhos de Deus e teremos todos de comparecer perante o tribunal de Cristo, e cada um prestará contas de si
(Rm 14,10.12). Desse modo sirvamo-lo com temor e todo o respeito como
nos ordenou ele e os apóstolos, que nos anunciaram o Evangelho, como
também os profetas, que predisseram a vinda de nosso Senhor. Atentos,
façam todo o bem, afastem-se dos escândalos, dos falsos irmãos e
daqueles que usam o nome do Senhor com hipocrisia e induzem ao erro os
homens superficiais.
Todo aquele que não confessar ter Jesus Cristo vindo na carne é um anticristo
(cf. 1Jo 4,2.3; 2Jo 7). E quem não testemunhar o martírio da cruz, vem
do demônio. E quem fizer servir as palavras de Deus a seus desejos e
disser não haver ressurreição nem juízo, este é o primogênito de
Satanás. Por isso, deixando de lado a futilidade de muitos e os falsos
sistemas, voltemos à doutrina que nos foi entregue desde o início, vigilantes na oração (cf. 1Pd 4,7) e fiéis aos jejuns. Elevemos preces a Deus que tudo vê, para que não nos deixe cair em tentação (Mt 6,13), conforme disse o Senhor: O espírito na verdade é pronto, mas a carne é fraca (Mt 26,41).
Perseveremos sem cessar em nossa esperança e penhor de nossa justiça, que é Jesus Cristo: Em seu corpo carregou sobre o madeiro os nossos pecados, ele que não cometeu pecado nem se encontrou engano em sua boca
(1Pd 2,24.22); mas, por nossa causa, para que vivamos nele, tudo
suportou. Sejamos, por conseguinte, imitadores de sua paciência e, se
sofremos por seu nome, nós lhe daremos glória. Foi este o exemplo que
nos deu em si mesmo, e nós cremos.
Segunda leitura
Da Carta aos filipenses, de São Policarpo, bispo e mártir
(Nn. 3,1-5,2: Funk 1,269-273)
(Séc. II)
Revistamo-nos com as armas da justiça
Eu vos
escrevo sobre a justiça, não por pretensão minha, mas por insistência
vossa. Pois nem eu nem outro semelhante a mim pode igualar a sabedoria
do santo e glorioso Paulo. Estando junto de vós, diante dos homens vivos
naquela ocasião, ensinou com perfeição e firmeza a palavra da verdade
e, ausente, vos enviou cartas. Por estas, se as lerdes com atenção,
sereis edificados na fé que vos foi dada. Ela é a mãe de todos nós
(Gl 4,26), seguida pela esperança, precedida pela caridade em Deus, em
Cristo e no próximo. Quem estiver envolvido por elas, cumpre o
mandamento da justiça; pois quem tem a caridade mantém longe de si o
pecado.
A raiz de todos os males é a ânsia de possuir (1Tm 6,10). Certos de que nada trouxemos para este mundo nem dele poderemos levar coisa alguma
(1Tm 6,7), revistamo-nos com as armas da justiça e ensinemos a caminhar
no preceito do Senhor. A nós mesmos em primeiro lugar; depois, a vossas
esposas, para que andem na fé que lhes foi entregue e na caridade e
castidade. Que amem seus maridos com inteira fidelidade e estimem a
todos com recato. Eduquem os filhos na disciplina do temor de Deus (cf.
Ef 5,23s). Às viúvas ensinemos a serem versadas na doutrina do Senhor,
intercedendo sem cessar por todos, afastadas de toda a impostura,
maledicência, falso testemunho, da avareza e de todo mal. Conscientes de
serem altar de Deus e de que ele tudo vê claramente, nada lhe escapa de
apreciações, de pensamentos e dos segredos do coração (cf. 1Tm 5).
Sabendo, portanto, que não se zomba de Deus
(Gl 6,7), devemos caminhar de modo digno conforme a seu preceito
manifesto. Igualmente têm os diáconos de ser irrepreensíveis em face de
sua justiça, como ministros de Deus e do Cristo, não dos homens. Não
sejam maldizentes, falsos, avaros (cf. 1Tm 3,6s), mas sóbrios em tudo,
misericordiosos, dedicados, vivendo de acordo com a verdade do Senhor
que se fez o servo de todos. Se lhe formos agradáveis neste mundo,
seremos recompensados no outro, como nos prometeu: ele ressuscitará dos
mortos a cada um de nós. Se vivermos de modo digno dele, também com ele reinaremos (2Tm 2,12), já que temos fé.
Segunda leitura
Início da Carta aos filipenses, de São Policarpo, bispo e mártir
(Proêmio; nn. 1,1-2,3: Funk 1,267-269)
(Séc. II)
Por graça fostes salvos
Policarpo
com seus presbíteros à Igreja de Deus que peregrina em Filipos: sejam
copiosas em vós a misericórdia e a paz do Deus onipotente e de Jesus
Cristo, nosso Salvador.Muitíssimo me alegrei convosco, em nosso
Senhor Jesus Cristo, porque adquiristes as feições da verdadeira
caridade, e, como convinha, assististes os que estão presos em cadeias,
coroas dignas dos santos, dos verdadeiros eleitos de Deus e de nosso
Senhor. E porque a sólida raiz de vossa fé, já proclamada desde os
primeiros tempos, permanece até hoje e produz frutos em nosso Senhor
Jesus Cristo. É ele quem por nossos pecados aceitou ir até à morte, a quem Deus ressuscitou, destruindo as dores do inferno (At 2,24); e embora sem tê-lo visto, nele credes com alegria inexprimível e cheia de glória (cf. 1Pd 1,8). Esta alegria na qual muitos desejam entrar, cientes de que por graça fostes salvos, não pelas obras (cf. Ef 2,8-9), mas por vontade de Deus mediante Jesus Cristo.Por isto, de rins cingidos (1Pd 1,13), servi a Deus no temor (Sl 2,11) e na verdade, abandonando toda palavra vã e erro vulgar. Tendo fé naquele que ressuscitou dos mortos a nosso Senhor Jesus Cristo
(1Pd 1,21) e lhe deu a glória e o trono à sua direita. É ele a quem
todas as coisas celestes e terrestres se submetem, todo espírito serve e
que virá como juiz dos vivos e dos mortos. Deus reclamará seu sangue
daqueles que não crêem nele.Em verdade, quem o ressuscitou dos
mortos também nos ressuscitará, se fizermos sua vontade, andarmos
segundo seus preceitos e amarmos aquilo que ele amou. Se evitarmos toda
injustiça, fraude, avareza, difamação, falso testemunho; se não pagarmos o mal com o mal nem a maldição com a maldição (1Pd 3,9) nem o golpe com outro nem o ódio com o ódio. Bem lembrados dos ensinamentos do Senhor: Não
julgueis e não sereis julgados; perdoai e sereis perdoados; tende
misericórdia para alcançardes a misericórdia; com a mesma medida com que
medirdes sereis medidos (cf. Mt 7,1; Lc 6,36-38); e: Bem-aventurados os pobres e os que sofrem perseguição porque deles é o reino de Deus (cf. Mt 5,3.10).