quinta-feira, 25 de março de 2021

ANUNCIAÇÃO DO SENHOR

 Segunda leitura

Das Cartas de São Leão Magno, papa

(Epist. 28, ad Flavianum,3-4: PL 54,763-767)
(Séc.V)

O sacramento da nossa reconciliação
A humildade foi assumida pela majestade, a fraqueza, pela força, a mortalidade, pela eternidade. Para saldar a dívida de nossa condição humana, a natureza impassível uniu-se à natureza passível. Deste modo, como convinha à nossa recuperação, o único mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo, podia submeter-se à morte através de sua natureza humana e permanecer imune em sua natureza divina.

Por conseguinte, numa natureza perfeita e integral de verdadeiro homem, nasceu o verdadeiro Deus, perfeito na sua divindade, perfeito na nossa humanidade. Por “nossa humanidade” queremos significar a natureza que o Criador desde o início formou em nós, e que assumiu para renová-la. Mas daquelas coisas que o Sedutor trouxe, e o homem enganado aceitou, não há nenhum vestígio no Salvador; nem pelo fato de se ter irmanado na comunhão da fragilidade humana, tornou-se participante dos nossos delitos.

Assumiu a condição de escravo, sem mancha de pecado, engrandecendo o humano, sem diminuir o divino. Porque o aniquilamento, pelo qual o invisível se tornou visível, e o Criador de tudo quis ser um dos mortais, foi uma condescendência da sua misericórdia, não uma falha do seu poder. Por conseguinte, aquele que, na sua condição divina se fez homem, assumindo a condição de escravo, se fez homem.

Entrou, portanto, o Filho de Deus neste mundo tão pequeno, descendo do trono celeste, mas sem deixar a glória do Pai; é gerado e nasce de modo totalmente novo. De modo novo porque, sendo invisível em si mesmo, torna-se visível como nós; incompreensível, quis ser compreendido; existindo antes dos tempos, começou a existir no tempo. O Senhor do universo assume a condição de escravo, envolvendo em sombra a imensidão de sua majestade; o Deus impassível não recusou ser homem passível, o imortal submeteu-se às leis da morte.

Aquele que é verdadeiro Deus, é também verdadeiro homem; e nesta unidade nada há de falso, porque nele é perfeita respectivamente tanto a humanidade do homem como a grandeza de Deus. Nem Deus sofre mudança com esta condescendência da sua misericórdia nem o homem é destruído com sua elevação a tão alta dignidade. Cada natureza realiza, em comunhão com a outra, aquilo que lhe é próprio: o Verbo realiza o que é próprio do Verbo, e a carne realiza o que é próprio da carne.

A natureza divina resplandece nos milagres, a humana, sucumbe aos sofrimentos. E como o Verbo não renuncia à igualdade da glória do Pai, também a carne não deixa a natureza de nossa raça. É um só e o mesmo – não nos cansaremos de repetir – verdadeiro Filho de Deus e verdadeiro Filho do homem. É Deus, porque no princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus: e o Verbo era Deus. É homem, porque o Verbo se fez carne e habitou entre nós (Jo 1,1.14).

terça-feira, 23 de março de 2021

SÃO TURÍBIO DE MOGROVEJO, BISPO

 Nasceu na Espanha pelo ano de 1538, e estudou Direito em Salamanca. Eleito bispo de Lima em 1580, partiu para a América. Cheio de zelo apostólico, celebrou vários sínodos e concílios que muito incentivaram a vida cristã em todo o território. Defendeu corajosamente os direitos da Igreja, dedicou-se com grande solicitude ao rebanho que lhe fora confiado, visitando-o com freqüência, e preocupando-se de modo especial com os índios. Morreu em 1606.


Segunda leitura

Do Decreto Christus Dominus sobre o múnus pastoral dos bispos na Igreja, do Concílio Vaticano II

(N. 12-13.16)
(Séc. XX)

Aptos para toda boa obra
No exercício da sua missão de ensinar, anunciem aos homens o evangelho de Cristo. Um dos principais deveres dos bispos é chamar os homens à fé, na força do Espírito ou confirmá-los na vida de fé. Proponham-lhes na sua integridade o mistério de Cristo, ou seja, aquelas verdades que não se podem ignorar sem ignorar o próprio Cristo. Ensinem-lhes também o caminho revelado por Deus para que os homens o glorifiquem e desse modo alcancem a felicidade eterna.
Mostrem-lhes ainda que as coisas terrenas e as instituições humanas, segundo os planos de Deus Criador, também se destinam à salvação dos homens, e podem, por conseguinte, muito contribuir para a edificação do Corpo de Cristo.
Ensinem, portanto, como se deve ter em grande estima, segundo a doutrina social da Igreja, a pessoa humana com sua liberdade e a própria vida corporal; a família, sua unidade e estabilidade, a procriação e a educação dos filhos; a sociedade civil com suas leis e profissões; o trabalho e o lazer, as artes e as conquistas da técnica; a pobreza e a riqueza. Exponham, enfim, os meios de solucionar os gravíssimos problemas da propriedade, da promoção e da justa distribuição dos bens materiais, da paz e da guerra, da convivência fraterna entre todos os povos.
Apresentem a doutrina cristã com métodos adaptados às necessidades dos tempos, quer dizer, que correspondam às dificuldades e aos problemas que mais preocupam os homens. Defendam esta doutrina e ensinem aos próprios fiéis como defendê-la e propagá-la. No modo de transmiti-la, mostrem a solicitude materna da Igreja para com todos os homens, quer fiéis ou não-fiéis. Com especial cuidado, se interessem pelos pobres e humildes, para cuja evangelização o Senhor os enviou.
No exercício do ofício de pais e pastores, comportem-se os bispos no meio dos seus como quem serve. Sejam bons pastores que conhecem suas ovelhas, e por elas são conhecidos. Como verdadeiros pais, distingam-se pelo seu espírito de amor e solicitude para com todos. Portanto, de bom grado todos se submetam à sua autoridade recebida de Deus. Reúnam ao seu redor e formem de tal modo a família inteira de sua grei que todos, cônscios de suas obrigações, vivam e trabalhem na comunhão da caridade.
Para que possam atingir este ideal, é mister que os bispos, aptos para toda obra boa e suportando qualquer coisa pelos eleitos (2Tm 2,21.10), orientem de tal modo sua vida que ela corresponda às necessidades dos tempos.