sábado, 13 de fevereiro de 2021

SÃO CIRILO, MONGE, E SÃO METÓDIO, BISPO

 

São Cirilo, monge e São Metódio, bispo

 

 Memória Obrigatória

 

Cirilo, natural de Tessalônica, recebeu uma excelente formação em Constantinopla. Juntamente com seu irmão, Metódio, dirigiu-se para a Morávia, a fim de pregar a fé católica. Ambos compuseram os textos litúrgicos em língua eslava, escritos em letras que depois se chamaram “cirílicas”. Chamados a Roma, ali morreu Cirilo, a 14 de fevereiro de 869. Metódio foi então ordenado bispo e partiu para a Panônia, onde exerceu intensa atividade evangelizadora. Muito sofreu por causa de pessoas invejosas, mas sempre contou com o apoio dos Pontífices Romanos. Morreu no dia 6 de abril de 885 em Velehrad (República Tcheca). O Papa João Paulo II proclamou-os patronos da Europa junto com São Bento.


Segunda leitura

Da Vida eslava de Constantino

(Cap. 18: Denkschriften der kaiserl. Akademie
der Wissenschaften, 19, Wien 1970, p. 246)


Fazei crescer a vossa Igreja e a todos reuni na unidade

Constantino Cirilo, fatigado por muitos trabalhos, caiu doente; e quando já havia muitos dias que suportava a enfermidade, teve uma visão de Deus e começou a cantar: “O meu espírito alegrou-se e o meu coração exultou, quando me disseram: Vamos para a casa do Senhor”.
Depois de ter revestido as vestes de cerimônia, assim permaneceu todo aquele dia, cheio de alegria e dizendo: “A partir de agora, já não sou servo nem do imperador nem de homem algum na terra, mas unicamente do Deus todo-poderoso. Eu não existia, mas agora existo e existirei para sempre. Amém”. No dia seguinte, vestiu o santo hábito monástico e, acrescentando luz à luz, impôs-se o nome de Cirilo. E assim permaneceu durante cinqüenta dias.
Chegada a hora de encontrar repouso e de emigrar para as moradas eternas, erguendo as mãos para Deus, orava com lágrimas:
“Senhor meu Deus, que criastes todos os anjos e os espíritos incorpóreos, estendestes o céu, fixastes a terra e formastes do nada todas as coisas que existem; vós que sempre ouvis aqueles que fazem vossa vontade, vos temem e observam vossos preceitos, atendei a minha oração e conservai na fidelidade o vosso rebanho, a cuja frente me colocastes, apesar de incompetente e indigno servo.
Livrai-o da malícia ímpia e pagã dos que blasfemam contra vós; fazei crescer a vossa Igreja e a todos reuni na unidade. Tornai o povo perfeito, concorde na verdadeira fé e no reto testemunho; inspirai aos seus corações a palavra da vossa doutrina; porque é dom que vem de vós ter-nos escolhido para pregar o Evangelho de vosso Cristo, encorajando-nos a praticar as boas obras e a fazer o que é de vosso agrado. Aqueles que me destes, a vós entrego, porque são vossos; governai-os com vossa mão poderosa e protegei-os à sombra de vossas asas, para que todos louvem e glorifiquem o vosso nome, Pai, Filho e Espírito Santo. Amém”.
Depois de ter beijado a todos com o ósculo santo, disse: “Bendito seja Deus que não nos entregou como presa aos dentes de nossos invisíveis adversários, mas rompeu suas armadilhas e nos libertou do mal que tramavam contra nós”. E assim adormeceu no Senhor, com quarenta e dois anos de idade.
O Sumo Pontífice ordenou que todos os gregos que estavam em Roma, juntamente com os romanos, se reunissem junto de seu corpo com velas acesas e cantando; e que suas exéquias fossem celebradas do mesmo modo como se celebram as do próprio Papa. E assim foi feito.



quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

NOSSA SENHORA DE LOURDES

 

Nossa Senhora de Lourdes

 

 Memória Facultativa

 

Segunda leitura

De uma carta de Santa Maria Bernarda Soubirous, virgem

(Lettre au P. Gondrand, a. 1861: cf. A. Ravier,
Les écrits de sainte Bernadette, Paris 1961, pp. 53-59)
(Séc.: XIX)

 A Senhora falou comigo
Certo dia, fui com duas meninas às margens do rio Gave buscar lenha. Ouvi um barulho, voltei-me para o prado, mas não vi movimento nas árvores. Levantei a cabeça e olhei para a gruta. Vi, então, uma Senhora vestida de branco; tinha um vestido alvo, com uma faixa azul celeste à cintura, e uma rosa de ouro em cada pé, da cor do rosário que trazia.

Ao vê-la, esfreguei os olhos, julgando estar sonhando. Enfiei a mão no bolso de meu vestido onde encontrei o rosário. Quis ainda fazer o sinal da cruz, porém, não consegui levar a mão à testa. Entretanto, quando aquela Senhora fez o sinal da cruz, tentei fazê-lo também; a mão tremia, mas consegui. Comecei a rezar o rosário; a Senhora igualmente ia passando as contas de seu rosário, embora não movesse os lábios. Quando terminei, a visão logo desapareceu.

Perguntei às duas meninas se tinham visto alguma coisa; disseram que não, e quiseram saber o que eu tinha para lhes contar. Garanti-lhes que vira uma Senhora vestida de branco, mas não sabia quem era, e pedi-lhes que não contassem a ninguém. Elas então me aconselharam a não voltar mais àquele lugar, porém não concordei. Voltei pois no domingo, porque me sentia interiormente chamada...

Somente na terceira vez, a Senhora me falou e perguntou-me se queria voltar ali durante quinze dias. Respondi-lhe que sim. Mandou-me dizer aos sacerdotes que construíssem uma capela naquele lugar. Em seguida, ordenou-me que bebesse da fonte. Como não vi fonte alguma, dirigi-me ao rio Gave. Ela disse-me que não era lá, e fez-me um sinal com o dedo, indicando-me o lugar onde estava a fonte. Dirigi-me para lá, mas só vi um pouco de água lamacenta; quis encher a mão para beber, mas não consegui nada. Comecei a cavar, e logo pude tirar um pouco de água. Joguei-a fora por três vezes, até que na quarta pude beber. Em seguida, a visão desapareceu e fui-me embora.

Durante quinze dias, lá voltei e a Senhora apareceu-me todos os dias, com exceção de uma segunda e de uma sexta-feira. Repetiu-me várias vezes que dissesse aos sacerdotes para construírem ali uma capela. Mandava que fosse à fonte para lavar-me e que rezasse pela conversão dos pecadores. Muitas e muitas vezes, perguntei-lhe quem era, mas apenas sorria com bondade. Finalmente, com braços e olhos erguidos para o céu, disse-me que era a Imaculada Conceição.

Durante esses quinze dias, também me revelou três segredos, proibindo-me de dizê-los a quem quer que fosse; até o presente os tenho guardado com toda a fidelidade.




terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

SANTA ESCOLÁSTICA, VIRGEM

 

Santa Escolástica, virgem

 

Memória Obrigatória

 

Escolástica, irmã de São Bento, nasceu em Núrsia, na úmbria (Itália), cerca do ano 480. Juntamente com seu irmão, consagrou-se a Deus e seguiu-o para Cassino, onde morreu por volta do ano 547.

 

Segunda leitura

Dos Diálogos de São Gregório Magno, papa

(Lib. 2,33: PL 66,194-196)

(Séc.VI)

Foi mais poderosa aquela que mais amou

Escolástica, irmã de São Bento, consagrada ao Senhor onipotente desde a infância, costumava visitar o irmão, uma vez por ano. O homem de Deus descia e vinha encontrar-se com ela numa propriedade do mosteiro, não muito longe da porta. Certo dia, veio ela como de costume, e seu venerável irmão com alguns discípulos foi ao seu encontro. Passaram o dia inteiro a louvar a Deus e em santas conversas, de tal modo que já se aproximavam as trevas da noite quando sentaram-se à mesa para tomar a refeição.

Como durante as santas conversas o tempo foi passando, a santa monja rogou-lhe: “Peço-te, irmão, que não me deixes esta noite, para podermos continuar falando até de manhã sobre as alegrias da vida celeste”. Ao que ele respondeu-lhe: “Que dizes tu, irmã? De modo algum posso passar a noite fora da minha cela”.

A santa monja, ao ouvir a recusa do irmão, pôs sobre a mesa as mãos com os dedos entrelaçados e inclinou a cabeça sobre as mãos para suplicar o Senhor onipotente. Quando levantou a cabeça, rebentou uma grande tempestade, com tão fortes relâmpagos, trovões e aguaceiro, que nem o venerável Bento nem os irmãos que haviam vindo em sua companhia puderam pôr um pé fora da porta do lugar onde estavam. Então o homem de Deus, vendo que não podia regressar ao mosteiro, começou a lamentar-se, dizendo: “Que Deus onipotente te perdoe, irmã! Que foi que fizeste?” Ela respondeu: “Eu te pedi e não quiseste me atender. Roguei ao meu Deus e ele me ouviu. Agora, pois, se puderes, vai-te embora; despede-te de mim e volta para o mosteiro”.

E Bento, que não quisera ficar ali espontaneamente, teve que ficar contra a vontade. Assim, passaram a noite toda acordados, animando-se um ao outro com santas conversas sobre a vida espiritual. Não nos admiremos que a santa monja tenha tido mais poder do que ele: se, na verdade, como diz São João, Deus é amor (1Jo 4,8), com justíssima razão, teve mais poder aquela que mais amou. Três dias depois, estando o homem de Deus na cela, levantou os olhos para o alto e viu a alma de sua irmã liberta do corpo, em forma de pomba, penetrar no interior da morada celeste. Cheio de júbilo por tão grande glória que lhe havia sido concedida, deu graças a Deus onipotente com hinos e cânticos de louvor; enviou dois irmãos a fim de trazerem o corpo para o mosteiro, onde foi depositado no túmulo que ele mesmo preparara para si. E assim, nem o túmulo separou aqueles que sempre tinham estado unidos em Deus.


domingo, 7 de fevereiro de 2021

SÃO JERÔNIMO EMILIANI

 

São Jerônimo Emiliano

 

 Memória Facultativa

 
Nasceu na região de Veneza, em 1486. Seguiu a carreira militar, que mais tarde abandonou para se dedicar ao serviço dos pobres, depois de distribuir entre eles o que possuía. Fundou a Ordem dos Clérigos Regulares de Somasca, destinada a socorrer as crianças órfãs e os pobres. Morreu em Somasca, no território de Bérgamo (Itália), em 1537.


Segunda leitura

Das Cartas de São Jerônimo Emiliani a seus confrades

(Venetiis, die 21 iunii 1535)
(Séc. XVI)

Confiemos unicamente no Senhor

Aos diletíssimos irmãos em Cristo e filhos da Ordem dos Servos dos Pobres.
Vosso pobre pai vos saúda e exorta a que persevereis no amor de Cristo e na fiel observância da lei cristã. Foi o que vos ensinei por obras e palavras, enquanto estive convosco, de modo que o Senhor seja glorificado por meu intermédio no meio de vós.
O nosso fim é Deus, fonte de todos os bens, e devemos, como repetimos em nossa oração, confiar unicamente nele e em mais ninguém. Nosso bom Senhor, querendo aumentar vossa fé (sem a qual, como diz o evangelista, Cristo não pode realizar muitos milagres) e atender vossa oração, decidiu servir-se de vós assim: pobres, humilhados, aflitos, cansados, desprezados por todos, e agora, por fim, privados até da minha presença física, mas não do espírito de vosso pobre e muito amado pai.
Por que vos trata assim, só ele sabe. Podemos, contudo, vos sugerir três motivos: primeiro, nosso bendito Senhor vos adverte que é seu desejo incluir-vos no número de seus filhos queridos, contanto que persevereis em seus caminhos; é assim que faz com seus amigos e os torna santos.
Segundo motivo: ele quer que cada vez mais confieis somente nele e não em outros; porque, como eu já vos disse, Deus não realiza suas obras naqueles que se recusam a colocar somente nele toda a sua fé e toda a sua esperança, mas infunde sempre a plenitude de sua caridade nos que são cheios de fé e de esperança; neles realiza grandes coisas. Portanto, se estiverdes repletos de fé e de esperança, Deus fará também em vós grandes coisas e exaltará os humildes. Assim, quando ele vos priva de mim ou de qualquer outro que vós estimais, obriga-vos a escolher entre estas duas coisas: ou vos afastais da fé e voltais às coisas do mundo, ou permaneceis fortes na fé e sois aprovados por Deus.
Ainda há um terceiro motivo: Deus quer provar-nos como o ouro no cadinho. O fogo consome as escórias do ouro, mas o ouro de bom quilate permanece e aumenta de valor. Do mesmo modo Deus procede com o servo bom, que na tribulação permanece firme e espera nele. Deus o eleva, e de todas as coisas que abandonou por seu amor, receberá o cêntuplo neste mundo, e a vida eterna no mundo que há de vir.
É sempre assim que ele trata todos os santos. Foi assim com o povo de Israel, depois de tudo quanto sofrera no Egito: não apenas o retirou de lá com tantos prodígios e alimentou-o com o maná no deserto, mas lhe deu ainda a Terra Prometida. Se, portanto, vós também permanecerdes firmes na fé contra as tentações, o Senhor vos dará paz e descanso por algum tempo neste mundo, e para sempre no outro.



SANTA JOSEFINA BAKHITA, VIRGEM

 

Santa Josefina Bakhita, virgem

 

Memória Facultativa


Josefina Bakhita nasceu nos arredores de Jebel Agilere, na região Sul do Darfur, Sudão. Raptada ainda em tenra idade e vendida várias vezes nos mercados de escravos na África, sofreu uma cruel submissão até que, em Veneza, já cristã, professou e ingressou no Instituto das Filhas da Caridade Canossianas. Passou o resto da sua vida na alegria de Cristo em Schio (Vicenza), Itália, onde morreu a 8 de Fevereiro de 1947. Nas suas memórias autobiográficas, recorda a sua entrada no Catecumenato e o primeiro contato com as Irmãs Canossianas: “Fui confiada a uma Irmã encarregada da educação dos catecúmenos. Não posso recordar sem chorar o desvelo com que se ocupou de mim. Quis saber se desejava ser cristã e, tendo ouvido que o desejava e, mais ainda, que tinha chegado ali com essa intenção, rejubilou de alegria. Então aquelas santas Madres, com paciência heróica, instruíram-me e deram-me a conhecer o Deus que desde criança sentia que estava no meu coração sem ainda saber quem Ele era. Eu recordava-me que vendo o sol, a lua, as estrelas, as belezas da natureza, dizia para comigo: “Quem é o dono destas coisas tão belas?” E experimentava um grande desejo de O ver, de O conhecer, de Lhe prestar homenagem. E agora conheço-O.”


Segunda leitura

Da homilia de São João Paulo II, papa

(L’Osservatore Romano, 18 de Maio de 1992)

Irmã universal
Na Beata Josefina Bakhita, encontramos uma testemunha eminente do amor paternal de Deus e um sinal esplendoroso da perene atualidade das bem-aventuranças. No nosso tempo, em que a corrida desenfreada ao poder, ao dinheiro e ao prazer causa tanta desconfiança, violência e solidão, a Irmã Bakhita é nos dada de novo pelo Senhor como irmã universal, porque nos revela o segredo da felicidade mais verdadeira: as bem-aventuranças.
A sua mensagem é uma mensagem de bondade heróica, à imagem da bondade do Pai celeste. Ela deixou-nos um testemunho de reconciliação e de perdão evangélicos, que levará certamente conforto aos cristãos da sua pátria, o Sudão, tão duramente provados por um conflito que dura há muitos anos, e que tem causado tantas vítimas. A sua fidelidade e esperança são motivo de orgulho e de ação de graças para toda a Igreja. Neste momento de grandes tribulações, a Irmã Bakhita precede-os na via da imitação de Cristo, do aprofundamento da vida cristã e da inabalável dedicação à Igreja.
 Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros. Como Eu vos amei, amai-vos também uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros (Jo 13, 34-35).
Nesta frase evangélica encontramos a síntese de toda a santidade; da santidade que alcançaram, por caminhos diferentes, mas convergentes na mesma e única meta, José Maria Escrivá de Balaguer e Josefina Bakhita. Eles amaram a Deus com todas as forças dos seus corações e deram provas de uma caridade levada até ao heroísmo mediante as obras de serviço aos homens, seus irmãos. Por isso, a Igreja os eleva às honras dos altares e os apresenta como exemplos na imitação de Cristo, que nos amou e se entregou a si mesmo por cada um de nós (Gl 2, 20).
Agora foi glorificado o Filho do homem e Deus foi glorificado n’Ele (Jo 13, 31): é o mistério pascal da glória.
Através do Filho do homem, esta glória estende-se a todo o mundo visível e invisível. Graças vos dêem, Senhor, todas as criaturas, e bendigam-vos todos os vossos fiéis. E anunciem os vossos feitos maravilhosos (Sl 144, 10-11).
Eis os que de geração em geração seguiram Cristo: através de muitas tribulações, entraram no Reino de Deus. O vosso Reino é um reino eterno (Sl 144, 13). Amém.