sábado, 22 de agosto de 2020

Sábado da 20ª semana do Tempo Comum

 

Segunda leitura


Dos Comentários sobre os salmos, de Santo Ambrósio, bispo

 

(Ps 48,14-15: CSEL 64,368-370)

(Séc. IV)

 

Cristo por seu sangue reconciliou o mundo com Deus

 

Se Cristo reconciliou o mundo com Deus, então não necessitava ele de reconciliação. Por qual pecado seu expiaria, se não conheceu pecado algum? E ainda, ao pedirem os judeus a didracma que, pela lei, se dava pelo pecado, disse a Pedro: Simão, de quem os reis da terra recebem tributos ou impostos, de seus filhos ou dos estranhos? Respondeu Pedro: Dos estranhos, e o Senhor: Logo, os filhos estão livres. Mas para não lhes causarem embaraço, lança o anzol e tira o primeiro peixe que apanhar, abre-lhe a boca e encontrarás um estáter; toma-o e paga-o por mim e por ti (Mt 17,25-27).

Demonstrou, assim, não ser obrigado à expiação de pecados; não era servo do pecado, mas livre de todo erro o Filho de Deus. O filho liberta, o servo é réu. Logo, livre de tudo, não tem ele de dar o preço de redenção de sua alma; o preço de seu sangue pode derramar-se pelo universo para redimir o pecado de todos. Com justiça liberta a outros, quem nada deve por si.

Digo mais. Não apenas Cristo não tem preço a pagar por sua redenção ou expiação pelo pecado, mas, a respeito de qualquer homem, pode-se entender não deva cada um pagar o próprio resgate. Porque a expiação de todos é Cristo, é a redenção do universo.

De que homem será o sangue capaz de alcançar sua redenção, se pela redenção de todos Cristo já derramou seu sangue? Haverá sangue comparável ao sangue de Cristo? ou que homem tão poderoso que possa dar algo pela própria expiação, de maior valor do que a expiação que Cristo ofereceu em si mesmo, ele, o único a reconciliar por seu sangue o mundo com Deus? Que maior hóstia, que sacrifício mais excelente, que melhor advogado do que aquele que pelo pecado de todos se fez súplica e entregou a vida como redenção por nós?

Não se cogita da expiação ou redenção de cada um, porque o preço de todos é o sangue de Cristo, com o qual o Senhor Jesus nos redimiu e só ele nos reconciliou com o Pai, e trabalhou até o fim, pois assumiu nossas tarefas ao dizer: Vinde a mim, todos vós que lutais, e eu vos aliviarei (Mt 11,28).

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Sexta-feira da 20ª semana do Tempo Comum

 

Segunda leitura


Dos Comentários sobre os salmos, de Santo Ambrósio, bispo

 

(Ps 48,13-14: CSEL 64,367-368)

(Séc. IV)

 

Um só mediador entre Deus e os homens, o homem Cristo Jesus

 

O irmão não redime; redimirá o homem. Não dará a Deus sua expiação e o preço da redenção de sua alma (cf. Sl 48,8-9 Vulg.); quer dizer: Por que terei medo do dia mau? (Sl 48,6). Que poderá prejudicar-me a mim que não apenas não necessito do redentor, mas sou eu mesmo o redentor de todos? Torno livres a outros e tremerei por mim? Eis que farei novas todas as coisas que estão fora do alcance, até mesmo do amor fraterno e da bondade. Aquele a quem o irmão, dado à luz pelo mesmo seio materno, não pode redimir, impossibilitado por igual natureza enferma, a este o homem redime. Mas aquele homem sobre quem se escreveu: O Senhor lhes enviará o homem que os salvará (Is 19,20); e que de si mesmo falou: Procurais matar-me, a mim, homem que vos disse a verdade (Jo 8,40).

Embora seja homem, quem o conhecerá? Por que ninguém o conhecerá? Porque há um só Deus, assim é um, o mediador entre Deus e os homens, o homem Cristo Jesus (1Tm 2,5). É o único a redimir o homem, vencendo os irmãos em bondade; já que por estranhos derramou seu sangue, o que ninguém pode oferecer por um irmão. Na verdade não poupou o próprio corpo, a fim de remir-nos do pecado: deu-se a si mesmo pela redenção de todos (1Tm 2,6). Como testemunha verdadeira asseverou o apóstolo Paulo: Digo a verdade, não minto (Rm 9,1).

Mas por que somente ele redime? Porque ninguém pode igualar-se a ele na bondade: entrega a vida por seus escravos; ninguém, na integridade: todos sob o pecado, todos sujeitos à queda de Adão. É o único Redentor escolhido, aquele que não poderia nunca ser manchado pelo antigo pecado. Por conseguinte, por homem entendemos o Senhor Jesus que assumiu a condição humana, para crucificar em sua carne o pecado de todos e apagar com seu sangue o decreto contra todos.

Mas dirás talvez: Por que se nega que o irmão redime, se ele próprio declarou: Revelarei teu nome a meus irmãos? (Sl 21,23) Não como irmão, mas como homem Cristo Jesus, em quem estava Deus, nos livrou do pecado. Assim está escrito: Deus estava em Cristo reconciliando o mundo consigo (2Cor 5,19). Neste Cristo Jesus, de quem unicamente se diz: O Verbo se fez carne e habitou entre nós (Jo 1,14). Portanto, não como irmão, mas como o Senhor entre nós, quando habitou na carne.

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Quinta-feira da 20ª semana do Tempo Comum

 

Segunda leitura


Do Tratado sobre a Saudação angélica, de Balduíno de Cantuária, bispo

 

(Tract. 7: PL 204,477-478)

(Séc. XII)

 

Brotou uma flor da raiz de Jessé

 

À saudação angélica com que todos os dias, segundo a devoção de cada um, saudamos a santíssima Virgem, costumamos acrescentar: E bendito o fruto de vosso ventre. Após ter sido saudada pela Virgem, Isabel, como a retomar o final da saudação do anjo, acrescentou estas expressões: Bendita sois entre as mulheres e bendito o fruto de vosso ventre (Lc 1,42). É este o fruto de que fala Isaías: Naquele dia será o germe do Senhor em magnificência e glória e o fruto da terra, sublime (Is 4,2). Quem é este fruto senão o santo de Israel, a semente de Abraão, o germe do Senhor, a flor que se eleva da raiz de Jessé, o fruto da vida com quem entramos em comunhão?

Bendito, sim, na semente, bendito no germe, bendito na flor, bendito no dom, bendito, enfim na ação de graças e no louvor. Cristo, semente de Abraão, feito da semente de Davi segundo a carne.

Só ele, dentre os homens, se encontrou perfeito em todo o bem, só a ele foi dado sem medida o Espírito, ele, o único a poder cumprir toda a justiça. Sua justiça basta à totalidade das nações, como está escrito: Como a terra produz seu germe e o jardim germina sua semente, assim o Senhor Deus fará germinar a justiça e o louvor diante de todas as nações (Is 61,11). É este o germe da justiça que, desabrochado pela bênção, a flor da glória adorna. Que glória? Aquela que é impossível imaginar-se mais sublime, ou antes, que de modo algum se pode imaginar. A flor elevou-se da raiz de Jessé. Até aonde? Até ao máximo, porque Jesus Cristo está na glória de Deus Pai (cf. Fl 2,11). Elevou-se sua magnificência para além dos céus, de modo a ser o germe do Senhor em magnificência e em glória, e o fruto da terra, sublime.

E para nós, quem é o fruto deste fruto? Quem, a não ser o fruto da bênção oriundo do fruto bendito? Dele, como semente, germe, flor, provém o fruto da bênção; e chega até nós. Primeiro, como em semente pela graça do perdão, depois como em germe pelo aumento da justiça, e por fim como em flor pela esperança ou posse da glória. Bendito por Deus e em Deus, isto é, para que Deus seja glorificado nele. Para nós também é bendito para que, benditos por ele, nele sejamos glorificados, já que pela promessa feita a Abraão, Deus o fez a bênção de todos os povos.