sábado, 10 de outubro de 2020

Sábado da 27ª semana do Tempo Comum

 

Segunda leitura


Das homilias sobre os Evangelhos, de São Gregório Magno, papa

 

(Hom. 17,3.14: PL 76,1139-1140.1146)

 

(Séc. VI)


A responsabilidade do nosso ministério

 

Ouçamos o que diz o Senhor aos pregadores enviados: A messe é grande, mas poucos os operários. Rogai, portanto, ao Senhor da messe que envie operários a seu campo. São poucos os operários para a grande messe (Mt 9,37-38). Não podemos deixar de dizer isto com imensa tristeza, porque, embora haja quem escute as boas palavras, falta quem as diga. Eis que o mundo está cheio de sacerdotes. Todavia na messe de Deus é muito raro encontrar-se um operário. Recebemos, é certo, o ofício sacerdotal, mas não o pomos em prática.

Pensai, porém, irmãos caríssimos, pensai no que foi dito: Rogai ao Senhor da messe que envie operários a seu campo. Pedi vós por nós para que possamos agir de modo digno de vós. Que a língua não se entorpeça diante da exortação, para que, tendo recebido a condição de pregadores, nosso silêncio também não nos imobilize diante do justo juiz. Com frequência, por maldade sua, a língua dos pregadores se vê impedida. Por sua vez, por culpa dos súditos, muitas vezes acontece que seus chefes os privem da palavra da pregação.

Por maldade sua, com efeito, a língua dos pregadores se vê impedida, como diz o salmista: Deus disse ao pecador: Por que proclamas minhas justiças? (Sl 49,16). Por sua vez, por culpa dos súditos, cala-se a voz dos pregadores. É o que o Senhor diz por Ezequiel: Farei tua língua aderir a teu palato e ficarás mudo, como homem que não censura, porque é uma casa irritante (Ez 3,26). Como se dissesse claramente: A palavra da pregação te é recusada porque, por me exacerbar com suas ações, este povo não é digno de escutar a verdade que exorta. Não é fácil saber por culpa de quem a palavra se furta ao pregador. Porque se o silêncio do pastor às vezes o prejudica, sempre causa dano ao povo, isto é absolutamente certo.

Há ainda outra coisa, irmãos caríssimos, que muito me aflige na vida dos pastores, mas para não pensardes talvez que vos faz injúria aquilo que vou dizer, ponho-me também debaixo da mesma acusação, embora me encontre neste posto não por minha livre vontade, mas impelido por estes tempos calamitosos.

Vimos a nos envolver em negócios externos. Um cargo nos foi dado pela consagração e, na prática, damos prova de outro. Abandonamos o ministério da pregação e, reconheço-o para pesar nosso, chamam-nos de bispo a nós que temos a honra do nome, não o mérito. Aqueles que nos foram confiados abandonam a Deus e nos calamos. Jazem em suas más ações e não lhes estendemos a mão da advertência.

Quando, porém, conseguiremos corrigir a vida de outrem, se descuramos a nossa? Preocupados com questões terrenas, tornamo-nos tanto mais insensíveis interiormente quanto mais parecemos aplicados às coisas exteriores.

Por isso e com razão, a respeito de seus membros enfraquecidos, diz a santa Igreja: Puseram-me de guarda às vinhas; minha vinha não guardei (Ct 1,6). Postos como guardas às vinhas de modo algum guardamos a nossa porque, enquanto nos embaraçamos, com ações exteriores, não damos atenções ao ministério de nossa ação verdadeira.

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Sexta-feira da 27ª semana do Tempo Comum

 

Segunda leitura


Da Primeira Exortação de São Vicente de Lerins, presbítero

(Cap. 23: PL 50,667-668)


(Séc. V)

O desenvolvimento do dogma na religião cristã


Não haverá desenvolvimento algum da religião na Igreja de Cristo? Há certamente e enorme.

Pois que homem será tão invejoso, com tanta aversão a Deus que se esforce por impedi-lo? Todavia deverá ser um verdadeiro progresso da fé e não uma alteração. Com efeito, ao progresso pertence o crescimento de uma coisa em si mesma. À alteração, ao contrário, a mudança de uma coisa em outra.

É, portanto, necessário que, pelo passar das idades e dos séculos, cresçam e progridam tanto em cada um como em todos, no indivíduo como na Igreja inteira, a compreensão, a ciência, a sabedoria. Porém apenas no próprio gênero, a saber, no mesmo dogma o mesmo sentido e a mesma significação.

Imite a religião das almas o desenvolvimento dos corpos. No decorrer dos anos, vão se estendendo e desenvolvendo suas partes e, no entanto, permanecem o que eram. Há grande diferença entre a flor da juventude e a madureza da velhice. Mas se tornam velhos aqueles mesmos que foram adolescentes. E por mais que um homem mude de estado e de aspecto, continuará a ter a mesma natureza, a ser a mesma pessoa.

Membros pequeninos na criancinha, grandes nos jovens, são, contudo, os mesmos. Os meninos têm o mesmo número de membros que os adultos. E se no tempo de idade mais adiantada neles se manifestam outros, já aí se encontram em embrião. Desse modo, nada de novo existe nos velhos que não esteja latente nas crianças.

Por conseguinte, esta regra de desenvolvimento é legítima e correta. Segura e belíssima a lei do crescimento, se a perfeição da idade completar as partes e formas sempre maiores que a sabedoria do Criador pré-formou nos pequeninos.

Mas se um homem se mudar em outra figura, estranha a seu gênero, ou se se acrescentar ou diminuir ao número dos membros, sem dúvida alguma todo o corpo morrerá ou se tornará um monstro ou, no mínimo, se enfraquecerá. Assim também deve o dogma da religião cristã seguir estas leis de crescimento, para que os anos o consolidem, se dilate com o tempo, eleve-se com as gerações.

Nossos antepassados semearam outrora neste campo da Igreja as sementes do trigo da fé. Será sumamente injusto e inconveniente que nós, os pósteros, em vez da verdade do trigo autêntico recolhamos o erro da simulada cizânia.

Bem ao contrário, é justo e coerente que, sem discrepância entre os inícios e o término, ceifemos das desenvolvidas plantações de trigo a messe também de trigo do dogma. E se algo daquelas sementes originais se desenvolver com o andar dos tempos, seja isto agora motivo de alegria e de cultivo.

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Quinta-feira da 27ª semana do Tempo Comum

 

Segunda leitura


Da Carta aos filadélfios, de Santo Inácio de Antioquia, bispo e mártir

 

(Proêmio; nn. 1,1-2,1;3,2-5: Funk 1,225-229)

 

(Séc. I)


Um só bispo com o presbitério e os diáconos

 

Inácio, chamado também Teóforo, à Igreja de Deus Pai e do Senhor Jesus Cristo que está em Filadélfia na Ásia. Que alcançou misericórdia, e se firmou na concórdia com Deus, e exultou na Paixão de nosso Senhor e, por sua ressurreição, está plenamente convencida de toda misericórdia. Saúdo-a no sangue de Jesus Cristo, a ela que é minha alegria eterna e estável, principalmente se se mantiverem unidos ao bispo, a seus presbíteros e aos diáconos, nomeados por determinação do Senhor, aos quais por livre vontade firmou na estabilidade por seu santo Espírito.

Sei que não de si mesmo, nem dos homens nem por vanglória, mas da caridade do Pai e do Senhor Jesus Cristo, recebeu vosso bispo o ministério de governar esta comunidade. Causou-me grande admiração sua modéstia que, calada, é mais vigorosa do que as futilidades dos faladores. Sua consonância com os mandamentos de Deus é igual à da cítara com as cordas. Por esta razão proclamo feliz seu piedoso espírito, sabendo-o ornado de virtudes, perfeito, bem como sua imutabilidade e brandura à semelhança da mansidão do Deus vivo.

Portanto, filhos da luz da verdade, fugi da divisão e das doutrinas perversas. Onde estiver o pastor, segui-o como ovelhas.

Todos aqueles que são de Deus e de Jesus Cristo estão com o bispo. E os que, movidos pelo arrependimento, voltarem à unidade da Igreja, também serão de Deus, de modo a viver consoante Jesus Cristo. Não vos enganeis, irmãos. Quem segue um cismático não alcançará a herança do reino de Deus (1Cor 6,10). Quem caminha segundo falsas doutrinas não aceita a paixão.

Empenhai-vos, por conseguinte, em ter uma só Eucaristia. Pois uma só é a carne de nosso Senhor Jesus Cristo e um só o cálice na unidade de seu sangue, um só o altar, como um só o bispo com os presbíteros e diáconos, meus companheiros de ministério. Aquilo que fazeis, fazei-o em conformidade com Deus.

Meus irmãos, muito me alonguei por vos amar e com muita alegria procurei vos fortalecer; não eu, mas Jesus Cristo. Prisioneiro por sua graça, encho-me do maior temor porque ainda não sou perfeito. Mas vossa prece a Deus me aperfeiçoará para que possa obter o quinhão que por misericórdia me foi destinado. Refugio-me no Evangelho como em Cristo corporalmente presente, e nos presbíteros da Igreja como nos apóstolos, aqui e agora.