sábado, 12 de junho de 2021

IMACULADO CORAÇÃO DA VIRGEM MARIA

Segunda leitura

Dos Sermões de São Lourenço Justiniano, bispo

(Sermo 8, in festo Purificationis B.M.V.:
Opera 2, Venetis1751,38-39)

 Maria conservava tudo em seu coração
Maria refletia consigo mesma em tudo quanto tinha conhecido, através do que lia, escutava e via; assim, progredia de modo admirável na fé, na sabedoria e em méritos, e sua alma se inflamava cada vez mais com o fogo da caridade! O conhecimento sempre mais profundo dos mistérios celestes a enchia de alegria, fazia-lhe sentir a fecundidade do Espírito, a atraía para Deus e a confirmava na sua humildade. Tais são os efeitos da graça divina: eleva do mais humilde ao mais excelso e vai transformando a alma de claridade em claridade.

 Feliz o coração da Virgem que, pela luz do Espírito que nela habitava, sempre e em tudo obedecia à vontade do Verbo de Deus. Não se deixava guiar pelo seu próprio sentimento ou inclinação, mas realizava, na sua atitude exterior, as insinuações internas da sabedoria inspiradas na fé. De fato, convinha que a Sabedoria de Deus, ao edificar a Igreja para ser o templo de sua morada, apresentasse Maria Santíssima como modelo de cumprimento da lei, de purificação da alma, de verdadeira humildade e de sacrifício espiritual.

 Imita-a tu, ó alma fiel! Se queres purificar-te espiritualmente e conseguir tirar as manchas do pecado, entra no templo do teu coração. Aí Deus olha mais para a intenção do que para a exterioridade de tudo quanto fazemos. Por isso, quer elevemos nosso espírito à contemplação, a fim de repousarmos em Deus, quer nos exercitemos na prática das virtudes para sermos úteis ao próximo com as nossas boas obras, façamos uma ou outra coisa de maneira que só a caridade de Cristo nos impulsione. É este o sacrifício perfeito da purificação espiritual, que não se oferece em templo feito por mão humana, mas no templo do coração onde Cristo Senhor entra com alegria. 

sexta-feira, 11 de junho de 2021

Solenidade do Sagrado Coração de Jesus

 Segunda leitura

Das Obras de São Boaventura, bispo

(Opusculum 3, Lignum vitae, 29-30.47 Opera omnia 8,79)
(Séc. XIII)

Em vós está a fonte da vida
Considera, ó homem redimido, quem é aquele que por tua causa está pregado na cruz, qual a sua dignidade e grandeza. A sua morte dá a vida aos mortos; por sua morte choram o céu e a terra, e fendem-se até as pedras mais duras. Para que, do lado de Cristo morto na cruz, se formasse a Igreja e se cumprisse a Escritura que diz: Olharão para aquele que transpassaram (Jo 19,37), a divina Providência permitiu que um dos soldados lhe abrisse com a lança o sagrado lado, de onde jorraram sangue e água. Este é o preço da nossa salvação. Saído daquela fonte divina, isto é, no íntimo do seu Coração, iria dar aos sacramentos da Igreja o poder de conferir a vida da graça, tornando-se para os que já vivem em Cristo bebida da fonte viva que jorra para a vida eterna (Jo 4,14).

Levanta-te, pois, tu que amas a Cristo, sê como a pomba que faz o seu ninho na borda do rochedo (Jr 48,28), e aí, como o pássaro que encontrou sua morada (cf. Sl 83,4), não cesses de estar vigilante; aí esconde como a andorinha os filhos nascidos do casto amor; aí aproxima teus lábios para beber a água das fontes do Salvador (cf. Is 12,3).

Pois esta é a fonte que brota no meio do paraíso e, dividida em quatro rios (cf. Gn 2,10), se derrama nos corações dos fiéis para irrigar e fecundar a terra inteira. Acorre com vivo desejo a esta fonte de vida e de luz, quem quer que sejas, ó alma consagrada a Deus, e exclama com todas as forças do teu coração: “Ó inefável beleza do Deus altíssimo e puríssimo esplendor da luz eterna, vida que vivifica toda vida, luz que ilumina toda luz e conserva em perpétuo esplendor a multidão dos astros, que desde a primeira aurora resplandecem diante do trono da vossa divindade.

Ó eterno e inacessível, brilhante e suave manancial daquela fonte oculta aos olhos de todos os mortais! Sois profundidade infinita, altura sem limite, amplidão sem medida, pureza sem mancha!” De ti procede o rio que vem trazer alegria à cidade de Deus (Sl 45,5), para que entre vozes de júbilo e contentamento (cf. Sl 41,5) possamos cantar hinos de louvor ao vosso nome, sabendo por experiência que em vós está a fonte da vida, e em vossa luz contemplamos a luz (Sl 35,10).

SÃO BARNABÉ, APÓSTOLO

 Memória

 Era natural da ilha de Chipre e foi um dos primeiros fiéis de Jerusalém. Pregou o Evangelho em Antioquia e acompanhou São Paulo em sua primeira viagem apostólica. Tomou parte no Concílio de Jerusalém. Voltando à sua pátria para pregar o Evangelho, aí morreu.

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 Segunda leitura

Dos Tratados sobre o Evangelho de São Mateus, de São Cromácio, bispo

(Tract. 5,1.3-4: CCL 9,405-407)

(Séc. IV)

 Vós sois a luz do mundo

Vós sois a luz do mundo. Não pode ficar escondida uma cidade construída sobre um monte. Ninguém acende uma lâmpada e a coloca debaixo de uma vasilha, mas sim num candeeiro, onde ela brilha para todos os que estão em casa (Mt 5,14-15). O Senhor chamou seus discípulos de sal da terra, porque eles deviam dar um novo sabor, por meio da sabedoria celeste, aos corações dos homens que o demônio tornara insensatos. E também os chamou de luz do mundo porque, iluminados por ele, verdadeira e eterna luz, tornaram-se também eles luz que brilha nas trevas.

O Senhor é o sol da justiça; é, por conseguinte, com toda razão que chama seus discípulos luz do mundo; pois é por meio deles que irradia sobre o mundo inteiro a luz do seu próprio conhecimento. Com efeito, eles afugentaram dos corações dos homens as trevas do erro, manifestando a luz da verdade.

 Iluminados por eles, também nós passamos das trevas para a luz, como afirma o Apóstolo: Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Vivei como filhos da luz (Ef 5,8). E noutra passagem: Todos vós sois filhos da luz e filhos do dia. Não somos da noite nem das trevas (1Ts 5,5).

Com razão diz também São João numa epístola sua: Deus é luz (1Jo 1,5); e quem permanece em Deus está na luz, da mesma forma como ele próprio está na luz. Portanto, uma vez que temos a felicidade de estar libertos das trevas do erro, devemos caminhar sempre na luz, como filhos da luz. A esse propósito, diz ainda o Apóstolo: Vós brilhais como astros no universo. Conservai com firmeza a palavra da vida (Fl 1,15-16). Se não procedemos assim, ocultaremos e obscureceremos com o véu da nossa infidelidade, para prejuízo tanto nosso como dos outros, uma luz tão útil e necessária.  Eis o motivo por que incorreu em merecido castigo aquele servo que, recebendo o talento para dar juros no céu, preferiu escondê-lo a depositá-lo no banco.

 Assim, aquela lâmpada resplandecente, que foi acesa para nossa salvação, deve sempre brilhar em nós. Pois temos a lâmpada dos mandamentos de Deus e da graça espiritual a que se refere Davi: Vosso mandamento é uma luz para os meus passos, é uma lâmpada em meu caminho (cf. Sl 118,105). E Salomão também diz acerca dela: O preceito da lei é uma lâmpada (cf. Pr 6,23).

Por isso, não devemos ocultar esta lâmpada da lei e da fé, mas colocá-la sempre no candelabro da Igreja para a salvação de todos. Então gozaremos da luz da própria verdade e serão iluminados todos os que crêem.

quarta-feira, 9 de junho de 2021

SÃO JOSÉ DE ANCHIETA, PRESBÍTERO

 Memória

Nasceu a 19 de março de 1534 em Tenerife, nas Ilhas Canárias. Tendo entrado na Companhia de Jesus, foi enviado às missões do Brasil. Ordenado sacerdote, dedicou toda a sua vida à evangelização das plagas brasileiras. Escreveu na língua dos indígenas uma gramática e, depois, um catecismo. Foi agraciado com o epíteto de “apóstolo do Brasil”. Faleceu a 9 de junho de 1597. 


Segunda leitura

Das Cartas do Bem-aventurado José de Anchieta ao Prepósito-Geral Diego Láyez

(Carta de 1o de junho de 1560; cf. Serafim da Silva Leite SJ,
Cartas dos primeiros jesuítas do Brasil, vol. 3 (1558- 1563),
São Paulo 1954, p.253-255)

(Séc.XVI)

Nada é árduo aos que têm por fim somente a honra de Deus e a salvação das almas

De outros muitos poderia contar, máxime escravos, dos quais uns morrem batizados de pouco, outros já há dias que o foram; acabando sua confissão vão para o Senhor. Pelo que, quase sem cessar, andamos visitando várias povoações, assim de Índios como de Portugueses, sem fazer caso das calmas, chuvas ou grandes enchentes de rios, e muitas vezes de noite por bosques mui escuros a socorrermos aos enfermos, não sem grande trabalho, assim pela aspereza dos caminhos, como pela incomodidade do tempo, máxime sendo tantas estas povoações e tão longe umas das outras, que não somos bastantes a acudir tão várias necessidades, como ocorrem, nem mesmo que fôramos muito mais, não poderíamos bastar. Ajunta-se a isto, que nós outros que socorremos as necessidades dos outros, muitas vezes estamos mal dispostos e, fatigados de dores, desfalecemos no caminho, de maneira que apenas o podemos acabar; assim que não menos parecem ter necessidade de ajuda os médicos que os mesmos enfermos. Mas nada é árduo aos que têm por fim somente a honra de Deus e a salvação das almas, pelas quais não duvidarão dar a vida. Muitas vezes nos levantamos do sono, ora para os enfermos, ora para os que morrem.

Hei me detido em contar os que morrem, porque aquele se há de julgar verdadeiro fruto que permanece até o fim; porque dos vivos não ousarei contar nada, por ser tanta a inconstância em muitos, que não se pode nem se deve prometer deles coisa que haja muito de durar. Mas bem-aventurados aqueles que morrem no Senhor (Ap 14,13), os quais livres das perigosas águas deste mudável mar, abraçada a fé e os mandamentos do Senhor, são transladados à vida, soltos das prisões da morte, e assim os bem-aventurados êxitos destes nos dão tanta consolação, que pode mitigar a dor que recebemos da malícia dos vivos. E contudo trabalhamos com muita diligência em a sua doutrina, os admoestamos em públicas predicações e particulares práticas, que perseverem no que têm aprendido. Confessam-se e comungam muitos cada domingo; vêm também de outros lugares onde estão dispersados a ouvir as Missas e confessar-se.

terça-feira, 8 de junho de 2021

SANTO EFRÉM, DIÁCONO E DOUTOR DA IGREJA

 Nasceu em Nísibe, cerca de 306, de família cristã. Exerceu o ofício de diácono, para o qual fora ordenado, em sua cidade natal e em Edessa, onde fundou uma escola teológica. Sua vida de intensa ascese não o impediu de se consagrar ao ministério da pregação e de escrever diversas obras para combater os erros do seu tempo. Morreu em 373.

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Segunda leitura
 
Dos Sermões de Santo Efrém, diácono
 
(Sermo 3, De fine et admonitione, 2.4-5:
ed. Lamy, 3,216-222)
 
  (Séc.IV)
 
A economia divina é imagem do mundo espiritual 
Fazei resplandecer, Senhor, o dia radioso do vosso conhecimento e dissipai da nossa mente as trevas noturnas, para que, iluminada, ela vos sirva renovada e pura. O nascer do sol indica aos mortais o início dos seus trabalhos; preparai, Senhor, a morada da nossa alma, para que nela permaneça o esplendor daquele dia que não conhece fim. Concedei, Senhor, que contemplemos em nós mesmos a vida da ressurreição e que nada consiga afastar o nosso espírito de vossas alegrias. Imprimi, Senhor, em nossos corações o sinal daquele dia que não se rege pelo movimento do sol, infundindo-nos uma constante orientação para vós.

Diariamente vos abraçamos nos sacramentos e vos recebemos em nosso corpo; tornai-nos dignos de sentir em nós mesmos a ressurreição que esperamos. Com a graça do batismo, conservamos escondido em nosso corpo o tesouro que nos destes, tesouro que aumenta na mesa dos vossos sacramentos; fazei-nos viver sempre na alegria da vossa graça. Possuímos em nós, Senhor, o memorial que recebemos de vossa mesa espiritual; concedei-nos a graça de possuirmos, na renovação futura, a realidade plena que ele nos recorda.

Nós vos pedimos que, através daquela beleza espiritual que a vossa vontade imortal faz resplandecer até nas criaturas mortais, nos leveis a compreender retamente a beleza da nossa própria dignidade.

A vossa crucifixão, ó Salvador dos homens, foi o termo da vossa vida corpórea; concedei-nos que, pela crucifixão do nosso espírito, alcancemos o penhor da vida espiritual. Vossa ressurreição, ó Jesus, faça crescer em nós o homem espiritual; e os sinais dos vossos sacramentos sejam para nós um espelho para conhecê-lo. Vossa economia divina, ó Salvador dos homens, é imagem do mundo espiritual; dai-nos correr nele como homens espirituais.

Não priveis, Senhor, a nossa mente da vossa revelação espiritual, e não afasteis de nossos membros o calor da vossa suavidade. A natureza mortal, que se oculta em nosso corpo, leva-nos à corrupção da morte; infundi em nossos corações o vosso amor espiritual, para que afaste de nós os efeitos da mortalidade. Concedei, Senhor, que caminhemos velozmente para a nossa pátria celeste e, como Moisés no alto monte, possamos contemplá-la desde já através da revelação.

domingo, 6 de junho de 2021

SÃO NORBERTO, BISPO

 Nasceu na Renânia, cerca do ano 1080. Era cônego da Igreja de Xanten e, tendo abandonado a vida mundana, abraçou o ideal religioso e foi ordenado presbítero em 1115. Na sua vida apostólica dedicou-se ao ministério da pregação, particularmente na França e na Alemanha. Juntamente com outros companheiros fundou a Ordem Premonstratense e organizou os seus primeiros mosteiros. Eleito bispo de Magdeburgo em 1126, empenhou-se com entusiasmo na reforma da vida cristã e na propagação do Evangelho entre as populações pagãs da vizinhança. Morreu em 1134.

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Segunda leitura

Da Vida de São Norberto, bispo

(As palavras colocadas entre aspas são tiradas da Vida de São Norberto, escrita por um cônego regular premonstratense, seu contemporâneo: PL 170, 1262.1269.1294.1295; Litterae Apostolicae ab Innocentio II ad S. Norbertum II non. iun. 1133 sub plumbo datae: Acta Sanctorum, 21, in Appendice, p. 50)

Grande entre os grandes e pequeno entre os pequenos

Norberto foi um dos mais eficazes colaboradores da reforma gregoriana. Queria primeiramente que o clero fosse convenientemente preparado, dedicado a um ideal de vida autenticamente evangélico e apostólico, casto e pobre; um clero que pussuísse “ao mesmo tempo a veste e a beleza do homem novo: aquela pelo hábito religioso, esta pela dignidade do sacerdócio”, e que procurassem sempre “seguir as Sagradas Escrituras e ter Cristo por seu guia”. Costumava recomendar três coisas: “decoro no altar e nos ofícios divinos; correção das faltas e negligências no Capítulo conventual; cuidado e hospitalidade para com os pobres”.

Ao lado dos sacerdotes, que no mosteiro faziam as vezes dos apóstolos, agregou, a exemplo da Igreja primitiva, tamanha quantidade de fiéis leigos, homens e mulheres, que muitos afirmavam jamais ter alguém conquistado para Cristo, desde os tempos apostólicos, tantos imitadores na vida de perfeição, e em tão pouco tempo.

Tendo sido nomeado bispo, chamou os irmãos de sua Ordem para converter à fé a região da Lusácia; e procurou reformar o clero de sua diocese, apesar da oposição e agitação do povo.

A sua maior preocupação foi consolidar e aumentar a harmonia entre a Sé Apostólica e o Império, salvaguardada, porém, a liberdade quanto às nomeações eclesiásticas. Por tal motivo, o Papa Inocêncio II escreveu-lhe: “A Sé Apostólica se congratula contigo, filho dedicadíssimo, de todo o coração”. E o imperador o nomeou chanceler do Império.

Tudo ele conseguiu movido pela fé mais intrépida. Dizia-se: “Em Norberto, brilha a fé, como em Bernardo de Claraval, a caridade”; além disso, distinguia-se pela afabilidade no trato: “sendo grande entre os grandes e pequeno entre os pequenos, mostrava-se amável para com todos”. Enfim, era dotado de grande eloquência: contemplando e meditando assiduamente as realidades divinas, pregava com o maior desassombro “a palavra de Deus cheia de fogo, que queimava os vícios, estimulava as virtudes e enriquecia as almas bem dispostas com a sua sabedoria”.