sábado, 12 de setembro de 2020

Sábado da 23ª semana do Tempo Comum

 

Segunda leitura


Dos Sermões de Santo Atanásio, bispo

 

(Oratio de incarnatione Verbi, 10: PG 25,111-114)

 

(Séc. IV)

 

Renova os nossos dias como no princípio

 

Deus Verbo do excelso Pai não abandonou a natureza dos homens que descambava para a corrupção. Mas pela oblação do próprio corpo destruiu a morte em que haviam incorrido, corrigiu pela doutrina sua indignidade e tudo de humano restaurou.

Poderá confirmar tudo isto pela autoridade dos teólogos, discípulos de Cristo, quem quer que leia o que dizem: A caridade de Cristo nos urge, sabendo que se um morreu por todos, logo todos estão mortos; e por todos morreu ele para que não mais vivamos para nós mesmos, mas para aquele que por nós morreu e ressuscitou dos mortos, nosso Senhor Jesus Cristo (cf. 2Cor 5,14-15). E de novo: Aquele que foi colocado por pouco tempo abaixo dos anjos, Jesus, nós o vemos coroado de glória e de honra, por causa dos sofrimentos da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte em favor de todos (Hb 2,9). Mais adiante, dá a razão por que ao Deus Verbo e só a ele convinha fazer-se homem: Convinha que o autor da salvação, para quem tudo e por quem tudo foi feito, e que levaria muitos filhos à glória, chegasse à consumação pela paixão (Hb 2,10). Por estas palavras significa não competir a outro que não ao Deus Verbo, por quem foram criados no início, arrancar os homens da corrupção.

Foi este o motivo por que o Verbo aceitou um corpo, a fim de se tornar vítima em favor dos corpos semelhantes; também isto se afirma pelos seguintes dizeres: Os filhos têm em comum a carne e o sangue; ele de igual modo deles participou, para destruir por sua morte aquele que detinha o império da morte, isto é, o diabo, e libertar os que pelo temor da morte eram sujeitos à escravidão durante toda a vida (Hb 2,14-15). Na verdade, imolando o próprio corpo, pôs fim à lei decretada contra nós e para nós renovou o princípio da vida, dando a esperança de ressurgirmos.

A morte recebera dos homens o poder contra os homens; pelo Verbo de Deus enviado aos homens, veio a destruição da morte e a ressurreição da vida, como disse o varão repleto de Cristo: Porque por um homem entrou a morte e por um homem, a ressurreição dos mortos. Pois como em Adão todos morrem, assim em Cristo todos serão vivificados (1Cor 15,21-22) e o que se segue. Já não mais morremos para nosso castigo, mas como os que serão despertados dos mortos aguardamos a ressurreição comum a todos. Em seu tempo, Deus, o autor e doador destas coisas, o manifestará.

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Sexta-feira da 23ª semana do Tempo Comum

 

Segunda leitura


Dos Sermões do Bem-aventurado Isaac, Abade do Mosteiro de Stella

 

(Sermo 11: PL 194,1728-1729)

 

(Séc. XII)


Cristo não quer perdoar nada sem a Igreja

 

Duas são as coisas que só a Deus convêm: a honra do louvor e o poder de perdoar. O louvor somos nós que lhe damos; o perdão, dele nós esperamos. Pertence somente a Deus perdoar os pecados; por isso deve ser louvado. Mas, tendo desposado o onipotente a fraqueza, o excelso, a humildade, da escrava fez uma rainha; aquela que estava atrás, a seus pés, colocou-a a seu lado. Pois de seu lado saiu, de onde a tomou para si como penhor. Tudo quanto é do Pai é do Filho, e o que é do Filho é do Pai, por serem um só por natureza. De modo semelhante, tudo quanto era seu deu o esposo à esposa, e tudo da esposa o esposo tomou para si; e dela, unida a si, e do Pai fez também um só. Quero, disse o Filho ao Pai, intercedendo pela esposa, que, assim como eu e tu somos um, também estes sejam um conosco (cf. Jo 17,21).

Por conseguinte, o esposo com o Pai são um só, com a esposa é um. Rejeitou quanto de contrário encontrou na esposa, pregando-o na cruz, e aí carregou seus pecados no madeiro e pelo madeiro o destruiu. O que era conforme à natureza e próprio dela, assumiu, e dele se revestiu. O que lhe era próprio e divino, isto lhe concedeu. Expeliu o diabólico, assumiu o humano, concedeu o divino, para que tudo o que era da esposa fosse do esposo. É a razão por que aquele, que não cometeu pecado nem se encontrou engano em sua boca, pode dizer: Tem piedade de mim, Senhor, porque estou enfermo (Sl 6,3). E quem tem a enfermidade da esposa, tenha também o pranto, e seja tudo do esposo e da esposa. Donde, a honra do louvor e o poder do perdão; por isto devia dizer: Vai, mostra-te ao sacerdote (Mt 8,4).

Portanto, sem Cristo nada pode a Igreja perdoar; nada quer Cristo perdoar sem a Igreja. A Igreja não pode perdoar a não ser ao penitente, isto é, àquele a quem Cristo tocou. Cristo não quer ter por perdoado aquele que despreza a Igreja. O que Deus uniu, o homem não separe. Digo eu, é grande este sacramento no Cristo e na Igreja (Mt 19,6; Ef 5,32).

Não queiras, pois tirar do corpo a cabeça, de forma que em parte alguma haja o Cristo total: nem em parte alguma, o Cristo total sem a Igreja nem a Igreja toda sem Cristo em parte alguma. Pois Cristo completo e íntegro, entende-se cabeça e corpo, por isto diz: Ninguém subiu ao céu a não ser o Filho do homem que está no céu (Jo 3,13). É este o único homem que perdoa os pecados.

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Quinta-feira da 23ª semana do Tempo Comum

 

Segunda leitura


Do Comentário sobre os Salmos, de São Bruno, presbítero

 

(Ps 83: edit. Cartusiae de Pratis, 1891,376-377)

 

(Séc. XI)


Se me esquecer de ti, Jerusalém

 

Quão diletos são teus tabernáculos! Minha alma anseia por chegar aos átrios do Senhor (Sl 83,2 Vulg.), à amplidão da celeste Jerusalém, à cidade do Senhor.

Mostra o salmista por que tanto aspira pelos átrios do Senhor. É por isto, ó Senhor, que és Deus dos exércitos celestes, meu rei e meu Deus, é porque felizes são os que habitam em tua casa (Sl 83,5), na Jerusalém celeste. Como se dissesse: Quem não desejaria com ardor chegar a teus átrios, se és Deus, o Criador, Senhor dos exércitos e rei, e se todos são felizes, os que habitam em tua casa? Átrios e casa têm aqui o mesmo sentido. Por dizer felizes, indica que terão tanta beatitude quanto se possa imaginar. E vê-se também serem felizes porque te louvarão por um amor de entrega pelos séculos dos séculos (cf. Sl 83,5), isto é, eternamente. Pois não louvariam eternamente a não ser que eternamente fossem felizes.

Ninguém por suas forças pode alcançar esta beatitude, mesmo que tenha fé, esperança e amor. Mas feliz é aquele homem, quer dizer, unicamente chega a esta felicidade aquele cujo auxílio vem de ti (Sl 83,6) para as ascensões da beatitude propostas em seu coração. Vale dizer: Só se pode afirmar que chegará à beatitude quem, tendo preparado o coração para elevar-se a esta felicidade por muitas ascensões de virtudes e de boas obras, recebe auxílio de tua graça.

Por si mesmo ninguém se eleva. O Senhor mesmo o atesta: Ninguém subiu ao céu, por si mesmo, a não ser o Filho do homem que está no céu (Jo 3,13).

Digo que preparou ascensões por estar no vale de lágrimas (Sl 83,6.7 Vulg.), nesta vida, humilde e cheia de lágrimas das tribulações, em comparação com a outra vida, chamada monte e repleta de alegrias.

Por ter dito feliz o homem cujo auxílio vem de ti, poderá alguém perguntar: Acaso Deus auxiliará para isto? A resposta será: Verdadeiramente o auxílio para os felizes vem de Deus. Porque o legislador, Cristo, que nos deu a lei, dá e dará continuamente as bênçãos, os múltiplos dons da graça com que abençoa os seus, quer dizer, erguerá até à beatitude. Por estas bênçãos irão de virtude em virtude, subindo sempre. E no futuro, na Sião celeste, ver-se-á Cristo. Deus dos deuses, aquele que, por ser Deus, deifica os seus. Ou, sendo eles Sião, ali se verá espiritualmente o Deus dos deuses, o Deus Trindade. É o mesmo que dizer: Pela inteligência verão em si a Deus que aqui não pode ser visto, porque Deus será tudo em todos (cf. 1Cor 15,28).