sábado, 19 de setembro de 2020

Sábado da 24ª semana do Tempo Comum

 

Segunda leitura


Do Sermão sobre os pastores, de Santo Agostinho, bispo

 

(Sermo 46,11-12: CCL 41,538-539)

 

(Séc. V)

 

Oferece a atadura do conforto

 

Diz a Escritura: Deus castiga todo aquele que reconhece como filho (Hb 12,6). E tu dizes: "Quem sabe ficarás de fora? Se ficares fora do sofrimento dos castigos, ficarás de fora do número dos filhos. "Quer dizer então, perguntas, que castiga todo filho?

Castiga sem exceção todo filho, como também o único. O Unigênito, nascido da substância do Pai, igual ao Pai na forma de Deus, o Verbo por quem tudo foi feito, este não tinha por onde ser castigado. Para isto revestiu-se de carne, de modo a não ficar sem castigo. Aquele, pois, que castiga o único sem pecado, irá poupar o adotado pecador? Fomos chamados para a adoção, assegura o Apóstolo. Recebemos a adoção de filhos, para sermos co-herdeiros do único, sermos também sua herança: Pede-me e eu te darei as nações por herança (Sl 2,8). Deu-nos o exemplo em seus sofrimentos.

Todavia para que o fraco não desanime totalmente ante as provações futuras, nem se iluda com falsa esperança nem se deixe abater pelo medo, diz-lhe: Prepara tua alma para a tentação (Eclo 2,1). Talvez comece a escorregar, a tremer, a não querer aproximar-se. Lês em outro lugar: Fiel é Deus que não permitirá serdes tentados além do que podeis suportar (1Cor 10,13). Afirmar e anunciar futuros sofrimentos é fortalecer o enfermo. Se prometes a misericórdia de Deus a quem está por demais acovardado, e por isso aterrorizado, não porque faltarão provações, mas porque Deus não permite alguém ser tentado acima de suas forças, estás com isto medicando a fratura.

Há alguns que, ouvindo falar de futuras tribulações, se armam ainda mais e têm sede delas como de bebida. Julgam fraco o remédio dos fiéis e buscam a glória dos mártires. Há outros, porém, que com o anúncio das futuras e necessárias provações, que precisamente devem vir ao cristão e não atingem senão ao que quiser ser sinceramente cristão, na iminência delas, ficam alquebrados e vacilam.

Oferece-lhe a atadura da consolação, pensa o que está fraturado. Dize: "Não tenhas medo. Não te abandonará nas provações aquele em quem acreditaste". Fiel é Deus que não permitirá seres tentado acima do que podes suportar. Não sou eu que digo isto, mas o Apóstolo: Quereis conhecer por experiência que Cristo fala em mim? (cf. 2Cor 13,3). Portanto, ouvindo estas palavras, ouves a Cristo, ouves aquele pastor que apascenta Israel. A ele disseram: Tu nos darás a beber lágrimas, com medida (Sl 79,6). O apóstolo diz: Não permitirá serdes tentados além do que podeis suportar. É a mesma coisa que dissera o Profeta: Com medida. Somente não despeças aquele que corrige e exorta, amedronta e consola, fere e cura.

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Sexta-feira da 24ª semana do Tempo Comum

 

Segunda leitura


Do Sermão sobre os pastores, de Santo Agostinho, bispo

 

(Sermo 46,10-11: CCL 41,536-538)

 

(Séc. V)


Prepara-te para a tentação

 

Já sabeis o que amam os maus pastores. Vede o que descuidam. Ao enfermo não fortificastes; do doente não cuidastes; ao machucado, isto é, fraturado, não pensastes; ao desgarrado, não reconduzistes; ao que se perdia não fostes procurar e ao forte oprimistes (Ez 34,4), matastes, destruístes. A ovelha se enfraquece, quer dizer, tem coração débil, imprudente e desprevenido, a ponto de ceder às tentações que sobrevierem.

O pastor negligente, quando alguém se lhe confia, não lhe diz: Filho, vindo para servir a Deus, mantém-te na justiça e prepara-te para a tentação (cf. Eclo 2,1). Quem assim fala fortifica o fraco e de fraco faz firme, de modo que, se lhe forem confiados os bens deste mundo, não se fiará neles. Se, contudo, houver aprendido a fiar-se na prosperidade terrena, por esta mesma prosperidade será corrompido; sobrevindo adversidades, ferir-se-á e talvez pereça.

Quem assim o edifica, não o constrói sobre pedra, mas sobre a areia. A pedra era Cristo (cf. 1Cor 10,4). Os cristãos têm de imitar os sofrimentos de Cristo e não, ir atrás de prazeres. O fraco se fortifica, quando lhe dizem: "Espera, sim, provações neste mundo, mas de todas elas te livrará o Senhor, se teu coração não voltar atrás. Pois para fortalecer teu coração veio padecer, veio morrer, veio ser coberto de escarros, veio ser coroado de espinhos, veio ouvir insultos, veio enfim ser pregado na cruz. Tudo isto por tua causa, e tu, nada: não para ele, mas em teu favor".

Quais são estes que, por temerem ofender os ouvintes, não apenas não os prepararam para as inevitáveis provações, mas prometem a felicidade neste mundo, que Deus não prometeu a este mundo? Ele predisse labutas e mais labutas, que até o fim sobreviriam a este mundo. E tu queres que o cristão esteja isento destas labutas? Justamente por ser cristão, sofrerá algo mais neste mundo.

Com efeito disse o Apóstolo: Todos aqueles que querem viver sinceramente em Cristo, sofrerão perseguições (2Tm 3,12). Agora tu, pastor insensato, que procuras os teus interesses e não os de Jesus Cristo, deixa que ele diga: Todos aqueles que querem viver sinceramente em Cristo, sofrerão perseguições. E por tua conta vai dizendo: "Se em Cristo viveres piedosamente, terás abundância de todos os bens. Se não tens filhos, tê-lo-ás e os criarás, e nenhum morrerá". É esta tua construção? Olha o que fazes, onde a colocas. Sobre a areia a constróis. Virá a chuva, o rio transbordará, soprará o vento, baterão contra esta casa; ela cairá e será grande sua ruína.

Tira-a da areia, põe-na sobre a pedra: esteja em Cristo aquele a quem desejas ver cristão. Observe os injustos sofrimentos de Cristo, observe-o sem pecado, pagando o que não devia, observe a Escritura a lhe dizer: O Senhor castiga todo aquele que reconhece como filho (Hb 12,6). Ou se prepare para ser castigado, ou não procure ser aceito.

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Quinta-feira da 24ª semana do Tempo Comum

 

Segunda leitura


Do Sermão sobre os pastores, de Santo Agostinho, bispo

 

(Sermo 46,9: CCL 41,535-536)

 

(Séc. V)

Sê modelo dos fiéis

 

O Senhor mostrou o que estes pastores amam, mostrou também o que negligenciam. Os males das ovelhas estendem-se por toda parte. As sadias e robustas, isto é, as fortes pelo alimento da verdade, que se aproveitam bem das pastagens, por dom de Deus, são pouquíssimas. Os maus pastores, porém, não as poupam. É-lhes pouco não cuidarem das doentes, das fracas, das desgarradas e perdidas. Tanto quanto podem, também matam as fortes e gordas. Mas estas continuam vivas. Vivem pela misericórdia de Deus. Contudo, no que diz respeito aos maus pastores, eles matam. "Matam de que modo? perguntas. Vivendo mal, dando mau exemplo. Foi em vão que se disse ao servo de Deus, ao colocado mais alto entre os membros do supremo Pastor: Mostrando-te a todos como exemplo de boas obras? e: Sê modelo dos fiéis (cf. 1Tm 4,12).

Presenciando continuamente a má conduta de seu pastor, uma ovelha, mesmo forte, se desviar os olhos dos preceitos do Senhor e fixá-los no homem, começará a dizer em seu coração: "Se meu superior vive desse modo, quem sou eu para não fazer o que ele faz? Matou a ovelha forte. Se matou a forte a quem não alimentou, que fará com as outras, ele que, vivendo mal, destruiu o que encontrara forte e robusto?

Digo à vossa caridade e repito. Mesmo que as ovelhas continuem vivas, ainda que sejam fortes pela palavra do Senhor e guardem o que dele ouviram: Fazei o que dizem, não o que fazem (Mt 23,3). Contudo aquele que vive mal diante do povo, no que lhe diz respeito, mata o que o observa. Não se iluda porque se vê que ele não morreu. Este continua vivo, aquele é homicida. Assim como um homem que olha para uma mulher desejando-a, embora ela permaneça casta, ele já cometeu adultério. É verdadeira e clara a palavra do Senhor: Quem olhar para uma mulher com mau desejo, já cometeu adultério em seu coração (Mt 5,28). Não entrou em seu quarto, mas no quarto de seu coração já a abraçou.

Assim, quem vive mal diante de seus subordinados, no que lhe diz respeito, mata até os fortes. Quem o imita, morre; quem não o imita, vive. No entanto, quanto a ele, destrói a ambos. E o que é robusto matais e não apascentais minhas ovelhas (Ez 34,3).