sábado, 16 de outubro de 2021

SANTA MARGARIDA MARIA ALACOQUE, VIRGEM

 Nasceu em 1647 na diocese de Autun (França). Acolhida entre as Irmãs da Visitação de Paray-le-Monial, progredia de modo admirável no caminho da perfeição. Teve revelações místicas, particularmente sobre a devoção ao Coração de Jesus, e contribuiu muito para introduzir o seu culto na Igreja. Morreu a 17 de outubro de 1690.

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Segunda leitura

Das Cartas de Santa Margarida Maria Alacoque, virgem  

(Vie et Oeuvres 2, Paris 1915,321.336.493.554)
(Séc. XVII)

Devemos conhecer a maravilhosa caridade da ciência de Cristo 

A mim me parece que o grande desejo de nosso Senhor, de que se tribute honra especial a seu Sagrado Coração, tem por finalidade renovar em nós os frutos da redenção. Pois o Sagrado Coração é fonte inexaurível, que somente quer difundir-se pelos corações humildes, a fim de que estejam livres e prontos a viver sua vida em conformidade com seu beneplácito.
Deste divino Coração correm sem parar três rios: o primeiro é de misericórdia pelos pecadores, derramando neles o espírito de contrição e de penitência. O segundo é de caridade, para auxílio de todos os sofredores, em particular dos que aspiram à perfeição, para que encontrem os meios de superar as dificuldades. Do terceiro, enfim, manam o amor e a luz para seus amigos perfeitos, que ele deseja unir à sua ciência e à participação de seus preceitos, para que, cada um a seu modo, se dedique totalmente à expansão de sua glória.
Este Coração divino é oceano de todos os bens. Nele precisam os pobres mergulhar todas as suas necessidades. É oceano de alegria, onde temos de mergulhar todas as nossas tristezas. É abismo de humildade contra nossa loucura, abismo de misericórdia para os miseráveis, abismo de amor para as nossas indigências.
Tendes, por isto, de unir-vos ao Coração de nosso Senhor Jesus Cristo, no princípio da vida nova, para vos preparardes bem; no fim, para consumardes. Vossa oração é vazia? Então, basta que ofereçais a Deus as preces que o Salvador eleva por nós no sacramento do altar, entregando seu fervor em reparação de vossa tibieza. Sempre que ides fazer algo, rezai assim: “Meu Deus, faço ou suporto isto no Coração de teu Filho e, conforme a seus santos desígnios, ofereço-te em reparação de tudo quanto há de falho ou de imperfeito em minhas obras”. E deste modo, em todas as circunstâncias. E em tudo que vos acontecer de penoso, aflitivo ou injurioso, dizei a vós mesmos: “Recebe o que o Sagrado Coração de Jesus Cristo te envia a fim de unir-te a ele”.
Acima de tudo, porém, guardai a paz do coração que supera todos os tesouros. Para guardá-la, nada de melhor que renunciar à própria vontade e colocar a vontade do divino Coração em lugar da nossa, de modo que ela realize em nosso nome o que redunda em sua glória. E nós, felizes, nos submetamos a ele, com absoluta confiança.

SANTA EDVIGES, RELIGIOSA

 Nasceu na Baviera (Alemanha), cerca do ano 1174; foi dada por esposa ao príncipe da Silésia e teve sete filhos. Levou uma vida de fervorosa piedade e dedicou-se generosamente à assistência aos pobres e doentes, para os quais fundou vários albergues. Quando morreu seu marido, entrou no mosteiro de Trebniz (Polônia) e aí morreu em 1243.

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Segunda leitura

Da Vida de Santa Edviges, escrita por um contemporâneo

(Acta Sanctorum Octobris 8[1853],201-202)
(Séc.XIII)

 Tendia sempre para Deus 


A serva de Deus sabia que as pedras vivas, empregadas na construção da celeste Jerusalém, devem ser polidas neste mundo pelos golpes e aflições e que as muitas tribulações são necessárias para se passar para a suprema glória e a pátria esplêndida. Expôs-se com total generosidade a muitos padecimentos e, sem piedade, maltratou o corpo por muitas e freqüentes flagelações. Macerava-se com jejuns e abstinências diárias tão severas que muitos se admiravam como uma mulher tão fraca e delicada pudesse agüentar tais tormentos.
Quanto mais atentamente se entregava à assídua mortificação da carne, feita, porém, com discernimento, tanto mais crescia no vigor do espírito e no desabrochar da graça, e nela se alimentava mais fortemente o incêndio da devoção e do amor divino. Não poucas vezes era arrastada ao alto e levada a Deus por tão ardente desejo, que ficava insensível e sem se dar conta do que se passava ao redor.
Da mesma forma como a devoção do espírito tendia sempre para Deus, sua piedade benfazeja inclinava-se para o próximo, distribuindo com liberalidade esmolas aos indigentes, aos conventos e religiosos, que moravam dentro ou fora dos mosteiros, às viúvas e aos órfãos, aos doentes e fracos, aos leprosos, aos presos nas cadeias ou nos cárceres, aos peregrinos, às mulheres pobres que amamentavam os filhinhos. Assim a todos socorria com seus benefícios; e absolutamente a ninguém que viesse em busca de auxílio permitia sair sem conforto.
E porque esta serva de Deus nunca descuidou de exercer todas as boas obras a seu alcance, Deus lhe concedeu também esta graça: mesmo humanamente impossibilitada de agir, sem nada poder fazer com as próprias forças, por virtude divina da paixão de Cristo, conseguia realizar aquilo que as súplicas do próximo em necessidade lhe pediam. Por isto, aos que a ela recorriam tanto nas dificuldades do corpo quanto do espírito, teve o poder de ajudar, segundo a vontade do bem-querer divino.

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

SANTA TERESA DE JESUS, VIRGEM E DOUTORA DA IGREJA

 Memória

Nasceu em Ávila (Espanha) no ano 1515. Tendo entrado na Ordem das Carmelitas, fez grandes progressos no caminho da perfeição e teve revelações místicas. Ao empreender a reforma da Ordem teve de sofrer muitas tribulações, mas tudo suportou com coragem invencível. A doutrina profunda que escreveu nos seus livros é fruto das suas experiências místicas. Morreu em Alba de Tormes (Salamanca) no ano 1582.
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Segunda leitura

Das Obras de Santa Teresa de Jesus, virgem

(Opusc. De libro vitae, cap. 22,6-7.14)
(Séc. XVI)

Lembremo-nos sempre do amor de Cristo 


Com tão bom amigo presente, com tão esforçado chefe, tudo se pode sofrer. Serve de ajuda e dá reforço; a ninguém falta. É amigo verdadeiro. Sempre tenho visto claramente que, para contentarmos a Deus e para que nos faça ele mercês, quer que seja por intermédio desta humanidade sacratíssima, na qual declarou Sua Majestade ter posto suas complacências. É o que muitíssimas vezes e muito bem tenho visto por experiência, e também mo disse o Senhor. Tenho compreendido claramente que por esta porta havemos de entrar, se quisermos que nos mostre grandes segredos a soberana Majestade. De modo que não se queira outro caminho, ainda que se esteja no cume da contemplação. Por aqui se vai seguro. É por meio deste Senhor nosso que nos vêm todos os bens. Ele ensinará o caminho: contemplemos sua vida, porque não há modelo melhor.

O que mais queremos, do que ter a nosso lado tão bom amigo, que não nos deixará nos trabalhos e nas tribulações, como fazem os amigos deste mundo? Bem-aventurado quem o amar de verdade e sempre o trouxer junto de si. Olhemos o glorioso São Paulo de cujos lábios, por assim dizer, não saía senão o nome de Jesus, tão bem gravado o tinha no coração. Desde que entendi isto, tenho considerado atentamente alguns santos, grandes contemplativos, tais como São Francisco, Santo Antônio de Pádua, São Bernardo, Santa Catarina de Sena. Com liberdade havemos de andar neste caminho, entregues às mãos de Deus. Se Sua Majestade quiser elevar-nos à categoria de seus íntimos e confidentes dos seus segredos, vamos de boa vontade.

Quando pensarmos em Cristo, sempre nos lembremos do amor com que nos concedeu tantas graças e da grande ternura que nos testemunhou em nos dar tal penhor do muito que nos ama, pois amor pede amor. Procuremos sempre ir considerando estas verdades e estimulando-nos a amar. Porque, uma vez que nos conceda o Senhor a graça de que este amor nos seja impresso no coração, tudo nos será mais fácil: faremos grandes coisas muito depressa e com pouco trabalho.

quinta-feira, 14 de outubro de 2021

SÃO CALISTO I, PAPA E MÁRTIR

 Diz-se que foi escravo; tendo alcançado a liberdade, foi ordenado diácono pelo papa Zeferino, a quem sucedeu na Cátedra de Pedro. Combateu contra os hereges adocianistas e modalistas. Recebeu a coroa do martírio no ano 222, e foi sepultado na Via Aurélia.

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Segunda leitura

Do Tratado a Fortunato, de São Cipriano, bispo e mártir

(Cap. 13: CSEL 3,346-347)
(Séc. III)

Na paz, a consciência é coroada 

Não se comparam os sofrimentos deste mundo com a glória futura, que se revelará em nós (Rm 8,18). Quem não se empenhará de todos os modos para chegar a tão grande glória, para tornar-se amigo de Deus, alegrar-se sem mediações com Cristo, receber os prêmios divinos depois dos tormentos e suplícios terrenos? Se é glorioso para os soldados da terra voltarem, vencido o inimigo, triunfantes para a pátria, quanto melhor e maior glória não será voltar triunfantes ao paraíso, vencido o demônio? E donde Adão pecador fora expulso, para lá arrastar abatido qual troféu de vitória, aquele que o enganara no princípio? E oferecer a Deus, como dádiva agradável, a fé incorrupta, o vigor da mente íntegra, o louvor da dedicação? E estar em sua companhia quando vier fazer justiça aos inimigos, assentar-se a seu lado no julgamento; ser co-herdeiro de Cristo, igualado aos anjos; junto aos patriarcas, apóstolos e profetas rejubilar-se com a posse do reino celeste? Que perseguição poderá vencer estes pensamentos, que tormentos poderão sobrepujá-los?
Permanece firme e estável a mente apoiada em meditações santas, e conserva-se imóvel contra todos os terrores do diabo e ameaças do mundo aquele que a segura e sólida confiança nas coisas futuras robustece. Nas perseguições da terra são aprisionados, mas o céu se abre; o anticristo ameaça, mas Cristo protege; a morte sobrevém, mas a imortalidade se segue. Que honra, quanta segurança sair daqui contente, sair glorioso entre angústias indizíveis, fechar por um momento os olhos que viam os homens e o mundo, e abri-los logo para verem a Deus e a Cristo. Contudo, felizmente, quanta rapidez nesta passagem. De repente, és tirado da terra, para seres recolocado nos reinos celestes.
É necessário pensar e meditar nisto, dia e noite, no interior de nossa alma. Se a perseguição vier a encontrar um tal soldado, a virtude pronta para o combate não poderá ser vencida. Mas se o chamado de Deus vier antes, a fé já preparada para o martírio não ficará sem o prêmio: sem prejuízo de tempo, o Deus Juiz dará a recompensa. Na perseguição, o combate; na paz, a consciência é coroada.

terça-feira, 12 de outubro de 2021

NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO APARECIDA, PADROEIRA DO BRASIL

 Solenidade

Na segunda quinzena de outubro de 1717, três pescadores, Filipe Pedroso, Domingos Garcia e João Alves, ao lançarem sua rede para pescar nas águas do Rio Paraíba, colheram a Imagem de Nossa Senhora da Conceição, no lugar denominado Porto do Itaguassu. Filipe Pedroso levou-a para sua casa conservando-a consigo até 1732, quando a entregou a seu filho Atanásio Pedroso. Este construiu um pequeno oratório onde colocou a Imagem da Virgem que ali permaneceu até 1743. Todos os sábados, a vizinhança reunia-se no pequeno oratório para rezar o terço. Devido à ocorrência de milagres, a devoção a Nossa Senhora começou a se divulgar, com o nome dado pelo povo de Nossa Senhora Aparecida. A 26 de julho de 1745 foi inaugurada a primeira Capela. Como esta, com o passar dos anos, não comportasse mais o número de devotos, iniciou-se em 1842 a construção de um novo templo inaugurado a 8 de dezembro de 1888. Em 1893, o Bispo diocesano de São Paulo, Dom Lino Deodato Rodrigues de Carvalho, elevou-o à dignidade de “Episcopal Santuário de Nossa Senhora da Conceição Aparecida”. A 8 de setembro de 1904, por ordem do Papa Pio X, a Imagem milagrosa foi solenemente coroada, e a 29 de abril de 1908 foi concedido ao Santuário o título de Basílica menor. O Papa Pio XI declarou e proclamou Nossa Senhora Aparecida Padroeira do Brasil a 16 de julho de 1930, “para promover o bem espiritual dos fiéis e aumentar cada vez mais a devoção à Imaculada Mãe de Deus”. A 5 de março de 1967 o Papa Paulo VI ofereceu a “Rosa de Ouro” à Basílica de Aparecida. Em 1952 iniciou-se a construção da nova Basílica Nacional de Nossa Senhora Aparecida, solenemente dedicada pelo Papa João Paulo II a 4 de julho de 1980.

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Segunda leitura

Da Homilia na Dedicação da Basílica Nacional de Aparecida, do papa João Paulo II

(Pronunciamentos do Papa no Brasil, Edit.
Vozes, Petrópolis 1980,125.128.129.130)
(Séc. XX)

A devoção a Maria é fonte de vida cristã profunda 


“Viva a Mãe de Deus e nossa, sem pecado concebida! Viva a Virgem Imaculada, a Senhora Aparecida!”

 

Desde que pus os pés em terra brasileira, nos vários pontos por onde passei, ouvi este cântico. Ele é, na ingenuidade e singeleza de suas palavras, um grito da alma, uma saudação, uma invocação cheia de filial devoção e confiança para com aquela que, sendo verdadeira Mãe de Deus, nos foi dada por seu Filho Jesus no momento extremo da sua vida para ser nossa Mãe. Sim, amados irmãos e filhos, Maria, a Mãe de Deus, é modelo para a Igreja, é Mãe para os remidos. Por sua adesão pronta e incondicional à vontade divina que lhe foi revelada, torna-se Mãe do Redentor, com uma participação íntima e toda especial na história da salvação. Pelos méritos de seu Filho, é Imaculada em sua Conceição, concebida sem a mancha original, preservada do pecado e cheia de graça.

 

Ao confessar-se serva do Senhor (Lc 1,38) e ao pronunciar o seu sim, acolhendo “em seu coração e em seu seio o mistério de Cristo Redentor, Maria não foi instrumento meramente passivo nas mãos de Deus, mas cooperou na salvação dos homens com fé livre e inteira obediência. Sem nada tirar ou diminuir e nada acrescentar à ação daquele que é o único Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, Maria nos aponta as vias da salvação, vias que convergem todas para Cristo, seu Filho, e para a sua obra redentora. Maria nos leva a Cristo, como afirma com precisão o Concílio Vaticano II: “A função maternal de Maria, em relação aos homens, de modo algum ofusca ou diminui esta única mediação de Cristo; antes, manifesta a sua eficácia. E de nenhum modo impede o contato imediato dos fiéis com Cristo, antes o favorece”.

 

Mãe da Igreja, a Virgem Santíssima tem uma presença singular na vida e na ação desta mesma Igreja. Por isso mesmo, a Igreja tem os olhos sempre voltados para aquela que, permanecendo virgem, gerou, por obra do Espírito Santo, o Verbo feito carne. Qual é a missão da Igreja senão a de fazer nascer o Cristo no coração dos fiéis, pela ação do mesmo Espírito Santo, através da evangelização? Assim, a “Estrela da Evangelização”, como a chamou o meu Predecessor Paulo VI, aponta e ilumina os caminhos do anúncio do Evangelho. Este anúncio de Cristo Redentor, de sua mensagem de salvação, não pode ser reduzido a um mero projeto humano de bem-estar e felicidade temporal. Tem certamente incidências na história humana coletiva e individual, mas é fundamentalmente um anúncio de libertação do pecado para a comunhão com Deus, em Jesus Cristo. De resto, esta comunhão com Deus não prescinde de uma comunhão dos homens uns com os outros, pois os que se convertem a Cristo, autor da salvação e princípio de unidade, são chamados a congregar-se em Igreja, sacramento visível desta unidade humana salvífica.

 

Por tudo isto, nós todos, os que formamos a geração hodierna dos discípulos de Cristo, com total aderência à tradição antiga e com pleno respeito e amor pelos membros de todas as comunidades cristãs, desejamos unir-nos a Maria, impelidos por uma profunda necessidade da fé, da esperança e da caridade. Discípulos de Jesus Cristo neste momento crucial da história humana, em plena adesão à ininterrupta Tradição e ao sentimento constante da Igreja, impelidos por um íntimo imperativo de fé, esperança e caridade, nós desejamos unir-nos a Maria. E queremos fazê-lo através das expressões da piedade mariana da Igreja de todos os tempos. A devoção a Maria é fonte de vida cristã profunda, é fonte de compromisso com Deus e com os irmãos. Permanecei na escola de Maria, escutai a sua voz, segui os seus exemplos. Como ouvimos no Evangelho, ela nos orienta para Jesus: Fazei o que ele vos disser (Jo 2,5). E, como outrora em Caná da Galiléia, encaminha ao Filho as dificuldades dos homens, obtendo dele as graças desejadas. Rezemos com Maria e por Maria: ela é sempre a “Mãe de Deus e nossa”.

 

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

SÃO JOAO XXIII, PAPA

 Ângelo José Roncálli nasceu em Sotto il Monte (Bérgamo) em 1881. Aos onze anos entrou no seminário de Bérgamo e prosseguiu depois os estudos no Pontifício Seminário Romano. Ordenado sacerdote em 1904, foi secretário do Bispo de Bérgamo. Em 1921 começou a prestar o seu serviço na Santa Sé como Presidente per l’Italia do Conselho Central da Obra Pontifícia para a Propagação da Fé; em 1925, como Visitador Apostólico e depois Delegado Apostólico na Bulgária; em 1935, como Delegado Apostólico na Turquia e Grécia; em 1944, como Núncio Apostólico na França. Em 1953 foi nomeado cardeal e nomeado Patriarca de Veneza. Foi eleito Papa em 1958: convocou o Sínodo Romano, instituiu a Comissão para a revisão do Código de Direito Canônico, convocou o Concílio Ecumênico Vaticano II. Morreu na tarde do dia 3 de Junho de 1963.

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Segunda leitura

Das alocuções de São João XXIII, papa
(Abertura solene do Concílio Ecuménico Vaticano II, 11 de Outubro de 1962: AAS 54 [1962], 786-787. 792-793) 
(Séc. XX)

A Igreja é mãe amabilíssima de todos os homens  

Alegra-se a Santa Mãe Igreja, porque, por singular dom da Divina Providência, amanheceu finalmente o dia tão esperado, em que se inaugura o Concílio Ecumênico Vaticano II, aqui, junto do túmulo de São Pedro, sob a proteção da Santíssima Virgem, de quem celebramos hoje com alegria a dignidade de Mãe de Deus.
Depois de quase vinte séculos, as situações e os problemas gravíssimos que a humanidade deve enfrentar não mudam. Na realidade, Cristo ocupa sempre o posto central da história e da vida: os homens ou aderem a Ele e à sua Igreja – e então gozam da luz, da bondade, da ordem justa e do benefício da paz – , ou vivem sem Ele e contra Ele, e permanecem deliberadamente fora da Igreja – e por isso se estabelece a confusão entre eles, as relações mútuas tornam-se difíceis, ameaça o perigo de guerras sangrentas.    
Ao iniciar-se o Concílio Ecumênico Vaticano II, é evidente como nunca que a verdade do Senhor permanece eternamente (Salmo 118 (119), 89). De fato, vemos como de uma época para outra as incertas opiniões dos homens se contradizem mutuamente e muitas vezes os erros se dissipam logo ao nascer como a névoa ao raiar o sol.
Sempre a Igreja se opôs a estes erros, muitas vezes até os condenou com severidade. Nos nossos dias, porém, a Esposa de Cristo prefere usar a medicina da misericórdia, em vez de recorrer às armas do rigor; ela pensa que é melhor ir ao encontro das necessidades actuais mostrando a validez da sua doutrina do que recorrendo às condenações. Não é porque faltem doutrinas falsas, opiniões e ideias perigosas, contra as quais nos devemos precaver e opor, mas porque todas estas coisas estão tão abertamente em contradição com os retos princípios da honestidade e produziram frutos tão perniciosos que hoje os homens parecem espontaneamente inclinados a reprová-las, sobretudo aquelas formas de viver que ignoram a Deus e a sua lei, a confiança excessiva nos progressos da técnica e o bem-estar fundado exclusivamente na comodidade da vida. Estão sempre cada vez mais conscientes de que a dignidade humana e o seu conveniente aperfeiçoamento é uma questão de suma importância e muito difícil de realizar. O que mais importa é terem aprendido com a experiência que a violência causada aos outros, o poder das armas e o predomínio político não contribuem para a feliz solução dos gravíssimos problemas que os atormentam.

Neste estado de coisas, a Igreja Católica, elevando por meio deste Concílio Ecuménico o farol da verdade religiosa, quer manifestar-se como mãe amável de todos, benigna, paciente, cheia de misericórdia e de bondade para com os filhos dela separados. Ao género humano oprimido por tantas dificuldades ela diz como Pedro ao pobre que lhe pedia esmola: “Não tenho ouro nem prata, mas dou-te o que tenho. Em nome de Jesus Nazareno, levanta-te e anda” (At 3, 6).

Quer dizer, a Igreja não oferece riquezas caducas aos homens de hoje, nem lhes promete uma felicidade só terrena, mas torna-os participantes da graça divina, que, elevando-os à dignidade de filhos de Deus, se converte numa poderosa defesa e ajuda para uma vida mais humana; abre a fonte da sua doutrina vivificadora que permite aos homens, iluminados pela luz de Cristo, compreender bem aquilo que são realmente, a sua excelsa dignidade, a meta a que devem tender. Além disso, por meio dos seus filhos, estende por toda a parte a plenitude da caridade cristã, que, mais que nenhuma outra coisa contribui para erradicar a discórdia, nada havendo mais eficaz para fomentar a concórdia, a paz justa e a união fraterna de todos.