Terça-feira da 29ª semana do Tempo Comum
Segunda leitura
Da Carta a Proba, de Santo Agostinho, bispo
(Ep. 130,11,21-12,22: CSEL 44,63-64)
(Séc. V)
A oração do Senhor
Temos
necessidade de palavras para incitar-nos e ponderarmos o que pediremos,
e não com a intenção de dá-lo a saber ao Senhor ou a comovê-lo.
Quando, pois, dizemos: Santificado seja o teu nome,
exortamo-nos a desejar que seu nome, imutavelmente santo, seja também
considerado santo pelos homens, isto é, não desprezado. O que é de
proveito para os homens, não para Deus.
E ao dizermos: Venha teu reino que, queiramos ou não, virá sem falta, acendemos o desejo deste reino; que venha para nós e nele mereçamos reinar.
Ao dizermos: Faça-se a tua vontade assim na terra como no céu,
pedimos-lhe conceder-nos esta obediência de sorte que se faça em nós
sua vontade do mesmo modo como é feita no céu por seus anjos.
Dizemos: O pão nosso de cada dia dá-nos hoje. Pela palavra hoje se entende este nosso tempo. Ou, com a menção da parte principal, indicando o todo pela palavra pão,
pedimos aquilo que nos basta. O sacramento dos fiéis, necessário agora,
não, porém, para a felicidade deste tempo, mas para alcançarmos a
felicidade eterna.
Dizendo: Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos a nossos devedores, tomamos consciência do que pedimos e do que temos de fazer para merecer obtê-lo.
Ao dizer: Não nos leves à tentação,
advertimo-nos a pedir que não aconteça que, privados de seu auxílio em
alguma tentação, iludidos, consintamos nela, ou cedamos perturbados.
Dizer: Livra-nos do mal
nos leva a pensar que ainda não estamos naquele Bem em que não
padeceremos de mal algum. E este último pedido da oração dominical é tão
amplo, que o cristão em qualquer tribulação em que se veja, por ele
pode gemer, nele derramar lágrimas, daí começar, nele demorar-se, nele
terminar a oração. É preciso guardar em nossa memória, por meio destas
palavras, as realidades mesmas.
Pois
quaisquer outras palavras que dissermos – tanto as formadas pelo afeto
que as precede e esclarece, quanto as que o seguem e crescem pela
atenção dele – não dirão nada que não se encontre nesta oração
dominical, se orarmos como convém. Quem disser algo que não possa ser
contido nesta prece evangélica, sua oração, embora não ilícita, é
carnal; contudo não sei como não ser ilícita, uma vez que somente de
modo espiritual devem orar os renascidos do Espírito.
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