Domingo da 29ª semana do Tempo Comum
Segunda leitura
Da Carta a Proba, de Santo Agostinho, bispo
(Ep. 130,8.15.17-9,18: CSEL 44,56-57.59-60)
(Séc. V)
Na oração exercita-se a nossa vontade
Por
que nos dispersamos entre muitas coisas e, temendo rezar de modo pouco
conveniente, indagamos o que pedir, em vez de dizer com o salmo: Uma
só coisa pedi ao Senhor, a ela busco: habitar na casa do Senhor todos
os dias de minha vida, para contemplar as delícias do Senhor e visitar
seu templo? (Sl 26,4). Pois
ali os dias não vêm e vão, o fim de um não é o princípio de outro.
Todos ao mesmo tempo não têm fim, ali onde nem a própria vida, a que
pertencem estes dias, tem fim.
Para
alcançarmos esta vida feliz, a verdadeira Vida nos ensinou a orar. Não
com multiplicidade de palavras, como se quanto mais loquazes fôssemos,
mais nos atenderia. Mas rogamos àquele que conhece, conforme suas mesmas
palavras, aquilo que nos é necessário, antes mesmo de lhe pedirmos (cf. Mt 6,7-8).
Pode
alguém estranhar por que motivo assim dispôs quem já de antemão conhece
nossa necessidade. Temos de entender que o intuito de nosso Senhor e
Deus não é ser informado sobre nossa vontade, que não pode ignorar. Mas
despertar pelas orações nosso desejo, o que nos tornará capazes de
conter aquilo que se prepara para nos dar. Isso é imensamente grande,
mas nós somos pequenos e estreitos demais para recebê-lo. Por isto, nos é
dito: Dilatai-vos; não aceiteis levar o jugo com os infiéis (2Cor 6,13-14).
Isso é tão imensamente grande que os olhos não o viram, porque não é cor; nem os ouvidos ouviram, porque não é som; nem subiu ao coração do homem
(cf. 1Cor 2,9), já que o coração do homem deve subir para lá. Isso nós o
recebemos com tanto maior capacidade quanto mais fielmente cremos, com
mais firmeza esperamos, mais ardentemente desejamos.
Por
conseguinte, nesta fé, esperança e caridade, sempre oramos pelo desejo
incessante. Contudo, em certas horas e tempos também rezamos a Deus com
palavras, para nos exortar a nós mesmos, mediante seus símbolos, e
avaliar nosso progresso neste desejo e a nos estimular com maior
veemência a aumentá-lo. Pois tanto mais digno resultará o efeito, quanto
mais fervoroso preceder o afeto.
É também por isso que diz o Apóstolo: Orai sem cessar!
(1Ts 5,17). O que isso pode significar a não ser: desejai sem cessar a
vida feliz, a eterna, e nenhuma outra, recebida daquele que é o único
que a pode dar?
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