Quinta-feira da 29ª semana do Tempo Comum
Segunda leitura
Da Carta a Proba, de Santo Agostinho, bispo
(Ep. 130,14,25-26: CSEL 44,68-71)
(Séc. V)
Não sabemos pedir o que nos convém
Talvez ainda indagues por que o Apóstolo disse: Não sabemos pedir o que nos convém (Rm 8,26) . Pois de modo algum se pode crer que ele ou aqueles a quem dizia isto ignorassem a oração dominical.
O
Apóstolo não se excluiu desta ignorância. Talvez não tivesse conhecido
como convinha orar, quando pela grandeza das revelações lhe foi dado um
espinho na carne, um anjo de Satanás para esbofeteá-lo. Por este motivo
rogou por três vezes ao Senhor que o livrasse e, na verdade, não sabia
orar o que convinha. Por fim ouviu a resposta de Deus por que não
atendia ao que lhe pedia tão grande homem e por que não lhe era
conveniente: Basta-te a minha graça, porque a força se perfaz na fraqueza (2Cor 12,9).
Portanto,
nas tribulações que tanto podem ser proveitosas quanto prejudiciais,
não sabemos o que pedir como convém. No entanto, por serem duras,
desagradáveis, contrárias ao modo de sentir de nossa fraqueza, pelo
anseio humano universal, rogamos que sejam afastadas de nós. Contudo
temos de ter confiança no Senhor, nosso Deus, e, se não as retira, não
pensemos logo que nos abandona, mas antes que, por suportar
generosamente os males, podemos esperar maiores bens. Assim a força se perfaz na fraqueza.
Estas
coisas foram escritas para que não aconteça que alguém se tenha em alta
conta, se for atendido quando pede com impaciência algo que lhe seria
mais proveitoso não alcançar. Ou desanime e desespere da divina
misericórdia, se não for atendido, quando talvez peça aquilo que lhe
será causa de mais atrozes aflições ou o corromperá pela prosperidade e o
fará perder-se inteiramente. Em todas estas coisas não sabemos orar
como convém.
Por este motivo, se nos
acontece o contrário do que pedimos, não há que duvidar ser muito melhor
suportar com paciência e, dando graças por tudo, porque foi a vontade
de Deus que se fez e não a nossa. Pois o próprio Mediador nos deu
exemplo ao dizer: Pai, se for possível, afaste-se de mim este cálice, mas logo, mudando em si a vontade humana assumida pela encarnação, acrescentou: Porém não o que eu quero, mas o que tu queres, Pai (Mt 26,39). Por isto, com toda a razão, pela obediência de um, muitos foram constituídos justos (cf. Rm 5,19).
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