Sexta-feira da 29ª semana do Tempo Comum
Segunda leitura
Da Carta a Proba, de Santo Agostinho, bispo
(Ep. 130,14,27-15,28: CSEL 44,71-73)
(Séc. V)
O Espírito intercede por nós
Quem pede ao
Senhor aquele único bem e o procura com empenho, pede cheio de segurança
e não teme ser-lhe prejudicial o recebê-lo; sem ele, nada do que puder
receber como convém lhe adiantará. Pois é a única verdadeira vida e a
única feliz. Contemplar eternamente a maravilha do Senhor, imortais e
incorruptos de corpo e de espírito. Em vista desta única vida tudo o
mais se há de pedir sem impropriedade. Quem a possuir terá tudo quanto
desejar. Nem desejará o que não convém e que ali nem mesmo pode existir.
Ali,
com efeito, está a fonte da vida, de que temos sede agora na oração,
enquanto vivemos na esperança e ainda não vemos o que esperamos; à sombra de suas asas, diante de quem está todo nosso desejo, para embriagarmo-nos da riqueza de sua casa e bebermos da torrente de suas delícias. Porque junto dele está a fonte da vida e à sua luz veremos a luz
(cf. Sl 35,8-10), quando se saciar de bens nosso anseio e nada mais
haverá a procurar com gemidos, mas só aquilo que no gozo abraçaremos.
Todavia
ela é também a paz que supera todo entendimento. Por isso, ao orarmos
para obtê-la, não sabemos fazê-lo como convém. Porque não podemos nem
mesmo imaginar como é, então não sabemos.
Mas
tudo o que nos ocorre ao pensar, afastamos, rejeitamos, desaprovamos.
Não é isto o que procuramos, embora não saibamos ainda qual seja.
Há
em nós, por assim dizer, uma douta ignorância, mas douta pelo Espírito
de Deus que vem em auxílio de nossa fraqueza. Tendo o Apóstolo dito: Se, porém, esperamos o que não vemos, aguardamos com paciência, acrescenta: Do mesmo modo o Espírito vem
em auxílio de nossa fraqueza; pois não sabemos orar como convém; mas o
próprio Espírito intercede com gemidos inexprimíveis. Aquele que
perscruta os corações conhece o desejo do Espírito, porque sua
intercessão pelos santos corresponde ao desígnio de Deus (Rm 8,25-27).
Não
se há de entender isto como se o Santo Espírito de Deus, que é Deus na
Trindade imutável e com o Pai e o Filho um só Deus, interceda em favor
dos santos, como alguém que não seja o mesmo Deus. Na verdade se diz: Interpela em favor dos santos porque faz os santos intercederem. Como se diz: O Senhor, vosso Deus, vos tenta para saber se o amais
(Dt 13,4), quer dizer: para vos fazer saber. Por conseguinte faz que os
santos intercedam com gemidos inexprimíveis, inspirando-lhes o desejo
da maravilha ainda desconhecida que aguardamos pela paciência. Por que e
como exprimir o desejo daquilo que se ignora? Na realidade, se se
ignorasse totalmente, não se desejaria. Por outro lado, se já se visse,
não se desejaria nem se procuraria com gemidos.
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