Sábado da 27ª semana do Tempo Comum
Segunda leitura
Das homilias sobre os Evangelhos, de São Gregório Magno, papa
(Hom. 17,3.14: PL 76,1139-1140.1146)
(Séc. VI)
A responsabilidade do nosso ministério
Ouçamos o que diz o Senhor aos pregadores enviados: A
messe é grande, mas poucos os operários. Rogai, portanto, ao Senhor da
messe que envie operários a seu campo. São poucos os operários para a
grande messe (Mt 9,37-38). Não podemos deixar de dizer isto com
imensa tristeza, porque, embora haja quem escute as boas palavras, falta
quem as diga. Eis que o mundo está cheio de sacerdotes. Todavia na
messe de Deus é muito raro encontrar-se um operário. Recebemos, é certo,
o ofício sacerdotal, mas não o pomos em prática.
Pensai, porém, irmãos caríssimos, pensai no que foi dito: Rogai ao Senhor da messe que envie operários a seu campo.
Pedi vós por nós para que possamos agir de modo digno de vós. Que a
língua não se entorpeça diante da exortação, para que, tendo recebido a
condição de pregadores, nosso silêncio também não nos imobilize diante
do justo juiz. Com frequência, por maldade sua, a língua dos pregadores
se vê impedida. Por sua vez, por culpa dos súditos, muitas vezes
acontece que seus chefes os privem da palavra da pregação.
Por maldade sua, com efeito, a língua dos pregadores se vê impedida, como diz o salmista: Deus disse ao pecador: Por que proclamas minhas justiças? (Sl 49,16). Por sua vez, por culpa dos súditos, cala-se a voz dos pregadores. É o que o Senhor diz por Ezequiel: Farei tua língua aderir a teu palato e ficarás mudo, como homem que não censura, porque é uma casa irritante
(Ez 3,26). Como se dissesse claramente: A palavra da pregação te é
recusada porque, por me exacerbar com suas ações, este povo não é digno
de escutar a verdade que exorta. Não é fácil saber por culpa de quem a
palavra se furta ao pregador. Porque se o silêncio do pastor às vezes o
prejudica, sempre causa dano ao povo, isto é absolutamente certo.
Há
ainda outra coisa, irmãos caríssimos, que muito me aflige na vida dos
pastores, mas para não pensardes talvez que vos faz injúria aquilo que
vou dizer, ponho-me também debaixo da mesma acusação, embora me encontre
neste posto não por minha livre vontade, mas impelido por estes tempos
calamitosos.
Vimos a nos envolver em
negócios externos. Um cargo nos foi dado pela consagração e, na prática,
damos prova de outro. Abandonamos o ministério da pregação e,
reconheço-o para pesar nosso, chamam-nos de bispo a nós que temos a
honra do nome, não o mérito. Aqueles que nos foram confiados abandonam a
Deus e nos calamos. Jazem em suas más ações e não lhes estendemos a mão
da advertência.
Quando, porém,
conseguiremos corrigir a vida de outrem, se descuramos a nossa?
Preocupados com questões terrenas, tornamo-nos tanto mais insensíveis
interiormente quanto mais parecemos aplicados às coisas exteriores.
Por isso e com razão, a respeito de seus membros enfraquecidos, diz a santa Igreja: Puseram-me de guarda às vinhas; minha vinha não guardei (Ct 1,6). Postos
como guardas às vinhas de modo algum guardamos a nossa porque, enquanto
nos embaraçamos, com ações exteriores, não damos atenções ao ministério
de nossa ação verdadeira.
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