Sábado da 31ª semana do Tempo Comum
Segunda leitura
Do Tratado sobre o benefício da morte, de Santo Ambrósio, bispo
(Cap. 3,9; 4,15: CSEL 32,710.716-717)
(Séc. IV)
Levemos sempre em nós a morte de Cristo
Disse o Apóstolo: Para mim o mundo está crucificado, e eu, para o mundo (Gl 6,14). Para que saibamos, por fim, que nesta vida há morte e boa morte, exorta-nos a que levemos a morte de Jesus em nosso corpo (cf. 2Cor 4,10).
Pois
quem tiver em si a morte de Jesus, precisa também ter em seu corpo a
vida do Senhor Jesus. Atue, portanto, a morte em nós, para que também
possa agir a vida. Vida excelente depois da morte, isto é, vida
excelente depois da vitória, vida excelente, terminado o combate. Nela a
lei da carne já não luta contra a lei do espírito, não há mais em nós
peleja da morte contra o corpo, mas no corpo, a vitória sobre a morte. E
francamente não sei qual tem maior força, esta morte ou a vida. É claro
que atendo à autoridade do Apóstolo que diz: Portanto a morte age em nós, mas a vida, em vós
(2Cor 4,12). A morte de um só a quanta gente faz crescer a vida! Por
isto ensina ser desejável esta morte aos que ainda estão nesta vida,
para que refulja em nossos corpos a morte de Cristo, aquela ditosa pela
qual se destrói o ser exterior, a fim de ser renovado nosso homem interior (cf. 2Cor 2,16) e se desfaça nossa habitação terrena (cf. 2Cor 5,1), abrindo-se assim para nós a habitação celeste.
Imita, portanto, a morte, que se separa da união com esta carne e desata os laços de que fala o Senhor mediante Isaías: Desata as cadeias iníquas, solta os laços das altercações violentas, deixa livres os oprimidos, rompe todo limite injusto (Is 58,6).
O
Senhor aceitou sujeitar-se à morte para que a culpa desaparecesse. Mas,
para não ser de novo a morte o fim da natureza humana, foi-lhe dada a
ressurreição dos mortos, para que pela morte se apagasse a culpa, pela
ressurreição se perpetuasse a natureza.
Por
isso, a morte é a passagem de tudo. É preciso que passes continuamente;
passagem da corrupção para a incorrupção, da condição mortal à
imortalidade, das perturbações para a tranquilidade. Por isto não te
assuste a palavra morte, mas os benefícios da boa passagem te alegrem.
Pois, que é a morte a não ser a sepultura dos vícios, o despertar das
virtudes? Por isto disse ele: Morra minha alma nas almas dos justos
(Nm 23,10), quer dizer, seja consepultada para depor seus vícios,
assumir a graça dos justos, que trazem no corpo e na alma a morte de
Cristo.
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