sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Sexta-feira da 28ª semana do Tempo Comum



Segunda leitura 

Dos livros sobre a Cidade de Deus, de Santo Agostinho, bispo 

(Lib. 10,6: CCL 47,278-279) 

(Séc. V) 


Em toda parte se sacrifica e se oferece a meu nome uma oblação pura 

Toda obra que realizamos em vista de aderir a Deus em santa sociedade, isto é, relacionada com a finalidade do bem pelo qual poderemos ser verdadeiramente felizes, é verdadeiro sacrifício. Donde se segue que a própria misericórdia, que vai em auxílio de outrem, caso não se faça por causa de Deus, não é sacrifício. Pois embora feito ou oferecido por homens, o sacrifício é uma realidade divina, nome que até mesmo os antigos latinos lhe davam. Por isto o homem de Deus, o próprio homem consagrado em nome de Deus e a Deus dedicado, enquanto morre para o mundo, a fim de viver para Deus, é um sacrifício. Com efeito, também isto é uma forma de misericórdia, exercida para com a própria pessoa. Por esta razão se escreveu: Tem compaixão de tua alma, fazendo por agradar a Deus (Eclo 30,24 Vulg.).

São verdadeiros sacrifícios as obras de misericórdia para conosco mesmos ou com o próximo feitas por causa de Deus. E a finalidade das obras de misericórdia está em sermos libertos da miséria e com isso felizes. O que não acontece a não ser por aquele bem de que se fala: Para mim o bem é aderir a Deus (Sl 72,28). Disto claramente se segue que a inteira cidade redimida, isto é, a sociedade dos santos, se oferece a Deus como um sacrifício universal, por mãos do magno sacerdote. Aquele mesmo que se ofereceu a si mesmo por nós na paixão, segundo a forma de servo, a fim de sermos membros desta preciosa cabeça. Esta paixão ele a ofereceu, nela foi oferecido porque por ela é mediador, nela, sacerdote, nela é sacrifício.

O Apóstolo, com efeito, nos exorta a entregar nossos corpos como hóstia viva, santa, agradável a Deus, com obediência inteligente (cf. Rm 12,1) e a não sermos conformes a este mundo, mas transformados pela renovação de nosso espírito. E a experimentar qual seja a vontade de Deus, o que é bom, aceitável e perfeito. Todo este sacrifício somos nós. Assim diz: Pela graça de Deus que me foi dada digo a todos vós: não vos estimeis acima do que convém, mas estimai-vos na justa medida, consoante a fé que Deus vos deu. Porque assim como em um só corpo temos muitos membros, porém, nem todos os membros têm a mesma função, assim também, muitos, somos um só corpo em Cristo. Sendo cada um por sua parte membros uns dos outros, possuidores de dons diferentes, segundo a graça que nos foi dada (Rm 12,3-6).

É este o sacrifício dos cristãos: embora muitos, somos um só corpo em Cristo (1Cor 10,17). É o que a Igreja celebra pelo sacramento do altar, manifestado aos fiéis. Aí se demonstra que, naquilo mesmo que oferece, ela própria se oferece.

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