Sexta-feira da 28ª semana do Tempo Comum
Segunda leitura
Dos livros sobre a Cidade de Deus, de Santo Agostinho, bispo
(Lib. 10,6: CCL 47,278-279)
(Séc. V)
Em toda parte se sacrifica e se oferece a meu nome uma oblação pura
Toda
obra que realizamos em vista de aderir a Deus em santa sociedade, isto
é, relacionada com a finalidade do bem pelo qual poderemos ser
verdadeiramente felizes, é verdadeiro sacrifício. Donde se segue que a
própria misericórdia, que vai em auxílio de outrem, caso não se faça por
causa de Deus, não é sacrifício. Pois embora feito ou oferecido por
homens, o sacrifício é uma realidade divina, nome que até mesmo os
antigos latinos lhe davam. Por isto o homem de Deus, o próprio homem
consagrado em nome de Deus e a Deus dedicado, enquanto morre para o
mundo, a fim de viver para Deus, é um sacrifício. Com efeito, também
isto é uma forma de misericórdia, exercida para com a própria pessoa.
Por esta razão se escreveu: Tem compaixão de tua alma, fazendo por agradar a Deus (Eclo 30,24 Vulg.).
São
verdadeiros sacrifícios as obras de misericórdia para conosco mesmos ou
com o próximo feitas por causa de Deus. E a finalidade das obras de
misericórdia está em sermos libertos da miséria e com isso felizes. O
que não acontece a não ser por aquele bem de que se fala: Para mim o bem é aderir a Deus
(Sl 72,28). Disto claramente se segue que a inteira cidade redimida,
isto é, a sociedade dos santos, se oferece a Deus como um sacrifício
universal, por mãos do magno sacerdote. Aquele mesmo que se ofereceu a
si mesmo por nós na paixão, segundo a forma de servo, a fim de sermos
membros desta preciosa cabeça. Esta paixão ele a ofereceu, nela foi
oferecido porque por ela é mediador, nela, sacerdote, nela é sacrifício.
O Apóstolo, com efeito, nos exorta a entregar nossos corpos como hóstia viva, santa, agradável a Deus, com obediência inteligente
(cf. Rm 12,1) e a não sermos conformes a este mundo, mas transformados
pela renovação de nosso espírito. E a experimentar qual seja a vontade
de Deus, o que é bom, aceitável e perfeito. Todo este sacrifício somos
nós. Assim diz: Pela graça de Deus que me foi dada digo a todos vós:
não vos estimeis acima do que convém, mas estimai-vos na justa medida,
consoante a fé que Deus vos deu. Porque assim como em um só corpo temos
muitos membros, porém, nem todos os membros têm a mesma função, assim
também, muitos, somos um só corpo em Cristo. Sendo cada um por sua parte
membros uns dos outros, possuidores de dons diferentes, segundo a graça que nos foi dada (Rm 12,3-6).
É este o sacrifício dos cristãos: embora muitos, somos um só corpo em Cristo
(1Cor 10,17). É o que a Igreja celebra pelo sacramento do altar,
manifestado aos fiéis. Aí se demonstra que, naquilo mesmo que oferece,
ela própria se oferece.
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