Quarta-feira da 28ª semana do Tempo Comum
Segunda leitura
Das Respostas a Talássio, de São Máximo Confessor, abade
(Quaest. 63: PG 90,667-670)
(Séc. VII)
A luz que ilumina todo ser humano
A lâmpada posta sobre o candelabro é a paterna e verdadeira luz que ilumina todo ser humano que vem ao mundo
(cf. Jo 1,9), nosso Senhor Jesus Cristo. Por ser um de nós e ter
assumido nossa carne, tornou-se e foi chamado lâmpada. Isto é, a
sabedoria e a palavra do Pai por natureza, que na Igreja de Deus é
pregada com fé pura e, pela vida orientada pela virtude e observância
dos mandamentos, é erguida e resplandece entre as nações. Ilumina a
todos que estão em casa (a saber, neste mundo), conforme a mesma Palavra
de Deus em certo trecho: Ninguém acende uma lâmpada e a põe sob uma vasilha, mas sobre o candelabro. E iluminará a todos que estão em casa
(Mt 5,15), dando a si mesmo claramente o nome de lâmpada, porquanto,
sendo Deus por natureza, fez-se homem segundo o desígnio divino.
Parece-me que também o grande Davi, compreendendo isto, diz ser o Senhor uma lâmpada, ao dizer: Lâmpada para meus pés, a tua lei é luz para meus caminhos
(Sl 118,105). Meu Salvador e Deus é tão luminoso que dissipa as trevas
da ignorância e do vício. Também por isto a Escritura o designa como
lâmpada.
Na verdade só ele, qual lâmpada,
desfaz a escuridão da ignorância, repele o negrume da maldade e do
vício. Por este motivo fez-se o caminho de salvação para todos. Pelo
poder e a ciência conduz ao Pai aqueles que estão resolvidos a nele
caminhar, como pela via da justiça, nos divinos mandamentos. Por
candelabro entende-se a santa Igreja, onde a palavra de Deus refulge
pela pregação diante de todos quantos habitam neste mundo como em uma
casa, ilumina com o esplendor da verdade e os espíritos ficam repletos
da ciência divina.
A palavra não se
sujeita a ser posta sob uma vasilha, ela que se destina a ser colocada
no mais alto cume e na imensa beleza da Igreja. Enquanto a palavra se
acha presa à letra da lei, como sob uma vasilha, todos se privam da luz
eterna. Não seria fonte de contemplação espiritual para aqueles que
procuram libertar-se da sedução enganadora dos sentidos que nos inclinam
a captar somente as coisas passageiras e materiais. Mas é colocada no
candelabro da Igreja, a fim de iluminar a todos pela adoração em
espírito e verdade.
Se a letra não é
interpretada segundo o seu espírito, não tem senão o valor material de
sua expressão, e não permite que a alma chegue a compreender o sentido
do que está escrito.
Por conseguinte,
tendo acendido a lâmpada (quer dizer, o sentido que acende a luz da
ciência) pelo ato da contemplação e da ação, não a ponhamos sob uma
vasilha. E também não sejamos acusados de falta por comprimir na letra o
indizível poder da sabedoria. Mas sim sobre o candelabro (a santa
Igreja) para que, do alto vértice da verdadeira contemplação, estenda a
todos o facho da divina doutrina.
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