Segunda leitura
Dos Tratados sobre o Evangelho de São João, de Santo Agostinho,
bispo
(Tract. 65,1-3:CCL36,490-492)
(Séc.V)
O novo mandamento
O Senhor Jesus afirma que dá um novo mandamento a seus discípulos,
isto é, que se amem mutuamente: Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos
uns aos outros (Jo 13,34). Mas este mandamento já não estava escrito
na antiga lei de Deus, onde se lê: Amarás o teu próximo como a ti
mesmo? (Lv 19,18). Por que então o Senhor chama novo o que é
evidentemente tão antigo? Será um novo mandamento pelo fato de nos revestir do
homem novo, depois de nos ter despojado do velho? Na verdade, ele renova o
homem que o ouve, ou melhor, que lhe obedece; não se trata, porém, de um amor
puramente humano, mas daquele que o Senhor quis distinguir,acrescentando: Como
eu vos amei (Jo 13,34).
É este amor que nos renova, transformando-nos em homens novos,
herdeiros da nova Aliança, cantores do canto novo. Foi este amor, caríssimos
irmãos, que renovou outrora os antigos justos, os patriarcas e os profetas e,
posteriormente, os santos apóstolos. Ainda hoje é ele que renova as nações e
reúne todo o gênero humano espalhado pelo mundo inteiro, formando um só povo
novo, o corpo da nova esposa do Filho unigênito de Deus. É dela que se diz no
Cântico dos Cânticos: Quem é esta que sobe vestida de branco? (cf.
Ct 8,5). Vestida de branco, sim, porque renovada; e renovada de que modo, senão
pelo mandamento novo?
Por isso os membros desta esposa sentem uma solicitude mútua. Se
um membro sofre, todos sofrem com ele; se um membro é honrado, todos os outros
se alegram com ele. Pois ouvem e praticam a palavra do Senhor: Eu vos dou um
novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Não como se amam aqueles que vivem na
corrupção da carne; nem como se amam os seres humanos apenas como seres
humanos; mas como se amam aqueles que são deuses e filhos do Altíssimo.
Deste modo, se tornam irmãos do Filho unigênito de Deus, amando-se
uns aos outros com aquele mesmo amor com que ele os amou, e por ele serão
conduzidos à plenitude final, onde os seus desejos serão completamente saciados
de bens. Então nada faltará à sua felicidade, quando Deus for tudo em todos.
Quem nos dá este amor é o mesmo que diz: Amai-vos uns aos outros
como eu vos amei. Foi para isto que ele nos amou, para que nos amássemos
mutuamente. E com o seu amor, deu-nos a graça, para que, vivendo unidos em
recíproco amor, como membros ligados por tão suave vínculo, formemos o Corpo de
tão sublime Cabeça.
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