Segunda leitura
Do Tratado sobre a Trindade, de Santo Hilário, bispo
(Lib. 8,13-16: PL10,246-249)
(Séc.IV)
A união natural dos fiéis em Deus pela encarnação do Verbo e pelo
sacramento da Eucaristia
Proclamamos como uma verdade que a Palavra se fez carne (Jo
1,14) e que na ceia do Senhor nós recebemos esta mesma Palavra que se fez
carne. Então, como se pode negar que permaneça naturalmente em nós aquele que,
ao nascer como homem, não só assumiu a natureza da nossa carne como inseparável
de si, mas também uniu sua natureza humana à natureza divina no sacramento em
que nos dá a comunhão do seu corpo? Deste modo todos somos um só, porque o Pai
está em Cristo e Cristo está em nós. Portanto, ele está em nós pela sua carne e
nós estamos nele; e através dele, o que nós somos está em Deus.
Em que medida estamos nele pelo sacramento da comunhão com sua
carne e com seu sangue, o próprio Cristo o afirma quando diz: Pouco
tempo ainda, e o mundo não mais me verá, mas vós me vereis, porque eu vivo e
vós vivereis, pois eu estou no meu Pai e vós em mim e eu em vós (Jo
14,19.20). Se com estas palavras o Senhor pretendia apenas significar uma
unidade de vontade, por que então estabeleceu uma certa gradação e ordem na
realização de tal unidade? Assim procedeu para acreditarmos que ele está no Pai
pela natureza divina, e que nós estamos nele pelo seu nascimento corporal; além
disso, ele também está em nós pelo mistério dos sacramentos. Ensina-nos desta
forma a perfeita unidade estabelecida por meio do único Mediador. Nós estamos
unidos a Cristo, que é inseparável do Pai, e Cristo, sendo inseparável do Pai,
permanece unido a nós. Deste modo, temos acesso à unidade com o Pai. Porque se
Cristo está por natureza no Pai, por ter sido gerado por ele, e se nós por
natureza estamos em Cristo, então de certa maneira, também nós estamos por
natureza no Pai através de Cristo.
Até que ponto esta unidade é natural em nós, o mesmo Senhor o
declara: Quem come a minha carne e bebe o meu sangue, permanece em mim
e eu nele (Jo 6,56). Realmente, ninguém poderá estar em Cristo, se
Cristo não estiver nele; isto é, Cristo somente assume em si a carne daquele
que recebe a sua. O Senhor já havia ensinado antes o mistério desta perfeita
unidade, dizendo: Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo por
causa do Pai, assim o que me come viverá por causa de mim (Jo 6,57).
Vive, portanto, pelo Pai; e do mesmo modo que vive pelo Pai, também nós vivemos
pela sua carne.
Toda a comparação deve ser adaptada à inteligência de tal modo que
o exemplo proposto nos ajude a compreender o mistério de que tratamos. Esta é,
portanto, a causa da nossa vida: Cristo, pela sua carne,habita em nós, seres
carnais, para que nós vivamos por ele como ele vive pelo Pai.
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