Segunda leitura
Das Homilias sobre os Evangelhos, de São Gregório Magno, papa
(Hom. 14,3-6:PL76,1129-1130)
(Séc.VI)
(Séc.VI)
Cristo, o bom pastor
Eu sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas, isto é, eu as amo,
e minhas ovelhas me conhecem (Jo 10,14). É como se quisesse dizer francamente:
elas correspondem ao amor daquele que as ama. Quem não ama a verdade, é porque
ainda não conhece perfeitamente. Depois de terdes ouvido, irmãos caríssimos,
qual é o perigo que corremos, considerai também, por estas palavras do Senhor,
o perigo que vós também correis. Vede se sois suas ovelhas, vede se o
conheceis, vede se conheceis a luz da verdade. Se o conheceis, quero dizer, não
só pela fé, mas também pelo amor, se o conheceis não só pelo que credes, mas
também pelas obras. O mesmo evangelista João, de quem são estas palavras, afirma
ainda: Quem diz: “Eu conheço Deus”, mas não guarda os seus mandamentos,
é mentiroso (1Jo 2,4).
Por isso, nesta passagem do evangelho, o Senhor acrescenta
imediatamente: Assim como o Pai me conhece, eu também conheço o Pai e
dou minha vida por minhas ovelhas (Jo 10,15). Como se dissesse
explicitamente: a prova de que eu conheço o Pai e sou por ele conhecido, é que
dou minha vida por minhas ovelhas; por outras palavras, este amor que me leva a
morrer por minhas ovelhas, mostra o quanto eu amo o Pai.
Continuando a falar de suas ovelhas, diz ainda: Minhas
ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem. Eu lhes dou a vida
eterna (Jo 10,27-28). É a respeito delas que fala um pouco
acima: Quem entrar por mim, será salvo; entrará e sairá e encontrará
pastagem (Jo 10,9). Entrará, efetivamente, abrindo-se à fé; sairá
passando da fé à visão e à contemplação, e encontrará pastagem no banquete
eterno. Suas ovelhas encontram pastagem, pois todo aquele que o segue na
simplicidade de coração é nutrido por pastagens sempre verdes. Quais são afinal
as pastagens dessas ovelhas, senão as profundas alegrias de um paraíso sempre
verdejante? Sim, o alimento dos eleitos é o rosto de Deus, sempre presente. Ao
contemplá-lo sem cessar, a alma sacia-se eternamente com o alimento da vida.
Procuremos, portanto, irmãos caríssimos,
alcançar essas pastagens, onde nos alegraremos na companhia dos cidadãos do
céu. Que a própria alegria dos bem-aventurados nos estimule. Corações ao alto,
meus irmãos! Que a nossa fé se afervore nas verdades em que acreditamos;
inflame-se o nosso desejo pelas coisas do céu. Amar assim já é pôr-se a
caminho. Nenhuma contrariedade nos afaste da alegria desta solenidade interior.
Se alguém, com efeito, pretende chegar a um determinado lugar, não há obstáculo
algum no caminho que o faça desistir de chegar aonde deseja. Nenhuma
prosperidade sedutora nos iluda. Insensato seria o viajante que, contemplando a
beleza da paisagem, se esquece de continuar sua viagem até o fim.
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