Quinta-feira da 3ª semana da Quaresma
Segunda leitura
Do Tratado sobre a oração, de Tertuliano, presbítero
(Cap.28-29: CCL 1,273-274)
(Séc. III)
O sacrifício espiritual
A oração é o sacrifício espiritual que aboliu os antigos
sacrifícios. Que me importa a abundância de vossos sacrifícios? –
diz o Senhor. Estou farto de holocaustos de carneiros e de gordura de
animais cevados; do sangue de touros, de cordeiros e de bodes, não me
agrado. Quem vos pediu estas coisas? (Is 1,11). O Evangelho nos
ensina o que pede o Senhor: Está chegando a hora, diz ele,em que os
verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade. Deus é
espírito (Jo 4,23.24), e por isso procura tais adoradores. Nós
somos verdadeiros adoradores e verdadeiros sacerdotes, quando, orando
em espírito, oferecemos o sacrifício espiritual da oração, como
oferenda digna e agradável a Deus, aquela que ele mesmo pediu e
preparou.
Esta oferenda, apresentada de coração sincero, alimentada pela
fé, preparada pela verdade, íntegra e inocente, casta e sem mancha,
coroada pelo amor, é a que devemos levar ao altar de Deus, acompanhada
pelo solene cortejo das boas obras, entre salmos e hinos; ela nos
alcançará de Deus tudo o que pedimos. Que poderia Deus negar à oração
que procede do espírito e da verdade, se foi ele mesmo que assim
exigiu? Todos nós lemos, ouvimos e acreditamos como são grandes os
testemunhos da sua eficácia!
Nos tempos passados, a oração livrava do fogo, das feras e da
fome; e no entanto ainda não havia recebido de Cristo toda a sua
eficácia. Quanto maior não será, portanto, a eficácia da oração cristã!
Talvez não faça descer sobre as chamas o orvalho do Anjo, não feche a
boca dos leões, não leve a refeição aos camponeses famintos, não impeça
milagrosamente o sofrimento; mas vem em auxílio dos que suportam a dor
com paciência, aumenta a graça aos que sofrem com fortaleza, para que
vejam com os olhos da fé a recompensa do Senhor, reservada aos que
sofrem pelo nome de Deus. Outrora a oração fazia vir as pragas,
derrotava os exércitos inimigos, impedia a chuva necessária. Agora,
porém, a oração autêntica afasta a ira de Deus, vela pelo bem dos
inimigos e roga pelos perseguidores. Será para admirar que faça cair do
céu as águas, se conseguiu que de lá descessem as línguas de fogo? Só a
oração vence a Deus. Mas Cristo não quis que ela servisse para fazer
mal algum; quis antes que toda a eficácia que lhe deu fosse apenas para
servir o bem.
Conseqüentemente, ela não tem outra finalidade senão tirar do
caminho da morte as almas dos defuntos, robustecer os fracos, curar os
enfermos, libertar os possessos, abrir as portas das prisões, romper os
grilhões dos inocentes. Ela perdoa os pecados, afasta as tentações, faz
cessar as perseguições, reconforta os de ânimo abatido, enche de
alegria os generosos, conduz os peregrinos, acalma as tempestades,
detém os ladrões, dá alimento aos pobres, ensina os ricos, levanta os
que caíram, sustenta os que vacilam, confirma os que estão de pé.
Oram todos os anjos, ora toda criatura. Oram à sua maneira os
animais domésticos e as feras, que dobram os joelhos. Saindo de seus
estábulos ou de suas tocas, levantam os olhos para o céu e não abrem a
boca em vão, fazendo vibrar o ar com seus gritos. Mesmo as aves quando
levantam vôo, elevam-se para o céu e, em lugar de mãos, estendem as
asas em forma de cruz, dizendo algo semelhante a uma prece. Que dizer
ainda a respeito da oração? O próprio Senhor também orou; a ele honra e
poder pelos séculos dos séculos.
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