Domingo da 4ª semana da Quaresma
Segunda leitura
Dos Tratados sobre o Evangelho de São João,de Santo Agostinho,
bispo
(Tract. 34,8-9:CCL36,315-316)
(Séc.V)
Cristo é o caminho para a luz, a verdade para a vida
Diz o Senhor: Eu sou a luz do mundo. Quem me segue, não
andará nas trevas, mas terá a luz da vida (Jo 8,12). Estas breves
palavras contêm um preceito e uma promessa. Façamos o que o Senhor
mandou, para esperarmos sem receio receber o que prometeu, e não nos
vir ele a dizer no dia do Juízo: “Fizeste o que mandei para esperares
agora alcançar o que prometi?” Responder-te-á: “Disse quem e
seguisses”. Pediste um conselho de vida. De que vida, senão daquela
sobre a qual foi dito: Em vós está a fonte da vida? (Sl 35,10).
Por conseguinte, façamos agora o que nos manda, sigamos o Senhor, e
quebremos os grilhões que nos impedem de segui-lo. Mas quem é capaz de
romper tais amarras se não for ajudado por aquele de quem se disse: Quebrastes
os meus grilhões? (Sl 115,7). E também noutro salmo: É o Senhor
quem liberta os cativos, o Senhor faz erguer-se o caído (Sl
145,7.8).
Somente os que assim são libertados e erguidos poderão seguir
aquela luz que proclama: Eu sou a luz do mundo. Quem me segue, não
andará nas trevas. Realmente o Senhor faz os cegos verem. Os nossos
olhos, irmãos, são agora iluminados pelo colírio da fé. Para restituir
a vista ao cego de nascença, o Senhor começou por ungir-lhe os olhos
com sua saliva misturada com terra. Cegos também nós nascemos de Adão,
e precisamos de ser iluminados pelo Senhor. Ele misturou sua saliva com
a terra: E a Palavra se fez carne e habitou entre nós (Jo
1,14). Misturou sua saliva com a terra, como fora predito: A
verdade brotou da terra (cf. Sl 84,12). E ele próprio disse: Eu
sou o caminho, a verdade e a vida (Jo 14,6). A verdade nos saciará
quando o virmos face a face, porque também isso nos foi prometido. Pois
quem ousaria esperar, se Deus não tivesse prometido ou dado? Veremos
face a face, como diz o Apóstolo: Agora, conheço apenas de modo
imperfeito; agora, nós vemos num espelho, confusamente, mas, então,
veremos face a face (1Cor 13,12). E o apóstolo João diz numa de
suas cartas: Caríssimos, desde já somos filhos de Deus, mas nem
sequer se manifestou o que seremos! Sabemos que, quando Jesus se
manifestar, seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é
(1Jo 3,2). Eis a grande promessa!
Se o amas, segue-o! “Eu o amo, dizes tu, mas por onde o
seguirei?” Se o Senhor te houvesse dito: “Eu sou a verdade e a vida”,
tu que desejas a verdade e aspiras à vida, certamente procurarias o
caminho para alcançá-la e dirias a ti mesmo: “Grande coisa é a verdade,
grande coisa é a vida! Ah, se fosse possível à minha alma encontrar o
caminho para lá chegar!” Queres conhecer o caminho? Ouve o que o Senhor
diz em primeiro lugar: Eu sou o caminho. Antes de dizer aonde deves ir,
mostrou por onde deves seguir. Eu sou, diz ele, o caminho. O caminho
para onde? A verdade e a vida. Disse primeiro por onde deves seguir e
logo depois indicou para onde deves ir. Eu sou o caminho, eu sou a
verdade, eu sou a vida. Permanecendo junto do Pai, é verdade e vida;
revestindo-se de nossa carne, tornou-se o caminho.
Não te é dito: “Esforça-te por encontrar o caminho, para que
possas chegar à verdade e à vida”. Decerto não é isso que te dizem.
Levanta-te, preguiçoso! O próprio caminho veio ao teu
encontro e te despertou do sono em que dormias, se é que chegou a
despertar-te; levanta-te e anda! Talvez tentes andar e não consigas,
porque te doem os pés. Por que estão doendo? Não será pela dureza dos
caminhos que a avareza te levou a percorrer? Mas o Verbo de Deus curou
também os coxos. “Eu tenho os pés sadios, respondes, mas não vejo o
caminho”. Lembra-te que ele também deu a vista aos cegos.
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