Segunda-feira da 5ª semana do Tempo Comum
Segunda leitura
Do Brevilóquio de São Boaventura, bispo
(Prologus: Opera omnia 5,201-202)
(Séc. XIII)
Do conhecimento de Jesus Cristo emana a compreensão de toda a Sagrada Escritura
A fonte da Sagrada Escritura não está na investigação humana,
mas na divina revelação que brota do Pai das luzes, de quem toda
paternidade no céu e na terra recebe o nome. Desse Pai, por seu
Filho Jesus Cristo, vem a nós o Espírito Santo e por este Espírito
Santo, que reparte e distribui os dons a quem quer, é-nos dada a fé: pela
fé Cristo habita em nossos corações. Ela é o conhecimento de Jesus
Cristo, donde se origina a firmeza e a compreensão de toda a Sagrada
Escritura.
Por conseguinte, é impossível a alguém propor-se conhecer a
Sagrada Escritura antes de receber a fé em Cristo em si, infundida como
lâmpada, porta e mesmo fundamento de toda ela. Enquanto estamos
peregrinando longe do Senhor, a fé é o fundamento que sustenta, a
lâmpada que orienta, a porta que introduz a todas as iluminações
espirituais. Além do que nos é necessário medir pela medida da fé até
mesmo a sabedoria que nos é dada por Deus, a fim de não saber mais
do que convém, mas com sobriedade e cada um conforme a medida da fé a
ele concedida por Deus.
Não é um resultado ou um fruto qualquer o benefício da Sagrada
Escritura, em que estão as palavras de vida eterna. Ela foi escrita não
apenas para que crêssemos, mas para que possuíssemos a vida eterna,
onde veremos, amaremos e teremos satisfeitos todos os nossos desejos.
Sendo assim, aprenderemos verdadeiramente a incomparável
ciência da caridade e seremos repletos de toda a plenitude de
Deus. Nesta plenitude, esforça-se a Sagrada Escritura por
introduzir-nos segundo a verdade da citada afirmação apostólica. Com
este fim e nesta intenção deve-se perscrutar, ensinar e também ouvir a
Sagrada Escritura.
Para alcançarmos esse fruto e meta, avançando pelo reto caminho
das Escrituras, cumpre começar do princípio. É necessário que nos
aproximemos do Pai das luzes com fé pura, dobrando os joelhos do
coração para que, por seu Filho, no Espírito Santo, nos conceda o
verdadeiro conhecimento de Jesus Cristo e, com o conhecimento, também o
seu amor. Conhecendo-o, então, e amando-o, firmes na fé e arraigados na
caridade, poderemos entender a largura, a extensão, a altura e a
profundidade da Sagrada Escritura e por esta ciência chegar àquele
intensíssimo conhecimento e desmedido amor da Santíssima Trindade. A
ela atendem os desejos dos santos e nela se encontra a plenitude de
toda a verdade e de todo o bem.
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