Segunda leitura
Do Comentário sobre a Carta aos Gálatas, de Santo Agostinho, bispo
Compreendamos a graça de Deus
O
Apóstolo escreve aos gálatas com a intenção de fazê-los compreender que
a graça de Deus neles atua de tal modo que não mais estão sob a lei. Ao
ser proclamada a graça do Evangelho, não faltou quem dentre os judeus,
mesmo se dizendo cristão, não tivesse entendido o imenso benefício da
graça e teimasse em manter-se sob o jugo da lei que o Senhor Deus
impusera não aos servidores da justiça, mas aos servidores do pecado.
Esta lei era justa para homens injustos a fim de mostrar-lhes o pecado,
mas não para tirá-lo. Nada, com efeito, apaga o pecado a não ser a graça
da fé que age pela caridade.
De fato, certos judeus queriam impor
aos gálatas, já possuidores da graça, o peso da lei, afirmando de nada
lhes aproveitar o Evangelho, a não ser que se deixassem circuncidar e
adotassem os outros ritos judaicos puramente carnais.
Por esta
razão começaram a suspeitar de Paulo, que lhes havia pregado o
Evangelho, julgando-o infiel à doutrina dos outros apóstolos que
obrigavam os gentios a viverem como judeus. O apóstolo Pedro cedera ao
escândalo de tais homens e deixara-se levar à simulação, como se
pensasse, também ele, que aos gentios de nada serviria o Evangelho, se
não cumprissem os preceitos onerosos da lei. O apóstolo Paulo afasta-o
dessa simulação como conta nesta Carta. Trata-se aqui da mesma questão
que na Carta aos Romanos. Contudo nesta última parece haver outra coisa,
pois acaba com uma contenda e tranquiliza a situação entre os
partidários dos judeus e os gentios que haviam aceitado a fé.
Em
nossa Carta, porém, dirige-se àqueles que estavam abalados por causa da
autoridade daqueles judeus que os constrangiam aos preceitos da lei. Já
haviam começado a dar-lhes crédito, pensando que o apóstolo Paulo não
lhes havia pregado toda a verdade por não querer deixá-los
circuncidar-se. Por isso começa logo assim: Espanto-me por terdes tão depressa passado daquele que vos chamou à glória de Cristo para um outro evangelho.
Nesta introdução sugeriu em poucas palavras o ponto em questão. Embora na própria saudação, quando diz ser apóstolo, não da parte dos homens nem por homem algum
– expressão que não se encontra em nenhuma outra carta – mostre
claramente serem esses tais conselheiros não da parte de Deus, mas dos
homens; e ser injusto considerá-lo inferior aos outros apóstolos, quanto
à autoridade do testemunho evangélico, já que sabia ser apóstolo não da
parte de homens nem por um homem, mas por Jesus Cristo e Deus Pai.
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