Segunda leitura
Dos Livros "Moralia" sobre Jó, de São Gregório Magno, papa
(Lib. 23,23-24: PL 76, 265-266)
(Séc. VI)
A verdadeira ciência foge da soberba
Ouve, Jó, minhas palavras e escuta tudo o
que digo. A ciência
dos arrogantes tem isto de próprio, que eles não sabem comunicar com humildade
o que ensinam e não conseguem apresentar com simplicidade as coisas boas que
sabem. Vê-se bem, pelo modo como ensinam, que se colocam, por assim dizer, em
lugar muito elevado e olham de cima para os discípulos, postos embaixo, à
distância, e não se dignam examinar juntos a questão mas apenas se impor.
Com razão disse deles o Senhor pelo
Profeta: Vós os governáveis com severidade e tirania. Governam,
na verdade, com severidade e tirania os que não se apressam em corrigir seus
súditos, expondo-lhes serenamente as razões, mas em dobrá-los com aspereza e
predomínio.
Bem ao contrário, a verdadeira ciência
foge pelo pensamento, com tanto maior ímpeto desse vício da soberba, quanto com
maior ardor persegue com as setas de suas palavras o próprio mestre da soberba.
Cuida de não apregoar por suas atitudes o vício que procura extirpar do coração
dos ouvintes, mediante as palavras sagradas. Esforça-se por mostrar a
humildade, que é a mestra e a mãe de todas as virtudes, tanto com as palavras
quanto com a vida. Deste modo procura transmiti-la aos discípulos da verdade,
mais por seu modo de ser do que pelas palavras.
Por isso, Paulo, falando aos
tessalonicenses, como que esquecido das alturas de seu apostolado, disse: Fizemo-nos
pequenos no meio de vós. Também o apóstolo Pedro ao dizer: Preparados
sempre a dar satisfação a quem vos pede explicações sobre a esperança que
tendes, afirma o dever de, na própria ciência da doutrina, manter a virtude
do que ensina, acrescentando: Mas com modéstia e temor, em boa
consciência.
Quando Paulo diz ao discípulo: Ordena
e ensina com toda a autoridade, não fala de um domínio, mas se refere ao
dever de persuadir pela autoridade da vida. Com autoridade se ensina aquilo que
se vive antes de dizê-lo, pois não se tem confiança na doutrina quando a
consciência impede a fala. Por conseguinte, Paulo não lhe sugeriu a força de
palavras soberbas, mas a confiança da vida reta. Sobre o Senhor está
escrito: Ensinava como quem tinha poder, não como os escribas e
fariseus. De modo singular e essencial foi ele o único a pregar o bem
com autoridade, porque nunca cometeu mal algum por fraqueza. Com efeito, pelo
poder da divindade, possuía o que nos ministrou pela inteireza de sua
humanidade.
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