segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Segunda-feira depois da Epifania


Dos Sermões de São Pedro Crisólogo, bispo 

(Sermo 160: PL 52, 620-622) 

(Séc. V) 

Aquele que quis nascer para nós não quis ser ignorado por nós 

Embora no mistério da encarnação do Senhor os sinais de sua divindade tenham sido sempre claros, a solenidade que hoje celebramos manifesta e revela de muitas formas que Deus veio ao mundo num corpo humano, para que os homens, mergulhados nas trevas, não perdessem por ignorância o que só puderam alcançar e possuir pela graça. Com efeito, aquele que quis nascer para nós não quis ser ignorado por nós. Por isso manifestou-se deste modo, para que o grande mistério de seu amor não desse ocasião a um grande erro.
Hoje os Magos que o procuravam resplandecente nas estrelas, o encontram num berço. Hoje os Magos vêem claramente, envolvido em panos, aquele que há muito tempo procuravam de modo obscuro nos astros. Hoje os Magos contemplam maravilhados, no presépio, o céu na terra, a terra no céu, o homem em Deus, Deus no homem e, incluído no corpo pequenino de uma criança, aquele que o universo não pode conter. Vendo-o, proclamam sua fé e não discutem, oferecendo-lhe místicos presentes: incenso a Deus, ouro ao rei e mirra ao que haveria  de morrer.
Assim o povo pagão, que era o último, tornou-se o primeiro, porque a fé dos Magos deu início à fé de todos os pagãos. Hoje Cristo entrou nas águas do Jordão para lavar o pecado do mundo. E João dá testemunho de que foi para isso que veio, ao dizer: Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1, 29). Hoje o servo recebe o Senhor, o homem recebe Deus, João recebe Cristo; recebe-o para obter o perdão, não para conceder. Hoje, como disse o profeta, a voz do Senhor ressoa sobre as águas (Sl 28,3). E o que diz esta voz? Eis o meu Filho amado, no qual eu pus o meu agrado (Mt 3, 17). Hoje o Espírito Santo, em forma de pomba, paira sobre as águas: assim como uma pomba anunciou a Noé o fim do dilúvio, por sua presença os homens saberiam que havia terminado o ininterrupto naufrágio do mundo. Esta pomba não trouxe, como  a outra, um ramo da antiga oliveira, mas derramou sobre a cabeça do Senhor toda a riqueza do novo óleo, cumprindo-se assim o que o profeta anunciara: É por isso que Deus vos ungiu com seu óleo, deu-vos mais alegria que aos vossos amigos (Sl 44,8). Hoje Cristo, convertendo a água em vinho, realiza o primeiro de seus sinais celestes. A água, porém, devia converter-se no sacramento do sangue, a fim de que o Cristo oferecesse aos homens a bebida pura do cálice de seu corpo, conforme a palavra do profeta: O meu cálice precioso transborda (Sl 22,5).

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