Dos Sermões de São Proclo de Constantinopla, bispo
(Oratio 7 in
sancta Teophania, 1-3: PG 65, 758-759)
(Séc. V)
A santificação das águas
Cristo manifestou-se ao mundo e, pondo ordem
onde havia desordem, encheu-o de beleza e alegria. Tirou o pecado do mundo e
do mundo expulsou o inimigo. Santificou as fontes das águas e iluminou os
corações dos homens. Aos milagres, acrescentou milagres ainda maiores. Hoje a
terra e o mar repartiram entre si a graça do Salvador, e o mundo inteiro
encheu-se de alegria. Este dia nos apresenta maior profusão de milagres que a
solenidade anterior. De fato, na precedente festa do nascimento do Salvador, a
terra se alegrava por ter o Senhor no presépio; mas neste dia das Teofanias, é
o mar que exulta e estremece de júbilo, porque recebeu a bênção santificadora
por meio do rio Jordão.
A solenidade passada nos apresentava uma
criança frágil, atestando nossa imperfeição. Na festa de hoje, porém, vemos um
homem perfeito, que de modo velado, nos manifesta a perfeição daquele que
procede do Ser perfeito. Da primeira vez, o Rei vestia a púrpura do corpo
humano; agora, as águas do rio envolvem qual manto aquele que é a fonte. Considerai,
pois, e vede estes novos e estupendos milagres: o sol da justiça que se banha
no Jordão, o fogo mergulhado na água, Deus santificado pelo ministério de um
homem.
Hoje toda a criação entoa hinos e proclama: Bendito o que vem em nome do Senhor (Sl
117,26). Bendito o que vem em todo tempo, pois não é esta a primeira vez que
veio. E quem é ele? Dize-nos mais claramente, peço-te, santo Davi: O Senhor é o Deus que nos ilumina (Sl
117, 27). Não foi só o profeta Davi que disse; também o apóstolo Paulo
confirmou o seu testemunho com estas palavras: A graça de Deus se manifestou trazendo a salvação para todos os homens;
ela nos ensina (Tt 2,11). Não somente para alguns, mas para todos.
Sim, para todos, para os judeus e para os gregos, a salvação é dada por meio do
batismo, que oferece a todos um benefício universal.
Prestai atenção, contemplai o novo e
admirável dilúvio, maior e mais poderoso que o do tempo de Noé. No primeiro
dilúvio, a água fez perecer o gênero humano; agora, porém, a água do batismo,
pelo poder daquele que foi batizado por João, chama os mortos para a vida. No
primeiro dilúvio, uma pomba, trazendo no bico um ramo de oliveira, anunciava o
odor de suavidade do Cristo; agora, o Espírito Santo, vindo em forma de pomba,
mostra-nos o Senhor cheio de misericórdia.
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