Do Tratado sobre o Espírito Santo, de São Basílio Magno, bispo
(Cap. 26, n. 61.
64: PG 32, 179-182. 186)
(Séc. IV)
O
Senhor vivifica seu corpo no Espírito
Dá-se o nome de espiritual a quem já não vive
segundo a carne mas sob a moção do Espírito de Deus, é chamado filho de Deus e
tornou-se conforme à imagem do Filho de Deus. E assim como a capacidade de ver
só se encontra em olhos sãos, também a ação do Espírito só se exerce na alma
purificada.
Do mesmo modo que a palavra está em nosso
íntimo, seja como simples pensamento do coração, ou proferida pelos nossos
lábios, assim também o Espírito Santo, quando dá testemunho a nosso espírito e
clama em nosso coração Abba, Pai (Gl
4,6), ou quando fala por meio de nós, conforme foi dito: Não sois vós que falais, mas sim o Espírito de vosso Pai é que fala
através de vós (cf. Mt 10,20).
Por outro lado, compreendemos o Espírito como
um todo que se encontra em cada uma das partes, ao distribuir os seus dons.
Somos todos membros uns dos outros, mas possuímos dons diferentes, conforme a
graça de Deus que nos é dada. Por isso, o
olho não pode dizer à mão: “Não preciso de ti”. Nem a cabeça pode dizer aos
pés: “Não preciso de vós” (1Cor 12,21). Pelo contrário, todos os membros
reunidos constituem o corpo de Cristo na unidade do Espírito e são solidários
uns para com os outros, conforme os seus dons.
Foi Deus quem dispôs os membros no corpo,
cada qual como ele quis. Por sua vez, os membros têm solicitude uns para com os
outros, pela mútua afeição nascida de sua comunhão no mesmo espírito. E assim, se um membro sofre, todos os membros sofrem
com ele; se é honrado, todos os membros se regozijam com ele (1Cor 12,26). Do
mesmo modo como as partes estão no todo, também cada um de nós está no
Espírito, pois todos nós que formamos um só corpo, fomos batizados num só
Espírito.
E tal como no Filho se vê o Pai, no Espírito
se vê o Filho. Por isso, adorar no Espírito significa que a atividade de nossa mente
se realiza na luz, como se pode deduzir do que foi dito à Samaritana. Ela
julgava que se devia adorar a Deus num lugar determinado, segundo o modo errado
de pensar do seu povo. O Senhor, porém, esclareceu-a, dizendo que se devia
adorar em Espírito e em Verdade (cf.
Jo 4,23), designando-se a si próprio como a Verdade. Da mesma forma que falamos
de uma adoração no Filho, como na imagem de Deus Pai, também podemos
referir-nos a uma adoração no Espírito, uma vez que mostra em si mesmo a
divindade do Senhor.
Portanto, para falar com exatidão e
coerência, devemos dizer que na iluminação do Espírito Santo contemplamos o
esplendor da glória de Deus. E por meio do sinal do Espírito somos conduzidos
àquele de quem o Espírito é sinal e selo autêntico.
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