Solenidade
Na Inglaterra e na
Normandia já se celebrava no século XI uma festa da conceição de Maria;
comemorava-se o acontecimento em si, apoiando-se sobretudo em sua
condição
miraculosa (esterilidade de Ana etc). Além desse aspecto, Santo Anselmo
realçou
a verdadeira grandeza do mistério que se realiza na concepção de Maria:
sua
preservação do pecado. Em 1439, o Concílio de Basiléia considerou este
mistério
como uma verdade de fé, e Pio IX proclamou-o dogma em 1854.
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Das Meditações de Santo Anselmo, bispo
(Oratio 52: PL
158, 955-956)
(Séc. XII)
Ó Virgem, pela tua
bênção é abençoada
a criação inteira!
O céu e as estrelas, a
terra e os rios, o dia e a noite, e tudo quanto obedece ou serve aos
homens,
congratulam-se, ó Senhora, porque a beleza perdida foi por ti de certo
modo
ressuscitada e dotada de uma graça nova e inefável. Todas as coisas
pareciam
mortas, ao perderem sua dignidade original que é de estar em poder e a
serviço
dos que louvam a Deus. Para isto é que foram criadas. Estavam oprimidas
e
desfiguradas pelo mau uso que delas faziam os idólatras, para os quais
não
haviam sido criadas. Agora, porém, como que ressuscitadas, alegram-se
pois são
governadas pelo poder e embelezadas pelo uso dos que louvam a Deus.
Perante esta nova e
inestimável graça, todas as coisas exultam de alegria ao sentirem que
Deus, seu
Criador, não apenas as governa invisivelmente lá do alto, mas também
está
visivelmente nelas, santificando-as com o uso que delas faz. Tão
grandes bens
procedem do bendito fruto do sagrado seio da Virgem Maria.
Pela plenitude da tua
graça, aqueles que estavam na mansão dos mortos alegram-se, agora
libertos; e
os que estavam acima do céu rejubilam-se renovados. Com efeito, pelo
Filho
glorioso de tua gloriosa virgindade todos os justos que morreram
antes da
sua morte vivificante, exultam pelo fim de seu cativeiro, e os anjos se
congratulam pela restauração de sua cidade quase em ruínas.
Ó mulher cheia e mais
que cheia de graça, o transbordamento de tua plenitude faz renascer
toda
criatura! Ó Virgem bendita e mais que bendita, pela tua bênção é
abençoada toda
a natureza, não só as coisas criadas pelo Criador, mas também o Criador
pela
criatura!
Deus deu a Maria o seu
próprio Filho, único gerado de seu coração, igual a si, a quem amava
como a si
mesmo. No seio de Maria, formou seu Filho, não outro qualquer, mas o
mesmo,
para que, por natureza, fosse realmente um só e o mesmo Filho de Deus e
de
Maria! Toda a criação é obra de Deus, e Deus nasceu de Maria. Deus
criou todas
as coisas, e Maria deu à luz Deus! Deus que tudo fez, formou-se a si
próprio no
seio de Maria. E deste modo refez tudo o que tinha feito. Ele que pode
fazer
tudo do nada, não quis refazer sem Maria o que fora profanado.
Por conseguinte, Deus é
o Pai das coisas criadas, e Maria a mãe das coisas recriadas. Deus é o
Pai da
criação universal, e Maria a mãe da redenção universal. Pois Deus gerou
aquele
por quem tudo foi feito, e Maria deu à luz aquele por quem tudo foi
salvo. Deus
gerou aquele sem o qual nada absolutamente existe, e Maria deu à luz
aquele sem
o qual nada absolutamente é bom.
Verdadeiramente o Senhor
é contigo, pois quis que toda a natureza reconheça que deve a ti,
juntamente
com ele, tão grande benefício.
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