Segunda leitura
Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo
(Serm. 47,12-14, De ovibus: CCL 41,582-584)
(Séc. V)
Se quisesse agradar aos homens,
não seria servo de Cristo
É esta a nossa glória: o testemunho de
nossa consciência. Há
homens de juízo temerário, detratores, maldizentes, murmuradores, suspeitosos
do que não vêem, procurando acusar o que nem mesmo suspeitam. Contra gente
assim, o que nos resta a não ser o testemunho de nossa consciência? Mas,
irmãos, também em relação àqueles a quem queremos agradar, não procuramos nossa
glória nem a devemos buscar, mas a salvação deles, de modo que não se extraviem
aqueles que nos seguem, se andarmos bem. Sejam nossos imitadores, se o formos
de Cristo. Se não formos imitadores de Cristo, que eles o sejam! Pois o Senhor
apascenta o seu rebanho e junto com todos os bons pastores, ele é o único,
porque todos estão nele.
Por isso, não temos em vista nosso proveito
quando buscamos agradar aos homens, mas queremos alegrar-nos com eles,
alegrarmo-nos por sentirem prazer com o bem, para vantagem deles, não para
nossa honra. Claramente se percebe contra quem disse o Apóstolo: Se
quisesse agradar aos homens, não seria servo de Cristo. Também se
percebe a favor de quem ele disse: Agradai a todos em tudo, assim como
também eu lhes agrado em tudo. Ambas as coisas puras, ambas sem
perturbação. Quanto a ti, come e bebe tranquilamente; mas não pises os pastos,
nem turves as águas.
Na verdade, também ouviste nosso Senhor
Jesus Cristo, o Mestre dos apóstolos: Brilhem vossas obras diante dos
homens, para que vejam o bem que fazeis e glorifiquem vosso Pai que está nos
céus. Ele vos fez assim: Nós, gente de suas pastagens e ovelhas
de suas mãos. Louvor a ele que te fez bom, se és bom, e não a ti que, por
ti mesmo só poderias ser mau. Por que queres torcer a verdade, de modo que
quando fazes algum bem, queres ser elogiado e, quando fazes o mal, queres que o
Senhor seja criticado? De fato, aquele que disse: Brilhem vossas obras
diante dos homens, é o mesmo que, na mesma exortação, declarou: Não
façais vossa justiça diante dos homens. Como no Apóstolo, também no
Evangelho estes ditos te parecem contraditórios. Se, porém, não turvares a água
de teu coração, aí encontrarás o acordo das Escrituras e terás paz também com
elas.
Esforcemo-nos, pois, irmãos, não apenas
para sermos bons, mas ainda para convivermos bem com os homens. Não procuremos
apenas ter uma boa consciência, mas, na medida em que permitirem nossas
limitações, vigilantes sobre a fragilidade humana, empenhemo-nos em nada fazer
que levante dúvidas para o irmão mais fraco. Não aconteça que, comendo ervas
boas e bebendo águas límpidas espezinhemos as pastagens de Deus e as ovelhas
fracas comam a erva pisada e bebam a água turva.
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