Segunda leitura
Do Tratado sobre a Oração do Senhor, de São Cipriano, bispo e mártir
(Nn. 23-24: CSEL 3,284-285)
(Séc. III)
Nós, filhos de Deus, permaneçamos na paz de Deus
Cristo acrescentou claramente uma lei que
nos obriga a determinada condição: que peçamos a remissão das dívidas, se nós
mesmos perdoarmos aos nossos devedores, sabendo que não podemos alcançar o
perdão pedido a não ser que façamos o mesmo em relação aos que nos ofendem. Por
esta razão, diz em outro lugar: Com a mesma medida com que medirdes,
sereis medidos. E aquele servo que, perdoado de toda a dívida por seu
senhor, mas não quis perdoar o companheiro, foi lançado ao cárcere. Por não ter
querido ser indulgente com o companheiro, perdeu a indulgência com que fora
tratado por seu senhor.
Cristo propõe o perdão com preceito mais
forte e censura ainda mais vigorosa: Quando fordes orar, perdoai se
tendes algo contra outro, para que vosso Pai, que está nos céus, vos perdoe os
pecados. Se, porém, não perdoardes, também vosso Pai, que está nos céus, não
vos perdoará os pecados. Não te restará a menor desculpa no dia do
juízo, quando serás julgado de acordo com tua própria sentença e o que tiveres
feito, o mesmo sofrerás.
Deus ordenou que sejamos pacíficos,
concordes e unânimes em sua casa. Mandou que sejamos tais como nos
tornou pelo segundo nascimento; assim também ele nos quer renascidos e
perseverantes. Deste modo nós, filhos de Deus, permaneçamos na paz de Deus e os
que possuem um só Espírito tenham uma só alma e um só coração.
Deus não aceita o sacrifício do que vive
em discórdia e ordena deixar o altar e ir primeiro reconciliar-se com o irmão,
para que, com preces pacíficas, possa Deus ser aplacado. Maior serviço para
Deus é a nossa paz e concórdia fraterna e o povo que foi feito uno pela unidade
do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Nos sacrifícios que Abel e Caim foram os
primeiros a oferecer, Deus não olhava os dons, mas os corações, de forma que
lhe agradava pelo dom aquele que lhe agradava pelo coração. Abel, pacífico e
justo, sacrificando com inocência a Deus, ensinou os outros a depositar seus
dons no altar com temor de Deus, simplicidade de coração, empenho de justiça e
de concórdia. Aquele que assim procedeu no sacrifício de Deus tornou-se
merecidamente sacrifício para Deus. Sendo o primeiro a dar a conhecer o
martírio, iniciou pela glória de seu sangue a paixão do Senhor, por ter mantido
a justiça e a paz do Senhor. Esses serão, no fim, coroados pelo Senhor; esses,
no dia do juízo, triunfarão com o Senhor.
Quanto aos discordantes, aos dissidentes,
aos que não mantêm a paz com os irmãos, mesmo que sejam mortos pelo nome de
Cristo, não poderão, conforme o testemunho do santo Apóstolo e da Sagrada
Escritura, escapar do crime de desunião fraterna, pois está escrito: Quem
odeia seu irmão é homicida. Não chega ao reino dos céus nem vive com Deus
um homicida. Não pode estar com Cristo quem preferiu a imitação de Judas à de
Cristo.
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