Terça-feira da 7ª semana do Tempo Comum
Segunda leitura
Das Homilias sobre o Eclesiastes, de São Gregório de Nissa, bispo
(Hom. 6: PG 44,702-703)
(Séc. IV)
Há um tempo de dar à luz e um tempo de morrer
Há um tempo de dar à luz e um tempo de morrer. Muito bem
expressa no princípio de suas palavras a necessária ligação ao unir a
morte ao nascimento. Pois obrigatoriamente a morte segue o parto e toda
geração vai dar na dissolução.
Há um tempo de dar à luz e um tempo de morrer. Oxalá que
a mim também suceda nascer em tempo desejado e morrer também em tempo
oportuno. Ninguém irá pensar que o Eclesiastes se refere ao nascimento
involuntário e à morte natural, como se nisso houvesse uma reta ação
virtuosa. Não é pela vontade da mulher que existe o parto, nem a morte
depende do livre-arbítrio dos que morrem. Nunca se definirá como
virtude ou vício aquilo que não está em nosso poder. É preciso,
portanto, compreender o parto num tempo querido e a morte num tempo
oportuno.
Quanto a mim, parece-me que um parto é perfeito e não abortivo
quando, no dizer de Isaías, alguém concebe pelo temor de Deus e pela
alma em dores de parto gera sua salvação. Pois somos, de certo modo,
pais de nós mesmos, nos concebemos e nos damos à luz a nós mesmos.
Assim nos acontece, porque acolhemos Deus em nós, feitos filhos
de Deus, filhos da virtude, filhos do Altíssimo. Mas também nos damos à
luz como abortivos e nos tornamos imperfeitos e imaturos, quando não se
formou em nós, segundo diz o Apóstolo, a forma de Cristo. É
preciso ser íntegro e perfeito o homem de Deus.
Se, pois, está claro como se nasce em tempo, também é claro
para todos de que maneira se morre em tempo; para São Paulo, todo tempo
era oportuno para uma boa morte. Em seus escritos declara, quase como
um protesto: Morro todos os dias para vossa glorificação, e
ainda: Por ti somos entregues à morte cotidianamente. E nós
também tivemos uma sentença de morte dentro de nós mesmos.
Não é difícil entender de que maneira Paulo morre diariamente,
ele que nunca vive para o pecado, que sempre faz morrer seus membros
carnais e traz em si a morte do corpo de Cristo, que sempre está
crucificado com Cristo e nunca vive para si mas em si tem o Cristo
vivo. Esta é, parece-me, a morte oportuna, aquela que obtém a
verdadeira vida.
Foi dito: Eu dou a morte e faço viver, para que não
haja dúvida que é um verdadeiro dom de Deus o morrer para o pecado e o
ser vivificado pelo Espírito. Pelo fato mesmo de dar a morte, a palavra
divina promete vivificar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário